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5 de junho de 2025

{Resenhas de Quinta} Lilo entre duas samambaias

Olha, eu sei que eu deveria falar de Sinners que é provavelmente o melhor filme do ano e eu estou louco para assistir (mas eu me recuso para ir a um cinema assistir a um filme de terror dublado), ou o último Missão Impossível - que enquanto eu igualmente me recuso a assistir dublado, eu tenho que admitir que não lembro, e acho que nem me importo o suficiente com a história da parte 1 para ver essa parte 2 que é a final, então esse eu genuinamente espero para ver no streaming e preferencialmente com a condição de assistir aos dois últimos no mesmo dia.

E talvez eu devesse até falar de Thunderbolts ou droga, Capitão América que chegou ao streaming, não?

Não é como se eu não tivesse outras opções de filmes novos para falar nesse exato momento (lembrando que eu ainda não fiz uma resenha sobre Anora ou o Brutalista, e temos um novo filme brasileiro ganhando tração na crítica internacional).

Mas eu acredito piamente que eu deva falar de Lilo & Stitch por dois motivos.

Um: Porque esse filme é inócuo, inofensivo e honestamente bobo demais para incomodar qualquer pessoa com meio neurônio funcional... E mesmo assim a maior parte da reação que eu vi ao filme foi negativa, porque excluiram algumas cenas do original ou por algum outro motivo idiota.

Droga, ele é a melhor versão dos live-action da Disney (não segue o roteiro original, inclusive tentando criar algo novo que recontextualiza a história numa ótica de mundo real - que é o ponto de usar atores e não animação - enquanto oferece algo novo que justifica a existência do filme original e dessa nova versão num cenário em que ambos estão facil e amplamente acessíveis), inclusive com a estética do personagem central se mantendo similar o suficiente para fomentar novas inúmeras continuações ad infinitum para manter a máquina de gerar dinheiro para a Disney como eles fizeram com a animação original (e sua série derivada e continuações).

É para crianças e funciona, ao contrário de boa parte de tudo que a Disney fez nesse mesmo sentido com essas inúmeras e incontáveis versões, e, enquanto obviamente não é perfeito (porque é mais uma versão com atores para um filme que não precisa disso - e honestamente inclui uma longa trama sobre a assistente social, que não agregam muito num filme sobre uma garota que faz amizade com um alienígena azul que só causa confusão).

E é curioso nesse aspecto porque eu vejo uma constante corrente de ódio relacionado a filmes ultimamente - como aconteceu com a Branca de Neve, com os vindouros Quarteto Fantástico e com o Superman e mesmo já há um bom tempo inclusive quando o filme se torna um sucesso (e fingem que não era bem assim) como ocorreu com a Barbie.

Tudo isso faz parte de uma estrutura tóxica que não consegue aceitar que, bem, existe um contexto maior e mais abrangente para o entrentenimento e que, bem, às vezes as histórias mudam e evoluem além de sua estrutura original e criação... Mas não vamos fingir que minimamente seja isso, ou apenas isso. É uma questão pateticamente política.

Lilo e Stitch traz uma garota havaiana cujo tom de pele é menos caucasiano que a maioria, então como o filme pode ser bom, não é mesmo? O mesmo para a Branca de Neve que não é albina ou para a inclusão de uma Surfista Prateada... Droga, não muito tempo atrás tinha toda uma galerinha idiota reclamando porque um jogo da franquia Assassin's Creed traria como protagonista um samurai negro, sabe, como faz parte da história do Japão.

E honestamente isso cansa. Ficar discutindo com gente que vê o fim do mundo cada vez que um ator negro ou uma mulher (ou uma mulher negra) são protagonistas... Corra para as montanhas!

Mas é curioso como mesmo o argumento dessa galera se perde e só se intensifica quando o material é um fracasso, e pensando que o filme novo da Disney depois de Branca de Neve e do novo Capitaão América seria o pior filme desde o início dos tempos - e o material segue quebrando recordes de bilheteria.

