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4 de setembro de 2025

{Remakes de Quinta} Corra que a resenha vem aí

2025 é, na minha opinião, o pior ano em termo de filmes de comédia de todos os tempos. Talvez seja uma hipérbole típica para obter cliques, ainda que de maneira geral seja um enorme exagero considerando que eu não assisti a todos os filmes lançados em 2025 ou possa analisar de maneira geral todos os anos anteriores para julgar a condição geral (até porque eu duvido muito que durante a grande depressão e início da segunda guerra fosse particularmente um período promissor para a comédia também).

Mas, pelo amor de todos os deuses, deusas e entidades superiores, estamos em setembro e até esse exato momento eu não vi absolutamente UMA comédia decente. UMA.

Deixa eu repetir porque pode parecer um exagero de novo, mas dessa vez eu estou 100% enfático nesse argumento porque eu genuinamente não me recordo de um único filme de comédia (ainda que série também me escape) lançado em 2025 que seja bom.

Não, Centenas de Castores (lançado como O Caçador de Peles) não conta pois foi lançado em 2022 de acordo com o IMDB (é). Novocaine (que pende pra ação mais que para comédia) é medíocre na melhor da hipóteses enquanto Anônimo 2 é... Um filme que foi produzido, eu acho. Droga, conseguiram estragar Tim Robinson com o fraquíssimo Amizade e eu já perdi as contas de quantos filmes do Leandro Hassum chegaram esse ano (e eu tenho certeza que a melhor cena de todos eles é a dos créditos porque indica que acabou) por mais e mais que eu procurasse o único filme que genuinamente é engraçado com boas piadas e que me fez rir em 2025 eu não consegui pensar em um único capaz de concorrer com Corra que a Polícia vem aí com Liam Neeson.

E por mais que tente, o filme não conseguem ser o quarto melhor da franquia (que só tem 3 outros filmes).

Algumas piadas são genuinamente engraçadas, e o roteiro consegue criar cenas muito bem feitas e eu diria até que funciona melhor que os filmes originais em muitos aspectos. Só não funciona no aspecto principal que é me convencer no Liam Neeson, em grande parte e principalmente pelo que ele vem fazendo nas últimas duas décadas atuando como protagonista de filmes de ação, e, não se dando ao trabalho para se entregar ao ridículo das cenas e entrar de cabeça nas situações e o trailer final sintetiza isso muito bem - porque resume o que o ator faz no filme, mantendo aquela estrutura extremamente série de ator de filme de ação.

No entanto, quando a gente compara isso com o que Nielsen fazia - que era ao mesmo tempo mais sútil com uma atuação série que quebrava com uma piada estúpida como a do que é um hospital ou não me chame de Shirley, ele também se pulava com os dois pés para produzir uma cena ridícula (como ele treinando boxe com uma galinha), e quanto mais eu penso, como qualquer comediante faria. Sabe, Jim Carrey com Ace Ventura, Bill Murray com Caddyshack e a lista vai e vai.

Neeson precisa se manter sério o suficiente para continuar a fazer filmes de ação com idosos super habilidosos que  salvam o mundo, e, sejamos honestos, o melhor amigo do Andy Samberg não é nenhum David Zucker...

Eu acho que seja bem meh no frigir dos ovos, ainda que, por mais que eu pense ainda é o melhor filme de comedia de 2025... O que me assusta.

28 de agosto de 2025

{Resenhas que você não pode ler de Quinta} Po-po-poker face

Olha, talvez eu esteja incrivelmente errado em muitas coisas na vida, e, eu não duvido que eu esteja, mas eu genuinamente acho que Natasha Lyonne é uma atriz extremamente carismática (mesmo se isso não significar necessariamente que seja uma boa atriz sob algum critério mais específico) e por essa métrica eu gosto ver projetos com ela.

Por um bom tempo eu quis assistir a Poker Face - vendo as propagandas, inclusive os anúncios que mostravam Lyonne trabalhando com John Mulaney (e ele aparece em apenas um episódio) - e, honestamente o primeiro episódio me mostrou enorme potencial com um elenco extraordinário e uma premissa muito boa (muito boa mesmo), em que Lyonne é basicamente um detector de mentiras (sarcástico) humano que trabalha em um cassino com sua melhor amiga, e, uma tempestade de merda atinge suas vidas.

O primeiro episódio tem direção de Rian Johnson (de alguns de meus filmes favoritos de mistério como Entre Facas e Segredos) e conta com um elenco bastante estrelado que inclui mas não se limita a Adrien Brody, Rhea e Ron Pearlman, Steve Buscemi e mais meio mundo em apenas duas temporadas/22 episódios e eu não ficaria surpreso se eles tirarem o Rick Moranis de aposentadoria para a terceira temporada...

Mas o final do primeiro episódio me desanimou de tal maneira que eu acabei pulando quase toda a primeira temporada para ver se melhorava, e para não entrar em spoilers (que eu já evitei até agora) eu vou concluir a resenha primeiro para depois falar do grande problema para mim com esse primeiro episódio.

Os episódios são construídos de maneira que seja/pareça mais com filmes curtos (de uma hora/quarenta e tantos minutos) do que com uma série de fato, tanto que poucos são atores recorrentes, a estrutura das câmeras e enquadramentos, e os roteiros trabalham nessa estrutura também, com narrativas curtas para funcionar com começo, meio e fim ainda que mantendo a mesma protagonista lidando com uma ameaça constante que a mantém fugindo.

Até aqui, nada muito novo (o seriado do Incrível Hulk ou Kung-Fu com o David Caradine só pra citar dois nessa estrutura), o material se destaca pelo excelente número de astros e pela qualidade da direação e câmeras, além, claro do carisma incrível da protagonista.

O problema reside no roteiro e ele retorna ao roteiro quando ele precisa funcionar, e, puta que pariu, de novo e de novo eu me vi desapontado com o material nesse quesito, e, para entrar em detalhes precisarei de alguns spoilers então se ainda te interessa ver a série sem os spoilers aqui termina a resenha.

Bons atores, boa direção, roteiro fraco, mas vale a pena se você não quiser nada particularmente desafiador ou, sabe, interessante. Se você preferir o exato mesmo mas com bom roteiro particularmente desafiador, tem The Cleaner do Greg Davies, e, esse eu realmente recomendo.

 

 

Ok: Spoiler a partir daqui, não diga que não foi avisado.

 

 

Vamos lá:

 

Eu falhei em explicar a premissa do primeiro episódio pois isso traria alguns spoilers sobre o episódio que estragam o material, então talvez não seria bom falar sobre eles, mas honestamente o fim estraga o episódio da mesma medida, então...

Vamos lá: O primeiro episódio nos mostra a amiga da protagonista sendo assassinada em sua casa depois que ela descobre algo terrível no seu lugar de trabalho, mas, o assassinato foi uma armação para parecer que foi o marido dela (um bêbado abusador).

Natasha Lyone percebe que existem vários sinais errados, e, acaba descobrindo a identidade do assassino - enquanto ela inadivertidamente trabalha com ele em um esquema/negócio. Ok, então chegamos a praticamente Frasier com suspense enquanto os personagens tentam enganar uns aos outros e esconder seus segredos enquanto arrancando informação uns dos outros.

O problema é que, quando Natasha descobre toda a verdade - sobre quem matou sua amiga e que tem armas e sangue frio para operar uma execução e fraudar a cena do crime, além de controlar a polícia local na investigação - bem, o que ela faz?

Busca ajuda de alguma agência federal de investigação e entrega as informações? Confronta o criminoso a uma distância segura após confirmar o sucesso de seu plano (talvez até por telefone)? Confronta o bandido conforme a polícia aguarda para confirmar a confissão do criminoso e prendê-lo...? Confronta o bandido com a ajuda de algum outro bandido maior (inclusive algo que faria mais sentido no contexto do episódio e da série)...? Foge o mais longe possível sem olhar para trás...?

Não... Nenhuma das anteriores, ela só vai confrontar o criminoso, completamente desarmada e sem qualquer trunfo ou plano, para tripudiar e dizer que ela descobriu o que de fato ocorreu... E aí ela foge da máfia e de gente armada que quer matá-la pelo restante da série sem o menor propósito ou motivo (inclusive com cenas em que ela aleatoriamente escolhe o próximo lugar para ir).

21 de agosto de 2025

{Resenhas Impossíveis} Missão de Quinta Erro nas Contas

Missão Impossível: Acerto Final (ou Missão Impossível 8) é um filme de quase 3 horas que não sabe quando começar ou como começar, até porque, vale lembrar, o começo dele deveria ser o filme anterior (batizado originalmente de Acerto de Contas Parte 1 já com duas horas e quarenta e pouco), e, no quesito história enquanto não é lá muita coisa original nem sequer tenta ser muito interessante.

Uma inteligência artificial altamente sofisticada surgiu e pretende controlar o mundo, mas, ao contrário de Ultron com um corpo físico (para manifestar a motivação e servir de alvo para a agressão) a entidade é amorfa e virtual somente manipulando as coisas nas sombras.

Nada disso é particularmente uma ideia ruim quando consideramos que a ideia é que essa fosse uma franquia de espionagem, e em tese alguém manipulando decisões nas sombras seria o pão com manteiga do gênero... Ainda que a realidade de filmes com espiões tenham bem mais perseguições de carros e demonstrações inequívocas das ações dos agentes que, bem, ação nas sombras manipulando as coisas.

A IMF de Ethan Hunt depreda patrimônio público a cada cinco minutos enquanto cruza o planeta em busca de planos mirabolantes de criminosos terríveis (geralmente com planos ridículos que envolvem máscaras perfeitas que inclusive imitam a voz da pessoa original e mais toda uma sorte de absurdos).

Enquanto, não, Missão Impossível não é escrito por John Le Carre ou preze por qualquer crivo de coerência ou proximidade da realidade a ausência de um vilão claro e carismático numa franquia permeada por vilões carismáticos (como o emblemático papel de Phillip Seymour Hoffman no terceiro que rouba a cena a cada vez que está na tela), o que torna a franquia mais próxima de um filme de super-heróis que de espiões.

