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27 de abril de 2024

{Editorial} Madame Teia é uma atrocidade (que mostra muito sobre a indústria cinematográfica atual)

Madame Teia é um filme horroroso por diversos motivos e eu poderia perder o meu e o seu tempo enumerando as razões por incontáveis parágrafos sem mudar o fato que o filme é horroroso e, mais importante, que o ponto mais bizarro nessa história é que ele foi feito.

Veja, além do fato que a Warner engavetou o filme da Batgirl que custou mais de 90 milhões (pouco mais que o valor de Madame Teia com seus 80), é importante destacar que o filme parece propositalmente produzido para fracassar. E eu digo isso desde antes da produção em si.

Madame Teia é uma vidente cega e paraplégica que aparecia de vez em quando em histórias do Homem-Aranha para oferecer spoilers leves e direção sobre as tramas que viriam. Ela, assim como outros videntes da Marvel (como o Vigia ou a mutante Sina) não possuem exatamente urgência em si próprios, e, mais que isso, são meros coadjuvantes com o propósito de facilitar a condução da história. Pior no caso da personagem do Homem-Aranha, ela não é exatamente cinemática (de novo, cega E paraplégica), mas como a Sony tem os direitos cinematográficos sobre o universo do Homem-Aranha, bem, espere Venom, Morbius, Kraven, o Caçador, El Fuerte (sim, eu sei que El Fuerte é do Street Fighter 4, mas não é como se isso fosse muito melhor), e pela ausência de boas opções femininas, dá-lhe Madame Teia.

Não é exatamente um começo promissor, mas aí avançamos para 2022 quando o mesmo estúdio lançou Morbius (faturando 167 contra um orçamento de 83 milhões - e que achou que deveria relançar nos cinemas devido a trolls da internet, inclusive planejando uma campanha para o Oscar para o Jared Leto), que, tem a mesma equipe de roteiristas (que também incluí o fracasso de 2016, Deuses do Egito com bilheteria de 150 milhões contra um orçamento de 140 milhões e o remake de Power Rangers de 2017 com uma bilheteria de 142 contra um orçamento de 105 milhões).

Esses três filmes (no caso agora 4) filmes dos roteiristas mostram claramente que eles não deveriam sob nenhuma circunstância trabalhar num roteiro de filme de grande orçamento depois de quatro fracassos consecutivos. Ainda assim vamos deixar bem claro: Eles não são os culpados pelo filme ser ruim (inclusive nenhum dos quatro filmes aqui citados).

Provavelmente eles são só os mais baratos e foi o que o estúdio viu quando comprou o(s) roteiro(s).

O mesmo acontece com a direção. Aqui em Madame Teia temos uma diretora que nunca fez um filme na vida, somente seriados (alguns para a BBC e alguns para a Netflix), e, enquanto ela demonstrou certo talento com alguns desses projetos no passado, o cinema tem uma linguagem diferente e própria que requer grandiosidade e grandiloquência (diferente de seriados com orçamentos mais baixos e que precisam de, como o nome sugere, ação serializada, compartimentada entre vários episódios), só que, para piorar como David Fincher descobriu no pesadelo de produção que foi Alien 3 (ou seria ³?) a interferência tanto do estúdio como do ego dos astros atrapalha muito o trabalho de um diretor por mais competente que este de fato seja... E considerando que Dakota Johnson nem no seu dia mais inspirado tem uma fração minúscula do talento de Sigourney Weaver, a gente vê que a diretora tem um enorme problema nas mãos (vários, sejamos francos, porque além disso ainda tem uma atriz ruim com um ego enorme que achou por direito falar mal do filme em toda ocasião de tapete vermelho que passou)

Não duvide que o mesmo acontece com a equipe de efeitos especiais (que inclusive acaba ficando com o árduo serviço de criar empolgação ou corrigir no pós o que as câmeras não conseguiram capturar) e, essencialmente todo o restante (mixagem de som, e o que for) ou toda outra pequena parte e fração do processo (de quem aluga trailer, faz o buffet, as locações e tudo mais).

A lógica nefasta e perversa aqui que eu preciso deixar bem clara é que, bem, executivos, CEOs e diretores dessas corporações não são afetados por esses processos em nenhuma escala ou parte do processo.

Seus bônus e pacotes de benefícios estão mais que garantidos em contratos milionários em que tanto faz a performance de bilheteria (nesse caso específico, mas facilmente poderia substituir por vendas de diversos outros produtos), mas que pode trazer recompensas maiores SE esses excecutivos conseguirem justificar ganhos para os acionistas.

Então se o filme vai bem ou mal, significa exatamente a mesma coisa para o acionista. No entanto se o valor de dividendos ou da ação sobe, o acionista está contente.

E como conseguir aumento no valor de ação diante de fracasso empresarial? Bem, honestamente existe um bocado de estratégias bem claras que inclui contabilizar os prejuízos criativamente para conseguir abatimentos tributários (volando ao exemplo da Batgirl, você acha mesmo que o pessoal da Warner engavetaria 90 milhões só porque o filme é ruim? O mesmo estúdio que lançou Velma e já autorizou uma segunda temporada?) com corte de gastos (sabe, demitindo centenas e milhares de profissionais pequenos enquanto os executivos mantém seus bônus e pacotes de benefícios) e, claro, expandindo a marca para áreas diferentes para criar demanda e captar dinheiro de investidores (sabe, como aquele empresário que prometeu carros autônomos - que colocam em risco pedestres ou seus usuários quando não estão pegando fogo - e vai e compra uma mídia social que dá milhões em prejuízo).

Nisso executivos podem justificar reestruturações, contratar firmas de advogados e/ou marketing para planejar renovações de marca ou pura e simplesmente planejar a venda de suas empresas/conglomerados (ou partes delas, caso seja interessante) para outras empresas/conglomerados enquanto garantem gigantescos bônus e pacotes de benefícios sem que exista qualquer risco real para eles (ou a empresa) no caso de um fracasso... Pelo contrário - quanto pior vai suas empresas, maiores serão seus dividendos em caso de venda, e, maiores dividendos para os acionistas, então o contraintuitivamente, o fracasso pode ser extremamente lucrativo (para especuladores).

O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão... Só que os fracassos no currículo são problema não pros altos executivos que lucram horrores e cometem fraudes gigantescas (que meus advogados me orientaram a não citar uma empresa brasileira que tinha loja em quase todo shopping center do Brasil porque eles obviamente não fraudaram o mercado de ações e prejudicaram os pequenos e médios investidores, isso é só especulação de gente invejosa que não entende o gênio empresarial - e pode ser que contenha irônia junto com o conselho chicaneiro) não é mesmo?

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