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21 de novembro de 2024

{Resenhas de Cancelamentos abruptos} Mindhun

Mindhunter foi lançado em 2017 e teve duas temporadas (a segunda dois anos mais tarde, em 2019) com direção de David Fincher (de Se7en, Zodíaco, Alien³ e um clipe musical do Justin Timberlake, portanto plena experiência com monstros e serial killers) e enquanto a versão oficial para o cancelamento da série seja o orçamento, eu não sei se acredito nessa versão.

A série completou 7 anos agora em 2024 e, nesses sete anos eu tentei assistir ao material possivelmente uma vez cada um destes anos sem passar dos minutos iniciais ou muito chegar ao final do primeiro episódio - e o primeiro episódio detém a menor avaliação da série toda junto ao IMDB. O ritmo é glacial, a história demora para engrenar com toda uma gama de jargões técnicos para justificar um processo acadêmico investigativo sobre o comportamento de criminosos e assassinos (de novo, tudo de um ponto de vista extremamente técnico e teórico até ali por volta do episódio 5 da primeira temporada quando eles tentam colocar o conhecimento em prática) e honestamente o primeiro episódio serve somente como um prólogo longo do que um episódio em si, e é a entrevista com Ed Kemper do segundo episódio que efetivamente faz com que o material engate uma segunda marcha e comece a ter algum ritmo.

Mas para ir da segunda à terceira marcha, bem, praticamente não acontece na primeira temporada inteira, é sempre aquele ritmo lento quase glacial que progride milimetros não metros.

Veja bem, não estou dizendo que o material é ruim nem de longe. As entrevistas com os serial killers são tensas para deixar qualquer um na beirada de seu assento com suor frio escorrendo, e quanto a teoria inovadora encontra um espaço para prática, vemos algo efetivamente genial... O que acaba perdendo espaço para narrativas desinteressantes e que não vão a lugar nenhum (como a psiquiatra alimentando um gato - é, isso é uma cosia que acontece - ou um sujeito bigodudo esquisitão do Kansas que aparece por alguns minutos quase todo episódio e cuja narrativa nunca rende coisa alguma, inclusive porque a série é cancelada antes disso render qualquer fruto).

E enquanto a segunda temporada é melhor em alguns aspectos, inclusive com um foco mais centrado em uma grande investigação que coloca em prática o trabalho teórico desenvolvido na primeira temporada (assim como apresentando um diretor do FBI bem mais favorável ao trabalho dos agentes Tench e Ford no desenvolvimento de perfis para assassinos seriais), a narrativa também em um número ainda maior de subtramas que não agregam coisa alguma, o que acaba com histórias demais ganhando tempo (como o relacionamento da doutora Carr, ou os interrogatórios de Charles Manson) enquanto histórias interessantes não são devidamente desenvolvidas (como os ataques de pânico de Ford que não resultam em nada na segunda temporada inteira ou toda a ação burocrática da polícia de Atlanta dificultando a investigação ou conduzindo o processo de maneira porca mesmo).

Então deixa eu resumir: Um começo fraco, um material extremamente técnico com subtramas que não vão a lugar nenhum (e algumas inclusive são incrivelmente estúpidas e desnecessárias). Tem muita coisa positiva, e o saldo é vastamente positivo diga-se de passagem, mas exige uma perseverança que, honestamente eu não sei se é para todo mundo.

Ainda mais quando você sabe que o material foi cancelado antes de concluir várias histórias, mas, mais importante, uma que tentou desenvolver nas duas temporadas do assassino BTK (que sim, é o bigodudo esquisitão do Kansas), acabando com um episódio que é bastante cínico sobre os sucessos da investigação recém concluída como do trabalho todo desenvolvido até aquele ponto.

Recomendo com ressalvas, principalmente para quem gostou do filme Zodíaco de David Fincher e gostaria de mais.

Quem gosta de séries policiais facilmente se decepcionará porque a estrutura é diferente (não tem como comparar com um Law and Order ou CSI e o público para estes seriados dificilmente se empolgaria com esse material mais lento, candenciado - e, pior, que sequer resolve os crimes que apresenta). Nada de vilão da semana ou mesmo uma investigação planejada e estruturada (mesmo quando pegam os bandidos, fica uma sensação de que ou pegaram a pessoa errada ou faltou alguma coisa mais concisa - e que, sim, é intencional).

Então, o argumento que a série foi cancelada pelo valor elevado faz sentido? Bem, considerando que a estimativa é de um belíssimo 15 milhões de dólares por episódio (ainda menos que os 35 milhões que a Warner gastou por um piloto engavetado de spin-off de Game of Thrones Bloodmoon ou o caríssimo os Anéis do Poder da Amazon - cuja primeira temporada ficou nos 281 milhões e a segunda pode ter custado até 1 BIlhão), ainda temos que lembrar que Wandinha que foi um considerável sucesso de público e inspirou diversos acordos publicitários para a Netflix, e custou algo em torno de 3 a 4 milhões por episódio - ou seja, até 1/5 do valor - faz sentido que seja o ângulo escolhido para justificar o cancelamento.

No entanto, e aí é onde talvez o argumento seja mais relevante, é que Wandinha é um seriado para o público infanto-juvenil (afinal é Harry Potter com a Família Adams) enquanto o outro material é claramente para o público mais adulto, e, a Netflix peca bastante em material para esse público (exceto com extrapolações) e fica bem atrás da Max, Disney (com o catálogo da Fox/FX) ou mesmo o Prime... Então será que produzir material para o público adulto simplesmente não ressoa com audiências em geral para compensar financeiramente ou o público da Netflix é mais jovem (ou prefere conteúdo mais jovem)?

