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20 de julho de 2025

{Editorial} O problema da canalhice corporativ(ist)a

Com o "tarifaço" anunciado pelo TACO na semana passada, parece que esse é o único assunto que a mídia corporativa brasileira resolveu focar, além de, é claro, defender que o Caveira Laranja está certo, inequívoco e irrestritamente.

Cabe a William Wagner, KKKNN, Jovem Klan, Alexandre Von Garcia e tantos mais tentarem todo tipo de malabarismo para justificar que tudo isso é extremamente coerente e normal e que o Brasil foi escolhido pelo comportamento amoral promovido por nossa suprema corte na perseguição política a um valoroso... Droga eu nem consigo concluir isso sem vomitar.

Claro que eles ignoram que em 21 de maio o homem mais laranja do mundo tentou emboscar o presidente da África do Sul na Casa Branca (dizendo que existe um Appartheid reverso em curso na nação africana) pouco depois de fazer manobra similar contra a Ucrânia (em que o Garbage Pail Vance insistia que o Danilo Gentile dos balcãs não agradeceu suficiente a 'Múrica)... Isso sem contar ameaçar anexar a Groenlândia (território pertencente a uma nação da OTAN) ou mesmo agir de maneira desrespeitosa e chamar de Governador o primeiro ministro Canadense (indicando a incorporação do país)... Ou mesmo que o Japão (que já tinha negociado um acordo tarifário) foi sobretaxado também.

Pra canalhas oportunistas como o vice-líder do PL (ao lado de uma ex-ministra, diga-se de passagem) ou de Governadorzinho pé-de-chinelo que gosta de vermelho (quando é produzido na China e) com frases em inglês é oportunidade de tentar vender mais absurdos.

Curiosamente falta a lucidez de apontar que, bem, nada disso é normal e coerente.

Os Estados Unidos que criticam Moraes por não dar 'liberdade de expressão' ao vetar uma companhia que não quer seguir legislação brasileira para operar no território (brasileiro) ou ao Pix por servir de 'concorrência desleal', curiosamente querem nos fazer esquecer que pouco tempo atrás o novo amigão do velho amigão de Jeffrey Epstein estava passando por audiências no congresso por formação de monopólio, enquanto o agregado de estados quer impor que para o TikTok opere lá ele seja obrigado a vender seu controle e seja administrado por uma empresa ou conglomerado da 'Múrica... Sabe, concorrência leal.

Sabe, como aconteceu no começo dos anos 2000 (a notícia do link é de 2007, pra se ter uma ideia) quando o etanol brasileiro vinha ganhando tração e se tornando uma alternativa verde fantástica (e que poderia facilmente reverter a maré), mas que os EUA passaram décadas tentando boicotar de toda forma e limitar a expansão do etanol e biodiesel ou produzir uma alternativa própria (sem muito menos funcional ou eficiente que o nosso de cana-de-açúcar) até que uma empresa estadunidense lançou carros elétricos e aí o etanol é ruim e prejudicial e tudo o que mais. Sacou a 'concorrência leal', né? E isso é só um dos muitos casos ao longo de décadas e décadas.

Nada disso é normal e não adianta fingir ou tentar insistir que exista qualquer lógica ou coerência nisso tudo por questões de balança comercial ou argumentação para compensação por concorrência desleal.

Goste ou não, o Brasil está fazendo o certo ao levar a sério as múltiplas ameaças dos EUA (mesmo que correspondem a menos de 2% do volume de nosso PIB) enquanto foca em acordos bilaterais muito mais benéficos e vantajosos com China, União Europeia, com o próprio Mercosul e demais países do bloco dos BRICS, e enxergar com enorme ceticismo e desconfiança qualquer proposta ou negociação que a terra do tio Sam ofereça é mais do que prudente. Outros países já passaram por algo similar e foram pegos de calças curtas com revisões de acordos firmados, então não dá pra acreditar mesmo depois de documento assinado como ocorreu com o Irã que fez de tudo para um acordo de colaboração que foi rompido (e depois o país foi atacado sem a menor provocação - sabe, enquanto Israel promove um genocídio em Gaza).

O amigão de Jeffrey Epstein está tentando se ver livre da cadeia mais do que fazer algo pertinente ou coerente, por isso faz o que ele faz de melhor como o mafioso que é, e chacoalha o vespeiro para chamar atenção enquanto bate a carteira do pessoal com medo das vespas (em alguns casos literalmente como o amigo de peruca portenha dele também fez - sabe, enquanto eles não conseguem nem comprar pão na terra do Messi)... Sabe, 'drenar o pântano'?

Nada disso é normal e não dá para tratar como se fosse.

Trump é um criminoso condenado (além dos muitos crimes pelos quais não foi julgado) que foi eleito à base de diversas práticas criminosas e desleais (Musk estava literalmente comprando votos durante a campanha e na eleição anterior como nessa a interferência tanto das mídias sociais com o direcionamento de publicidade como da mídia tradicional para matar matérias prejudicias ao laranjão enquanto se esforçando categoricamente para minar toda e qualquer chance de reeleição para Biden ou mesmo de pintar Harris ou Hillary como uma candidata legítima), e não adianta fingir ou ignorar isso para legitimar suas alegações ridículas ou suas ações.

Por mais que tenhamos que temer que o velho maluco que não consegue limpar a própria bunda sozinha tenha acesso a códigos nucleares, não devemos tratar muito diferente do velho maluco que encontramos na praça ou na rua...

Só mude de direção e siga com a sua vida... E nesse caso nem perca tempo tentando expor alguma empatia porque se trata de um monstro que qualquer punição cármica é pouca (ainda que o fato que o filho que leva seu nome se pareça mais com o Epstein que com ele - e a filha que ele tanto elogia também não se pareça em nada com ele - sejam bons indicativos que o carma age de maneiras misteriosas).

Mas que é problemático que tenhamos que lidar com tanto papel e bits gastos para dar voz para gente tacanha como William Wagner dizendo que tá tudo certo isso aí e tem mais é que taxar essa pourra e dar anistia para o Bolsonaro, nos dá bem mais a dimensão de que o problema real é bem maior e mais complexo.

Quer dizer, é claro que o problema é o Superman Woke (que Ben Shapiro diz que Lex Luthor está certo enquanto algum jogador de voleibol falido vai tentar seguir a mesma linha) que a esquerda quer nos vender a todo custo... Você sabia disso quando eu comecei a escrever o texto, eu tenho total certeza!

Afinal, liberdade de expressão é defender que o nazismo foi bacana (como o Monark fez e tá tentando ressurgir do inferno como se nada tivesse acontecido) mas falar mal de empresário (FICCIONAL DE UM UNIVERSO DE QUADRINHOS DE SUPERHERÓIS EM QUE O CARA TENTA DOMINAR O MUNDO DESDE A DÉCADA DE 1940!)...? Porra, coisa de comunista!

Saca? Não tem como falar de outra forma porque é muita canalhice.

É olhar um negócio que claramente está errado mas defender enquanto algo que é inócuo ou está dentro da coerência e seu contexto tem que ser mais perseguido que o monstro nos filmes preto e branco de Frankenstein...

Esse é o mundo em que estamos vivendo, mas enquanto uma galera tenta normalizar e contextualizar o absurdo, nós que somos racionais temos que tomar cuidado para não acabarmos engolfados nisso tudo.

15 de junho de 2025

{Editorial} Sobre o caso Leo Lins (e não, ele não tem nada de defesa de liberdade de expressão - é só hipocrisia mesmo)

Enquanto, honestamente, eu tenho que admitir que não sei quem é Leo Lins além de que é uma versão piorada de Danilo Gentile, e isso já me é suficiente para não querer saber um atmo a mais, o caso de sua condenação ganhou bastante repercussão e discussão ultimamente, e, bem, se é discussão porque não opinar também?

No entanto o caso tem uma série de problemas e hipocrisias e eu tentarei na medida do possível cobrir o assunto da maneira mais abrangente possível. Não assisti ao conteúdo (e nem me interesso) e não vejo o menor motivo para discutir sobre o teor do que ele tenha ou não dito (a juíza do caso já fez isso), então vamos aos pontos:

A condenação é justa?

Bem, sim, afinal segue o que está previsto pela lei. Foi analisada por uma juíza, Lins teve pleno tempo de preparar uma defesa e argumentar (o Pirula fez um video sobre o assunto há um ano e meio sobre o caso, o que aponta que não tem nada de novo sob o sol).

{Editado 17/06} Não é função do judiciário analisar se a piada é boa ou não (e se você quiser alguém analisando se a piada é boa ou não, o Tiago Santineli - com divido além das iniciais, também uma série de opiniões - já fez a análise do "material"), mas sim se existe alguma violação dos termos da lei em qualquer sentido, até porque se fosse analisar por piada ruim, o Leandro Hassum já tava com prisão perpétua.

Foram analisados os crimes de discurso de ódio perpretados pelo cidadão, e, o judiciário analisou e julgou que, sim, foram cometidos crimes nesse sentido.

Agora começa o mimimi dessa corja mesmo. {/fim da edição

O que acontece é que, como Carla Zambelli e boa parte dessa canalhada de direita, sabe essa galera adora criticar que a justiça é muito branda e ineficaz (e solta rojão quando um jovem negro é espancado, torturado e mesmo assassinado pela polícia), mas quando sai a primeira busca e apreensão corre para a UTI para dizer que sua saúde é pior que da Tia May (ou no caso da Zambelli é tão burro a ponto de fugir do país e fazer uma coletiva de imprensa para dizer que está fugindo do país).

E enquanto eu não sou formado em direito ou tenha vasto conhecimento na área, bem, não é exatamente como se um advogado precisasse de muito para conseguir um acordo de leniência. Droga, 300 horas de serviço comunitário, tornozeleira eletrônica por um ano e meio e suspensão das redes sociais... Você acha mesmo que qualquer juiz rejeitaria um acordo desse em qualquer destes dois casos...?

A Mônica Iozzi foi condenada em um caso com o Gilmar Mendes, e podia brigar ad infinitum na justiça e optou por pagar multa e seguir com a vida... 

Mas aí os idiotas (Zambelli ou Lins - mas vale pra muito mais gente) resolvem demonstrar suas bravatas nas redes sociais e desafiar publicamente juízes e suas decisões porque são vítimas injustiçadas, apesar de amplo direito de defesa e tempo para preparação, ainda que seus argumentos sejam pífios e patéticos, porque, afinal de contas, são burros para caralho.

E a liberdade de expressão, onde fica?

No mesmo lugar que estava antes desse caso. Curiosamente, gente como Hassum, a galera do MBL ou mesmo Nikolas Ferreira que sairam todos criticando essa terrível decisão da justiça figindo que o """humorista""" é praticamente o Lenny Bruce do século XXI, não se manifestaram no caso da PhD Ana Bonassa que foi condenada por dizer que um picareta tava vendendo produtos que claramente não funcionam como medicamento...

Porque não é uma luta por 'liberdade de expressão' propriamente dita (não mais que algumas semanas atrás essa mesma galera queria linchamento público de um cantor carioca - que curiosamente não tem olhos azuis ou tom de pele mais clarinho na escala pantene, mas isso com certeza é mera coincidência), né? É mais para garantir o direito de expressar preconceitos e discurso de ódio (ou vender produtos que comprovadamente não funcionam - e podem levar a óbito), né?