Então um bom vilão é chave para a coisa toda. Batman não enfrenta o conceito mais abrangente e filosófico do crime mas sim algum um idiota que se veste de palhaço, e é a personificação do mal nesse personagem que dá dimensão à luta ao crime. Com material sobre espiões, bem, ou a coisa ignora rapidamente a ideia de que espiões são basicamente ladrões operando para roubar informação de um lugar para o outro (geralmente governos ou para governos) e os colocam em cenários com grandes perseguições, lugares exóticos (mas ainda assim bastante públicos - e dos quais esses agentes não apenas teriam zero juridsição como causariam um incidente internacional).

E nisso bons filmes do gênero constroem bons antagonistas que são terríveis e justificam de maneira geral o motivo para esse espião agir em qualquer lugar do mundo deixando um gigantesco rastro de corpos e destruição em seu caminho (mesmo que contrarie tantos conceitos de acordos de soberania e hegemonias nacionais) e está tudo bem.

Não importa muito se Bond ou Ethan Hunt foi para um um país onde matou metade da população só para invadir um servidor e obter alguma minúscula informação que mal representará algo relevante para a trama mais tarde desde que o vilão seja icônico e relevante, e, porque se eu quisesse alguma história coerente sobre espiões eu assistia Slow Horses ou lia John Le Carre!

Quem vê esses filmes espera explosões, mulheres atraentes como interesses amorosos, cenas de ação incríveis (de preferência em locais exóticos) e vilões carismáticos e interessantes.

Missão Impossível funciona muito bem para boa parte desses elementos, e, em alguns dos filmes melhor até que Bond conseguiu em anos recentes, ainda mais com as noções que Tom Cruise usou para criar cenas sem dublês que desafiam os limites de cenas de ação, e, com algumas exceções dos primeiros dois filmes (que são bem ruins na minha modesta opinião - principalmente o segundo, mas o menos que falarmos de um filme com trilha sonora do Limp Bizkit, melhor) a série realmente construiu uma gigantesca reputação com brilhantes cenas de ação, muito bem executadas mesmo se os vilões em momento algum conseguissem o mesmo nível do terceiro filme (mas honestamente competir com Seymour Hoffman seria difícil pros melhores).

Legal, mas o que tudo isso significa para o oitavo filme da franquia...? Muito pouco, é verdade, mas, nem tanto assim uma vez que o filme tenta deseperadamente agarrar os fãs pela nostalgia com cenas e mais cenas reconstituindo eventos dos filmes anteriores para solapar a noção de que essa é uma série que vem correndo por mais de trinta anos nesses oito filmes e, enquanto esse é um ponto tão bom quanto qualquer outro para terminar as coisas (ainda que o sexto filme seja o final perfeito para a série), eu passei mais tempo tentando lembrar os eventos do filme anterior do qual esse é uma continuação direta (afinal ele serria a parte 2 para ele), mas eu simplesmente continuava de novo e de novo não me importando com a ameaça ou a a ameaça da 'Entidade'.

E o filme demoooooooora para engrenar (ainda que não tanto quanto o sétimo filme, mas aquele eu acho que só engrena na última cena depois de mais de duas horas).

Mas quando engrena aí vai, né?

Beeeeeeem... Não muito. O filme ainda gasta muito tempo tentando justificar sua narrativa e a ameaça terrível da 'Entidade' e fazer flashback aos eventos dos outros filmes para... zzzzzz.

E olha, tem algumas cenas bem interessante porque eles são capazes de fazer cenas como ninguém e esses personagens sentados numa mesa para fazer o imposto de renda ainda é muito mais interessante que uma novela da Glória Perez, mas não justifica nem esse filme de 3 horas e nem as quase 6 horas deste oitavo com o sétimo para forma um único grande filme.

De novo, podia fácil terminar no sexto filme que terminaria numa ótima nota, aqui é um negócio bem melancólico e dispensável. 

31 de julho de 2025

{Resenhas que saem do muro} South Park de quinta

Você deve ter vistos as imagens, e talvez até o primeiro episódio da vigésima sétima temporada de South Park após um longo e complexo processo de renovação de contrato (após uma série de problemas de bastidores que eu honestamente não acho relevantes ou me importo em saber em mais detalhes) além de uma gigantesca fuuuuuusão entre a empresa que exibe a série no streaming para o mundo todo (e, que recentemente anunciou o cancelamento do programa de Stephen Colbert - apesar de índices de audiência - para agradar o governador dos Estados Unidos, Donald Trump).

Existe mais para essa história - com a situação do programa jornalístico 60 minutos, processos ao Wall Street Journal por exibir uma matéria que vincula claramente o Taco extra laranja com o pedófilo notório Jeffrey Epstein e uma propina gigantesca covardemente paga pela companhia que é dona de South Park antes da renovação (multimilionária) dos direitos de renovação para a nova temporada do seriado - e, nesse cenário os criadores do show resolveram tirar as luvas de pelica e sair do muro em que ficaram desde pelo menos 2016 com a primeira eleição do laranjão (ainda que, verdade seja dita, eles acreditassem que Trump perderia - e não apenas no voto popular).

O primeiro episódio da nova temporada claramente mostra Trump como o preisdente e nada mais daquela bobagem do senhor Garrison com maquiagem laranjada, e não é uma versão do cara - é a foto dele como fizeram com Sadam Hussein nos anos 1990, e, como Sadam, ele também está em uma relação amorosa com o diabo, aparecendo frequentemente na cama com o mesmo...

E, olha, enquanto eu acho que esses caras tirando sarro do Trump não só é algo necessário e importante (ainda mais quando todo mundo mais parece acovardado e aceitando como natural um comportamento submisso e passivo preferindo pagar propinas mesmo quando do lado certo e justo ao invés de arregaçar as mangas e lutar - porque afinal de contas um pedófilo laranja é muito mais poderoso que todo um país ao que parece), eu confesso que não vejo como algo moderadamente corajosa ou sequer bravo como eu percebi a resposta comum na mídia corporativa ao assunto.

Mas, em um mundo que o Quarteto Fantástico ou o Superman são filmes wokes porque retratam pessoas sendo gentis em meio a todo esse discurso da terrível mensagem de 'corrupção social' como a galera da direita quer te vender, um show desafiar um idiota semi analfabeto cujo cérebro está definhando pelas últimas três décadas pra dizer o mínimo (ainda que não fosse lá grande coisa para começo de conversa) de fato até parece um ato de coragem ainda mais quando vem dos mesmos sujeitos que passaram quase duas décadas com uma picuinha mesquinha com o Al Gore por ter vencido um Oscar que eles não conseguiram, e, que, sabe, também tentaram normalizar todo o comportamento de Trump durante o primeiro mandato e os anos subsequentes - mas, é, importante mesmo era tirar sarro do Al Gore.

Sei lá, não me motivou a voltar com South Park depois de anos longe, e nem achei tão interessante ou inteligente (por mais que de fato exista uma série de críticas bem colocadas como o sequestro que a direita faz de Cristo sem entender sua mensagem e basicamente tudo e qualquer comentário sobre Trump), ainda que as repostas da Casa Branca sejam até mais hilárias que o programa e me façam pelo menos querem que eles continuem o resto da temporada fazendo com que esse primeiro episódio seja só uma pequena e minúscula amostra do que pode vir (ainda mais quando não chegaram perto de cobrir o Garbage Pail Vance ou o escândalo ridículo do Signal ou, bem, qualquer assunto que não o novo amante do Satanás)... 

Só que me parece só um negócio mesquinho e sem uma real mensagem.

E meio tarde demais. Talvez um ano atrás esse mesmo episódio faria alguma real diferença ou eu olharia com olhos bem melhores que, o que eu realmente vejo...

Ainda mais porque eu não duvido que logo logo a Paramount tire do ar e o negócio todo ganhe mais gás pela polêmica de ser um episódio proibido - como foram os episódios 200 e 201 com a imagem de Maomé - sem de fato se importar com a qualidade e bons episódios.

Ao final da temporada, quem sabe eu não volte a reexaminar essa minha análise. 

24 de julho de 2025

{Resenhas Coloradas} O Chapolin das Resenhas!


Eu acabei assistindo a uma boa parte dos episódios da série da HBO "Sem Querer Querendo" sobre a história dos bastidores da criação de Chaves, Chapolin e outros tantos personagens de Roberto Bolaños... E enquanto é interessante - e muita coisa foge do que imaginamos sobre essas séries ou seus contextos históricos - eu confesso que não me vi particularmente empolgado, principalmente pelo quanto o material tenta forçar a barra com paralelos de inspiração que mostram Bolaños criando por acidente tudo e mais um pouco, geralmente com a influência direta ou não de alguém em sua família, deixando de lado uma série de elementos que me pareciam mais interessantes (como no livro de mesmo nome em que antes mesmo do nascimento, já existe todo um drama no casamento dos pais de Roberto além de um contexto histórico mais abrangente sobre o cenário do México nesse período).

Dito tudo isso, eu confesso que pela primeira vez em muito tempo eu tive real interesse em assistir ao material de Bolaños e dar uma chance real, afinal, eu sei que essa não é particularmente uma opinião popular mas eu não gosto do Chaves.

 

 

 

Tá, eu consegui escrever essa frase sem ser executado por uma turba de fãs violentos com tochas, então deixe eu elaborar um pouco mais: Não é que eu ache o Chaves particularmente ruim ou mal escrito sob nenhum contexto...

De maneira geral, o material é repetitivo e derivativo (com muitas piadas que são similares ou orquestradas dentro da mesma estrutura sucessivamente), e isso faz sentido pelo contexto histórico, quando não apenas o orçamento era curto mas toda a equipe tinha que produzir mais de um episódio de cada uma dessas séries por semana por um longo período de tempo.

Droga, quando você assiste em alguma sucessão inclusive repara que vários episódios tem o mesmo roteiro mas que foram filmados com atores diferentes ou em momentos diferentes - como quando um ator deixou o seriado ou tentaram trazer alguma outra atriz para ingressar ao elenco.

Com o Chapolin, porém, a coisa parece mais orgânica e funciona de maneira bem diferente. Ainda que alguns vilões se repitam (e nisso os cenários), muitas vezes as soluções e situações seguem rumos distintos. Chapolin tradicionalmente é um idiota bonachão bem intencionado e isso leva a resultados humorísticos bem mais interessantes que o pobre garoto órfão que vive faminto, inclusive porque o gafanhoto vermelho pode aparecer em qualquer lugar em qualquer época (quase como o Pernalonga ou Pica-Pau).