Bem, para responder a essa pergunta precisaríamos de acesso a dados que obviamente a plataforma de streaming não teria a menor vontade de compartilhar, e, mesmo assistindo a todos os episódios da série não é possível traçar um perfil psicológico detalhado o suficiente para entender. (Mas eu apostaria consideráveis quantias de que é bem mais interessante para a plataforma investir no público infanto-juvenil que gastará bem mais horas vendo e revendo material que os adultos - que talvez ainda prefiram tv a cabo ou mesmo a TV aberta para seus esportes ou novelas).

20 de novembro de 2024

{A Vida após Netflix - parte 1} As diferentes estruturas narrativas

A forma de contar uma história possui diferentes estruturas. Um filme, um livro, uma história em quadrinho ou uma música (ou outras diversas alternativas) pode contar uma narrativa que vão variar de acordo com processos e estruturas, e mesmo no mesmo meio essa mesma narrativa pode conter tons diferentes.

Dentro de um livro, o maior limitante é a capacidade de um autor de descrever uma cena de forma a conduzir os eventos mas o céu é o limite (o autor não precisa se preocupar com orçamento para a construção da cena que ele está bolando, o papel aceita tudo, quaisquer limites virão da editora pelo número de páginas para a edição, e tão somente isso), algo que não existe num filme (onde a cena é exposta com imagens - mas reforçando o ponto anterior, tem limitações de orçamento para produzir esta cena de maneira crível ao espectador e à história). E o mesmo ocorre com outros dos elementos da história.

Um personagem pode ter longos monólogos internos para contextualizar sua vida e situação em um livro, extrapolando os eventos narrativos para (tediosas) passagens que definem o caráter e personalidade deste. Num filme onde cada segundo conta (e custa), um longo monólogo que não avança a história, consome tempo precioso da película e pode resultar no público perdendo o interesse, comprometendo todo o esforço de fisgar a atenção da audiência até aquele momento.

Na verdade, inclusive os primeiros 15 minutos são cruciais para um filme, e não é raro encontrar exemplos em que eles trazem não só as melhores cenas de um filme (sim, 007, estou falando de vários de seus filmes) como em alguns casos a única parte efetivamente boa e que vale a pena de um filme (sim, 007, estou falando de vários de seus filmes), afinal, uma boa primeira impressão pode garantir a boa vontade e empolgação para o restante do material.

Com seriados, no entanto, as condições mudam uma vez que bons quinze minutos podem te manter empolgado pelo primeiro episódio, mas é necessário um bom gancho para te fazer voltar, e esse gancho pode vir de uma premissa cativante e interessante ou de um final empolgante levando a perguntas para a condução da história.

Isso divide seriados em duas condições principais: As estruturas independentes (em que cada episódio ou pequena coleção deles, traz uma história com começo, meio e fim e não necessariamente interligada com o restante da série - shows detetivescos com o vilão da semana ou seriados médicos facilmente se encaixam nessa estrutura), e estruturas sequenciais (em que cada episódio se constrói de maneira cadenciada e contínua, construindo mundo e progredindo a narrativa conforme a série avança - o que não quer dizer que tudo seja planejado com antecedência, só que existe uma narrativa maior construída capítulo a capítulo - e é extremamente comum aos shows de prestígio da HBO ou Showtime), mas ainda podemos levar em conta antologias (como Além da Imaginação ou Black Mirror, que são independentes, porém tendem a quebrar gêneros e convenções narrativos, às vezes utilizando um mesmo ator em diversos papéis ou construindo uma premissa única por episódio - às vezes partindo de drama, horror ou comédia entre episódios) ou as esquetes (mais comuns em comédias com quadros curtos para contar uma piada sem conexão com a próxima, e, em dados casos inclusive com non-sequiturs).

E é possível verificar através de gêneros as diferenças (e similaridades) entre mesmos materiais, inclusive com alguns que foram adaptados com filmes e séries, como Hannibal (em mais de uma versão de filmes e depois como um seriado excelente por sinal), com diferentes processos e convenções narrativos, e pretendo destrinchar um pouco mais sobre o assunto na parte 2 daqui um mês justamente ao comparar a série Hannibal com suas contapartes cinematográficas.

14 de novembro de 2024

{Resenhas de Arkham} Pinguim

Se Collin Farrell não receber qualquer prêmio por sua atuação como Oswald Cobblepot (ou o Pinguim do título) eu ficarei realmente surpeso. O ator de fato consegue algo memorável com o papel (que é muito bem roteirizado e construído narrativamente ao mesmo passo em que é construído literalmente com a maquiagem e os prostéticos) e ao meu ver temos uma favorita à melhor série do ano.

Não que ele seja o único destaque da série (Deidre O'Connell como Francis Cobb e Clancy Brown como Salvatore Maroni no mínimo merecem menções honrosas), mas é difícil visualizar alguém que conseguiu a façanha de desaparecer no personagem com tamanha capacidade, e em se tratando de um personagem que é retratado como um bufão estúpido e chamativo. A versão de Farrell é mais Tony Soprano montando seu império criminoso enquanto sofrendo com discriminação por ser mais esquisito (e não recebe o devido respeito) que os outros chefões do crime.

E o roteiro trabalha muito bem a noção de respeito (ou falta dele) que motiva Oswald durante a série em sua busca pelo poder.

A série é perfeita? Lógico que não.

Na minha opinião, Cristin Milotti é extremamente talentosa, mas ela destaca negativamente demais na série, talvez porque ela tenha um elenco de apoio terrível (com um dos piores atores que eu já vi depois do Cigano Igor fazendo par romântico com ela pra começo de conversa), mas em grande parte por uma atuação que destoa do restante da série. Ela parece mais querer copiar a série camp do Batman do Adam West com movimentos e expressões exageradas (mesmo no figurino com roupas chamativas e cores fortes em contraste com a maioria dos atores) do que uma performance com mais nuance e trabalho como Farrell e demais atores. E, olha, ela tenta. O roteiro oferece bastante pra ela, mas pra mim ela acaba sem rumo por boa parte do material, que precisava algo bem mais para Carrie Coon de The Leftovers na minha singela opinião.