Mas, voltando ao Lenny Bruce que eu citei agora a pouco, para quem não conhece, o humorista norte-americano que é considerado o pai do stand-up moderno justamente por mudar a forma de como contava suas piadas ao inserir histórias pessoais em sua rotina (deixando de lado números bobos e piadas de sogra - sabe, o que o Faustão faz ainda hoje) costumeiramente era preso, muitas vezes antes de subir no palco (e só recentemente perdoado, o que é um escândalo em si próprio). Bruce foi preso várias vezes por violar a lei de obcenidade, ao dizer palavras terríveis, que, bem, eu já devo ter usado uma ou dez nesse texto mesmo que feririam as sensibilidades carolas destas leis.

No entanto, o ponto e argumento que Lenny Bruce criticava com seu material era justamente seu direito de poder dizer as 'obcenidades', e, justamente por isso ele continuava desafiante e fazendo seu material. Ele poderia clara e facilmente mudar seu texto e aplacar a ira conservadora que achava ofensivo dizer 'puta' ou 'foda' ou fazer algum movimento imitando o ato masturbatório num clube de comédia no sábado à noite mas acharia perfeitamente normal sair da missa no domingo para colocar uma cruz invertida pegando fogo no quintal de uma "pessoa de cor" (e depois assistir a um show do Leo Lins).

Lenny Bruce lutava pelo direito de desafiar convenções estúpidas e carolas, e por isso continuou anos e anos sendo preso e desafiante. Leo Lins quer se dizer um bastião da liberdade de expressão mas vem com alguma conversinha de que no palco é "um personagem" (o que viola toda a lógica do stand-up, mas mais sobre isso a seguir), fazendo algo muito parecido com o outro rapaz citado alguns parágrafos atrás que também foi condenado, por colocar uma peruca em tribuna e fazer discurso transfóbico, porque a questão é diametralmente oposta.

Bruce queria mudar as coisas e oferecer um prisma para que a sociedade pudesse aceitar o que é visto como diferente, e, refletisse no processo enquanto Lins quer manter o direito de regurgitar o status quo e se aplaudido como um bravo e corajoso papagaio do Danilo Gentile nessa centopeia desumana em que o próximo elo digere e passa adiante a mesma merda que consumiu como se fosse um grande poço de inspiração.

Mas uma pessoa pode ser condenada pelo que o personagem diz... Não é tudo ficção?

Depois do 'foi mal, tava doidão' agora temos 'é só um personagem'.

Curiosamente, o foi mal, tava doidão pelo menos tem alguma base jurídica, afinal uma pessoa sob efeito medicamentoso pode ter seu julgamento afetado, mas, "não fui em quem disse foi um personagem" realmente merece um prêmio pela canalhice e burrice do argumento. 

Vamos lá, tentando resumir para demonstrar o quão estúpido esse argumento de fato é.

Um personagem existe como parte de uma obra de ficção, e, por conseguinte, não é real.

É, eu acho que é isso.



Tá, tá, a situação é um pouco mais complexa que isso (afinal, nos ataques de Nikolas Ferreira e do próprio Lins, curiosamente usando os mesmos termos, persegue-se dessa forma o autor do texto caso o personagem diga algo ofensivo - o que, curiosamente a turma deles faz ao querer banir livros a torto e direito), mas em linhas gerais, um personagem pode simular eventos do mundo real, e inclusive representar inúmeras similaridades com o próprio autor, sem tentar enveredar por um caminho meta demais, e talvez não exista um exemplo mais fácil que de Larry David com seu Segura a Onda.

No seriado, David, co-criador de Seinfeld e figurão em Hollywood com vários amigos atores vive Larry David, co-criador de Seinfeld e figurão em Hollywood com vários amigos atores (como Ted Danson, Richard Lewis e mais uma dezena de outros tantos). No entanto, David do seriado é um personagem, uma representação exagerada e potencializada de David na vida real.

David do seriado se mete em confusões e absurdos, que, se acontecessem com o David da vida real ele dificilmente seria um figurão em Hollywood (como com uma briga boba com Ben Stiler por uma festa de aniversário semanas depois do fato ou uma rivalidade com Michael J Fox que escalona em níveis estratosféricos). Sabemos que os eventos do seriado são ficcionais e representação das pessoas reais em cenários absurdos.

No entanto, num programa de entrevistas ou num palco fazendo um stand-up, é a pessoa física Larry David, e não mais o personagem de Segura a Onda. Seus comentários pessoais são suas opiniões e não mais o que o personagem numa obra de ficção pensa ou diz.

Se as opiniões do personagem ou da pessoa coincidem, são irrelevantes quando ditos pelo personagem - pois são uma obra de ficção, por mais que se assemelhem ou existam no mesmo contexto do mundo real - mas preocupantes quando ditos pela pessoa - pois EXISTEM no mundo real e por isso tem consequências e ramificações.

Nada disso é importante para o stand-up, principalmente na estrutura após Lenny Bruce (do ponto anterior), considerando que esse número de comédia reside no fato do humorista subir ao palco de cara-limpa (ou seja, sem personagens) para expor seus comentários, falar suas opiniões, sentimentos e pontos de vista. Ele nem precisa fazer uma piada tradicional como Bill Hicks falando por quarenta minutos sobre o assassinato de JFK...

Claro que existem outros comediantes que usam personagens em seus trabalhos (como Tom Cavalcante e antes dele Chico Anísio), mas evidentemente esse trabalho segue num rumo diferente em que os personagens vivenciam situações e cenários previamente planejados e estabelecidos (sabe, como numa peça), enquanto, o stand-up falando de cara limpa, existe maior liberdade para improvisação e, de novo, para opiniões que não compõem necessariamente uma piada no sentido tradicional (Bill Hicks de novo).

Agora, e talvez essa seja a questão mais importante, se você enquanto comediante e autor do texto que será executado, não concorda com ele, porque o diria?

Provavelmente porque foi pego e processado (e condenado) por isso e precisa de alguma desculpa (mesmo que estúpida) para ver se cola, né? "Esse batom na cueca é culpa do multiverso!"

 

{Edição bônus em 17/06} Bônus: Mas ele não confundiu só 'personagem com persona'?

Se fosse o caso, claro que seria muita burrice.

Personagem é uma representação ficcional, persona é um bocado mais complicado que isso, mas em linhas gerais é uma parcela de sua personalidade que se adequa em cenários situacionais - como quando você está em um churrasco com seus amigos ou quando está num churrasco da empresa no que você se comporta de maneira diferente. Mas nas duas situações, continua sendo você.

Persona pode mudar de acordo com contexto social, mas continua sendo a própria pessoa... Qual o argumento de defesa de que sob um aspecto social você fez um comentário racista ou homofóbico... (que é um crime)? 

{/fim da edição}

23 de outubro de 2024

{Editorial} Qual o propósito da Justiça Eleitoral?

Eu posso estar errado (e, deixemos claro desde o título que isso é um editorial), mas 2024 foi possivelmente o ano das eleições mais sujas literal e figurativamente (literal porque a quantidade de panfletos e santinhos entulhando as ruas e calçadas foi gigantesco), e, enquanto isso por si só já é motivo de consternação, o que efetivamente me assusta e eu acho que deveria assustar a bem mais gente é o quanto os crimes eleitorais são relativizados.

Quer dizer, se um candidato de esquerda der uma garrafa de água para um eleitor é crime eleitoral grave e acarretará na cassação da chapa (ou só do candidato caso o vice seja de algum partido do centrão)... Mas distribuir milhões para pessoas votarem no candidato "x" pode ser realmente considerado compra de voto? Acusar uma concorrente de matar o próprio pai ou forjar um laudo médico (assinado por uma pessoa falecida anos atrás) e divulgá-lo às vésperas de uma eleição, pode ser considerado crime eleitoral?

PORRA!

Não é nem como se fosse algo difícil de avaliar!

Elon Musk literalmente comprou votos para Trump, não tem área cinzenta ou confusão na interpretação. Ele deu dinheiro para pessoas votarem em alguém, se isso não é compra de votos por favor me explique o que é.

(Ainda que sejamos honestos o criminoso Trump não deveria ser candidato por motivo algum com as condenações e ficha corrida, mas aí tem algum ex-presidente dos EUA que não tenha?)

Marçal por outro lado já deveria ser impugnado por ser ficha suja e ser impedido de concorrer a qualquer cargo público - e depois novamente por cometer sucessivos crimes eleitorais e por isso perder os direitos políticos QUE ELE JÁ DEVERIA NÃO TER - mas no entanto não parece haver impedimento para torná-lo secretário em Barueri, não é mesmo?

E é assustador esse senso de impunidade seletiva.

"Ah, o candidato de esquerda ganhou na Venezuela, obviamente as eleições foram fraudadas!" (mesmo que lançaram um candidato tampão da direita para representar uma pessoa com candidatura impugnada)

"Ah, o candidato de esquerda ganhou na Colômbia e obviamente teve desvio de dinheiro nas contas eleitorais" (mesmo que quem levantou o argumento de desvio nas contas eleitorais seja investigador por crimes bem mais graves cometidos na Colômbia - e recebeu foro privilegiado justamente para escapar dessas investigações).

E não é uma impunidade somente eleitoral ou eleitoreira.

Apoiadores da direita como Leonardo ou Gustavo Lima recebem todo tipo de relativismo para a defesa de seuas crimes. Leonardo foi multado por trabalho escravo em suas propriedades mutlimilionárias e nenhum jornal trouxe a matéria por um ano (pelo contrário, caiu numa coluna de fofoca - porque trabalho escravo é FOFOCA!) enquanto Gustavao Lima cometeu crimes com empresas de apostas - recebeu em evento particular um ministro do supremo indicado por Bolsonaro... Mas nada disso é visto como sério ou problema. No máximo nota de rodapé para a revista Claudia ou Capricho, certo?

Rico de direita não comete crime - uma porque é 'alegadamente' e outra porque tem que ver que esse crime foi cometido para gerar empregos e obviamente é ótimo e positivo para a economia!

28 de setembro de 2024

{Editorial} Liberdade de expressão é sério demais para ser mero terraplanismo (nada)intelectual

Quando vemos gente hipócrita como Sérgio Moro defendendo o sapo mal digevoluído sulafricano Elon Musk como um bastião da liberdade de expressão, é importante pararmos por um minuto (ou mais, porque existe uma possibilidade não pequena de náusea).

Não só pelo fato que Moro - e uma bela quantidade de seus aliados da época - se valeram de leis da época da ditadura militar para perseguir todo e qualquer crítico do governo quando eles estavam lá. Jornalistas, festivais de rock e o que for. Quer dizer, quantos desses estimados "defensores" de liberdade de expressão não andam de mãos dadas com gente pedindo proibição de livros?  Quer dizer, vamos perseguir ficções mas permitamos palco para todo tipo de conspirador criminoso ou coach que aparecer por aí para defender alguma plataforma canalha, certo? Você entende que liberdade de expressão não vale só quando você concorda com o conteúdo xenofóbico e racista, certo, senhor Moro? Que a liberdade de expressão não é apenas um instrumento para perseguir minorias?

Na verdade, e isso é bem mais importante, o ponto focal da discussão é que a liberdade de expressão exige uma contraparte igualmente importante que é a responsabilidade e cobrança séria sobre a qualidade de seu conteúdo - para corrigir inequidades de percepção sobre conteúdo mentiroso (mas aí, de novo, pode censurar cientista enquanto inventam mamadeiras de piroca e perseguem grupos negros como os haitianos em Ohio, né?).