A diferença, claro, é que nem todas as piadas soam tão inócuas ou bem intencionadas pois foram feitas para os anos 1970, mas, bem, o material pelo menos é bem mais criativo e oferece algum potencial que é limitado pelo orçamento (limitado)... Ao ponto que eu genuinamente acho que, com um orçamento minimamente decente e um pouco mais de refinamento narrativo, o material seria realmente incrível.

Quer dizer, existe algo bastante genuíno no quase amadorismo que se monta pela falta de efeitos especiais decentes (ou figurino, ou cenário ou...), e talvez essa seja a real magia que faz a ideia toda funcionar, mas honestamente eu acho que falta muito pouco para ser algo no nível de Steve Gerber com o Pato Howard ou qualquer história humorística bem escrita envolvendo super heróis.

E isso é um paradoxo crucial para o charme do personagem. Sem esse amadorismo, e figurinos e cenários porcos, é bem provável que acabaria barrando em aspectos menos técnicos ao criar algo que pareceria, paradoxalmente, mais artificial pro ser menos genuíno... Sabe, como os Trapalhões, barrando na suspensão de descrença e efetivamente caindo no circense, algo que só funciona num contexto perfeitamente específico e descolado da realidade (e, que, hoje em dia funciona cada vez menos e menos).

Talvez o maior fascínio do Chapolin resida mesmo nesse paradoxo de como ele funciona encapsulado nesse contexto enquanto ainda consegue oferecer algo maior e mais complexo - e, ao meu ver, oferece algo mais dinâmico e inteligente que tudo dos outros trabalhos do Bolaño, por mais que os fãs babões me persigam e exijam uma retratação... 

 

[Editado em 29/07] Para não gastar uma nova resenha com o seriado Chespirito - Sem Querer Querendo: Bem medíocre e vai chamar mais atenção pela polêmica dos atores que não cederam seus nomes e até mesmo semelhanças que estão reclamando que existe manipulação e incongruências contra eles... E, honestamente, eu não vou nem fingir que me importo.

Sim, a Dona Florinda e o Quico saem bem queimados na história toda, mas será que qualquer dos elementos lá demonstrados é mentiroso ou só os pinta de maneira menos favorável que eles gostariam...?

Se você é muuuuuito fã do Chaves, eu duvido que não vá gostar.

Mas se você é muuuuuito fã do Chaves, assista ao Chaves que você vai gostar mais [/fim da edição] 

17 de julho de 2025

{Resenhas de Terramar} O Feiticeiro de Hogw... Digo, Quinta.

Eu confesso que após a tentativa de ler esse que seria o meu terceiro livro de Ursula Le Kun, eu ainda não consigo gostar particularmente do estilo narrativo da autora, ainda que aqui eu tenha particularmente mais críticas que nas outras obras.

Acredito que ela tenha ótimas ideias e consiga explorar conceitos interessantes, porém eu não vejo um fluxo narrativo cadenciado que desenvolva essas ideias e conceitos, e, principalmente no que vejo nesse que é o primeiro livro do 'Ciclo Terramar', me parece uma construção deficiente de personagens de forma que fica difícil investir em seus sentimentos e decisões. Muitos dos capítulos me pareceram mais esboços que efetivamente finalizados e os eventos parecem uma rápida sucessão sem efetivo desenvolvimento (ou recompensa).

O livro narra a história de Ged/Gavião que é um garoto prodígio no caminho da magia e se vê a caminho de uma escola de mágica onde encontra um rival que constantemente o desafia enquanto é perseguido por um terrível mal que quer destruí-lo... E enquanto eu escrevo esse resumo eu entendo o quanto ele se parece com o primeiro livro da série Harry Potter...

Tem um capítulo em que o protagonista depois de deixar a escola de magia está cuidando de sua vida enquanto feiticeiro e resolve que deve confrontar um terrível dragão ancestral que vive em uma das ilhas sob seus cuidados para proteger a população insular. Esse dragão teve um número considerável de filhos, e, essa que facilmente seria uma ameaça para uma livro ou mesmo uma série de livros é resolvida em pouco mais de dois parágrafos. Em duas linhas o herói derrota quatro dos dragões (tá, filhotes mas não muda o fato que ele derrota vários dragões num intervalo de um parágrafo...) e em pouco mais de texto ele derrota o grande dragão ancestral, e esse evento mal funciona como nota de rodapé para uma série de outros fatos descritos no livro.

Só que a brevidade de um evento gigantesco como esse (que facilmente seria o clímax em outra história), não leva a maior desenvolvimento do personagem ou contextualização em seu mundo. Ele derrota o dragão e parte para enfrentar uma nova ameaça - e nem necessariamente uma ameaça maior ou mais interessante -, vida que segue.

Enquanto particularmente isso não seria ruim numa estrutura episódica e que é bastante comum, diga-se de passagem, com contos menores que podem ou não se intercalar e compor uma história maior, não é o que a autora tenta fazer aqui, porque isso faz parte da jornada do personagem... Só parece vazio mesmo. 

A autora tenta contextualizar um mundo mágico maior e mais complexo enquanto não oferece maior detalhamento nos personagens, suas ameaças ou decisões... Temos o dragão (já mencionado) mas outras ameaças que aparecem e somem sem nenhum impacto direto ou repercussão em capítulos seguintes, temos personagens secundários que parecem importantes (como o mentor ou o melhor amigo - que inclusive a irmã mais nova dele é interesse romântico, e puta merda a J K Rowling chupou um monte disso pra Harrry Potter, né?) e mesmo as motivações individuais de Ged/Gavião que pouco ou nada são desenvolvidas ao longo do livro.

Quer dizer, ele demonstra emoções e racionaliza suas ações ao longo do texto, mas nunca parece alguém tridimensional e que efetivamente toma essas decisões além de por necessidade narrativa e não algo orgânico e compreensivo pela narrativa (eu poderia voltar à história do dragão e martelar de novo nesse ponto pelo fato até que o monstro ancestral oferece ajuda ao problema maior para Ged, mas, uma vez que a história exige que ele lute sozinho capítulos mais tarde, ele recusa qualquer auxílio).

E é aqui onde, com maior desenvolvimento dos personagens (e não apenas a racionalização de suas ações) que Harry Potter suplanta os problemas que Ged/Gavião possui. O mundo de Terramar parece frio e estéril, mais como um Atlas ou livro de História explicando o que o personagem e os eventos no lugar de oferecer uma construção narrativa que desenvolve esses eventos, pessoas e fatos.

Talvez o problema resida no fato que eu li Harry Potter e outros livros mais contemporâneos de ficção antes de ler o primeiro livro de Terramar? Até poderia aceitar essa premissa SE eu não tivesse lido material mais antigo como Phillip K Dick, Robert E Howard ou Octavia Butler e achasse o mesmo (ao mesmo tempo que lido material de John Scalzi e pensado em como ele continua a produzir livros sendo tão ruim)...

O problema aqui não é a contemporaneidade da fantasia contra um material mais antigo e talvez até datado, mas a diferença entre um estilo de uma autora que ainda que tenha grandes ideias não tentou desenvolvê-las de maneira orgânica e gradual e faz algo mais próximo de um relato documental (que até me lembraria algo que Tolkien faz no começo de O Senhor dos Anéis que até lembra um documentário de natureza sobre o Condado, mas, verdade seja dita mesmo que eu não goste tanto assim do autor, ele faz isso com bem mais estilo também - só que, e isso é importante, os personagens de Tolkien são bem desenvolvidos e construídos).

Eu comprei os demais livros da série e pretendo prestigiar o trabalho excelente da Morro Branco - em capa dura com arte de Charles Vess - e espero que melhore conforme os demais capítulos permitam que a autora desenvolva melhor seu argumento e personagens.

Vamos ver.

Por enquanto, vale mais pela curiosidade que qualquer coisa. 

10 de julho de 2025

{É um passáro... Um Avião...} É uma Resenha de Quinta!

Enquanto eu escrevo essa resenha eu mal sai do cinema e estou ainda bastante empolgado com o que vi, então, sim, meu entusiamo pode nublar meu julgamento e eu entendo que isso vai pesar, e, principalmente vai se manter no fato que eu não vou utilizar qualquer spoiler.

O filme é excelente, ou pelo menos é a minha impressão após ficar embasbacado com a habilidade de James Gunn de traduzir num personagem icônico e gigantesco como É o Superman a mesma insanidade que ele produziu com seus trabalhos anteriores (seja nos Guardiões da Galáxia ou na própria DC com Esquadrão Suicida, Pacificador e Comando das Criaturas), com uma intensa octanagem para construção de cenas e a busca por personagens obscuros e ridículos que servem incrivelmente para construir um mundo mais nítido e colorido em que estes personagens residem.

Alguns personagens são escolhas certeiras e, honestamente, não consigo imaginar como a Warner ignorou a Mulher Gavião e o Senhor Incrível por tanto tempo (mas aí eu lembro que é a Warner que ignorou a Mulher Maravilha e o Flash em iguais medidas, então...), e o cerne a formação de um universo DC mais abrangente realmente se dá aqui com louvores.

Não vejo com grande otimismo os resultados do filme (até porque seriam necessários os números de bilheteria da Barbie para que gerasse algum lucro pelo que eu ouvi), ainda que minha percepção em uma sala que não estava tão lotada para uma estréia - considerando se tratar de uma quarta feira e feriado no Estado de São Paulo - até porque, para todos os efeitos ontem foi a pré-estreia e a sessão legendada foi a única do dia (e, pelo que eu vi no cinema, a única da semana!).

MAS, ainda assim é necessária uma performance que filmes não vem fazendo há um bom tempo, principamente filmes de super herói, e, que eu não acho que a DC conseguiu chegar perto de bater MESMO com o Batman, então a bilheteria até pode ser uma "dc"epção no fim das contas, ainda que eu nem ache que isso seja relevante nessa etapa especificamente, e também não estou agindo preventivamente para dizer que o filme foi/será um fracasso porque a, b, ou z.