E o começo é bem melhor que o desenvolvimento. Parece que faltou um pouco de gás, parece que não era pra ter oito episódios ou que em dados momentos não engrena ou empolga da maneira que precisa. Posso estar enganado, mas me parece de novo as mãos da fuuuuuuusão da Discovery e Warner em ação com a série que deveria ter dado as caras em 2022 ou 2023 (logo depois do filme, mais ou menos como ocorreu com o Pacificador com relação ao Esquadrão Suicida), e que os planos eram de mais temporadas para contar a história com maior cadência e desenvolvimento, que acabam um tanto truncados e talvez funcionariam melhor como intervalos entre temporadas ou com maior desenvolvimento entre personagens (sem spoilers mas no final temos uma cena com alternância de poder que, bem, não tem impacto pelo fato da ausência de desenvolvimento dessas pessoas).

Muito recomendado.

8,5/10.

13 de novembro de 2024

{A vida após Netflix} Uma (longa) análise sobre como interagimos com a mídia após o streaming

Talvez essa não seja tão longa (ou tão chata) quanto minha série de postagens sobre porque os quadrinhos vendem mal, mas após ver os inúmeros cancelamentos que a plataforma de streaming faz de novo e de novo (e de novo) de bons seriados enquanto outros materiais tendem a durar bem mais tempo em sistemas convencionais de produção de entretenimento (sabe, com lançamentos periódicos preocupados com audiência e muitas vezes se adaptando e mudando justamente pela flutuação desta).

Eu venho assistindo Shameless com minha namorada - a série é longa com mais de 10 temporadas, com uma versão britânica que precede o material com William H Macy, Jeremy Allen White e Emmy Rossum (além do Goku de Dragon Ball Evolution por alguns episódios) - assim como vi alguns materiais cancelados pela Netflix (a ótima Mindhunter vem em mente, mas obviamente não é o único exemplo) que me fez pensar muito sobre a natureza da produção de entretenimento moderno e tudo o que mudou.

Séries hoje são produzidas de forma diferente de trinta, droga, mesmo pouco mais de dez anos atrás quando a Netflix começou com House of Cards, com temporadas mais curtas - que era o formato destinado a séries de prestígio da HBO - mas muito se deve a forma como interagimos com a mídia mais do que o formato dos shows.

Comédias, animações ou mesmo shows de variedade que comumente possuiam temporadas longas (ainda que muitas vezes de episódios curtos), hoje são divididos em temporadas mais curtas ainda que em alguns cenários com mais de uma temporada por ano, para ter mais tempo de exposição ao público ao material. Mesmo com os animês que possuem uma estrutura bem diferente das convencionais temporadas (ainda que os distribuidores estadunidenses tentem vender nesse tipo de embalagem) cederam mais para uma estrutura mais próxima de temporadas anuais e produção episódica limitada (como My Hero Academia ou Attack on Titan) do que, bem, a insanidade de produzir episódios para acompanhar com o ritmo da produção semanal de um material conforme ele é lançado (sabe, como One Piece ainda é feito).

Este é apenas um teaser para discutir a ideia, e, começaremos em breve numa discussão sobre as estruturas narrativas, o que diferencia um seraido de um filme e as diferenças em formatos de produção de entretenimento.

4 de novembro de 2024

{Resenhas Lixo} Armadilha

Antes de começar eu acho extremamente importante deixar cristalino que eu não assisti ao filme inteiro. Não, eu não dormi, não eu não desisti na metade, não eu "não entendi"... Eu simplesmente cheguei a pontos que desafiavam completamente a minha tolerância ao material e passava para frente, e, francamente se eu perdi alguma coisa fique a vontade para mostrar minha ignorância nos comentários.

Dito isso pode ter alguns spoilers.

Armadilha é um filme de uma hora e quarenta e cinco minutos dirigido por M Night Shyamalan com a ideia de ser um thriller e com a chamada "30.000 fãs, 300 policiais, 1 assassino em série. Sem escapatória", e essa é basicamente a premissa, mas eu tentarei elaborar.

O filme acompanha um pai (vivido por Josh Hartnett - e "spoiler", sim, ele é o assassino serial se você não percebeu pelos trailers, posters, resumos do imdb ou qualquer outro material publicitário) levando a filha a um show de uma cantora pop onde uma gigantesca operação policial está transcorrendo justamente para capturá-lo. Começa razoavelmente simples, inclusive de maneira gradual apresentando os personagens e o elemento da história.

A reviravolta Shyamalanesca vem por volta dos 25 minutos quando Josh Hartnett vai comprar uma camiseta para a filha e o vendedor simplesmente conta todos os elementos da operação policial para capturar um assassino serial (o próprio Hartnett) no show, que, e aqui é a reviravolta, é a própria operação policial (tan-dan-dan). Sim, a polícia organizou um show para 30.000 pessoas com uma estrela pop (provavelmente pagando o cachê dela também) para capturar um assassino serial e aqui vem a reviravolta mais interessante: QUE ELES NÃO TEM UMA MERDA DE UMA DESCRIÇÃO, SÓ UM PERFIL PSICOLÓGICO ABRANGENTE POR BOSTA! Ah, e sim, a polícia avisou os detalhes (não só o simples fato de que existe uma operação - e contra quem - mas os detalehs sobre as saídas) dessa operação para UM VENDEDOR DE CAMISETAS!