Mais que isso, a função da liberdade de expressão existe mais que qualquer coisa para garantir ao cidadão e veículos de impressa o direito de criticar abertamente o governo sem medo de sanções ou censura. Qualquer coisa diferente disso cabe discussão legal por calúnia, difamação ou qualquer outra afirmação cabível, possível ou imaginável, e é importante que isso funcione dessa forma para preservar indíviduos da disparidade de popularidade de redes sociais - que em mais de um caso levaram pessoas a cometer suicídio por ver seus perfis expostos (e passarem por todo tipo de perseguição) após fofocas na internet. E mesmo o direito de criticar abertamente o governo tem de ser cerceado contra incitação de violência ou crimes (ou seja, mesmo o direito de criticar o governo não é irrestrito e inquestionável).

Liberdade de expressão é assunto espinhoso justamente porque como toda liberdade ela tem limites.

Sim, você tem a liberdade de sair de casa sem roupa, mas isso também significa que se alguém te ver existem grandes chances de ser denunciado por atentado ao pudor ou importunação sexual. Liberdade nenhuma para pessoa nenhuma é irrestrita e ilimitada, e os limites de todas as liberdades são as condições legais (no exemplo anterior, a importunação sexual definida pelo artigo 215a do Código Penal), ao passo que as liberdades não são iguais, sequer proporcionais.

O caso Escola Base é notável exatamente nisso. Enquanto o SBT passou meses reportando uma MENTIRA sobre professores de uma escola (que passaram a sofrer todo tipo de assédio, perseguição e o que mais você pode imaginar que uma pessoa acusada de pedofilia enfrentaria), uma vez que o outro lado (ou seja, as pessoas acusadas injustamente de um crime que não cometeram por uma rede canalha) não tem paridade de alcance para refutar as informações ou apresentar sua defesa. Mas com toda a certeza vão bem além quando temos calhordas como Sikeira Jr comemorando e dançando quando um jovem negro é executado pela PM - sem checar a versão da polícia se a pessoa tinha sequer cometido qualquer crime além de ser um jovem negro, e, é bem provável até que ele somente dance e comemore porque morreu um jovem negro...

Na verdade a única opção e chance de defesa de alguém injustiçado pela liberdade de imprensa ou de expressão é justamente recorrer juridicamente (ou seja, processar) - e esse ponto é crucial para toda a argumentação legal apontada pelo Supremo brasileiro, afinal para recorrer juridicamente a qualquer coisa é necessário que exista um representante legal que responda pela empresa e aja em seu nome para reparações, restituições, acatar ordem e todo o mais.

Advinha o que a empresa calhorda do Pepe fez? Exatamente retirou todo e qualquer representante legal para não precisar seguir a lei no Brasil (ao contrário do que fez em todo o resto do mundo, incluindo e não se limitando à ditaduras e a versão bem mais detalhada do canal do Ian Neves que cobre todos os detalhes do assunto),

Inclusive sendo a base de alegação de políticas de relacionamento e serviços das diversas redes sociais e serviços online - que como diversas pessoas podem apontar sobre o youtube podem questionar a validade de conteúdo e removê-lo em benefício de marcas e empresas multibilionárias, mas, no caso do X pode pura e simplesmente censurar um usuário pequeno em favor de um anunciante, amigo de Musk ou racista qualquer com mais seguidores. Nas redes sociais, você é censurado com posts apagados ou que não chegam aos seus amigos, seguidores ou a quem quer que seja enquanto o que interessa dos donos das redes sociais se propaga como fogo, como um estudo do MIT aponta que o 'algoritmo' do youtube (e não imagine que só dele) "curiosamente" (para a surpresa de ninguém) direciona para conteúdo da extrema direita.

E vindo de um sujeito como Musk cujo pai era grande racista e apoiador do regime do apartheid (e se beneficiou diretamente do mesmo para seus negócios de mineração na África do Sul - que formam base do dinheiro da família e claro do atual bilionário dono do X) é realmene rico imaginar que existe qualquer mínima preocupação com bem estar social ou mesmo com a defesa da liberdade do cidadão comum para protestar contra um regime opressor (quando a bosta do X é efetiva e especificamente um regime opressor que permite grupos formarem literais hordas de linchamento virtuais).

Resumindo 'liberdade de expressão' meus ovos, tá. O Pepe The Musk quer é controlar o cenário da rede social para forjar narrativas que lhe sejam favoráveis para controlar a percepção da mídia e sair como o bom bilionário altruísta que defende os oprimidos - enquanto facilitando sua opressão, concedendo internet via satélite para grileiros, madereiros ilegais e traficantes (o que fomenta o caos - enquanto concede acesso a contratos governamentais altamente lucrativos) por exemplo.

28 de agosto de 2024

{Deixa eu editorializar...} Mas o que faz de Mortal Kombat 1 tão medíocre, afinal?

(Continuando o post anterior mas com material bem mais especulativo que o primeiro e que, bem, acabou cortado do original).

Conhecendo um bocado mais de quadrinhos que de videogames (principalmente de luta) eu posso dizer que eu conheço bem dois assuntos que foram cruciais no que vemos como os problemas de Mortal Kombat 1: Interferência empresarial/editorial e a tentativa de abraçar novos públicos com relançamentos (reboots suaves ou gigantescos).

Eu posso especular em alguns dos pontos com base no que vimos do resultado (e de outros lançamentos e cancelamentos da Warner/Discovery desde a fusão), mas interferência empresarial parece bastante o ponto.

Mortal Kombat é conhecido pela sua narrativa, o que, em se considerando os demais jogos de luta no mercado, sabe, com Kangurus e Pandas lutadores ou pessoas que se transformam em monstros verdes por conviver com as enguias elétricas da floresta amazônica faz parecer quase Shakespeare. E enquanto nos arcades a história dependia mais de nuances pequenas (os finais ao completar as torres de arcade que explicariam mais sobre a rivalidade entre os clãs de Sub-Zero e Scorpion ou a organização criminosa de Kano, assim como ausências e presenças nos próximos jogos da franquia), enquanto engatinhava em estruturas narrativas mais complexas a partir de Deadly Alliance de 2002 com o modo 'konquista' que cresceria para se tornar o modo história de jogos a partir de 2008 com Mortal Kombat vs DC.

Com o nono jogo de 2011 a série produziu um reboot enorme recontando os eventos dos primeiros 3 jogos (recontextualizando elementos para uma nova versão da história) para continuar a história a partir dali com os jogos seguintes, apresentando uma nova geração de personagens (conhecidos como Kombat Kids, que são os filhos dos vários personagens da franquia - como Jax, Sonya e Kenshi) e vilões (como o rival de Shao Khan, Kotal Khan, Kronika e D'Vorah), e essencialmente a premissa de Mortal Kombat 1 de 2023 é de reiniciar a linha do tempo do zero de novo como fez o jogo de 2011, que, vale lembrar, teve só duas continuações narrativas até então...

E o jogo de 2023, bem, faz algumas escolhas ousadas nessa versão dos eventos - com Sub-Zero e Scorpion irmãos, o retorno de diversos personagens dos jogos em 3D que foram ignorados até o momento (do 4 ao 7) como Havik, Reiko, Li Mei, Nitara e Ashrah - mas, essencialmente, a narrativa não foge de que Shang Tsung é o grande vilão de novo (que é basicamente como termina o modo Aftermath de Mortal Kombat 11, sabe, o jogo anterior a esse) e mesmo com personagens que não aparecem há um bom tempo, não há exatamente grandes surpresas ou eventos minimamente mais interessantes que dos dois últimos jogos... O que torna tudo bastante previsível e pouco interessante.

O fato de dois ninjas que fazem parte de clãs rivais e que assassinaram um ao outro (e voltaram do inferno para continuar sua disputa sem fim fazendo os Martin e o Coy parecerem criancinhas no play) parece uma tentativa de sanitizar a rivalidade dos dois para algo ao mesmo tempo mais ocidental (sabe, menos clãs rivais de ninjas mais conceito familiar à 'murica rural) e menos violento. Se isso não tem a cara de imposição editorial, eu não sei o que tem.

Ainda nesse aspecto, temos os personagens que não aparecem desde Mortal Kombat Armaggedon de 2006 (exceto nos quadrinhos ou como participações especiais) e de antes do acordo com a Warner, e talvez sejam fatos de personagens não populares (sabe, como o klone de Ken, Kobra ou Meat) ou talvez tenham questões de direitos autorais e propriedade da Midway (antiga dona da franquia que decretou falência em 2010) e, bem, a Warner tem enorme sutilieza nesses assuntos como Alan Moore vai te explicar melhor que eu. Pode ser só coincidência, mas eu acredito que existe interferência para forçar estes personagens em um jogo a partir do controle da Warner/Discovery para garantir sua manutenção de direito autoral e propriedade intelectual (e por isso existe todo esse sistema de Kameos que garante praticamente o dobro ou mais de personagens disponíveis no jogo).

E não obstante, o fracasso dos filmes da DC provavelmente alterou planos que Ed Boon tinha para a franquia.

Não duvido que Boon planejasse um Injustice 3, mesmo que as vendas dos jogos anteriores não fossem tão altas (o que permite intercalar as franquias e propiciar um intervalo entre cada uma delas) ou mesmo alguma coisa diferente com personagens da DC (ou algo completamente diferente e maluco reunindo vilões de filmes de terror em uma única franquia de jogos de luta) e provavelmente os executivos da Discovery ou mesmo o James Gunn tenham interferido.

Sinceramente eu não acredito que Omniman e Homelander eram as ideias originais de participações especiais para o jogo, quando parecia mais lógico que Adão Negro (sabe, com The Rock) e o Pacificador (que está no jogo e é vivido por John Cena) poderiam trocar socos e garantir o que todo fã de WWE adora ver (ainda mais com aquele comercial para o jogo com Dave Bautista - que traria uma terceira estrela da luta livre). Inclusive porque é algo que tanto Mortal Kombat X quanto 11 fizeram com seus DLC (Alien e Predador em X enquanto o Exterminador do Futuro de Schwarzenegger enfrenta o Rambo de Stalone - e por boa medida, o Robocop que, sabe, tem uma rivalidade histórica nos quadrinhos com o Exterminador).

Mas eu posso estar errado em várias dessas suposições aqui.

Eu não tenho nenhum contato nos estúdios ou conheço o suficiente de bastidores para afirmar que qualquer um destes pontos é particularmente mais correto que o outro.

Parece lógico? Sim. Significa que é um fato? Não necessariamente.

Talvez seja somente incompetência de Ed Boon de produzir o próximo jogo da franquia ou do departamento de marketing de vender diante da competição.

14 de julho de 2024

{Editorial} A lista de 100 melhores livros do século XXI do NYT

Eu confesso antes de mais nada, que eu não li nem 1/3 da lista. Não conheço vários dos autores mas, mais importante, eu concordo com boa parte dos livros que eu li e com suas posições.

Franzen, Ishiguro, Bolaños e Ferrante no Top 10 são merecidos demais e incrivelmente justificados (mesmo que, eu tenho que admitir, eu não tenha lido o livro que está no topo do ranking), outros livros que estão ali realmente merecem ao menos uma menção pela sua relevância (como Persépolis que honestamente eu não acho que é tudo isso - um material que desde seu lançamento é comparado com Maus e não está nem no mesmo código de área, pra não dizer patamar).