Espero, do fundo do meu coração, que seja o grande sucesso que a franquia precisa para se situar como algo mais interessante e não uma versão B da Marvel, e até para que de fato consigamos filmes de super-herói que sejam diferentes do que a Disney/Marvel produziram pelos últimos vinte anos e pretendem continuar fazendo por muitos mais.

Mas sobre o filme? Bem, é um reinício particularmente interessante para a franquia para apresentar tantos personagens e conceitos (principalmente alguns que já são bastante conhecidos mas, dessa vez tem um toque diferente) e meio que tudo isso de uma vez, James Gunn sabe muito bem fazer esse tipo de coisa e fazer isso bem.

Talvez algumas coisas não funcionem, e, eu honestamente não acho que tudo funciona perfeitamente, mas, existe o fato que o que não funciona aqui pode ser recontextualizado ou melhor trabalhado num filme seguinte, num seriado (como a segunda temporada do Pacificador que logo estará no ar) ou simplesmente não funcione (ou tenha funcionado) para mim.

Claro que são primeiras impressões e talvez em um ou dois meses, ainda mais com o seriado do Pacificador já lançado eu tenha uma opinião diferente. Hoje ainda empolgado, eu recomendo e espero que encontre o sucesso que o universo DC merece nos cinemas.

3 de julho de 2025

{Resenhas de Quinta} 20th Century Pet Shop Boys.

20th Century Boys foi publicado originalmente entre 1997 e 2006 e reverenciada bastante na época de sua publicação original como o 'Watchmen japonês', a série de Naoki Urasawa foi publicada em boa parte do mundo e é bastante renomada... E eu não tive vontade de ler até agora.

Quer dizer, verdade seja dita, a série foi publicada originalmente no Brasil pela Panini em 2012 (uma época que eu estava lendo muito pouco quadrinhos - e, fugia de mangás como o diabo foge da cruz), e depois disso nada. Nenhuma republicação, nenhum animê ou filme...

Eu lembro que via notícias no Omelete na época sobre a série (então você já deve ter entendido o motivo das comparações com Watchmen), e, nesses quase vinte anos da conclusão original do mangá, o material parece que foi sumindo e se perdendo.

Semana passada ou retrasada eu encontrei o volume 1 da nova republicação da Panini (agora em 2025 mesmo) na versão "Edição definitiva" e tudo o que eu falei nos parágrafos anteriores passou a fazer bem mais sentido.

Quer dizer, as comparações com Watchmen parecem bastante óbvias nesses primeiros capítulos (uma gigantesca conspiração global enquanto eventos se desfraldam em diferentes linhas do tempo, enquanto o assassinato de uma pessoa reune o restante de seus antigos conhecidos), enquanto algumas outras coisas menos óbvias vão dando sinal também  (quer dizer, spoiler talvez, mas a identidade do pai da bebê Kanna não é uma surpresa pra ninguém, né?).

Mas nada disso é o que faz Watchmen uma obra interessante e relevante quarenta anos depois. Está no estilo narrativo (com os trechos no final dos capítulos que mudam para anexos, como trechos de livros, de revistas ou demais materiais) enquanto a narrativa abstrai para entre personagens terciários e uma história de ficção dentro da obra de ficção com os contos do Cargueiro Negro ainda mesclando elementos não lineares para a história. Isso com personagens complexos e bem desenvolvidos e uma história que tenta explorar a metalinguagem do universo de quadrinhos estadunidesnses de super-heróis em contraste com o mundo real.

20th Century Boys não faz nenhuma dessas coisas, só as batidas narrativas rasas mesmo.

Um dos pontos relevantes da história é a conspiração de uma seita macabra que parece surgir do nada e cativar cada vez mais fiéis, algo que é um ponto análogo com algo, infelizmente, bastante comum no Japão, e que permitiria a construção de metáforas e analogias mais complexas sobre este mundo e personagens.

Infelizmente não é o que vemos, com uma visão bastante rasa e até mesmo simplista sobre essas seitas e seu apelo (e, até mais que isso, sobre sua capacidade de influência).

Mais até que isso, a conspiração toda que se desfralda na história de Naoki parece boba em comparação (e, eu sei que li apenas o primeiro volume de 12, mas, sejamos honestos, uma seita de um líder espiritual chamado 'Amigo' que era um moleque esquisito e paranormal além de colega de classe de um pessoalzinho quase 30 anos atrás?).

Olha, os personagens são muito bem escritos e desenvolvidos e suas histórias pessoais e suas interações interpessoais são absolutamente fantásticas. Os trechos do passado enquanto as crianças tem planos são um deleite constantemente, e boa parte das cenas em que os amigos estão só curtindo ou fazendo alguma coisa comum (sabe, como cantar num karaokê ou, absurdo, trabalhar) são incriveis em sua simplicidade e talento e, com toda a certeza isso é mais do que motivo para ler ou recomendar.

Só que a história não engrena ou empolga como deveria. O mistério do 'Amigo' e sua seita (que se inspira numa brincadeira de crianças de 30 anos atrás...? Droga, o volume 1 da série termina com um assassinato e nem isso me deixou com vontade de ler a segunda edição (pra ser honesto eu tive que reler parte do material para concluir essa resenha).

Talvez o material encontre seu tom depois de um tempo, afinal são quase 250 capítulos (além de um epílogo com mais 16 intitulado 21st Century Boys), e eu mal li dez porcento disso, mas se eu disser que do que li me empolguei pelo resto, estaria mentindo.

Então isso me coloca na terrível condição de não desrecomendar... Quer dizer, tem seus momentos e coisas que são realmente boas, mas a história principal não anda o suficiente para formar algo interessante para empolgar (talvez um dos motivos pelos quais a série não foi republicada em quase dez anos pela Panini e pelo qual não tem nenhum animê ou filmes), indicando a falta de interesse em geral.

Se você achar numa promoção, tente pelo menos para ver se funciona para você. 

26 de junho de 2025

{Resenhas de Quinta} Afundação 3, a fronteira final

Concluindo a trilogia (mais pela questão de complecionismo e preciosismo que por mera necessidade) chegamos ao final da trilogia da Fundação, com A Segunda Fundação, e, bem, enquanto melhor que o segundo, não está nem aos pés do primeiro.

Seria algo como um 5,5 depois do 4,0 anterior (com certteza uma melhora, mas você ainda não está muito bem na média, né?).

Em grande parte porque continua com a maldita saga do Mulo (e mesmo depois da morte do personagem ele continua como a maldita coisa mais importante narrativamente), mas consegue crescer além disso e contextualizar melhor as ideias de porque essa história toda do Tom Bombadil no espaço era tão importante.

Quer dizer, no geral, a ideia é de que Seldon criou uma Segunda Fundação onde estariam todos os seguidores da psico-história (que não se juntaram ao grupo maior em Terminus) e que trabalhariam ativamente na correção das equações dele (Seldon) para não apenas garantir que as 'previsões' deem certo mas para fazer com que o plano do declínio acelerado do império para o surgimento de um novo em um prazo de não mais que mil anos siga sem jogar o universo nas mãos da barbárie (sabe, fácil).

A Segunda Fundação é onde as pessoas conhecem as fórmulas e sabem do plano de Seldon enquanto na Primeira eles executam tudo isso às escuras (e, como vemos no primeiro livro, precisam improvisar bastante para garantir que as coisas funcionem).

É um conceito interessante considerando o material até aqui, e, honestamente, eu acho que é fascinante como ideia e complementa muito bem o material... Com exceção de um pequeno problema: Como diabos eles conseguiram avançados poderes mentais estudando psico-história? 

Esse - que é igualmente o problema todo com o Mulo - resume a situação toda e os problemas dessa história a partir da segunda metade do segundo livro.

De ficção científica em que um grupo de cientistas enviados para um planeta no meio do nada com um plano profético (do qual eles pouco ou nada conhecem) para conseguirem algo virtualmente impossível com base apenas em ciência (e improviso), a série migra para algo que se assemelha mais com os X-men sem trajes coloridos, chavões e vilões idiotas (e, claro, mulheres de biquininho), com um mutante ultra-poderoso e implacável que nenhuma tecnologia ou qualquer mente humana é capaz de vencer (o que, de novo, vai contra o que faz os capítulos do primeiro livro bem mais interessantes com as adversidades do espaço sendo superadas com engenhosidade).

E pode até ser alguma bobagem do próximo elo evolutivo e blá-blá-blá, mas isso é uma especulação que não funciona no sentido do que o material propõe - porque enquanto você precisa de ciência para desenvolver artefatos e equipamentos cada vez mais poderosos, você não precisa mais que um acidente genético para produzir um mutante capaz de controlar mentes e destruir montanhas com uma rajada óptica... Qual o ponto de um plano dessa forma?

Isso infelizmente prejudica inclusive a ideia final dos motivos e motivações da Segunda Fundação. Se eles existem para manter o plano Seldon, o que fizeram esse tempo todo em que o Mulo crescia e ascendia ao poder, estragando tão completamente as previsões e os planos?

Eu ainda acho que a série termina com um saldo positivo, em grande parte porque o primeiro livro é excelente (e talvez tudo que você precise), enquanto existe uma parte muito boa no segundo livro que traz o ataque do Império, e o terceiro livro termina com uma narrativa bem interessante da segunda fundação (e todo o pânico e conspirações sobre sua existência na população da primeira) que, se não fecha com chave de ouro, pelo menos não fecha com chave de bosta.

Ainda acho que, no frigir dos ovos, valha a pena. 

5 de junho de 2025

{Resenhas de Quinta} Lilo entre duas samambaias

Olha, eu sei que eu deveria falar de Sinners que é provavelmente o melhor filme do ano e eu estou louco para assistir (mas eu me recuso para ir a um cinema assistir a um filme de terror dublado), ou o último Missão Impossível - que enquanto eu igualmente me recuso a assistir dublado, eu tenho que admitir que não lembro, e acho que nem me importo o suficiente com a história da parte 1 para ver essa parte 2 que é a final, então esse eu genuinamente espero para ver no streaming e preferencialmente com a condição de assistir aos dois últimos no mesmo dia.

E talvez eu devesse até falar de Thunderbolts ou droga, Capitão América que chegou ao streaming, não?

Não é como se eu não tivesse outras opções de filmes novos para falar nesse exato momento (lembrando que eu ainda não fiz uma resenha sobre Anora ou o Brutalista, e temos um novo filme brasileiro ganhando tração na crítica internacional).