E se ele simplesmente não fosse ao show levar a filha nesse dia, você se pergunta? Ou porque o perfil psicológico chega ao ponto de ter certeza que ele estaria ali mas não consegue uma aproximação mais coerente e inteligente para que permita capturá-lo sem colocar em risco 30.000 outras pessoas além dos artistas e funcionários ali envolvidos e todos os gastos de uma operação desse tamanho...? 

Quer dizer é uma elaborada crítica ao estado policial em que vivemos, certo? Só que esse argumento não funciona quando o assassino serial é um super-herói com todo código de trapaça desbloqueado permeando em um mundo com os piores e mais estúpidos policiais do mundo (e só abre mais dúvidas sobre a incompetência do roteiro).

Droga, tem um ponto no final do filme em que o personagem de Josh Hartnett foi capturado pela polícia, está algemado e sendo transportado para o camburão (por um grupo de policiais fortemente armados) e ele vê uma bicicleta tombada e, sob a mira de diversos policiais, se abaixa para levantar a bicicleta como se fosse a coisa mais normal e natural do mundo (e nem é a única cena, tem outra em que ele escapa de uma limousine completamente cercada por todos os lados sem que ninguém o veja também). Privilégio branco, não estou certo?

E olha, talvez se o filme não usasse uma estrutura tão similar com a do terrível Fim dos Tempos (de 2008 - e considerado não só um dos piores filmes do diretor, mas um dos piores filmes, ponto). Diálogo completamente artificial (e terrível), atores que parecem em uma peça infantil da 4ª série de Wagstaff e close-ups que reforçam ainda mais essas escolhas (terríveis) dos atores...

E talvez seja intencional...? Quer dizer, considerando Fim dos tempos com as mesmas escolhas do mesmo diretor (e os dois são filmes terríveis), será que é mera coincidência ou o diretor apostou numa certa ressurgência com o sucesso de alguns de seus filmes mais recentes para reforçar a aposta na produção, bem, disso (roteiro incoerente, personagens idiotas, diálogo mal escrito acompanhado de péssima leitura das falas) e mesmo que colocou no papel de protagonista um Josh Hartenett trazendo a tona o máximo de seu Mark Whalberg interior (ou seria exterior) afinal ele claramente parece simular a performance de Marky-Mark ao máximo - só que, sabe, com bem mais talento...

Se você acredita que o material é irônico e por isso você não precisa levar a sério a estrutura e narrativa afinal isso faz parte de uma crítica social mais complexa e etcs, bem, eu confesso que não vejo como isso funcione. Honestamente não vejo que ser irônico ou servir como crítica social equivaler a ser mal escrito.

Ripley lançado mais cedo esse ano é um thriller tenso por quase toda a sua duração ainda que tenha toda uma estrutura e camadas de críticas sociais e não obstante é consideravelmente irônico e eu francamente acho que é uma das coisas melhor escritas que eu assisti esse ano todo. Armadilha é só preguiçoso e pretensioso (ou, basicamente a fórmula Shyamalan).

1 de novembro de 2024

{Hallowsenhas} Batman-Vampiro: Morto, mas passa bem.

Batman Red Rain (ou Chuva Rubra como foi lançado por aqui) é uma história lançada em 1991 pela DC escrita por Doug Moench e arte de Kelley Jones como parte dos "Elseworlds" da editora que consistem em histórias fora da linha regular de lançamentos mensais, em mundos alternativos e que trazem regras diferentes (como "E se o Superman fosse adotado pelos Wayne? Ou e se a Liga da Justiça existisse no Velho Oeste?"), e, bem, é um material bem interessante.

Não é uma mera bobagem para colocar o morcegão de Gotham brigando com Drácula até arrancar seus caninos... Existe todo um elemento investigativo que coloca o personagem se questionando sobre os rumos de suas conclusões e diante de todo um mundo de sobrenatural bem mais complexo do que ele podia imaginar (o que o coloca em rota de colisão com Drácula até arrancar seus caninos), e, o material foi popular o suficiente para gerar duas continuações que abraçam mais o universo do Batman (e passam longe da marca). E eu acho que o primeiro volume (capítulo ou série) funciona como uma história noir em que Batman se vê cada vez mais envolvido em uma trama inescapável e que vai muito além de sua capacidade de agir ou reagir adequadamente.

Drácula tem um exército a sua disposição e está tomando aos poucos o controle da cidade - sendo que para a polícia, as autoridades e mesmo Batman, o risco é de um assassino em série terrível, portanto ele é, como em nosso mundo real, apenas um mito. O morcegão legitimamente está fora de seu elemento, e mesmo que acabe recebendo ajuda de um grupo de vampiros que tenta destruir Drácula há séculos sem sucesso, e imaginam que com um aliado que pode agir durante o dia, eles finalmente conseguiriam equilibrar as balanças...

Eu genuinamente gosto dessa história. Ela progride num bom ritmo, Moench trabalha os elementros e produz algo cheio de ação assim como tragédia pessoal (como um bom noir), e a arte de Kelley Jones se não em seu auge, está fácil num pódio de melhores do artista.

A primeira continuação de 1994, Bloodstorm (ou Tempestade de Sangue) traz o Coringa liderando os vampiros que sobreviveram da primeira mini-série (afinal, claro que eles seguiriam um lunático com maquiagem de palhaço) enquanto move uma grande operação para controlar o submundo do crime de Gotham. A série também apresenta uma versão da Mulher-Gato (mais para lobimulher ou gatimulher, não sei ao certo), e eu sinceramente sinto que o material é bem mais nas coxas feito como uma continuação obrigatória para um grande sucesso de vendas do que por uma boa sacada para continuar a história.