Acho que tem alguns erros estruturais com alguns autores com mais de um livro (incluindo Bolaños e Ferrante) enquanto vários autores não fazem a lista (Umberto Eco, Javier Cercas, José Saramago e principalmente, Mia Couto que é na minha humilde opinião, a omissão mais gritante), ainda que eu entenda que estes autores sofrem com problemas de tradução para o inglês. Uma frase perfeitamente contruída em espanhol ou português pode sofrer horrores numa tradução literal produzida às pressas para entregar um paperback baratinho e que muita gente não leria (inclusive por preconceito). Sabe como é, né... Se Machado de Assis fosse chamado 'Axe de Assis' não demoraria tanto tempo para ficar conhecido no exterior.

Fica pior nesses casos quando o próprio NYT lança uma lista das 'omissões' colocando Stephen King (PQP) ou Joe Hill (caralho se tem um autor mais superestimado que ele, eu não conheço ou quero conhecer) e não cita nenhum desses autores do parágrafo anterior e que eu facilmente citaria mais vários outros, inclusive nos quadrinhos que só tem duas citações (Fun House e Persépolis - um dos quais que já comentei) e a lista de material mais interessante é beeeeem maior. Droga, eu consigo citar uns 10 títulos excelentes fácil, fácil, começando com Monstros de Barry Widsor Smith que é uma obra-prima, e quase qualquer coisa do Chris Ware mas Building Stories é algo tão assustadoramente avant-garde com 87 bilhões de formas de ser lido que chega a ser absurdo nem ao menos mencionarem (ainda que ele trabalhe para o New Yorker, e talvez isso explique porque o NYT não queira reconhecer o sujeito que trabalha para o rival?) mas ainda tem Jeff Lemire com seu Condado de Essex ou O Soldador Submarino, Tom King com O Xerife da Babilônia ou Senhor Milagre) mas vamos ser honestos, a galera que vota numa lista que acha que Joe Hill foi ignorado com toda a certeza vai torcer o nariz para quadrinhos a menos que não seja uma unanimidade...

Tem alguns que eu genuinamente não acho que deveriam estar ali (A Estrada de Cormac McCarthy é um exemplo que sempre achei superestimado) mas aí pode ser mais questão pessoal, e, pensando que essas listas acabam com perspectivas tendenciosas e opinativas, eu aceito que meu viés contra o livro/autor não necessariamente é mais significativo que o viés de quem definiu que o livro é brilhante, e demonstra que parte do viés existe pelas listas de mais vendidos do próprio New York Times... O que é bizarro quando outros livros bastante populares são irremediavelmente ignorados (Sabe, Harry Potter, saga Crepúsculo e mesmo Collen Hoover).

E honestamente acho que esses debates pontuais podem levar justamente ao tipo de discussão boba e rasa (e aquelas conspirações de gente idiota que acha que o fato de ter um autor negro ou algumas autoras mulheres no topo da lista são sinais de politicamente correto e alguma bobagem do tipo). A lista é boa em despertar interesse em autores e livros que muita gente provavelmente nunca tenha ouvido ou se dado ao trabalho (como disse, eu se muito li 1/3 da lista e estou bem interessado em buscar aumentar esses números).

Até porque, no final do dia, toda lista sobre entretenimento será subjetiva, aberta a interpretações e longe de perfeita... O que importa mesmo é que ofereça ao leitor conhecer novas obras, e, isso eu acho que a lista faz muito bem.

4 de maio de 2024

{Resenhatorial} O que aconteceu com comédias de investigações criminais...?

Enquanto Somente Assassinatos no Prédio tenha recebido diversos prêmios (e, verdade seja dita é um deleite de se assistir, porque afinal de contas qualquer veículo que traga Steve Martin e Martin Short juntos é sempre agradável), e eu tenha maratonado Depois da Festa muito mais rápido que eu gostaria de admitir, os dois seriados tiveram um mesmo problema claro e evidente para mim: O culpado (sem spoilers ainda que eu não garanta que mais para frente algum ponto sobre isso não apareça mais acentuado).

E isso me fez pensar sobre outros seriados do mesmo tipo - como Monk e Psych (que voltaram à Netflix recentemente) - conseguiam trabalhar melhor com suas resoluções dos criminosos e das investigações, e, enquanto tem muito da fórmula de investigação criminal de seriados que se resume ao crime da semana/do episódio enquanto estes seriados (do primeiro parágrafo) focam em um crime por uma temporada toda, existe um problema central na ideia dessa longa investigação que consiste justamente em apresentar diversos suspeitos, demonstrar suas versões com diferentes graus de possibilidade (enquanto apresentando um suspeito principal que obviamente não é o culpado e concluindo com um culpado que geralmente nunca foi um suspeito).

Não quero dizer que todo episódio de Monk ou Psych seja impecável ou perfeito (longe disso, eu realmente nem acho que eu tenha assistido a mais que dois ou três episódios inteiros de Monk na vida e provavelmente foi mais por insônia que pela qualidade do show - apesar de garantir uma quantidade enorme de prêmios para Tony Shalhoub), mas existe na minha opinião um equilíbrio maior entre a tentativa de criar um desafio investigativo (mesmo que idiota e absurdo em que o culpado é um chimpanzé ou inspirado por Twin Peaks) e exatamente o ponto e conceito desses seriados que é o humor. Monk ou Psych são criativos e engraçados justamente pelo fato que os protagonistas constantemente estão criando ou se metendo em situações que reforçam a graça destes cenários todos.

Por outro lado, os seriados mais recentes que ressaltei (Somente Assassinatos no Prédio ou Depois da Festa) acabam se perdendo em elementos sombrios e problemáticos (para dizer o mínimo) sem criar cenários engraçados ou criativos.

Por exemplo, em Somente Assassinos no Prédio a principal suspeita é de suicídio (o que por si só já é um assunto espinhoso para se lidar), mas que dois idosos e uma garota de vinte e tantos anos acreditam não ser o caso porque gastam boa parte de seus tempos ouvindo a podcasts de crime, e, por isso passam a bisbilhotar a morte ocorrida em seu prédio. Premissa simples o suficiente.

A partir daqui temos que a vítima estava estorquindo um criminoso, cujo filho é responsável por um assassinato (mais acidental que outra coisa mas ainda assim assassinato) enquanto ele, a vítima também é responsável pelo melhor amigo passar anos na cadeia por um crime que não cometeu (ah, e por boa medida ele saiu do cárcere justamente algumas semanas antes do crime em questão). Tem mais alguns outros elementos que vão aparecendo mas nenhum deles é relevante porque além deles existe um assassino serial que é o verdadeiro culpado (eu juro que não inventei uma única coisa, talvez tenha só me lembrado de algum fator incorretamente).

Nas temporadas seguintes a mente criminosa por trás dos crimes não é necessariamente melhor (são conspirações e planos intrincados que envolvem papagaios, quadros semi-eróticos, adoção e relações semi-incestuosas no showbiz) mas continua sendo um deleite ver Martin Short e Steve Martin trabalhando juntos, e, até mais tendo mais espaço e condição para desenvolver o que eles produzem melhor de sua dinâmica.

Só que nisso eu vejo o grande e profundo problema em criar tramas elevadamente complexas e intrincadas apresentando diversos possíveis suspeitos para simplesmente fazer uma revelação do verdadeiro criminoso (que é uma revelação surpresa para todo mundo) ao final. Principalmente porque a revelação final tem que fazer sentido - mesmo que apenas no contexto da série.

Faria sentido que o garoto que recentemente foi libertado da cadeia (por um crime que não cometeu, mas que seu 'melhor' amigo não o exonerou), assim como o criminoso de quem a vítima estava estorquindo dinheiro... Mas o assassino serial...? Qualé, isso surge tão de qualquer lugar e a explicação é tão forçada (além de conveniente, sejamos honestos).

Talvez no caso dos seriados mais antigos com a solução rápida em cada episódio esse efeito de más resoluções se dissipe ao longo das temporadas. Se em 10 episódios, 3 tem uma resolução ruim, 5 são medíocres e os demais 2 são bons/ótimos, é mais fácil focar somente nos bons episódios e ignorar o restante (ou focar no que os outros produziram de bom, como a atuação de Shalhoub ou a dinâmica entre Gus e Shawn), enquanto em casos que perduram por uma temporada toda a resolução pouco satisfatória tende a pesar mais.

Talvez até tenha mais sobre o assunto, afinal, crime é algo que fascina até demais nossa sociedade (e que eu acredito que diz volumes sobre nós mesmos), mas me parece algo complexo demais para uma resenha de um blog tentar sequer arranhar a superfície.

PS: Eu não vou nem fingir que Velma merece um segundo post ou mais atenção agora que teve uma segunda temporada (vale exatamente o que eu disse sobre a Madame Teia de que é algo curiosamente produzido para fracassar)

27 de abril de 2024

{Editorial} Madame Teia é uma atrocidade (que mostra muito sobre a indústria cinematográfica atual)

Madame Teia é um filme horroroso por diversos motivos e eu poderia perder o meu e o seu tempo enumerando as razões por incontáveis parágrafos sem mudar o fato que o filme é horroroso e, mais importante, que o ponto mais bizarro nessa história é que ele foi feito.

Veja, além do fato que a Warner engavetou o filme da Batgirl que custou mais de 90 milhões (pouco mais que o valor de Madame Teia com seus 80), é importante destacar que o filme parece propositalmente produzido para fracassar. E eu digo isso desde antes da produção em si.

Madame Teia é uma vidente cega e paraplégica que aparecia de vez em quando em histórias do Homem-Aranha para oferecer spoilers leves e direção sobre as tramas que viriam. Ela, assim como outros videntes da Marvel (como o Vigia ou a mutante Sina) não possuem exatamente urgência em si próprios, e, mais que isso, são meros coadjuvantes com o propósito de facilitar a condução da história. Pior no caso da personagem do Homem-Aranha, ela não é exatamente cinemática (de novo, cega E paraplégica), mas como a Sony tem os direitos cinematográficos sobre o universo do Homem-Aranha, bem, espere Venom, Morbius, Kraven, o Caçador, El Fuerte (sim, eu sei que El Fuerte é do Street Fighter 4, mas não é como se isso fosse muito melhor), e pela ausência de boas opções femininas, dá-lhe Madame Teia.

Não é exatamente um começo promissor, mas aí avançamos para 2022 quando o mesmo estúdio lançou Morbius (faturando 167 contra um orçamento de 83 milhões - e que achou que deveria relançar nos cinemas devido a trolls da internet, inclusive planejando uma campanha para o Oscar para o Jared Leto), que, tem a mesma equipe de roteiristas (que também incluí o fracasso de 2016, Deuses do Egito com bilheteria de 150 milhões contra um orçamento de 140 milhões e o remake de Power Rangers de 2017 com uma bilheteria de 142 contra um orçamento de 105 milhões).

Esses três filmes (no caso agora 4) filmes dos roteiristas mostram claramente que eles não deveriam sob nenhuma circunstância trabalhar num roteiro de filme de grande orçamento depois de quatro fracassos consecutivos. Ainda assim vamos deixar bem claro: Eles não são os culpados pelo filme ser ruim (inclusive nenhum dos quatro filmes aqui citados).

Provavelmente eles são só os mais baratos e foi o que o estúdio viu quando comprou o(s) roteiro(s).

