A conclusão da história de Tom King para o personagem criado por Jack Kirby, e, que pra mim fecha com chave de ouro a excelente série não é algo para ser analisado isoladamente.
Enquanto uma edição final, ela depende de toda a série para a conclusão funcionar - a edição traz diversos elementos das edições anteriores que vão ressurgindo aqui e ali. A quase morte do início (que é como a série começa com Scott sobrevivendo a uma tentativa de suicídio), as alucinações que trazem personagens que faleceram durante a série confrontando Scott de suas motivações (mas, e bem provavelmente, fazendo bem mais que isso - porém sem spoilers) enquanto reutilizando uma seqüência do jovem Scott Free para servir de contraponto a uma parábola.
O final é um tanto complexo em si, e é importante que permaneça em aberto o máximo possível pois é aí que reside a genialidade do trabalho. Teria de fato Scott Free escapado e vencido todos os desafios que lhe foram apresentados nos capítulos finais ou esse final feliz é nada mais que uma ilusão criada por sua mente (ou no caso a equação de anti-vida finalmente agindo, algo que desde a primeira edição com os 'Darkseid Is' pululando já dava sinais de estar por vir)?
Mas há muito mais que isso, e é aqui que reside o brilhantismo.
Veja, a vida de Scott e Barda é incrivelmente bizarra e complexa - e isso sem contar com o fato que são deuses alienígenas vivendo na Terra. Eles tem um filho e estão esperando uma segunda, Scott tem uma profissão pouco usual e é visto por muita gente como uma celebridade por isso, e ele tem de lidar com as pressões da vida cotidiana: o caótico tráfego de Los Angeles, as dificuldades de manter um padrão e qualidade de vida e, mais que isso, de conciliar carreira e relacionamento(s).
Além disso, claro, Scott lida com o fato de seu planeta natal estar em constante guerra, e, ele servir lá como general e figura importante na peça do conflito (uma vez que atua como general em um lado enquanto é filho do líder do lado adversário), e as difíceis escolhas que tem de tomar (em dado capítulo, o vilão Darkseid coloca como condição para se render e instaurar a paz que Scott e Barda entreguem seu filho recém nascido a ele).
Essa vida heroica em Apokolips frequentemente é contraposta à vida real na Terra, e, é aqui onde a série floresce e compõe seus melhores momentos - assim como expõe o cerne de seu ponto, que reside em discutir qual das vidas de Scott é a real, e, de qual delas ele está de fato fugindo.
Veja, para os não iniciados (e que não leram o material), Scott Free, o Sr Milagre é um Houdini elevado à enésima que é conhecido como artista de fugas supremo que pode fugir de qualquer situação, mas seria possível fugir da realidade?
Ou mais que isso, não seria a fuga da realidade efetivamente a ação que Scott faz?
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