A arte continua muito boa e é provavelmente o maior atrativo desse segundo volume, enquanto a história acaba se perdendo em elementos já explorados (e bem melhor) no primeiro volume.

E a segunda continuação de 1998, Crimson Mist (ou Bruma Escarlate) fecha o material com uma visão mais sanguinuszóio (meio literalmente, afinal ele se tornou um vampiro - spoiler para uma história de mais de 20 anos) tacando o terror no submundo de Gotham, e o que vemos é basicamente um Batman matando toda a sua galeria de vilões - enquanto Gordon acaba recrutando a dupla Duas Caras e Crocodilo para tentar contê-lo. A arte é decepcionante neste volume, com proporções exageradas e caricatas demais trabalhando bem mais para produzir alguma cena grotesca de assassinato aqui e acolá.

No fim do dia é uma premissa boba e até funciona melhor que a segunda mini-série.

Sobre o material, depende muito de expectativas, mas eu acho que é melhor partir com expectativas beeeeem baixas (e talvez quando estiver no último degrau você desce mais um pavilhão), porque na melhor das hipóteses é um material decente e razoavelmente bobo, na melhor uma história noir interessante envolvendo Batman e o sobrenatural para uma leitura de Halloween (mas que merecebe bem mais as capas originais que essa atrocidade das reedições).

Notas: 8,0 pra Chuva Ruba, 5,5 para Tempestade de Sangue e 6,5 para Bruma Escarlate (média um belíssimo 6,66 - bwa, ha, ha!).

31 de outubro de 2024

{Resenhas sem propósito de Quinta} Dragon Ball Daima

Talvez a série encontre seu tom e se torne melhor até do que Toriyama em seu auge, e é verdade que eu estou julgando o material com base em apenas dois episódios, mas e eu posso dizer sem pestanejar que eu genuinamente não consigo lembrar de um episódio tão ruim quanto o episódio 1 de Dragon Ball Daima (e o segundo não ajuda muito também, sem absolutamente nenhuma cena memorável além de vermos o Mestre Kame criança).

Eu genuinamente não consigo pensar em nada tão ruim quanto esse episódio incluindo toda uma série de coisas que eu não assistiria mesmo se pago e eu espero conseguir explicar nos próximos parágrafos os motivos disso - sem nostalgia, sem comparações desnecessárias com a série original ou Dragon Ball GT ou Super, somente olhando o material pelo que ele é.

E esse é o primeiro grande problema.

Dragon Ball Daima gasta boa parte de seu primeiro episódio com dois elementos que não são nada interessantes, um primeiro relembrando os eventos da saga de Majin Boo enquanto um segundo estabelece um retcon para contextualizar o mundo dos demônios (afinal um dos vilões da saga de Majin Boo era o rei dos Demônios), e, nenhum dos dois funciona.

Primeiro porque relembrar os eventos da série original é desnecessário - quer dizer, será que alguém que não conhece esses personagens assistiria a uma nova série com eles? - enquanto levanta questões de que talvez seria mais interessante rever o original não é mesmo?

Enquanto isso, o retcon estabelece um novo conjunto de vilões e suas motivações (sem conseguir muito bem). Eles não são exatamente diferentes do Rei Pilaf do começo da série (mais para alívio cômico que para uma ameaça séria), e seus planos igualmente não são nem diferentes e nem interessantes. Puta merda, parte do episódio se gasta com os vilões presos na burocracia na jornada para cumprir seu plano, e eu pergunto colega leitor: você consegue conceber isso? Você vai assistir a Duro de Matar e o filme gasta vinte minutos mostrando Hans Gruber pagando uma multa de trânsito, parece algo lógico para você?

De novo, eu entendo que é um propósito mais cômico, para tomar um tom mais humorístico que resgata esse aspecto que é base do começo de Dragon Ball quando Goku é criança - e que Dragon Ball Daima quer evocar, só que existe uma diferença enorme entre fazer piadas e gastar o tempo do espectador com algo que na melhor das hipóteses provoca um risinho amarelo (sabe, um dos vilões é fedido, e mesmo sendo os reis do inferno eles encaram burocracia... Quase um especial de comédia do Danilo Gentile).

Com isso os vilões são retratados como néscios o que nunca oferece qualquer grau de ameaça real a suas intenções, e vendo que o plano deles é transformar Goku e companhia em crianças para assim neutralizar o risco de sua reação só reforça esse argumento, não?

Nesse ponto de transformar Goku e companhia em crianças eu acho que reside o maior problema do episódio por ser exatamente a última cena dele, enquanto todo material promocional retrata exatamente isso (da imagem sobre a série no Crunchyroll, Netflix ou Max assim como o resumo nestess mesmos serviços e qualquer trailer sobre o material), então não é uma grande surpresa, revelação ou gancho para um final de episódio. É a bosta da premissa da animação!

Além disso (e sem contrariar o início do texto) fazendo uma comparação bastante necessária, em Dragon Ball GT eles fazem a exata mesma premissa em um episódio estabelecendo os riscos e motivos pelos quais isso é um perigo e mesmo Dragon Ball de forma geral não é estranha a fazer novos (re)começos e continuações. Goku encontra Bulma e partem em uma aventura até que ele vence Piccolo em um torneio de artes marciais e se casa, encerrando a primeira grande fase da história que recomeça na fase 'Z', com um Goku já adulto e com um filho lidando com ameaças cada vez maiores (e tem alguns intervalos e pausas como a saga dos Saiyajins que termina com a derrota de Freeza para ter novo início com os jogos de Cell e posteriormente a saga de Majin Boo).