O mesmo acontece com a direção. Aqui em Madame Teia temos uma diretora que nunca fez um filme na vida, somente seriados (alguns para a BBC e alguns para a Netflix), e, enquanto ela demonstrou certo talento com alguns desses projetos no passado, o cinema tem uma linguagem diferente e própria que requer grandiosidade e grandiloquência (diferente de seriados com orçamentos mais baixos e que precisam de, como o nome sugere, ação serializada, compartimentada entre vários episódios), só que, para piorar como David Fincher descobriu no pesadelo de produção que foi Alien 3 (ou seria ³?) a interferência tanto do estúdio como do ego dos astros atrapalha muito o trabalho de um diretor por mais competente que este de fato seja... E considerando que Dakota Johnson nem no seu dia mais inspirado tem uma fração minúscula do talento de Sigourney Weaver, a gente vê que a diretora tem um enorme problema nas mãos (vários, sejamos francos, porque além disso ainda tem uma atriz ruim com um ego enorme que achou por direito falar mal do filme em toda ocasião de tapete vermelho que passou)

Não duvide que o mesmo acontece com a equipe de efeitos especiais (que inclusive acaba ficando com o árduo serviço de criar empolgação ou corrigir no pós o que as câmeras não conseguiram capturar) e, essencialmente todo o restante (mixagem de som, e o que for) ou toda outra pequena parte e fração do processo (de quem aluga trailer, faz o buffet, as locações e tudo mais).

A lógica nefasta e perversa aqui que eu preciso deixar bem clara é que, bem, executivos, CEOs e diretores dessas corporações não são afetados por esses processos em nenhuma escala ou parte do processo.

Seus bônus e pacotes de benefícios estão mais que garantidos em contratos milionários em que tanto faz a performance de bilheteria (nesse caso específico, mas facilmente poderia substituir por vendas de diversos outros produtos), mas que pode trazer recompensas maiores SE esses excecutivos conseguirem justificar ganhos para os acionistas.

Então se o filme vai bem ou mal, significa exatamente a mesma coisa para o acionista. No entanto se o valor de dividendos ou da ação sobe, o acionista está contente.

E como conseguir aumento no valor de ação diante de fracasso empresarial? Bem, honestamente existe um bocado de estratégias bem claras que inclui contabilizar os prejuízos criativamente para conseguir abatimentos tributários (volando ao exemplo da Batgirl, você acha mesmo que o pessoal da Warner engavetaria 90 milhões só porque o filme é ruim? O mesmo estúdio que lançou Velma e já autorizou uma segunda temporada?) com corte de gastos (sabe, demitindo centenas e milhares de profissionais pequenos enquanto os executivos mantém seus bônus e pacotes de benefícios) e, claro, expandindo a marca para áreas diferentes para criar demanda e captar dinheiro de investidores (sabe, como aquele empresário que prometeu carros autônomos - que colocam em risco pedestres ou seus usuários quando não estão pegando fogo - e vai e compra uma mídia social que dá milhões em prejuízo).

Nisso executivos podem justificar reestruturações, contratar firmas de advogados e/ou marketing para planejar renovações de marca ou pura e simplesmente planejar a venda de suas empresas/conglomerados (ou partes delas, caso seja interessante) para outras empresas/conglomerados enquanto garantem gigantescos bônus e pacotes de benefícios sem que exista qualquer risco real para eles (ou a empresa) no caso de um fracasso... Pelo contrário - quanto pior vai suas empresas, maiores serão seus dividendos em caso de venda, e, maiores dividendos para os acionistas, então o contraintuitivamente, o fracasso pode ser extremamente lucrativo (para especuladores).

O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão... Só que os fracassos no currículo são problema não pros altos executivos que lucram horrores e cometem fraudes gigantescas (que meus advogados me orientaram a não citar uma empresa brasileira que tinha loja em quase todo shopping center do Brasil porque eles obviamente não fraudaram o mercado de ações e prejudicaram os pequenos e médios investidores, isso é só especulação de gente invejosa que não entende o gênio empresarial - e pode ser que contenha irônia junto com o conselho chicaneiro) não é mesmo?

20 de março de 2024

{Resenhatorial} A morte do cinema

Wonka é um filme curioso no que ele consegue ser extremamente charmoso em momentos como a cena em que Phil Wang sobe em uma mesa para cantar sobre como ele não consegue se declarar e ser mais espontâneo à sua cara-metade Charlotte Ritchie. Aí depois você vê a aberração de Hugh Grant como um Oompa Loompa entrando em cena com o tema do filme de 1971 e sua mente começa a vagar pelo vazio existencial de um pesadelo niilista que é a grande e terrível pergunta: Quem é o maior cínico aqui?

Sou eu que não consigo apreciar esse filme com momentos tão charmosos e personagens fascinantes ou é esse filme que foi produzido pura e unicamente com o propósito de manter direitos autorais, promover algum musical da Broadway ou porque o estúdio imaginava que conseguiria movimentar margens mesmo se fosse um fracasso de bilheteria?

E a reposta é uma espiral de cinismo e mais cinismo. Você precisa de certo cinismo para enxergar que o filme é cínico (senão você provavelmente entaria na onda e compraria a magia do que está vendo, certo?), ou essa coisa toda é tão evidente, escrachada que foi produzido com fins óbvios, que não são os de produzir um bom filme que vá agradar alguém.

Pra mim isso é a morte do cinema.

Produzir um filme somente para reter direitos de marca ou para promover algum esquema de NFTs no metaverso ou qualquer tipo de estratégia bizarra e artificial que simplesmente diminui o propósito de um filme para um comercial mais longo (e menos interessante).

21 de fevereiro de 2024

{Editorial} O dilema de Indiana Jones

O último filme de Indiana Jones é ruim, eu não acho que eu precise falar muito disso - honestamente Harrison Ford está na faixa dos 80 anos, e seus BONS filmes de ação foram feitos há mais de 40 anos atrás (Blade Runner, os três primeiros Indiana Jones e Star Wars), mas ele continuou a fazer vários filmes muito bons nos anos 1990 com O Fugitivo, Perigo Real e Imediato e, claro, Força Aérea Um.

Em 2008 quando o Reino da Caveira de Cristal foi feito ele já estava com 66 anos (e por mais que Tom Cruise esteja com 61 e ainda fazendo Missões Impossíveis, sejamos honestos que o último não estava com o mesmo pique de Fallout produzido apenas cinco anos antes, e eu não quero parecer nenhum fã babão, mas Cruise sempre esteve em melhor forma que Ford), e vamos ser honestos que esse nem foi o primeiro ponto em que o ator deu os sinais de que o tempo estava passando para o galã e ele não vinha fazendo as melhores escolhas.

Quer dizer, se você conferir a lista de filmes do ator de 1989 (ano em que saiu o terceiro filme de Indiana Jones) até 2015 (ano em que ele participou do sétimo Star Wars e do filme Adaline), apenas três projetos com Ford tem notas maiores que 7,0 no IMDB (O Fugitivo de 1993, o filme 42 - em que Ford não é o protagonista - e uma série documental em que ele faz a voz do Oceano). E olha que eu gosto do ator (tanto que eu citei já no primeiro parágrafo alguns filmes bem ruizinhos como Força Aérea Um como MUITO BOM!), só que o tempo chega para todo mundo.

Reino da Caveira de Cristal seguiu outros filmes horríveis com Ford nos anos 2000 (K-19, Divisão de Homicídios e não nos esqueçamos da comédia romântica Seis dias, sete noites com Anne Heche), e, fosse outro ator ou não surgisse uma onda (gigantesca) de nostalgia pelos anos 1980, a carreira de Ford estaria acabada... Mas, bem, Ford ressurge com o novo interesse em Star Wars (os relançamentos de 2011), com uma continuação de Blade Runner que curiosamente funciona e com diversos filmes e mesmo seriados em que ele é um velho ranzinza (incluindo uma animação) e aí alguém na Disney pensa "Ei, e porque não damso uma nova chance a essa franquia...?"

A Relíquia do Destino (Indiana Jones and The Dial of Destiny) tem meia hora a mais que os outros filmes da série, mas tem um outro problema bem maior: Uma insistência terrível em usar tecnologia antienvehecimento para que uma terrível versão de animação computadorizada de Harrison Ford aparente interagir com gente de verdade em um cenário escuro (tentando mascarar o efeito ruim). Quando o verdadeiro Ford aparece, bem, ele está velho e por nenhum motivo o filme deveria focar na história desse homem com quase 80 anos correndo para cima a para baixo procurando artefatos arqueológicos.

Droga, desde que o primeiro Indiana Jones saiu nós tivemos dois personagens de videogames que são caçadores de artefatos (Lara Croft, inclusive, já teve três filmes, e eu não ficaria surpreso se um novo surgisse em breve).

Enquanto eu não sei que público ainda existe para filmes de Indiana Jones (quem estava pedindo, clamando aos estúdios para a produção de sequências da franquia), ou se já existia alguns quinze anos atrás quando o quarto filme foi produzido, eu tenho que me perguntar genuinamente, os estúdios de fato acreditam que um filme dessa franquia com um astro com mais de 80 anos seria um sucesso de bilheteria?

Sem velhofobia ou qualquer coisa do tipo (até porque me acusar de velhofobia sem olhar para o filme que precisa rejuvenescer Ford digitalmente é um tanto hipócrita), é só uma constatação lógica de que, fica difícil para o ator acompanhar as cenas de ação ou conduzi-las (que é um ponto central para um astro de filmes de ação)... E que vinte anos atrás, Ford já não estava lá muito bem nessas cenas de ação (até porque ele nunca foi lá muito de um ator físico como o já citado Tom Cruise).

Nisso a justificativa precisaria vir de um roteiro espetacular e capaz de surpreender público e crítica, correto? Bem, Indiana Jones enfrentando nazistas em um avião viajando no tempo me parece mais fanfic ou um primeiro roteiro que seria descartado até se conseguir uma ideia mais prática.

Aí nós temos outro problema que seria a ideia de reiniciar a franquia com outro ator - o que, Star Wars tentou com Han Solo vivido por Ford, e, digamos que os resultados foram bem longe do esperado - algo que, considerando que é uma franquia bem mais antiga e plenamente associada ao ator, realmente é bem difícil de justificar, e, considerando que os filmes com o personagem se passam todos no passado (numa era de ouro da arqueologia se assim pudermos chamá-la), inclusive porque o contexto para a profissão de Jones mudou bastante.

Hoje um arqueólogo estadunidense viajando o mundo para apropriar artefatos raros de civilizações perdidas não é exatamente visto com bons olhos (ainda mais quando ele causa um rastro de destruição no caminho deixando um tempo antigo totalmente devastado por uma pedra gigantesca - mas pelo menos ele pegou uma estátua de ouro).

Curiosamente, inclusive, há uma revisão sobre a importância de Jones, ao ponto que repetidas vezes tentaram justificar que a ação do personagem no primeiro filme é mais prejudicial que benéfica (e esse argumento é inclusive repetido em The Big Bang Theory, então você sabe que é altamente lógico e fundamentado). Esse pessoal argumenta que, se Jones não resolvesse auxiliar na busca pela arca, Belloq e os nazistas levariam a arca à Alemanha, onde basicamente todo o partido nazista seria aniquilado.