Mas eu acredito piamente que eu deva falar de Lilo & Stitch por dois motivos.

Um: Porque esse filme é inócuo, inofensivo e honestamente bobo demais para incomodar qualquer pessoa com meio neurônio funcional... E mesmo assim a maior parte da reação que eu vi ao filme foi negativa, porque excluiram algumas cenas do original ou por algum outro motivo idiota.

Droga, ele é a melhor versão dos live-action da Disney (não segue o roteiro original, inclusive tentando criar algo novo que recontextualiza a história numa ótica de mundo real - que é o ponto de usar atores e não animação - enquanto oferece algo novo que justifica a existência do filme original e dessa nova versão num cenário em que ambos estão facil e amplamente acessíveis), inclusive com a estética do personagem central se mantendo similar o suficiente para fomentar novas inúmeras continuações ad infinitum para manter a máquina de gerar dinheiro para a Disney como eles fizeram com a animação original (e sua série derivada e continuações).

É para crianças e funciona, ao contrário de boa parte de tudo que a Disney fez nesse mesmo sentido com essas inúmeras e incontáveis versões, e, enquanto obviamente não é perfeito (porque é mais uma versão com atores para um filme que não precisa disso - e honestamente inclui uma longa trama sobre a assistente social, que não agregam muito num filme sobre uma garota que faz amizade com um alienígena azul que só causa confusão).

E é curioso nesse aspecto porque eu vejo uma constante corrente de ódio relacionado a filmes ultimamente - como aconteceu com a Branca de Neve, com os vindouros Quarteto Fantástico e com o Superman e mesmo já há um bom tempo inclusive quando o filme se torna um sucesso (e fingem que não era bem assim) como ocorreu com a Barbie.

Tudo isso faz parte de uma estrutura tóxica que não consegue aceitar que, bem, existe um contexto maior e mais abrangente para o entrentenimento e que, bem, às vezes as histórias mudam e evoluem além de sua estrutura original e criação... Mas não vamos fingir que minimamente seja isso, ou apenas isso. É uma questão pateticamente política.

Lilo e Stitch traz uma garota havaiana cujo tom de pele é menos caucasiano que a maioria, então como o filme pode ser bom, não é mesmo? O mesmo para a Branca de Neve que não é albina ou para a inclusão de uma Surfista Prateada... Droga, não muito tempo atrás tinha toda uma galerinha idiota reclamando porque um jogo da franquia Assassin's Creed traria como protagonista um samurai negro, sabe, como faz parte da história do Japão.

E honestamente isso cansa. Ficar discutindo com gente que vê o fim do mundo cada vez que um ator negro ou uma mulher (ou uma mulher negra) são protagonistas... Corra para as montanhas!

Mas é curioso como mesmo o argumento dessa galera se perde e só se intensifica quando o material é um fracasso, e pensando que o filme novo da Disney depois de Branca de Neve e do novo Capitaão América seria o pior filme desde o início dos tempos - e o material segue quebrando recordes de bilheteria.

Sim, o filme faz um bocado de coisas diferentes (de novo, se é pra fazer um remake cena por cena - como fizeram com o Rei Leão) porque você não assistiria ao original? "Ai, mas o ponto do filme é que Ohana diz família e a irmã resolve seguir seus sonhos e ir para a faculdade ao invés de ser a Fiona Gallagher pelo resto da vida...". Ela é uma adolescente sem dinheiro e que precisa cuidar da própria vida e de uma criança (com um alienígena) sozinha... Sim, isso funciona como uma trama para uma animação (eu posso citar tramas bem mais idiotas e absurdas para animações, fique tranquilo), mas não faz sentido quando estamos falando de pessoas reais, e esse é o ponto de usar atores para uma adaptação.

Por isso faz sentido a inclusão da vizinha/tia que ajuda durante o filme todo para que ela seja a adulta responsável ao final e deixe que a irmã possa cuidar da própria vida no lugar de ser um acessório lógico para uma animação.

Não digo que isso seja particularmente bom ou narrativamente melhor (pra mim funciona em ambos cenários da forma como está inserido em suas mídias - eu aceito numa animação que não se preocupe com o cuidado de uma criança com a mesma preocupação que uma pessoa real precisa), mas não apenas é um baita exagero da galera que quer perseguir o filme como é um troço tão abissal e estúpido de uma galera que quer criticar um filme para crianças que pelo menos está tentando (ao contrário de qualquer um dos Minions e dos muitos filmes da Ilumination ou essas bobageiras religiosas que surgem continuamente).

Se isso faz do material uma 'abominação' porque ele leva o material em contexto e analisa sob a lógica de mundo real para produzir uma história coerente dentro do cenário apresentado, bem, você provavelmente pensou por mais que dois segundos sobre o quão absurda e ridícula a premissa dessa história de fato é, porque estamos falando de uma criança de seis anos que adota um animal alienígena - que é considerado uma arma de destruição em massa.

De novo, ela é uma jovem adulta sem dinheiro cuidando de uma criança de seis anos (que por anos a internet acredita que seja autista - e nem vou entrar nesse mérito pra, um não me estender e dois não desmascarar ainda mais o quanto essa galerinha estaria chorando que a Disney destruiu a infância deles ao transformar a Lilo em autista) que tem um animal de estimação alienígena (com imenso poder destrutivo)... 

Dois: Esse filme se tornou um fenômeno de bilheteria e isso me assusta (passando de 600 milhões de dólares em duas semanas) reforçando ainda mais a tendência de continuações, remakes e reboots que já vimos nos últimos anos, e fazendo com que filmes como Sinners (que eu ainda não vi), Anora e O Agente Secreto sejam cada vez mais raridades ou se muito filmes somente disponíveis para streamings escondidos e esquecidos enquanto os cinemas receberão os sessenta e tantos episódios da série animada agora em live-action...

Ainda mais quando as outras grandes bilheterias do ano até o momento são Minecraft e Ne Zha 2 (ambos para crianças), enquanto a Disney resolveu jogar diretamente para o streaming o próximo projeto com a franquia Alien, e, bem, o que eu já falei da controvérsia com Superman e o Quarteto Fantástico (que seriam as maiores apostas para bilheteria do ano)... Enquanto Missão Impossível se torna Sessão Impossível - que ninguém tá indo ver nos cinemas.

Eu nem acho que o filme seja ruim, é um sólido 7/10 e está muitas vezes melhor que a maioria dos filmes do mesmo gênero produzidos nos últimos vinte ou mais anos (quilômetros à frente da grande maioria que a Disney mesmo produziu, inclusive muitos originais para a Pixar nos últimos anos), mas com todo o cenário e panorama pós-Covid, é assustador imaginar o quanto estúdios vão olhar para esses números e vão injetar cada vez mais dinheiro nesse tipo de filme e para produzir filmes dessa forma.

Pra que Tom Cruise fazendo cenas malucas e bizarras num avião (ou onde mais for - e sem dublê) quando um monstrinho esverdeado em cima de uma galinha produziu a cena mais vista do ano? Droga, mais fácil chamar o Tom Cruise para coordenar cenas que serão produzidas por computador para o Jason Mamoa atuar na frente de uma tela verde... 

Mas o que mais me assusta mesmo é o fato que continuo a ver gente aplaudindo ao final de sessões de cinema. Eu não entendo essa tendência (além de achar incrivelmente idiota), e me assusta genuinamente que isso continue a acontecer.

22 de maio de 2025

{Resenhas de Quinta} Afundação - Isaac Asimov

Vamos começar do começo: Não eu não li todos os livros (mesmo desta primeira trilogia na ordem cronológica e compilados no volume que comprei e serviu de base desta resenha) e não posso comentar sobre o que acontece onde eu não li (ou se faz mais sentido num volume posterior) e antes mesmo de comentar o livro eu acho que é importante contextualizá-lo.

O livro foi escrito entre 1942 e 1950 sob a forma de contos que depois foram compilados em livros entre 1951 e 1953, e, bem, isso é um momento bem mais analógico na história do tempo que hoje para dizer o mínimo, ainda que, se publicado em qualquer momento entre 1600 e 1950 ele continuaria tão relevante e pertinente quanto em qualquer outro período pois sua visão da compilação de uma enciclopedia (sem spoilers, por mais que seja um livro de 1950) de todo o saber faz sentido em um mundo analógico.

Em um mundo digital é só pesquisar em alguma aba qualquer e em questão de segundos um número gigantesco de informações está disponível para você... Mas criticar um escritor que não previu a invenção e popularização da internet nos anos 1940 é bastante desonesto, para dizer o mínimo, ainda mais quando o livro oferece algumas reviravoltas aqui e acolá e a história vai se transformando em algo completamente diferente.

No entanto, esse é o começo do livro (de que um cientista prevê o fim das estruturas governamentais como conhecemos em um período distante e é necessário reunir um gigantesco grupo de cientistas num planeta remoto para escrever uma enciclopedia - para auxiliar a reconstrução do mundo após o colapso), e essa ideia da enciclopedia galática, talvez eu esteja errado, é justamente o mote de algumas das piadas de Douglas Adams no Guia do Mochileiro das Galáxias (inclusive ao comentar que o Guia é ligeiramente mais barato que a Enciclopédia, no primeiro livro).

Só que, e isso é importante também, A Fundação não é um livro, ou se preferir, apenas um livro. Cada sessão do primeiro livro conta a história sob a perspectiva de um personagem ou grupo e, ao final dessa sessão há um salto de uma quantidade indistinta de tempo (30, 50 ou bem mais anos), inclusive com um salto te tempo entre os capítulos (mais curtos, mas dificilmente os eventos de um capítulo dão imediata sequência no capítulo seguinte - geralmente se passaram dias ou semanas, ou, em alguns casos, muda-se a perspectiva para outro personagem em outro lugar).

Isso inclusive oferece um contexto e perspectiva muito maior no que essa instituição é e representa num contexto maior do universo - ou em sua pequena porção do universo - com um grupo de pouco mais de 150 mil no começo e que se tornam toda uma sociedade independente e força a ser reconhecida, permitindo com cada capítulo oferecer maior perspectiva neste universo (ainda que pouco ou quase nada sobre os personagens).