Aqui nós temos um grupo de inimigos do reino dos demônios usando as esferas do dragão para transformar Goku e companhia em crianças sem saber porque isso é uma ameaça ou um problema (além do fato que as esferas do dragão não funcionariam por pelo menos um ano para reverter esse desejo - ainda que existam esferas do dragão em outros lugares) ou porque esse grupo de inimigos é uma ameaça real e perigosa. E isso leva mais de trinta minutos para chegar à premissa da série (que gasta boa parte desse tempo relembrando cenas de outra animação que é bem provável não veremos nada nem perto disso aqui). Empolgante, não?

Essa era a grande oportunidade de estabelecer uma direção diferente (afinal Dragon Ball GT já trabalhou com essa ideia de Goku criança de novo) e engajar o espectador para voltar semana após semana. Com esse ritmo glacial do primeiro episódio para chegar a lugar nenhum interessante, eu acho muito difícil de se animar com o material.

Ainda que eu acredite que a série se beneficiaria bem mais do lançamento de mais de um episódio para estabelecer sua premissa e apresentar sua ideia, o que ela faz com esses dois episódios não ajuda. O ritmo é lento e quase glacial e ao final dos dois efetivamente nada de significativo aconteceu...

Droga, o segundo episódio gasta todo um tempo tentando justificar que para Goku e companhia é mais difícil se acostumar em se mover agora que são crianças - algo que nas muitas condições da série original (da qual essa é uma continuação) Goku treinou com gravidade aumentada, passou pela fusão com outra pessoa e inclusive trocou de corpo com outra pessoa (só pra citar alguns) - mas de repente ter um corpo menor (afinal eles voltaram a ser crianças) é mais difícil que todas essas coisas?

Pode ser que engrene a partir do episódio vinte e cinco, mas será que ainda terá alguém acompanhando até ali para isso significar alguma coisa?

28 de outubro de 2024

{Resenha Lixo} Entrevista com o demônio

Crédito onde ele é devido: David Dastmalchian apesar de seu nome complicado de falar (e mesmo escrever, eu fracassei algumas vezes mesmo lendo no IMDB) é um tremendo ator e produz (mais) uma performance extraordinária no filme.

Além dele, a premissa é realmente interessante - nos anos 1970 (o filme O Exorcista saiu em 1973 e havia toda uma onda de ocultismo e sentimento de medo com relação ao tema na época, algo que o filme contextualiza também) um programa de entrevistas no meio da noite aproveita para fazer um especial de Halloween com uma convidada que (alega que) foi possuída pelo demônio.

Eu realmente acho que isso tinha tudo para dar certo e fiquei realmente empolgado com o filme, e, verdade seja dita até mais ou menos a metade do material eu estava ainda realmente empolgado. Droga, quando a efetiva entrevista com a menina possuída começa eu fiquei realmente surpreendido pela escolha ousada do diretor de cortar o áudio e causar uma gigantesca confusão mental no público espectador para entender o que estava acontecendo... E aí eu descobri que só tinha caído a internet e o filme continuou passando (sem áudio) por alguns instantes, ops.

Verdade seja dita,o filme tem alguns problemas estruturais bastante gritantes e que tornam a coisa toda um exercício de frivolidade. O final é terrível sob todos os aspectos (e bobo também pra ser bem honesto, mas eu volto nesse aspecto com uns avisos de spoilers para quem não viu o filme e ainda quiser arriscar), mas honestamente é a questão estrutural que tornam as escolhas da forma como o filme é contado acabe fracassando.

Veja, esse filme tenta criar uma estrutura de um documentário falso que apresenta esse episódio perdido de um show chamado Night Owls (algo como Madrugador em uma tradução livre pois é um termo justamente para falar sobre quem fica acordado até tarde), e o filme começa contextualizando a vida do apresentador para só então começar com o episódio em questão e meio que seguir todos os eventos como se fosse a gravação do material efetivamente (sabe, sem cortes notáveis, com espaço para os intervalos comerciais - em que muda para as câmeras e conversas dos bastidores).

Aqui temos o primeiro problema, com esses cortes que ocorrem nos 'intervalos comerciais' que ainda que funcionem na estrutura narrativa não funcionam na premissa narrativa (de que isso é um documentário falso relatando esses eventos). Eu confesso que não sei como funcionam câmeras em um estúdio num programa desses - se elas continuam gravando normalmente nos intervalos ou não - mas nem é isso que eu estou argumentando que é o problema, pois em alguns destes segmentos os eventos transcorrem em locais onde não existiriam câmeras, então te pergunto, de onde vem essa filmagem para esse documentário falso?

Não, sério, tem algumas conversas na coxia do estúdio em ângulos que não fazem o menor sentido para essas câmeras (que, sabe, do estúdio seriam fixas para a gravação do talk-show).

E, vamos deixar claro, eu até acho que isso funciona na maior parte do filme por mais que me incomode (porque não é bem usado). O problema aqui na verdade é que essa escolha de construir um filme com a premissa de um documentário falso (com base em um episódio perdido de um talk-show dos anos 1970) funcionaria muito melhor se eles realmente abraçassem essa sacada e fossem de cabeça nela, sabe?

Abraçar o estilo visual como feito em Os Rejeitados (também de 2023), usar de truques para criar mais suspense e tensão como o que eu relatei que aconteceu comigo assistindo o filme (com o silêncio numa cena tensa fazendo parecer um problema de áudio por obra do sobrenatural), mas que facilmente poderia abraçar elementos mais sinistros aqui e ali (como em A Maldição da Mansão Bly - de 2020) e não efeitos especiais pobres (tem várias ocasiões de efeitos de eletricidade que são genuinamente terríveis, mas mais pro final do filme tem alguns efeitos para criar algumas imagens perturbadoras - e enquanto são perturbadoras, os efeitos são bem ruins não obstante).