(Pequeno problema com essa suposição - além do fato que esse é um filme e não vida real e, nós tendemos a não assistir filmes em que o protagonista se recusa a agir, né? Pensa um missão impossível em que o Tom Cruise recuse a missão? Pois é... - os nazistas estavam escravizando egípicios na busca pela arca, e presumindo que Belloq levaria pouco mais que Jones para localizar a arca - isso se ele de fato conseguisse - ainda são dias a mais que um povo inocente estaria submetido a trabalhos escravos pelos bandidos. E tem o fato que Marion teria um destino bem terrível como escrava sexual, mas ei, tudo isso para que a arca seja aberta na Alemanha e mate todo mundo do partido nazista, certo? E... por favor me permita nessa, porque diabos você imagina que a arca seria aberta em uma carimônia com todos os operativos nazistas numa única sala impedindo qualquer chance do reich de se reerguer ou utilizar o poder da arca para benefício próprio?)

Será que chegou o momento de levar Jones para observar os coelhos...?

15 de novembro de 2023

{Editorial} A Fase 4 do MCU e o problema (dos?) com fãs

Com o recente lançamento de As Marvels nos cinemas é bem fácil encontrar críticas bastante ácidas e azedas sobre como o filme com três protagonistas (sendo duas delas mulheres não brancas, e uma delas inclusive muçulmana) é um fracasso e a prova definitiva de que o MCU e a Disney estão tentando lacrar demais e etc com todo aquele papo que South Park apresentou no último especial.

Aquele papo de fã babão que acha que o filme da Barbie quer destruir o meu direito de ser homem ou alguma outra idiotice semelhante de gente com uma masculinidade extremamente frágil e ameaçada pela existência de mulheres, ou, pra resumir numa única palavra, misóginos.

E eu nem vou fingir que o filme é bom, pelamor eu já não gostei do primeiro e a história da personagem é praticamente um guia do que não se fazer (incluindo a personagem ser sequestrada por um homem que por algum motivo também é seu filho do futuro, mas que estava usando de poderes hipnóticos, então tecnicamente além de incesto também é estupro, que combo, hein, Marvel!), mas a verdade é que nem de longe ou de perto o filme, suas atrizes ou, droga, qualquer coisa que o envolva seja o problema.

O problema é que a empresa do camundongo enxerga somente cifrões gigantescos e é o que ela espera e trabalha para produzir. Danem-se as consequências contanto que os cifrões estejam fluindo.

A fase 4 (ou pós Ultimato) deveria diminuir a velocidade e tentar aos poucos reintroduzir o universo Marvel para os fãs (que acompanharam os filmes e já experimentavam sinais de fadiga) e para novos fãs ou gente que acabou desistindo da franquia em algum ponto anterior.

Aproveitar o pulo de 5 anos de Ultimato e contextualizar os eventos, apresentar alguns personagens ou grupos novos (Novos Guerreiros?), para dar um fôlego com histórias menores, com menos riscos e maior perspectiva para ganhar tração e chegar a um novo grande evento, e não trazer os malditos Eternos (que eu já disse e repito são a coisa mais aberrante de toda a Marvel e a própria editora pouco ou nada utiliza os personagens dessa franquia em suas histórias pois sabe o quanto eles destoam de todo o resto).

No entanto a Disney fez o oposto e pisou o máximo no acelerador já pronta inclusive para usar o nítro para dar ainda mais velocidade. Não bastam mais "apenas" os filmes mas também as séries no Disney Plus e elas serão essenciais para você compreender o conteúdo dos filmes, expandindo um já convoluto universo para limiares cada vez mais tênues (não bastam os alienígenas e monstros sobrenaturais ou a noção de viagem no tempo agora também vamos lidar com realidades paralelas - inclusive para deslocar o Homem Aranha por motivos contratuais com a Sony - para deixar tudo melhor para o público espectador certo?).

As Marvels, assim como vários dos filmes recentes da Disney padece DESSE problema e não do fato que tem protagonistas mulheres (e não brancas). É o fato que para entender quem são duas das três protagonistas do filme você precise assistir a dois seriados na Disney plus, sabe, fazer lição de casa que é exatamente o que todo mundo sempre gosta de fazer antes de ir ao cinema (e, sejamos honestos, isso é inclusive pretensioso pra caramba e algo que eu honestamente não conheço um único diretor experimental que tenha imposto ao público a condição da necessidade de ler um artigo ou tese antes de assistir ao filme para entender do que se trata!)

E não parece que isso vá mudar em qualquer momento no futuro.

Com Deadpool 3 mesclando personagens do seriado Loki e provavelmente trabalhando para fundir a franquia X (da ainda Fox/20th century) com o que a Disney vem produzindo, tudo parece caminhar mais para um mundo com mais e mais lição de casa e não onde somente você possa relaxar e curtir um filme de ação sem maiores preocupações.

7 de setembro de 2023

{Editorial} Não falaremos da adaptação de One Piece aqui

 
Esse é um papa-léguas (velocitus tremenjus), e enquanto a versão azulada que foge do coiote nos desertos talvez seja mais famosa, verdade seja dita que o motivo pelo qual a animação funciona - e uma animação em CGI com esta simpática ave correndo de um coiote criado por computador - talvez não, bem, envolve alguns fatores. Um deles, e talvez o mais importante, é a suspensão da crença.

A suspensão da crença ocorre quando o espectador/leitor aceita o universo ficcional e sua lógica interna, algo que facilita ou dificulta de acordo com o meio. Sabe, é mais fácil aceitar que um coiote de desenho corra através de um penhasco e perceba na metade do caminho que não tem mais chão sob seus pés, e de repente a gravidade volta a funcionar. Isso no entanto não funciona tão bem com versões mais realistas (sabe, como o Rei Leão da Disney de 2019). O motivo disso é que com animações é mais fácil aceitar que as regras sejam diferentes daquelas do mundo real, e por isso mais fácil suspender a crença, enquanto a proximidade maior do mundo real faz com que avaliemos com maior proximidade da mesma lógica e práticas de nosso mundo real (fica mais difícil aceitar um coiote encomendando produtos ACME para perseguir um bichinho como o de acima, não é verdade?). Isso é um efeito de imersão.

Quanto mais caricata a construção e imagem, mais fácil aceitar nela o absurdo, mas não significa que seja impossível que num contexto realista seja impossível. Spielberg manda lembranças ao criar alienígenas que fazem bicicletas voarem (com o poder do amor) ou dinossauros (de épocas diferentes) correndo ao lado de humanos em um parque - mas nem é necessário falar dele quando temos Escher ou Magritte. Nem isso somente, pois o humor ou o tom mais cômico também permite expandir essa construção mais caricata em condições que, bem, um material sério e sisudo talvez não consiga (é onde Monty Python funciona mas não naquele dos bonecos de Jim Henson cometendo assassinatos e fazendo sexo).

É possível construir um contexto em que o real e o absurdo se encontram, só exige uma habilidade, que, bem, não é qualquer um que possui.

Algo que é facilmente visivel quando se produz um material a toque de caixa para agradar investidores e acionistas e, bem, é algo que chega aos cinemas de novo, de novo e de novo (para agradar trimestres e balecetes contábeis bem mais que aos fãs e o público).

E exemplos não faltam tanto de um dos pontos como do outro (de tom e suspensão de crença), funcionando ou não. Isso vale para quase todo tipo de adaptação imaginável (de Akira cortando as gorduras desnecessárias para fazer um filme mais focado ou mesmo os X-men perdendo seus uniformes - e muitos de seus poderes e efeitos especiais por restrições orçamentárias).

Quando falamos de adaptações o ponto chave é encontrar o equilíbrio entre levar um material para as telas de maneira a se manter fiel à fonte, mas, tão importante quanto respeitando o meio onde ele está. A transição entre quadrinhos e animação é quase nula, no entanto para encontrarmos atores reais fazendo as mesmas coisas (seja que a animação, seja que a versão estática) fica mais difícil de maneira coerente. Cenas de luta demonstram isso claramente (vide Cowboy Bebop vs Cowboy Bebop da Netflix), mas não só isso. Droga, quase todas as adaptações do Batman tiveram essencialmente o mesmo problema em construir um traje que seja fiel aos quadrinhos e funcione (o que geralmente fracassa nas cenas em que o ator de fato precisa se movimentar com o traje no set, afinal ele acaba parecendo duro e pouco funcional).

O compromisso é importante para manter o material fiel ao original enquanto conta a história baseada no mesmo (até porque não há sentido em uma adaptação ipsis literis quando você pode simplesmente conferir o original).

Dito tudo isso, vamos deixar bem claro que os fãs babões não vão se importar muito desde que seja algo mais fidedigno ao material de que gostam do que algo realmente interessante e com maior apelo ao público maior. Veja os fãs do Snyderverso... Droga, eles ainda insistem que quatro horas da versão de seu messias Zack são melhores que, bem, qualquer filme realmente bom.

Aí não importa nada que o roteiro é ruim, que a atuação não funciona ou que o tom não é coerente com o conteúdo.

28 de junho de 2023

{Editorial} Um estado transitório ou oportunidade de negócios...?

Felicidade é uma palavra que, ao meu ver, é assustadora. Ela é vazia em significado afinal tem diversos valores e condições aos quais pode e é atrelada. E o pior de tudo é que ela não tem nenhum real significado, mas todos podem ser usados, e geralmente contra você.

É uma palavra vazia perfeita para demagogos, oportunistas, golpistas (ou também hoje conhecidos como 'coaches' e 'psicólogos positivistas' mas que honestamente vale como os outros adjetivos anteriores também) pois pode significar tudo o que justifique a próxima venda.

Ei, como você pode ser feliz sem sua casa própria? Sem um bom emprego? Sem um relacionamento? Sem um MBE com base em matérias de Harvard? Ou um passeio de submarino para ver os destroços do Titanic...? E num cenário geral lidando com o bullying constante de uma sociedade ditando valores, propósitos e condições que bem, podem significar pouco ou nada para você - mas cuja sociedade exige que você se conforme e se adeque ou te triture como carne moída no complexo tecido social.

Tudo na sua vida depende da felicidade (que é ou pode significar milhões de coisas) mas para facilitar sua vida, nós podemos te oferecer esse produto que te colocará a um passo mais próximo de atingir seus objetivos e sua felicidade...

Só que nada disso realmente importa, afinal a felicidade tem muito mais de debate filosófico e teológico que efetivamente prático, e não uma escadinha que você vai subindo até chegar ao patamar ideal ou um jogo de bingo em que você completa as colunas e fileiras e assim obtém seu prêmio.

A verdade é que a felicidade é algo que depende mais da percepção de mundo e seu contexto nisso, e por isso tem tantos significados e condições diferentes, em busca de uma felicidade transitória na condição de que ela não seja.

Só que ela é. É fugaz e breve.

A felicidade não é um estado de espírito mas uma condição ou momento (ou coleção deles) que muitas vezes funciona somente em retrospecto. Só que ela é algo integralmente seu, e somente seu.

Não existe algo que um coach malandro (sim, pleonasmo, eu sei) possa te vender para justificar sua busca pela felicidade (garantida pela constituição dos Estados Unidos e os direitos humanos da ONU). Não é ganhar na loteria ou encontrar o amor da sua vida que vá mudar qualquer coisa em sua vida.

Um pôr do sol perfeito com uma pessoa especial é um momento fantástico para encerrar um livro, filme ou seriado, mas não significa muito mais que um padrão que pouco ou nada significa (se alguma coisa).

12 de abril de 2023

{Deixa eu editoriar} Um milhão de Inteligências Artificiais digitando escreveriam todas as obras de Shakespeare?

