Sem entrar em comentários políticos para comentar sobre o filme (eu acho que fiz o possível para cobrir o aspecto mais geral da Branca de Neve e das versões originais dela no último post), e lembrando que se trata de uma tentativa cínica da Disney de produzir um filme com o intuito de manter direito autoral mais do que produzir um novo filme que vá engajar com o público e contar uma boa história por si próprio, nós temos que entender que isso faz parte de um movimento da Disney que começou já pelo menos em 2010 com a versão de Tim Burton para Alice no País das Maravilhas chegando a quase um filme por ano a partir de 2014 com Malévola (que é mais para uma versão Wicked da Bela Adormecida de 1959 que outra coisa, mas, ei, pelo menos tenta alguma coisa diferente).
Nos anos seguintes viriam vários outros com a mesma ideia de produzir novas versões de clássicos da Disney com atores reais ou, bem, com animação computadorizada substituindo animações, e, aqui e acolá outra versão Wicked de uma vilã clássica (de algum filme bobo que não funcionaria direito).
E, vale destacar, eu acredito que muita gente nem lembre de todos os filmes que foram produzidos nesse intervalo (como A Dama e o Vagabundo ou Cinderella), e mesmo que isso foi em parte resultado de outros fracassos da empresa em lançar franquias como O Amigo Gigante ou Uma Dobra no Tempo ou mesmo filmes da Pixar que não empolgaram como Elementos ou Dois Irmãos forçando continuações, reboots, remakes e apostas em franquias.
Verdade seja dita, mesmo que essas versões todas sejam extremamente medíocres (sinceramente, com exceção de Meu Amigo, o Dragão de 2016 atualizando o filme fraquíssimo de 1977), a Disney não tentou fazer nada além de colocar uma roupagem nova para filmes velhos. Novas texturas, novos atores mas nada além disso.
Esse plano da Disney não era fantástico de começo de conversa, e, francamente não produziu nenhum filme que valha a pena ser debatido ou discutido - ou que sequer seja tão bom quanto o original, com exceção de Meu Amigo, o Dragão mencionado a pouco - não só caiu por terra como desmoronou vertiginosamente quando em 2022 Guillermo del Toro quebrou completamente a casa do camundongo lançando uma versão de Pinóquio (que a própria Disney tentou relançar alguns meses depois que nem o talento de Tom Hanks e Robert Zemeckis conseguiu chegar minusuclamente perto de parecer relevante).
A versão da Netflix produzindo um material de fato emocionante e genuíno se traduziu em um filme digno de ser visto de novo e de novo enquanto, sinceramente, eu tenha minhas dúvidas se alguém se deu ao trabalho de passar da primeira cena da versão da Disney...
Ficou claro, mais que qualquer coisa, que a fórmula se tornou batida e cínica, e que seria apenas uma questão de tempo até se saturar (ainda que, verdade seja dita, a Disney já tenha produzido quase todos os remakes de suas propriedades clássicas nesse ponto e ninguém espere pela versão live-action de O Caldeirão Mágico). Os conservadores ficaram secando as tentativas da Disney torcendo para fracassar com uma Pequena Sereia negra ou um protagonistas negros nas vozes de O Rei Leão ou qualquer outra controvérsia vazia que pudessem apontar (de que a Moana é uma princesa gorda e feia - que com certeza não é pelo fato de sua origem como nativa das ilhas do pacífico - ou alguma outra bobagem) até porque como um relógio quebrado eles eventualmente acertariam que a Disney erraria a marca.
Com Branca de Neve, bem, a coisa toda parecia uma clara tempestade perfeita para o caos desde bem antes de qualquer coisa.
A animação e o conto antigos (que eu já cobri bastante) são extremamente curtos e com margem para muitas melhorias, e, tanto poderiam recontar a história com uma reviravolta moderna (sabe, como o primeiro Paddington faz colocando o ursinho perseguido por uma vilã vaidosa que quer destruí-lo a todo custo enquanto ele é acolhido por uma família amorosa e persevera no final) ou atualizar o material com maior profundidade e desenvolvimento.
A Disney escolheu o caminho mais barato e, bem, fez o mesmo que com seus outros projetos procurando quem custasse menos, quem produzisse mais barato e quem entregasse o projeto no prazo e o resultado é um filme medíocre e esquecível (sabe, como todos os outros)... Que ainda assim é milhões de vezes melhor que o original, e, sem a menor das dúvidas não merece metade da crítica negativa e pesada que veio recebendo.
Sim, é preguiçoso, desnecessário e você não vai perder nada se não ver esse material (ou ver uma versão pirata), mas não é como se o contrário também fosse verdadeiro. Você não vai ganhar nada por odiar uma adaptação de um filme horroroso de 1937 que só é clássico por ser velho e ultrapassado.
Não vemos aqui nenhuma tentativa de reinventar a roda (na verdade a visão era de usar o máximo da iconografia do filme de 1937), ainda que ajustando o material para uma hora e quarenta minutos, dando mais espaço para comentar sobre o pai da Branca de Neve e desenvolver a narrativa sobre o reino (é, o filme tem mais que nove personagens e extras, não é incrível?) ainda que caia em problemas em outros aspectos (como estabelecendo os "anões" criados por computador tanto para recriar o aspecto cartunesco da animação original e mais no tom de criaturas místicas da floresta que efetivamente, sabe, seres humanos com nanismo).
Eu sei que muita gente torceu o nariz para essa situação dos "anões" criados por computador como a pior coisa que a Disney poderia fazer em todos os tempos e blá blá blá, mas a verdade é que além das várias tentativas de criar animais (e objetos - como na Bela e a Fera) realistas ao mesmo tempo que parecidos o suficiente com suas inspirações nas animações clássicas não deu muito certo, pra dizer o mínimo, e fracassaria terrivelmente aqui.
Nem toda a maquiagem do mundo faria um ator qualquer que fosse se parecer com algum dos personagens do filme de 1937. A alternativa são efeitos especiais (como feitos com o Senhor do Anéis) que não necessariamente funcionariam muito melhor (afinal colocar um ator como Pedro Pascal em estatura reduzida através de efeitos especiais só ficaria mais parecido com algum filme ruim do Leandro Hassum) ou alguma mescla de efeito prático e computadorizado que produziria alguma outra aberração (como várias que já vimos nos múltiplos filmes de super-heróis).
Esquecível como todos os outros (exceto Meu Amigo, o Dragão) e tirando toda a discussão política vazia de conservador otário, é possível ver que o filme é até melhor que o original.
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