Pesquisar este blog

2 de junho de 2025

{Resenha Lixo} Megalópolis

Megalópolis é um filme ruim, mas, honestamente você não precisaria que eu diga isso nessa altura do campeonato, né? Todo mundo e suas mães já disseram que o filme é ruim e absolutamente nada de novo (se é que existe alguma forma diferente) para dizer que o filme é ruim.

Atuação patética, roteiro sem pé-nem-cabeça, direação confusa...

Mas existe um motivo pelo qual isso tudo aconteceu, não é mesmo?

Francis Ford Coppola foi um baita sucesso na década de 1970 beirando a unanimidade (com 5 Oscars, e 3 dos filmes mais relevantes da história com O Poderoso Chefão I e II e Apocalipse Now), e aí vieram os anos 1980 e, bem, ainda que sem tentar recriar o sucesso e talvez até buscando mais sua própria voz e contar histórias que o interessavam - e não que renderiam gigantescas bilheterias ou premiações - não é como se qualquer um destes tenham vingado. Não que os filmes sejam particularmente ruins nesse período, mas eles pendem bem mais para o experimental e para um tom bem diferente do que a obra de Coppola na década anterior, como com filmes mais joviais e alegres como Peggy Sue - Seu passado à espera ou O Fundo do Coração e mesmo filmes dramáticos com bem mais ação como O Selvagem da Motocicleta (que inspirou uma franquia de jogo de luta com o mesmo título original "Rumble Fish") ou Vidas Sem Rumo.

Até os anos 1990, quando ele volta para filmes bem mais comerciais com a terceira parte do Poderoso Chefão e, talvez sua maior produção na década, a adaptação de Drácula mais próxima da obra literária que das produções clássicas da Universal dos anos 1930, além de uma comédia com Robin Willians (que é considerado o pior filme do diretor até Megalópolis) e, enquanto eu acredite que Coppola continuava a produzir bons filmes (se não ótimos) a crítica não era tão generosa com sua opinião, e, a bilheteria menos ainda. A visão geral era que o diretor tinha perdido o tino da arte, e, ficado para trás com um estilo que não combinava mais com a expectativa do público e crítica.

Enquanto diretores como Spielberg, Cronenberg ou Cameron quebravam os moldes revolucionando os limites técnicos e tecnológicos com efeitos práticos e computadorizados cada vez mais avançados e intrincados, ao passo que diretores com menores orçamentos como Smith, Tarantino e Rodriguez apresentavam projetos que mesclavam o estilo artístico com o cinema comercial, produzindo resultados inovadores.

Coppola estava no meio de tudo isso, como um diretor tradicional que queria mesclar e utilizar um estilo mais artístico ao cinema comercial mas sem buscar avançar qualquer limite tecnológico com os efeitos especiais, e, de novo, para o crítico e público em geral ele era um dinossauro incapaz de se adaptar com o sinal dos tempos, e, isso foi afastando o diretor dos grandes estúdios e da cadeira diretorial (investindo em sua vinícola particular ao mesmo tempo que nos projetos da filha, Sofia - que talvez você tenha ouvido falar), e nos anos 2000 o diretor foi produzindo cada vez menos e menos, além de ter seu nome cada vez mais distante das marquises.

Isso explica que ele perdeu o dom e deixou de fazer filmes bons ou competentes e por isso Megalópolis é um projeto egocêntrico de alguém que perdeu seus tempos áureos e quer viver de nostalgia...?

Não, até porque ele produziu alguns filmes menores e, verdade seja dita, bem interessantes como Tetro ou Velha Juventude.

Só que enquanto ele produziu filmes menores (e mais para independentes) que são bons/muito bons, ele quase não produziu filmes para uma escala maior, para larga distribuição e lançamento nos cinemas há quase trinta anos, e, o constante de seus sucessos tem dois elementos em comum: São adaptações e possuem elencos não apenas talentosos mas que facilmente definem os melhores atores de suas gerações.

Com Megalópolis o primeiro ponto já falha pois é uma produção original escrita por Coppola, e, se ele é bom ou capaz para adaptar um roteiro ou mesmo um livro para formar um roteiro coerente, lhe falta a síntese e capacidade para bolar uma história e organizá-la de começo a fim de maneira lógica.

E o segundo também não ajuda muito com Shia LaBeouf e Adam Driver encabeçando um elenco pouco ou nada promissor (com talvez único destaque para Aubrey Plaza, que parece a única pessoa que sabe o que está fazendo no filme), mesmo que estes fossem de fato, bem, atores realmente competentes e o juri ainda está debatendo nesse assunto, talvez somente em favor de Driver, que o trem já passou para LaBeouf uns três Transformers atrás...

Diz a lenda, inclusive, que Coppola tentou produzir o material às vésperas dos atentados contra o World Trade Center em 2001 com nomes bem mais incontestes como Paul Newman, James Gandolfini e Robert De Niro, mas, sabe, pelo fato que a cidade acaba destruída em dado momento acabou atrasando produção até abandonar o projeto quase uma década depois... Mas se isso faria do filme melhor ou só com melhores atores, bem, não muda muito não é mesmo? O roteiro original Coppola continua sendo ruim e atores bons ou péssimos, pouco mudariam alguma coisa nisso.

Mas, com mais de vinte anos tentando produzir o material e caindo num abismo de autoindulgência pelo financiamento com recursos próprios e sem alguém para controlar os impulsos e excessos, e, bem, nós temos todos os ingredientes de um desastre.


Nenhum comentário:

Postar um comentário