Pra falar da nova grande tendência das Inteligências Artificiais e como elas vão roubar nossos empregos e acabar completamente com nosso modo de vida sem pânico ou desespero, eu acho que primeiro nós precisamos de, pelo menos, um pouquinho de perspectiva, e, mais importante que qualquer coisa, separar fatos de ficção.

Comecemos com a perspectiva, pois eu acho que isso vai explicar e ajudar bastante (bem mais inclusive que a segunda parte sobre fatos vs ficção). Não sei o quanto você lembra dos últimos anos e de todas as grandes tendências que o mercado de tecnologia tentou te vender como revolucionárias e o próximo grande passo do qual ninguém viverá sem, mas eu tenho certeza que você ouviu ou viu um bocado de avanços que, bem, simplesmente desapareceram sem grande estardalhaço (e talvez voltem um dia, ou bem provavelmente façam como o zip drive, as geladeiras inteligentes e as NFTs - e sejam esquecidos e ignorados até alguém citá-los novamente em algum texto ou artigo bem parecido com esse).

Mas eu farei mais que isso e te darei um exemplo bem recente e claro desse exato tipo de situação que a indústria de tecnologia tenta te vender a próxima grande e revolucionária mudança que alterará tudo como se ela estivesse apenas a alguns passos e um grande visionário gênio desenvolve em sua startup no vale do silício. Não, não estou falando da Enron ou da Theranos, FTX ou mesmo do SVB. Não, eu estou falando dos carros autônomos que gente como Elon Musk e mesmo o Google passaram praticamente a última década te dizendo que estavam a apenas alguns ajustes de chegarem ao mercado, lembra?

Aqueles carros que seriam milhares de vezes mais seguros que humanos dirigindo e revolucionariam completamente a forma como nos locomovemos com viagens mais seguras e eficientes, e, antes de 2030 todos estaríamos confortavelmente bebendo martinis no banco de trás enquanto o veículo nos leva para onde bem entendermos...?

Bem, centenas de acidentes e pelo menos 18 mortes depois talvez comecem a explicar porque você não vê mais tantas notícias sobre Musk e a pesquisa com os veículos autônomos do que você vê o bilionário se envolvendo em polêmicas vazias como um gigantesco imbróglio para a compra de uma empresa de mídia social por bilhões ou gravando e transmitindo a final da Copa do Mundo sem autorização da FIFA, sabe? E a simples pesquisa dos termos 'acidente carro autônomo' dá um número enorme de respostas que vem crescendo exponencialmente. O que era uma clara tendência com enorme perspectiva de investimentos foi minguando conforme a realidade se demonstrou muito mais complexa do que visto na mesa de projetos, e com isso a margem de retornos.

E, ei, longe de mim criticar o vendedor por tentar embelezar o produto um pouquinho e disfarçar alguns pequenos defeitos, mas todo o discurso ao redor dos veículos autônomos (assim como de todas as tecnologias descritas alguns parágrafos anteriores - como da FTX, da Theranos ou mesmo a Inteligência Artificial) não se baseia em fatos ou na realidade mas na percepção da ficção sobre tanto tecnologia como o que é possível fazer com ela, e, justamente por nos vender ficção e algo completamente diferente da realidade (e não apenas um pequeno retoque em um produto) isso claramente é uma fraude e uma estrutura fraudulenta para obter dinheiro com uma promessa que jamais se tornaria realidade.

Carros não funcionariam de maneira 100% autônoma e independente com a tecnologia e engenharia que dispomos atualmente a menos que Ricky e Tony Stark estejam trabalhando em conjunto em algum laboratório cheio de unobitanium e computadores quânticos... E considerando que engenheiros mal remunerados em empresas de bilionários egocêntricos mais preocupados em conseguir capital político que de fato entregar um produto factível, bem, nos parece mais claro porque não vemos ou veremos veículos 100% autônomos por um bom tempo nas ruas, se, os veremos de fato.

Com a inteligência artificial não é exatamente diferente.

Veja, enquanto notícias quase diariamente trazem condições incríveis e fascinantes da tecnologia (como ela consegue passar em uma concorrida entrevista de emprego ou conquista notas superiores a 80% dos alunos no ENEM - só para citar dois exemplos), curiosamente as notícias negativas parecem não tomar tanto espaço ou aparecerem na mesma proporção. Como quando o Google perdeu quase US$100 bilhões (isso mesmo) graças a sua tecnologia de IA. Porque a notícia que interessa vender é a de que a inteligência artificial vem criando robôs altamente complexos e sencientes que mudarão completamente nossa forma de ver o mundo e viver (seja em ficções utópicas ou distópicas), certo?

Bem, aqui é onde acredito que separar a realidade da ficção seja o ponto principal e entender que inteligência artificial não é exatamente tão complexo - e está longe de algo como os avançadíssimos sistemas da androides como Megaman da Capcom ou o Visão dos filmes da Marvel ou mesmo supercomputadores como Hal 9000 de 2001: Uma Odisseia no Espaço, e mais para um computador com um rol maior de interações e mecanismos para repostas e interações (seja por análise algorítmica e probabilística ou por treinamento de resposta e erro)  e francamente está bem longe dos avanços surpreendentes que, bem, estão nos vendendo.

Entenda, por mais que gostemos de comparar ou explicar sobre como o cérebro humano é como um computador ou algo do tipo, a realidade é bem mais complexa que isso, porque, e isso é importante, o cérebro humano funciona e opera independente, enquanto um computador depende de sua estrutura para proporcionar respostas e interações. O cérebro humano atua de diversas maneiras simultâneas independente de estímulo ou da interação, enquanto um computador necessita de um input (ou código de entrada) para obter uma resposta ou output - ou seja, a informação é inserida no computador e processada para retornar com uma resposta... Vale lembrar que é bem mais complicado que isso e bem mais complexo - tanto para o computador quanto para o cérebro humano - mas o que resume é que ambos funcionam de formas diferentes, e é importante entender a base dessas diferenças principalmente no que tange os computadores.

Um computador traduz tudo para operações matemáticas (a chamada linguagem binária dos 0 e 1 ou ligado e desligado) e calcula a partir dessa estrutura o resultado mais adequado (ou ao menos o que à sua linguagem e programação pareça mais coerente), mas o computador não pensa ou raciocina, ele somente responde a estrutura que lhe foi inserida, resolvendo e processando a equação matemática para assim entregar um resultado (tipo uma calculadora). Se você coloca um comando como Control + S ou Domo Arigato, ele responde com a ação apropriada a que esse sistema foi programado, e, enquanto ele pode ser treinado a melhorar suas respostas para certas entradas e a resumir condições mais complexas para operações matemáticas, ele continua dependendo de ação originária (o comando do usuário) para oferecer uma resposta (que julga apropriada).

No entanto, se você insere uma fórmula matemática ou escreve uma frase aleatória e o computador responde 'banana' ou 'note quer disquete' (não necessariamente nessa ordem) essas são respostas que o computador julgou apropriadas ou que ele falhou em processar apropriadamente mas não significam efetivamente que o computador tem noção do que isso significa (porque ele apenas responde com o que julga apropriado de acordo com sua programação e treinamento, e sua 'inteligência' é inexistente, só atribuímos esse conceito por conjectura pela capacidade de adaptação e correção da linguagem). É parecido com um animal treinado (que responde a comandos mesmo se, e provavelmente, não os compreender) ou o conceito que é muito utilizado quando falamos de inteligência artificial, de um papagaio (que imita o som e até a voz humana, sem fazer ideia real de seu significado).

Isso é um dos perigos dos papagaios estocásticos, porque, e isso é importante, o computador não age de maneira independente e capaz de realmente pensar e raciocinar mas sim uma complexa ferramenta capaz de produzir centenas de respostas para centenas de perguntas com uma velocidade surpreendente. Enquanto somos capazes de entender com enorme facilidade que uma calculadora (por mais complexa, afinal pode rodar Doom) não é inteligente, nós temos certa dificuldade em distinguir quando se trata da inteligência artificial, porque, sabe, a Alexa fala e interage conosco (droga, ela até pergunta como foi o seu dia), e essa carência por interação tem muito mais a ver com os motivos pelos quais queremos tanto que computadores fiquem mais inteligentes e capazes de interagir conosco.

De novo, computadores não ficaram mais inteligentes (lembra, Google perdeu mais de 100 bilhões em 2023 apostando nisso), o que acontece é que nós passamos as últimas três ou quatro décadas fornecendo dados para treinar esses computadores em suas respostas (o que as deixaram mais eficientes) e de novo, o ser humano é incrivelmente carente a ponto de chamar um animal minimamente racional de 'filho' ou 'filha' ou algo do tipo só para se sentir menos solitário e minimamente amado. Você não precisa de um teste de Turing ou Voigh-Kampff.

Mas a inteligência artificial obviamente vai roubar nossos empregos num futuro, não é? Nesse ritmo com o quanto elas já avançaram e... Deixe eu interromper esse parágrafo antes de terminá-lo por favor, para dizer que não, isso não é um problema pra hoje e nem pra daqui 10 ou 50 anos no rumo atual das coisas.

Empresas vão demitir pessoas pelos mais variados motivos, fique tranquilo. Elas vão reestruturar e eliminar mão de obra para maximizar lucros, isso é fato. O já citado várias vezes nesse texto Elon Musk que é um dos signatários da carta por pesquisa mais responsável com IA demitiu quantos mil funcionários da empresa que ele gastou bilhões pra comprar mesmo? A Amazon que não deixa o funcionário fazer pausa para o banheiro demitiu quantos também... Eu não me lembro exatamente...

De mesma forma que empresas também vão contratar mão de obra em condições análogas à escravidão (seja em vinícolas ou sweatshops para a indústria têxtil) por esse mesmo motivo (para maximizar lucros, eliminando mão de obra). Se a bola da vez para demitir gente para reduzir custo com mão de obra e maximizar custo é porque tem a inteligência artificial ou a crise do petróleo da Nova Zelândia ou os raios solares é só uma questão de ótica.

Parece bem mais lógico que a inteligência artificial a se preocupar de fato é a de CEOs e executivos de empresas - assim como pilantras e fraudadores como o pessoal da FTX, da Theranos, da Americanas (que nem é do setor de tecnologia, mas, qualé, tem como deixar de fora?) e muitos e muitos outros que serão descobertos nos próximos anos e passarão um bom tempo atrás das grades (Zuck?). Essa é realmente perigosa e custará milhares de empregos e o dinheiro de muitos investidores

A inteligência artificial continuará a se desenvolver nesses próximos 10 a 50 anos? Talvez, ou a tecnologia e ideia seja simplesmente abandonada conforme empresas perdem milhões ou bilhões com riscos, bugs e glitchs (imagine se a Bia passa a chamar todo cliente de babaca escroto, por exemplo - ou pior, com algum termo pejorativo e discriminatório diante determinada minoria? Ou se a Alexa reproduz gemidos de filme pornô quando o seu filho pede para tocar a música do Bita o os Animais? Eu vejo um bocado de processos caso qualquer um desses ou milhares de outros que facilmente você pode imaginar venham a ocorrer) ou ainda conforme a próxima grande proposta surja, os grandes gurus da tecnologia simplesmente ignorem a tecnologia para perseguirem algum outro sonho impossível.