Sim, o filme faz um bocado de coisas diferentes (de novo, se é pra fazer um remake cena por cena - como fizeram com o Rei Leão) porque você não assistiria ao original? "Ai, mas o ponto do filme é que Ohana diz família e a irmã resolve seguir seus sonhos e ir para a faculdade ao invés de ser a Fiona Gallagher pelo resto da vida...". Ela é uma adolescente sem dinheiro e que precisa cuidar da própria vida e de uma criança (com um alienígena) sozinha... Sim, isso funciona como uma trama para uma animação (eu posso citar tramas bem mais idiotas e absurdas para animações, fique tranquilo), mas não faz sentido quando estamos falando de pessoas reais, e esse é o ponto de usar atores para uma adaptação.

Por isso faz sentido a inclusão da vizinha/tia que ajuda durante o filme todo para que ela seja a adulta responsável ao final e deixe que a irmã possa cuidar da própria vida no lugar de ser um acessório lógico para uma animação.

Não digo que isso seja particularmente bom ou narrativamente melhor (pra mim funciona em ambos cenários da forma como está inserido em suas mídias - eu aceito numa animação que não se preocupe com o cuidado de uma criança com a mesma preocupação que uma pessoa real precisa), mas não apenas é um baita exagero da galera que quer perseguir o filme como é um troço tão abissal e estúpido de uma galera que quer criticar um filme para crianças que pelo menos está tentando (ao contrário de qualquer um dos Minions e dos muitos filmes da Ilumination ou essas bobageiras religiosas que surgem continuamente).

Se isso faz do material uma 'abominação' porque ele leva o material em contexto e analisa sob a lógica de mundo real para produzir uma história coerente dentro do cenário apresentado, bem, você provavelmente pensou por mais que dois segundos sobre o quão absurda e ridícula a premissa dessa história de fato é, porque estamos falando de uma criança de seis anos que adota um animal alienígena - que é considerado uma arma de destruição em massa.

De novo, ela é uma jovem adulta sem dinheiro cuidando de uma criança de seis anos (que por anos a internet acredita que seja autista - e nem vou entrar nesse mérito pra, um não me estender e dois não desmascarar ainda mais o quanto essa galerinha estaria chorando que a Disney destruiu a infância deles ao transformar a Lilo em autista) que tem um animal de estimação alienígena (com imenso poder destrutivo)... 

Dois: Esse filme se tornou um fenômeno de bilheteria e isso me assusta (passando de 600 milhões de dólares em duas semanas) reforçando ainda mais a tendência de continuações, remakes e reboots que já vimos nos últimos anos, e fazendo com que filmes como Sinners (que eu ainda não vi), Anora e O Agente Secreto sejam cada vez mais raridades ou se muito filmes somente disponíveis para streamings escondidos e esquecidos enquanto os cinemas receberão os sessenta e tantos episódios da série animada agora em live-action...

Ainda mais quando as outras grandes bilheterias do ano até o momento são Minecraft e Ne Zha 2 (ambos para crianças), enquanto a Disney resolveu jogar diretamente para o streaming o próximo projeto com a franquia Alien, e, bem, o que eu já falei da controvérsia com Superman e o Quarteto Fantástico (que seriam as maiores apostas para bilheteria do ano)... Enquanto Missão Impossível se torna Sessão Impossível - que ninguém tá indo ver nos cinemas.

Eu nem acho que o filme seja ruim, é um sólido 7/10 e está muitas vezes melhor que a maioria dos filmes do mesmo gênero produzidos nos últimos vinte ou mais anos (quilômetros à frente da grande maioria que a Disney mesmo produziu, inclusive muitos originais para a Pixar nos últimos anos), mas com todo o cenário e panorama pós-Covid, é assustador imaginar o quanto estúdios vão olhar para esses números e vão injetar cada vez mais dinheiro nesse tipo de filme e para produzir filmes dessa forma.

Pra que Tom Cruise fazendo cenas malucas e bizarras num avião (ou onde mais for - e sem dublê) quando um monstrinho esverdeado em cima de uma galinha produziu a cena mais vista do ano? Droga, mais fácil chamar o Tom Cruise para coordenar cenas que serão produzidas por computador para o Jason Mamoa atuar na frente de uma tela verde... 

Mas o que mais me assusta mesmo é o fato que continuo a ver gente aplaudindo ao final de sessões de cinema. Eu não entendo essa tendência (além de achar incrivelmente idiota), e me assusta genuinamente que isso continue a acontecer.

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