Verdade seja dita, Asimov trata o livro quase como História (com H maíusculo, da matéria que analisa o passado, mas dessa vez verificando o futuro), retratando apenas pontos de interesse e os momentos cruciais destes personagens no que definiria os rumos do futuro, e isso é claramente o que o separa e diferencia de outras obras do gênero.

Não apenas isso, Asimov sempre trata a ciência como fato essencial para a ficção científica (e não como se fosse quase magia por se tratar milhares de anos num futuro e basicamente qualquer coisa é possível), e o processo científico que é dificil e exige trabalho duro para se conseguir avançar minimamente (se é que qualquer avanço possível).

Vale muito a pena, principalmente se você gostar de ficção científica, mas para quem não gosta muito do gênero, é uma sugestão interessante para começar a desbravar.

8 de maio de 2025

{Resenhas Perdedoras de Quinta} Go, Go, Loser Ranger!

Quando eu vi pela primeira vez a ideia de Go, Go, Loser Ranger (algo que seria como "Avante Guardião Perdedor" mas numa alusão à canção tema dos Power Rangers - ainda que a série trabalhe com personagens e elementos da trama que fazem bem mais alusão a Gatchman/Batalha dos Planetas), eu confesso que fiquei intrigado.

Eu não cresci com os Power Rangers em grande parte porque eu cresci assistindo outras séries japonesas que efetivamente inspiraram o grupo (Changeman, Jaspion e vários, vários outros da extinta Manchete antes dos Cavaleiros do Zodíaco), mas o conceito não me é completamente alienígena, e, honestamente eu nem acho que seja necessário contextualizar tanto assim uma vez que a ideia é já bastante batida e clichê com tantas variações e repetições à fórmula: Grupo de pessoas recebe poderes especiais (e uniformes coloridos) para combater monstros/alienígenas/robôs tirânicos e salvar o mundo (em intervalos episódios semanais nos quais enfrentam o monstro da semana que geralmente trará alguma importante lição de moral - e talvez uma batalha final com robôs gigantes).

Não que eu imaginei que seria uma grande revolução, honestamente Alan Moore e Garth Ennis já fizeram esse tipo de comentários há pelo menos umas quatro décadas já. O que me surpreendeu foi a perspectiva de alguma obra japonesa fazer algo em uma toada semelhante.

É diferente do que existe com os super-heróis como Liga da Justiça e Vingadores pela estrutura, uma vez que o monstro da semana não é um criminoso ou mesmo alguém que possua qualquer característica redimível, e invariavelmente eles são acompanhados de um exército de bucha de canhão que não serve para nada além de fazer parecer que o monstro da semana é uma ameaça maior (do que realmente é).

Não existe dubiedade ou confusão: Os heróis coloridos são bons e justos e quem eles enfrentam são vilões que precisam ser destruídos. Ponto. Nenhum vilão tem algum argumento válido como Magneto ou uma origem trágica como o Senhor Frio ou qualquer nuance e etc... São monstros que querem destruir o mundo, simples assim (geralmente comandados por um monstrão mais poderoso que lidera todos eles).

Go, Go, Loser Ranger propõe alguma variação significativa nesses clichês com o questionamento dessa premissa básica, ao propor que os Rangers não são exatamente bons ou justos, e, verdade seja dita, a história sequer é sobre eles mas sobre um dos membros do exército de subalternos que está cansado de apanhar semana sim, semana também e sob a perspectiva da qual aprenderemos mais sobre o mundo em questão.

Os Rangers venceram a guerra com os monstros quase uma década atrás mas mantém os minions como escravos para promover shows regulares como demonstração de força além de garantia contínua de investimentos, enquanto a história nos mostra de maneira similar que os fantasiados são também pessoas corruptas, canalhas e psicopatas (no mínimo), e tudo isso desmorona tão rapidamente no que a série tenta fazer que é absurdo sequer tentar acompanhar ou entender os motivos para isso (mas que, de maneira bem cínica, seja para apresentar mais personagens e vender mercadoria derivada).

Depois que é apresentada a proposta (que os Rangers são bandidos e corruptos) a série nos apresenta o elenco principal e o conflito com um grupo de jovens que querem ingressar na academia dos Rangers (sim, como em My Hero Academia, e não, não é coincidência) e o minion rebelde tenta se infiltrar no grupo ao que boa parte da história segue as batidas desse tipo de história (dinâmica de formação de grupo e caráter, personagens amadurecendo e enfrentando desafios cada vez maiores), mas é onde acaba me perdendo.

O autor desse mangá/animê toma um tom mais satírico e humorístico (ainda que honestamente eu não tenha visto nenhuma cena particularmente engraçada, por mais que a intenção de colocar dancinhas ou bonecos explicando o que ocorrerá nos próximos capítulos no lugar de uma prévia) o que me parece querer copiar The Boys como uma crítica ao material que referencia, mas, sabe, sem ter a coragem de efetivamente oferecer qualquer crítica (afinal, o problema não são os Rangers ou a estrutura corrupta que os formou mas as pessoas corruptas que ocupam essas posições hoje e substituindo-os facilmente se restaura o status quo e tudo se resolve, confia).

Falta encontrar o tom certo para produzir o material, mas mais que tudo, falta coragem para fazer o material da maneira certa e oferecer algum comentário que valha a pena...

24 de abril de 2025

{Resenha? de Quinta} The Last of U.S.A.

Eu fiquei em cima do muro sobre The Last of Us na primeira temporada em grande parte porque, bem, eu não queria falar mais do que eu disse: O elenco é bom, a direção é ótima mas algo me deixava com uma pulguinha atrás da orelha, ainda que eu não soubesse exatamente o que era.

Mas não é só isso, verdade seja dita, e, eu acredito que o maior problema da série é o que vai me causar maiores problemas, e é que os fãs do(s) jogo(s) não conseguem aceitar que o argumento base do material é estúpido (e, bem mais importante, derivativo e sem nada de relevante para dizer).

Quer dizer, isso não é The Walking Dead porque não são zumbis, são funbis, sabe, controlados por fungos altamente inteligentes e baseados em um fungo completamente real porque os criadores do jogo gastaram dois minutos procurando no google - ou talvez menos porque na próxima página sem anúncios verificariam que ele não é perigoso. Mas pior que isso, os fungos cordyceps é utilizado para produção de medicamentos (ou seja a direita maluca que é contra vacina tentando inserir mais de sua retórica estúpida?), e, me desculpa se a ideia de um fungo causando o colapso da civilização me parece ridículo...

De novo, eu entendo que essa seja a premissa dos zumbis e que dependendo da história sobre eles, há um retrato diferente com suas regras diferentes (seja a origem conhecida ou não, eles podem ser minimamente inteligentes ou capazes de tarefas altamente complexas) mas com algumas regras universais e permanentes (eles se multiplicam em progressão geométrica pelas mordidas e só são vencidos com violência - exceto em Dead Rising em que a ciência encontra uma cura ou Todo Mundo Quase Morto em que a ameaça é contida e se torna mera inconveniência).

Dito isso, zumbis são uma analogia para alguma questão ou crítica maior e mais complexa - como o consumismo, o envelhecimento populacional ou o capitalismo e o complexo industrial farmacêutico - e enquanto isso varia assim como a relevância dos zumbis (que vão de ameaça a pano de fundo para conspirações maiores em algumas histórias), eu coço e coço minha cabeça e não vejo qual o ponto dos "zumbis realistas criados a partir de fungos".

O contexto social é o mesmo de várias outras histórias, só que pior (sabe fungos... Passa vodol na ferida e toma uma dose de, sei lá, fluconazol e em dois dias e epidemia funbi acaba, onde que isso causaria o fim do mundo como conhecemos?), e a história não parece sequer se importar com os zumbis criados por fungos como nada além de antagonistas secundários desde o começo só para oferecer algum contexto para a jornada. Mas o que me incomoda é o quanto eu penso sobre a série e quantos apitos pra cachorro eu vou percebendo mais e mais.

Sabe, tipo "gente que constrói bunkers e se prepara para o apocalipse é gente como a gente" ou alguma bobagem do tipo. Claro que vemos caipiras e racistas a rodo no material, mas curiosamente nenhuma explicação fundamentada para o que aconteceu com todos os cientistas e porque nenhum deles parece ter sobrevivido, não? Pra que tratar uma micose turbo com antifúngicos quando metralhadoras são tão eficientes? 'Murica, certo?

Olha, eu entendo que num videogame essa lógica funciona. Videogames precisam de ação para conduzir a parte do 'jogo' e geralmente a violência, além de catártica, oferece tanto ação quanto uma estrutura ativa para o protagonista conduzir a história, por isso são tão comuns antagonistas liderando gigantescos exércitos e obstáculos para tornar a jornada do herói mais difícil.

Faz sentido que o herói de um jogo utilize de armas para resolver seus conflitos e mesmo que esteja completamente dessentizado diante de toda a morte e destruição que causa e deixe em seu caminho (e inclusive faça alguma piada aqui e ali para quebrar o gelo), só que o que funciona em uma mídia não se traduz da mesma forma para outra.

Facções e milícias lideradas por idiotas que se preparam para um apocalipse diferente a cada semana são os mais preparados para lidar com uma crise que médicos e cientistas? Ainda mais quando, e eu não posso dizer isso o suficiente, quando eles querem derrotar um fungo com uma metralhadora.

Além do fato que a infecção deveria ser diferente (afinal a propagação de um fungo é diferente da de um vírus - inclusive quando consideramos que os zumbis se propagam com mordidas), mas talvez isso estivesse na terceira página de resultados do Google então vamos só fingir que é tudo a mesma coisa e balas vão resolver porque afinal de contas o maior monstro é o próprio ser humano (e principalmente os esquerdistas porque se dependesse deles não teriam armas para derrotar fungos - inclusive alguns do tamanho do Hulk).

E tudo isso é preguiçoso pra caralho porque é plágio do que o Robert Kirkman fez por quase duas décadas e vários outros antes dele como George Romero e mesmo o Zack Snyder. Só que esses funbis são produzidos por fungos e as milícias trazem os vagalumes e não o Governador então é diferente o suficiente.