Nisso caímos no segundo grande problema e o que eu acho realmente o maior. O filme, apesar de seu título e premissa (sabe, de uma Entrevista com o demônio e tudo mais), com seu pôster fazendo um aviso que pode ser perturbador para membros da audiência, bem, eu tenho sérias dúvidas se eu sequer consigo classificar o projeto como um filme de terror. Droga, eu acho que Todo Mundo Quase Morto (que é uma comédia e existe com a premissa cômica de começo ao fim) tem cenas mais assustadoras, e Entrevista com o demônio tem na minha opinião algumas piadas bem interessantes inclusive.

Perturbador? Mais para repulsivo em alguns pontos do final, mas assustador? Eu genuinamente não vejo isso. Então será que dá para chamar de um filme de terror?

Quer dizer, tudo é bastante inofensivo e inócuo no geral que é um filme que facilmente passaria na sessão da tarde exceto pelo final, e, mesmo com ele não precisaria de muito mais que mudar o horário de transmissão para mais a partir das 17 horas quando começa o Cidade Alerta e outros programas de 'jornalismo' policial que trazem bem mais sangue que o filme.

Só que, como eu disse, o final tem alguns pontos repulsivos além de ser bastante ruim, certo? E esse é o pior problema dele ao falhar em fazer funcionar a sua ideia principal e em reforçar os problemas anteriores.

Se você não quiser saber dos spoilers sobre o final, bem, agora é um bom momento para terminar a leitura entendendo que o filme é bem ruim e você passa bem sem assisti-lo (mas o fato que essa é uma resenha lixo já deveria ter te adiantado sobre essa conclusão).

Durante o filme, tem um convidado que participa de todo o segmento com a função de desmascarar charlatões e fraudes e ao final ele tem um espaço para explicar a entrevista como hipnose (o que já de cara é uma péssima explicação e mais que isso, tira bastante do impacto da ideia do filme), e ele faz uma demonstração onde efetivamente nos é mostrada a hipnose em ação (funcionando com os membros da plateia e demonstrando para nós espectadores exatamente como veríamos se fossemos hipnotizados também com os efeitos especiais repugnantes), para na sequência trazer o vt sem os efeitos especiais.

Ok até aqui? A partir daqui temos um novo vt para mostrar a entrevista tentando desmentí-la também e o filme segue numa longa sequência final que denota uma conclusão trágica dos eventos (basicamente todo mundo no palco morre de maneira grotesca) no que desencadeia uma sequência bizarra com o âncora Jack Delroy revivendo algumas de suas entrevistas e 'maiores momentos' (que nos foram exibidos ao começo do programa) sob uma ótica mais macabra (e ainda assim bastante inócua e nada assustadora) para chegar à conclusão que, tal qual na hipnose causada pelo convidado que causou uma alucinação coletiva, Jack Delroy passou por uma longa alucinação e matou todas as pessoas no palco de maneira grotesca (porque o Homem das Bolinhas tem inveja do Coringa).

E o problema disso tudo - além do fato que é uma explicação capenga que não funciona (afinal eu que estou assitindo ao filme não deveria ver o material como se fosse hipnotizado, algo que a própria "explicação" e lógica do filme diz que não foi registrado pelas câmeras), e do fato que nós espectadores não deveríamos ver a sequência das alucinações de Jack (porque isso está acontecendo na cabeça dele e as câmeras não teriam como filmar isso) - bem, é que isso é bastante sem graça.

Se o filme não se desse ao trabalho de explicar (seja com o hipnotismo ou de que foi Jack que surtou e matou todo mundo), talvez tivesse um impacto maior sobre os eventos do final - ou se a explicação fosse boa, o que, honestamente é sempre difícil quando se trata do assunto do filme, que é melhor manter um tom mais ambíguo. Mas a explicação capenga faz com que o negócio todo desmorone e deixe de funcionar e jogue querosene e acenda o lança-chamas para destruir qualquer ponte de boa fé que construiu até o momento com o espectador.

27 de outubro de 2024

{Em busca do pior...} Episódio dos Simpons de Halloween!

Essa eu acho que foi a mais difícil para selecionar. Quer dizer, é fácil encontrar uma história ruim ou sem graça, ou alguma que seja realmente detestável (como Homerzilla da vigésima sétima temporada que na minha opinião é o pior segmento de todos os episódios), e às vezes até duas histórias que não sejam boas, mas pela liberdade que as histórias de dia das bruxas proporcionam, com possibilidades de mudar completamente as regras do programa e contar histórias completamente malucas e experimentais sem qualquer ramificação ou consequência ou somente fazer alguma paródia sem compromisso, existem bem melhores chances de, bem, pelo menos salvar o episódio com um segmento ou fração de segmento.

Mesmo sem produzir algo engraçado como na primeira Casa da Árvore dos Horrores trazendo o poema O Corvo de Edgar Allan Poe, esses episódios tem possibilidades para fazer coisas novas e, na pior das hipóteses, sair do lugar comum e da rotina da série...

Nesse caso eu acho que são os mais fortes candidatos os episódios XXII da 23ª temporada (com o segundo pior segmento em que Homer fica em coma e aprende a se comunicar através de peidos - e que termina com ele virando o Homem-aranha por algum motivo, um segmento sobre Flanders virando um psicopata numa paródia fraquíssima de Dexter e um segmento final sem imaginação parodiando Avatar) e XXV da 26ª temporada (com um primeiro segmento bobo sobre Bart estudando no inferno - e dessa forma se dando bem na escola - um segmento incrivelmente mal escrito que tenta parodiar Kubrick e termina com o diretor dizendo que é uma droga e deveriam refazer tudo - o que ele está certo - após uma colagem de personagens de seus filmes se digladiando por algum motivo, e um segmento em que os fantasmas dos Simpsons antigos voltam para assombrar os Simpsons modernos).