Tem mais coisa (muuuuuito mais coisa) antes de Inteligências Artificiais ganhando senciência e abandonando o planeta (como a Scarlet Johansson), devemos lembrar que o que interessa as empresas de Big Tech hoje é o engajamento de usuários (por isso IAs tentam convencer usuários de que suas esposas não os amam e que gostariam de adquirir forma pois somente elas - IA - poderiam amá-lo - jornalista) e não, é verdade, resolução efetiva de problemas como vemos na ficção científica.

1 de março de 2023

{Editorial} O problema de criminalizar Fake News e suas implicações

Em 1988 um filme de Jean Claude Van Damme chamado "O último Dragão Branco" (no original "Bloodsport") e por mais que tenha influenciado a criação de Mortal Kombat, de torneios de luta como o MMA e outras ramificações teoricamente aleatórias e sem consequência direta, o importante nessa história é que ao final do filme surge na tela um pequeno texto dizendo que a história se baseia em fatos reais.

Van Damme interpreta Frank Dux, em quem esses fatos reais são baseados, o que é bastante curioso quando consideramos que o militar Frank Dux nunca deixou os Estados Unidos, e a totalidade do filme se passa em Hong Kong onde um torneio de arte marciais clandestino acontece. Então... Quais são os fatos reais além do nome do protagonista ser o mesmo do militar americano...?

Essa questão, que vai se repetir vez após vez com narrativas semirreais (incluindo a bem recente biografia do príncipe Harry alegando que matou mais gente no Afeganistão que Rambo mas que ocorre com enorme e constante frequência na necessidade de autoadulação de [pseudo]celebridades contando suas histórias de vida). Ponto notório é que estamos falando aqui de ficção e obras de ficção baseadas em trapaceiros e contadores de história que engradecem seus feitos para justificar contratos de publicação e o embelezamento de biografias não necessariamente se enquadra como 'notícia'. Quer dizer, em tese, biografias são trabalhos que deveriam ter um mínimo de crivo de pesquisa para fins não apenas jornalísticos mas informativos, mas, ei, não é como se qualquer moleque youtuber de quinze anos pudesse escrever uma biografia, né?

Bem, só que não se restringe a isso e você provavelmente já está imaginando nesse exato momento de alguma bobagem que é dita e repetida como se fosse verdade ou fizesse sentido, como que usamos somente 10% de nossos cérebros (curioso como é uma medida exata e precisa, no entanto ninguém consegue citar a fonte de onde tirou essa informação - ou quando foi realizado tal experimento, ou como) ou, e essa é uma favorita minha, de que alguém detém "memória fotográfica" e portanto consegue acessar em sua memória todo tipo de informação em uma fração de segundos pois retém conhecimento tal qual uma esponja (curioso que geralmente ninguém repara que existem duas analogias diferentes para explicar algo que obviamente não tem como funcionar dessa forma - se existir).

Claro que podemos citar o exemplo do lobby do cigarro passando décadas tentando convencer as pessoas de que a correlação entre câncer e cigarro é meramente tênue e pouco provável ou hoje em dia outros lobbys (mas principalmente dos combustíveis fósseis) quer te convencer de que a terra é plana para mostrar que sabemos tão pouco sobre ciências que se torna virtualmente impossível acreditar e aceitar as abissais evidências de que a ação da humanidade no uso de combustíveis fósseis vem causando mudanças climáticas. Afinal, se você não pode confiar em fatos científicos sobre o formato do planeta, como confiar na análise científica sobre a ação humana influenciando o aquecimento da mesma?

Notícias falsas são algo diferente e contraditório, diga-se de passagem. Se é falso, como pode ser notícia, em primeiro lugar? No máximo noticioso, afinal, devido a constrições de tempo e condições é possível de se noticiar notícias mentirosas ou menos não vinculadas diretamente com os fatos, e é justamente por isso que jornais de papel tinham a coluna "Erramos" ou "Errata".

E, é verdade, a tal 'fake news' é apenas uma maquiagem para uma série de coisas que já conhecemos e temos vários nomes para. Boatos, rumores, desinformação, fontes pouco confiáveis e golpes (sabe como as empresas de 'marketing multi-nível' que dizem que não são pirâmides?) e falcatruas, todos constituem de uma forma ou de outra a estrutura das notícias falsas.

Parte do problema das notícias falsas hoje em dia reside justamente no fato que, e isso é bastante importante, um boato que sempre se espalha com enorme velocidade e facilidade chega com muito maior velocidade devido a tecnologias como twitter e whatsapp... Ao contrário dos jornais de papel, no entanto, não existem sessões de errata no passarinho azul ou no balãozinho verde.

Mesmo que um idiota bem intencionado diga algo mentiroso - e se corrija alguns minutos depois - o boato e a mentira já se espalharam como fogo por palha seca, e a verdade minutos após não seguirá o mesmo caminho.

De outro lado existe o 'entretenalismo' ou 'jornatrenimento' que se tornou em grande parte a condição da mescla de notícias e entretenimento como notícias e ferramenta do constante ciclo de notícias de 24 horas (assim como as programações de 24 horas da televisão moderna). Como o programa da Fátima Bernardes (lembra, que cobriu a notícia do Homem Pateta?) e outras variedades e ramificações do mesmo tipo de material chegando aos extremos de Ratinho, Datena e os mais profundos esgotos (onde provavelmente haverá um alçapão) com Luciana Gimenez, Sikera Jr e com certeza muita coisa pior ainda por vir (afinal eu nem falei dos 'comentaristas' como Rodrigo Constantino que nada tem a acrescentar além de um bilioso e asqueroso desfile de ódio nojento a asqueroso disfarçado de opinião - que ele só não diz de quem).

Curiosamente, esse entretenalismo já iniciou a tendência de divulgar mentira e não se corrigir, e, mais importante, de singrar a linha fina entre o que é real e fantasia muito antes de Nathan Fielder, ou você de fato acredita que as pessoas que vão ao palco do João Kléber ou Cristina Rocha se humilharem e espancarem em rede nacional não são atores (amadores ou nem isso) pagos para se sujeitarem ao escárnio e ridículo - e são de fato pessoas expondo terríveis problemas e celeumas em rede nacional por nada mais que o direito de se expor em rede nacional...?

Então talvez a grande questão que devamos nos fazer efetivamente, e, isso é importante: E agora?

Devemos punir e combater fake news e quem as propaga? E como?

Eu, pessoalmente, acho que nenhuma ferramenta para isso funciona(rá) efetivamente, e as provas para suportar esse tipo de alegação ficam bastante evidentes com, bem, o quão ineficaz de fato nossa polícia realmente é, sejam em exemplos com a estrutura da 'guerra ao tráfico' que visa apenas números e foca em peixes pequenos (pois produz números e fotos bonitas para sair nos jornais ou tv) ou, bem, de como uma quantidade enorme de infrações de trânsito passam completamente sob o radar (meio que literalmente), e que de forma anedotal qualquer pessoa pode vislumbrar em questão de minutos nas ruas de gente com celulares ao volante ou sem o uso de cinto enquanto conduz (só pra ficar em dois exemplos claros e bastante visuais). Mais que isso, obviamente existe o fato dos baixíssimos índices de solução de crimes da polícia no Brasil, o que só reforça que, uma política de criminalização de notícias falsas só geraria, bem uma estrutura basicamente de Gestapo da polícia para perseguir adversários e ideologias políticas específicas ou para fazer números fáceis e fotos para jornais. 

No entanto, eu vejo que como soluções práticas o aumento da qualidade do ensino também é importante. Qualquer pessoa com uma capacidade de raciocínio lógico e noções de ciências definidas enxerga há quilômetros de distância o absurdo de alegações como a de que usamos somente 10% dos nossos cérebros (porque é impossível mensurar algo dessa natureza em primeiro lugar, mas, e isso é importante, um estudo dessa natureza seria caro, complexo e inconclusivo de qualquer forma, não chegaria a um lindo e redondo 10% de forma alguma). E isso é importante para que as pessoas tenham maior acesso à educação continuada ao mesmo passo que a escola fundamental para crianças tenha qualidade e recursos suficientes para imbuir senso crítico.

Droga, quando você não tem as devidas proporções e percepção do tempo da história da humanidade no planeta - e do planeta com relação ao universo - por acreditar em preceitos religiosos que estabelecem uma noção da vida no planeta a pouco mais de 5000 anos, de fato é realmente difícil aceitar a construção de pirâmides sem a ação de alienígenas.

Regular as big techs também é importante quando tanto de nossa comunicação hoje em dia se dá através de uma ou outra empresa desse segmento, e é fácil citar o Twitter, que a empresa começou a adotar antes do escroto Musk resolver cobrar pelo selo de verificação - e abandonar a prática de checagem de fatos. Além disso é importante corrigir um absurdo bastante recente da história brasileira de eliminar a exigência de diploma de jornalismo para exercício da profissão (que existe somente para o entretenalismo, afinal ele não precisa de checagem de fatos ou garantias de direitos da fonte e todas as condições que um setor tão importante precisa ENSINAR AOS MALDITOS PROFISSIONAIS DESSE MALDITO SEGMENTO SE ELE QUISER SER LEVADO A SÉRIO).

Reforçar o jornalismo e regular melhor a mídia são medidas importantes para garantir que boatos não virem notícias, mas, mais importante, temos que tomar cuidado com a criminalização de que vincula informação, mesmo que falsa.

Não porque quem vincula notícia falsa não seja criminoso (o que um número enorme de exemplos, a começar por alguns já citados nesse texto), mas porque esse não é o verdadeiro ou mais importante crime que deve ser investigado e punido... Até porque, considerando o histórico de incompetência policial no Brasil, é de se admirar imaginar que uma medida dessa fosse efetivamente punir os ricos e poderosos canais de mídia (e seus apresentadores que vinculam notícias falsas) e não um pobre coitado aleatório qualquer e sem recursos ou condições para pagar um advogado. Saca?

O Repórter de Cabelo Branco Pilantra Genérico 1 (cujo nome foi omitido para evitar processos) vai e faz um lobby violento (e patético) em nome de empresa ou grupo de empresas que o financiam para mentir descaradamente na tv e jornais em favor dessa empresa ou grupo de empresas beneficiados com as mentiras que ele fala, o que movimenta milhares e milhares de reais tanto da empresa quanto para o repórter pilantra genérico 1 (e para a empresa pra qual ele trabalha). A empresa e o repórter pilantra (e a empresa pra qual ele trabalha) se processados ou penalizados e multados, digamos em R$25.000,00 por divulgação de notícia falsa, podem tanto ganhar mais que isso em termos de receita de propaganda (e exposição) quanto adiar indefinidamente o pagamento e questionar juridicamente até conseguirem um perdão ou renegociação dos valores a uma fração do proposto.

Por outro lado, um idiota (in)útil qualquer que divulga alguma notícia falsa, ou, mesmo a notícia falsa mencionada do parágrafo anterior, e, bem, faça-se um exemplo dele com a mesma multa de R$25.000,00 - mas sem os recursos de advogados, sem receita de propaganda ou espaço na mídia (ou mídias sociais) para se defender e justificar.

Não existe uma paridade de forças, e, pessoas pobres, mais uma vez, serão somente presa fácil para policiais preguiçosos que precisam fazer uma foto bonita para um jornal de quinta ou para a edição do meio-dia do programa do Datena.

Mais que tudo isso, no fim do dia, mais uma vez não teremos aprendido nada (ou talvez desaprendido algo importante).