Na primeira temporada a série tenta abordar um lado mais humano do conflito de sobreviver no apocalipse e inclusive das interações interpessoais, e produz alguns episódios muito bem construídos, com personagens bem desenvolvidos e tramas interessantes. Só que você precisa aceitar que o mundo foi para a merda com enorme velocidade e nenhuma estrutura pública (universidades, governos ou o exército - que talvez estivesse ocupado demais pintando meio-fio) ou privada conseguiu se manter organizada e funcional para enfrentar essa ameaça sob qualquer forma...?

De novo, The Walking Dead faz isso porque é o ponto da narrativa que Robert Kirkman queria contar - sem chegar a um fim para a história ou uma solução fácil da cavalaria chegando e tudo se resolvendo (que é o fim do primeiro filme de George Romero e de Todo mundo quase morto) ou uma conclusão deprimente e (auto)destrutiva (como Raccon City sendo destruída por um míssil).

The Last of Us nem tenta isso porque só fez um produto de zumbis porque zumbis se tornaram populares (e a companhia de Uncharted e a Sony precisavam de mais um sucesso).

A primeira temporada termina de maneira que não tem mais por onde construir uma narrativa.

Joel e Ellie estão em segurança, encontram uma cidade perfeitamente fortificada e podem sobreviver ao apocalipse até que as plantas cheguem para salvar tudo... Perdão, franquia errada... Mas a narrativa se concluiu. A jornada de Joel era a de levar Ellie para segurança e é o que ele faz, sobem os créditos e acabou. Mais até que isso, existia a perspectiva de encontrar uma cura para resolver a porra toda (e que seja a mesma ideia que os Simpsons já usaram em 2009), bem é descartada, ignorada e jogada pela janela afinal de contas, você pode realmente confiar nessa ciência frouxa para resolver alguma coisa quando uma metralhadora se mostrou tão eficiente até agora?

Bem... Não, não é isso. A história conclui porque Joel decide que eles devem ser os últimos de nós.

Porque Joel após a primeira temporada em que vê sua humanidade restaurada na inocência pueril de Ellie (com suas piadas toscas e sua jornada de amadurecimento) precisa tomar a difícil decisão de sacrificar essa garota para que a humanidade tenha um futuro, e, prefere jogar o que resta de sua própria humanidade para salvar garota.

É aqui que todos os apitos de cachorro fazem sentido. Joel vê diante de si o número gigantesco de pessoas terríveis que não vale a pena salvar (os habitantes de bunkers que com toda a certeza votariam para fazer a 'Murica grande de novo, o pessoal das milícias organizadas e gente que orgulhosamente anuncia que tem mais rifles que amigos), e escolhe dar uma chance à Ellie (e assim a algum semblante de esperança e inocência).

E aí eles resolvem continuar a história e fazer uma segunda temporada mesmo que não exista um ponto para essa história ou narrativa para continuar, não é mesmo? Afinal de contas as escolhas são 1) pura e simplesmente repetir a história para chegar à mesma conclusão, 2) fazer uma história nova com reviravoltas e piruetas para chegar à mesma conclusão ou 3) mudar a perspectiva (e portanto trair a visção original) para chegar a uma conclusão completamente diferente.

Aqui não é uma história em que todo mundo vive feliz para sempre ou encontra redenção... É o triste e melancólico fim da humanidade, e não existe um caminho que possa melhorar ou mudar isso.

Tudo bem que a continuação poderia tanto colocar Ellie para confrontar Joel como para que ela efetivamente tome a mesma decisão difícil que ele tomou, o que ou obviamente vai levar à mais tristeza e melancolia reforçando um ponto já perfeitamente estabelecido e mudar a perspectiva para um final feliz em que a humanidade se salva e todo mundo acaba feliz e contente aprendendo uma grande lição de amor e respeito, bem, soa extremamente hipócrita e covarde...

No que repito: Qual o ponto?

Eu não sei, e, francamente vendo os primeiros episódios da nova temporada (e a discussão sobre temporadas 3, 4 e sei lá eu quantas mais) nem sei se me importo mais.

Mas, se você adorava The Walking Dead nas primeiras temporadas da série, bem, aqui existe um material tão bom quanto (se não melhor) para assistir.

17 de abril de 2025

{Resenhas de Duplo Flawless e fatality quando Papai Noel sobrevoa} The Pitt

Olha, eu não gosto de séries médicas, vamos deixar isso claro desde o começo.

Se eu assisti mais do que duas séries que se enquadrem nessa categoria (e as duas séries são House e Scrubs), eu genuinamente não me lembro de qualquer outra que eu tenha visto além de uma noite de insônia porque era o que estava passando.

The Pitt, no entanto, é diferente e é genuinamente intenso e indicado para se maratonar de começo ao fim. O material é caótico com dezenas de peças se movendo ao mesmo tempo (vários médicos atuando simultaneamente assim como vários pacientes que entram e saem do serviço de urgência) e a série vai criando situações pequenas que vão mudando episódio a episódio. Como um elemento pequeno que é apresentando num episódio (ou somente comentado) e rende uma cena explosiva e tensa vários episódios mais tarde.

Mais até que isso, a série não tenta glamourizar a vida de médicos como uma constante de romances tórridos e um atendimento gourmetizado que permite atender a um único paciente por semana como se vê em outras séries. Longe disso, eu diria, pois parece bem mais uma crítica ao sistema de saúde estadunidense - que mesmo com seus avanços tecnológicos e científicos, carece de mão de obra, recursos estruturas e muitas vezes o mínimo e básico para um atendimento humanizado e de qualidade (em que hospitais viram verdadeiros fast foods preocupados com avaliações de pacientes e atendimentos rápidos - enquanto com o mínimo de mão de obra e recursos).

Muitos atendimentos dependem mais da assistente social ou do tato dos médicos para lidarem com seus pacientes e outras situações, bem, são apenas grotescas e nojentas (com ratos em um mendigo ou uma barata sendo removida da orelha de uma paciente enquanto um estagiário precisa mudar de jaleco quase todo episódio ao ser exposto a todo tipo de fluído imaginável) e no geral se parecem bem mais com a rotina de um pronto-socorro que o que se vê normalmente em séries dessa natureza.

Talvez não seja a melhor série médica do mundo, mas com toda a certeza oferece uma perspectiva diferente e mostra muito mais o que de fato é o trabalho médico (primeiramente é trabalho com chefes cobrando incessantemente sem fazer absolutamente nada - além de cobrar incessantemente - longas jornadas e poucos recursos para cumprir efetivamente as demandas).

Recomendado!

10 de abril de 2025

{Resenhas de Quinta} Branca de Floco de Neve

Sem entrar em comentários políticos para comentar sobre o filme (eu acho que fiz o possível para cobrir o aspecto mais geral da Branca de Neve e das versões originais dela no último post), e lembrando que se trata de uma tentativa cínica da Disney de produzir um filme com o intuito de manter direito autoral mais do que produzir um novo filme que vá engajar com o público e contar uma boa história por si próprio, nós temos que entender que isso faz parte de um movimento da Disney que começou já pelo menos em 2010 com a versão de Tim Burton para Alice no País das Maravilhas chegando a quase um filme por ano a partir de 2014 com Malévola (que é mais para uma versão Wicked da Bela Adormecida de 1959 que outra coisa, mas, ei, pelo menos tenta alguma coisa diferente).

Nos anos seguintes viriam vários outros com a mesma ideia de produzir novas versões de clássicos da Disney com atores reais ou, bem, com animação computadorizada substituindo animações, e, aqui e acolá outra versão Wicked de uma vilã clássica (de algum filme bobo que não funcionaria direito).

E, vale destacar, eu acredito que muita gente nem lembre de todos os filmes que foram produzidos nesse intervalo (como A Dama e o Vagabundo ou Cinderella), e mesmo que isso foi em parte resultado de outros fracassos da empresa em lançar franquias como O Amigo Gigante ou Uma Dobra no Tempo ou mesmo filmes da Pixar que não empolgaram como Elementos ou Dois Irmãos forçando continuações, reboots, remakes e apostas em franquias.

Verdade seja dita, mesmo que essas versões todas sejam extremamente medíocres (sinceramente, com exceção de Meu Amigo, o Dragão de 2016 atualizando o filme fraquíssimo de 1977), a Disney não tentou fazer nada além de colocar uma roupagem nova para filmes velhos. Novas texturas, novos atores mas nada além disso.

Esse plano da Disney não era fantástico de começo de conversa, e, francamente não produziu nenhum filme que valha a pena ser debatido ou discutido - ou que sequer seja tão bom quanto o original, com exceção de Meu Amigo, o Dragão mencionado a pouco - não só caiu por terra como desmoronou vertiginosamente quando em 2022 Guillermo del Toro quebrou completamente a casa do camundongo lançando uma versão de Pinóquio (que a própria Disney tentou relançar alguns meses depois que nem o talento de Tom Hanks e Robert Zemeckis conseguiu chegar minusuclamente perto de parecer relevante).

A versão da Netflix produzindo um material de fato emocionante e genuíno se traduziu em um filme digno de ser visto de novo e de novo enquanto, sinceramente, eu tenha minhas dúvidas se alguém se deu ao trabalho de passar da primeira cena da versão da Disney...

Ficou claro, mais que qualquer coisa, que a fórmula se tornou batida e cínica, e que seria apenas uma questão de tempo até se saturar (ainda que, verdade seja dita, a Disney já tenha produzido quase todos os remakes de suas propriedades clássicas nesse ponto e ninguém espere pela versão live-action de O Caldeirão Mágico). Os conservadores ficaram secando as tentativas da Disney torcendo para fracassar com uma Pequena Sereia negra ou um protagonistas negros nas vozes de O Rei Leão ou qualquer outra controvérsia vazia que pudessem apontar (de que a Moana é uma princesa gorda e feia - que com certeza não é pelo fato de sua origem como nativa das ilhas do pacífico - ou alguma outra bobagem) até porque como um relógio quebrado eles eventualmente acertariam que a Disney erraria a marca.

Com Branca de Neve, bem, a coisa toda parecia uma clara tempestade perfeita para o caos desde bem antes de qualquer coisa.