São três paródias somente e todas elas não parecem nem se esforçar o mínimo para tentar... Só pegaram alguns filmes e seriados comentados no momento e produziram versões com personagens dos Simpsons, principalmente porque já começa muito fraco com o segmento sobre o Escafandro e a Borboleta (cujo filme é muito bom por sinal), que termina de maneira terrivelmente idiota (com um Homer paralizado se tornando o Homem Aranha porque não?), seguidas por duas paródias bobas e sem inspiração de Dexter e Avatar. Talvez não seja tão ruim quanto o outro, mas o outro ainda pelo menos tenta algo diferente...


Mas, como disse mais cedo esse ano quando a 35ª temporada saiu, temos também o episódio XXXIV com uma ridícula primeira história que tenta misturar o Expresso do Amanhã com NFTs (óbvio) e que não tem a menor graça, uma doença transformando os habitantes de Springfield em Homers (algo que a série já apresentou ao menos duas vezes com uma história de Multiverso e outra de clones do Homer) e que não tem a menor graça e um mistério investigativo bobo meio inspirado por O Silêncio dos Inocentes e Se7en com Lisa recorrendo a Sideshow Bob para localizar um assassino (e que termina de maneira igualmente boba e não tem a menor graça).

Mas, verdade seja dita que, se eu tivesse que avaliar os episódios individualmente, suas notas ficariam na faixa dos 3,0-4,0 (o que estabelecemos na primeira parte que não é suficiente para competir com os episódios realmente ruins).

Eu acho genuinamente que no conjunto, o episódio XXV é o pior. Todos os segmentos são fracos, com uma bobagem sobre Bart indo para uma escola no inferno, um segmento com Moe em uma versão de Laranja Mecânica - que termina inclusive com um Kubrick ex Machina - e o segmento final em que os Simpsons encontram fantasmas na casa que são justamente os Simpsons antes da série (a versão do Show de Tracey Ulman)  sem piadas que salvem ou funcionem, ainda que o segmento final seja o melhorzinho... 

Nota 3,5/10.

24 de outubro de 2024

{Resenhas de Quinta} Em todos esses anos nessa Indústria vital...

Já com três temporadas, Industry é uma série que passou pelo radar de muita gente, e, sejamos honestos, com muitos motivos e muita razão... É uma série sobre o mercado financeiro e muito do material é tão cinza, sem sabor além de complexo mesmo pra quem entende bastante do assunto (que mesmo entendendo é capaz de ficar perdido e para quem não entende do básico é capaz de parecer que estão falando em um idioma extraterrestre), para ficar mais paleatável para o grande público o material acaba apelando para muito sexo (ainda que talvez 'sexo' não seja a palavra, talvez perversão sexual se aplique mais).

A primeira temporada é boa, apresentando os personagens e os conflitos (das personalidades deles todos e seus interesses) enquanto forma o cenário maior do contexto de como funciona o banco de investimentos Pierpoint (seu sistema de recrutamento e seleção, suas negociações e etcs). O primeiro episódio tem um final incrível (que eu realmente não esperava) e que acaba moldando os eventos do restante da temporada e mostrando muito (a falta) do caráter da empresa, mas sem entrar num território de spoilers. A primeira temporada termina em um ponto bem alto com o conflito entre duas das protagonistas e aí a pandemia aconteceu (literalmente).

A série entrou em um hiato de produção durante e causada pela pandemia e levou dois anos para retornar, perdendo parte do momento que conseguiu com o ótimo final da primeira temporada e acaba com uma algo que é difícil de assistir em dados momentos, se arrastaaaaaaando em tramas desinteressantes que não andam para lugar nenhum por seis ou mais episódios até os dois episódios finais que são realmente bons levando a um ótimo final de temporada que é o catalisador para os eventos da terceira temporada lançada em 2024, e, francamente a melhor da série.

Eu acho inclusive que é possível assistir somente à terceira temporada sem as demais e entender os pontos principais dos eventos que vão transcorrendo (um lançamento de IPO de uma empresa ESG - que dá muito errado e vamos ficar por isso para não ceder nenhum spoiler), enquanto tragédias e eventos pessoais começam a se desfraldar e até mesmo concluir do que a série apresentou nas temporadas anteriores.

Algumas coisas me incomodam, é verdade, com uma contextualização de um sistema honesto e íntegro de gente cortando as gargantas uns dos outros mas preocupados a todo momento com informação privilegiada... Isso, honestamente é o que mais me incomodou na série toda, diga-se de passagem, do quanto vemos esses personagens mentindo, enganando, passando rasteira em cobra e fraudando quando necessário mas de repente chegam a uma linha em que dizem que não podem cruzar (que honestamente é a linha que eles obviamente cruzariam a qualquer momento sem pensar duas vezes).

Mais que isso existe o fato de como esses personagens conseguem tal informação privilegiada que no geral é estúpido e patético (sim, o colega de quarto comodamente trabalha no escritório de uma pessoa que pode conduzir uma investigação sobre uma negociata que está sendo conduzida ou pessoas discutem no banheiro os aspectos altamente comprometedores de contratos)...

Ou um bilionário que vai preso por evasão fiscal (eu não sei se na Inglaterra isso acontece - talvez lá as leis sejam mais severas como Jimmy Carr pode apontar, mas eu ainda duvido que qualquer bilionário acabaria dois anos atrás das grades por evasão fiscal em qualquer lugar do mundo).

Compromete? Honestamente não, mas acaba distraindo e te tirando da trama porque é preciso aceitar cada vez mais desses detalhes para que a coisa toda funcione, e, pode resultar em diferentes graus de apreciação do material (ou de contentamento com sua conclusão).