A animação e o conto antigos (que eu já cobri bastante) são extremamente curtos e com margem para muitas melhorias, e, tanto poderiam recontar a história com uma reviravolta moderna (sabe, como o primeiro Paddington faz colocando o ursinho perseguido por uma vilã vaidosa que quer destruí-lo a todo custo enquanto ele é acolhido por uma família amorosa e persevera no final) ou atualizar o material com maior profundidade e desenvolvimento.

A Disney escolheu o caminho mais barato e, bem, fez o mesmo que com seus outros projetos procurando quem custasse menos, quem produzisse mais barato e quem entregasse o projeto no prazo e o resultado é um filme medíocre e esquecível (sabe, como todos os outros)... Que ainda assim é milhões de vezes melhor que o original, e, sem a menor das dúvidas não merece metade da crítica negativa e pesada que veio recebendo. 

Sim, é preguiçoso, desnecessário e você não vai perder nada se não ver esse material (ou ver uma versão pirata), mas não é como se o contrário também fosse verdadeiro. Você não vai ganhar nada por odiar uma adaptação de um filme horroroso de 1937 que só é clássico por ser velho e ultrapassado.

Não vemos aqui nenhuma tentativa de reinventar a roda (na verdade a visão era de usar o máximo da iconografia do filme de 1937), ainda que ajustando o material para uma hora e quarenta minutos, dando mais espaço para comentar sobre o pai da Branca de Neve e desenvolver a narrativa sobre o reino (é, o filme tem mais que nove personagens e extras, não é incrível?) ainda que caia em problemas em outros aspectos (como estabelecendo os "anões" criados por computador tanto para recriar o aspecto cartunesco da animação original e mais no tom de criaturas místicas da floresta que efetivamente, sabe, seres humanos com nanismo).

Eu sei que muita gente torceu o nariz para essa situação dos "anões" criados por computador como a pior coisa que a Disney poderia fazer em todos os tempos e blá blá blá, mas a verdade é que além das várias tentativas de criar animais (e objetos - como na Bela e a Fera) realistas ao mesmo tempo que parecidos o suficiente com suas inspirações nas animações clássicas não deu muito certo, pra dizer o mínimo, e fracassaria terrivelmente aqui.

Nem toda a maquiagem do mundo faria um ator qualquer que fosse se parecer com algum dos personagens do filme de 1937. A alternativa são efeitos especiais (como feitos com o Senhor do Anéis) que não necessariamente funcionariam muito melhor (afinal colocar um ator como Pedro Pascal em estatura reduzida através de efeitos especiais só ficaria mais parecido com algum filme ruim do Leandro Hassum) ou alguma mescla de efeito prático e computadorizado que produziria alguma outra aberração (como várias que já vimos nos múltiplos filmes de super-heróis).

Esquecível como todos os outros (exceto Meu Amigo, o Dragão) e tirando toda a discussão política vazia de conservador otário, é possível ver que o filme é até melhor que o original.

3 de abril de 2025

{Resenhax de Quintax} Asterix, o Gaulêx, Omnibux

Publicado entre 1959 e 1960 na revista Pilote com roteiros de René Goscinny e arte de Alberto Uderzo e depois compiladas em um encadernado em 1961 com o nome de Asterix, o Gaulês, e, se tornou um sucesso na França e no mundo nas décadas seguintes, e, no Brasil a Record publica o material desde 1983, com essa reedição em compilando três volumes com capa dura.

A comédia de Asterix não é nada para se escangalhar de rir, mas, no geral é bastante bem escrita e competente, sabendo criar situações humorísticas (inclusive no cenário) ao mesmo tempo que consegue brincar com o gênero histórico lidando com retratos bem menos heróicos e engrandecedores de figuras proeminentes do Império Romano.

Primeiro de tudo eu tenho que deixar transparente que eu tenho zero nostalgia pelo material e fui ler já adulto. Talvez funcione melhor para crianças (e eu tenho 90% de certeza que é o caso - como a Turma da Mônica) ou adolescentes, principalmente pela narrativa mais simples e, muitas vezes até pueril. Tudo se resolve em 50 páginas, nenhum ressentimento, nenhuma grande desilusão, tudo certo para a próxima aventura sem qualquer desenvolvimento mais robusto tanto na história como para os volumes seguintes (diferente tanto de Blueberry que eu comentei semana passada como Tintin que vai apresentando novos personagens e relacionamentos conforme as histórias avançam).

Não sei dizer se no volume 10 da série há alguma grande guinada até porque com o tempo e o sucesso talvez os criadores passassem a produzir estes volumes de maneira diferente mas vou avaliar o que eu li e pelo que eu li.

E, enquanto eu confesse que é bastante competente e eu genuinamente tenha gostado das primeiras edições, eu tenho que dizer que não entendo o apelo. Quer dizer, ao menos não entendo o apelo pelo preço praticado, porque claramente não é algo sofisticado e refinado que valha 200 pratas por pouco mais de 150 páginas...

O material é muito bem desenhado, o roteiro é inteligente (ainda que, com três edições consecutivas a gente já entende que em todos os demais volumes o material dificilmente vá apresentar surpresas ou fugir do que consta nessas edições). Então porque diabos ele é tão caro...? Eu não entendo.

E tudo aponta para a forma de produção europeia que foge da estrutura corporativa estadunidense ou japonesa (de produção mensal em massa para compilação em volumes), uma vez que a publicação em revistas como Pilote para eventuais republicações são produzidas com tiragens menores, mais próximo da produção literária.

Mas nada me explica porque custe tanto (até porque os volumes individuais em capa cartão que a Record publicava antes não eram tão mais baratos custando na média 40-60 reais por volume).

Vale a leitura, sim, mas eu recomendo ou aguardar alguma promoção ou buscar qualquer meio mais Iarr-Rarr de chapéu de palha ou algo parecido...

27 de março de 2025

{Resenhas de Quinta} Uma mente (quase) excepcional

Baseando somente pelo piloto, a série Uma Mente Excepcional (High Potential no original) tem, sem trocadalhos, um enorme potencial mesmo: Premissa interessante para uma série policial tradicional (uma mãe solteira altamente inteligente trabalhando como consultora para a polícia de Los Angeles), atores muito bem escalados (com destaque óbvio para Kaitlin Olson que brilha demais aqui) e ao menos no piloto, um roteiro muito bem construído ainda que nem sempre tão afiado.

Falta um je ne sais quoi (sim, sim, a série é baseada numa série francesa, mas juro que não é trocadalho de novo) para sair do lugar comum, e efetivamente se destacar em um gênero extremamente policial (de investigação criminal) e ou  abraçar a comédia de maneira mais contundente ou partir de cabeça no drama - o que honestamente não me parece o ângulo certo para uma série cuja primeira cena é a protagonista requebrando no serviço e trombando com uma investigação em andamento). 

Abraçando a comédia que parece a decisão lógica e inteligente, precisa melhorar os roteiros para conseguir extrair mais comédia das situações e personagens como Psych faria com casos absurdos e ridículos ou Monk com as muitas manias do protagonista.

Aí me parece a primeira oportunidade completamente desperdiçada da produção. Essa série é uma adaptação da série francesa Haut Potentiel Intellectuel (aqui conhecida como Morgana, a detetive genial) e segue uma rotina tipicamente francesa, com costumes tipicamente franceses.

Não faria sentido ao atravessar o Atlântico trazer situações que de fato trouxessem interesse para a dinâmica da detetive genial? Quer dizer, se a faxineira fosse uma mãe solteira negra de alto QI contrastando com policiais estadunidenses racistas ou mantendo Kaitlin Olson (que é disparado o que o seriado tem de melhor) mas contrastando com um detetive idoso misógino com bonezinho MAGA que obviamente não ouviria o que uma faxineira teria a dizer...

Mas, puta merda, eles não mudaram nada da primeira cena do original francês. NEM A PORRA DA MÚSICA! Minto, mudaram as cores para algo mais primário para ficar mais chamativo para câmeras alta resolução!

Eu vou dar o benefício da dúvida, considerando que Psych melhora enormemente após a segunda temporada (assim como outro remake cult de uma série europeia pouco conhecida, um tal de The Office) e de fato encontra seu próprio ritmo, e, o mesmo pode acontecer aqui com toda a certeza.

Acrescentar mais personalidade ao detetive Karadec (que é só um personagem genérico e desinteressante nessa primeira temporada) ou mesmo substituí-lo completamente por algum personagem novo ou mesmo um dos outros detetives já apresentados (eu acho que a detetive Forrester funcionaria bem), enquanto apresentando casos mais desafiadores e que de fato exijam os conhecimentos e a mente brilhante de Morgan para resolvê-los (com conhecimentos específicos que passariam claramente batido pelas autoridades) seria um bom começo.

Verdade seja dita, falta bastante personalidade à série como um todo para deixar de ser mera cópia carbono do original além de oferecer algo particularmente interessante além de seu conceito. Recomendo o piloto - que até agora foi o melhor episódio que eu vi - esperançoso para que encontre sua própria voz e traga algo mais interessante.

20 de março de 2025

{Resenhas de Quinta} Blueberry (Pipoca & Nanquim)

Para quem não conhece, Blueberry é um personagem de histórias de Western publicadas em quadrinhos franco-belgas entre 1963 e 1973 além de republicações, compilações e continuações até os anos 2000, escrita por Jean Michael Charlier e Jean Giraud (também conhecido como Moebius).

E enquanto a série tenha uma arte belíssima que vale a pena se perder por horas nos cenários detalhadamente criados e ilustrados por Moebius, o roteiro, bem, deixa um pouco a desejar. Primeiro pela verborragia que torna a leitura tediosa e cansativa.

Toda página tem um volume enlouquecedor de texto que pouco ou nada agrega para a história, e, ao contrário, só trava o desenvolvimento narrativo. Por outro lado, o desenvolvimento narrativo é, por boa parte, repleto de clichês de westerns com histórias que colocam o tenente Mike Blueberry seguindo qualquer narrativa que John Wayne se encaixaria - ora como tenente do exército enfrentando os povos originários, ora como xerife de alguma cidade sem lei ou ora como um trapaceiro sem sorte em busca de qualquer esquema...

No geral as histórias são boas, com personagens complexos e interessantes, e desde a primeira vez que eu li quando a Abril publicou em 1990 (e o material não vingou, ao que saiu mais um ou dois volumes somente), eu realmente simpatizei bastante com o que li.

Recomendo, com ressalvas.