Nota: 3,5/10 |
Enquanto eu não gostei de Capitã Marvel por uma série de motivos (nenhum dos quais tem o fato de ser uma personagem feminina, afinal isso não me impediu de achar Mulher Maravilha várias vezes melhor que o ótimo Logan), mas eu acho que tem uma cena que demonstra bem o meu ponto.
Lá pelo final do segundo ato e início do terceiro, a personagem vivida por Annette Bening, a Inteligência Suprema Kree começa a dançar ao som de Come as you are do Nirvana no que é uma memória compartilhada com Carol Danvers (tem mais sobre isso mas eu acho que essa é uma explicação satisfatória) vivida por Brie Larson. Ok.
A cena é ruim por uma série de motivos e poderia enumerá-los facilmente (que começam com Annette Bening dançando), mas o grande problema é que, bem, a música não encaixa.
Primeiro, Come as you are foi lançado em 1991 pelo Nirvana no álbum Nevermind, e Carol Danvers estava no mundo Kree desde 1989 onde passou seis anos... Então, pra começo de conversa a personagem não teria como conhecer a música (mesmo que não tivesse 'amnésia' de sua vida na Terra)... Ao mesmo tempo que não parece o tipo de música que ela apreciaria, afinal, a personagem aparece várias vezes com camisetas do Guns'n'Roses, e, talvez eles não tenha conseguido os direitos de licenciamento para alguma música da banda de Axl Rose - ao ponto que Rocket Queen parecia casar perfeitamente com a personagem mesmo que não seja tão conhecida... Assim mesmo a banda de Axl Rose tem várias canções que fariam mais sentido de tocar ao fundo (Welcome to the Jungle? Paradise City? It's so easy? One in a million?)
E o que eu acho que é o grande problema mesmo, bem, a música não combina com o tom do filme ou com a cena que tenta construir.
Sério, tente assistir a cena em questão (de Annette Bening conversando com Brie Larson enquanto Come as you are toca) e me diga que essa é a melhor música que poderia estar tocando para aquela cena. Sério, veja aquela cena e diga que a música combina perfeitamente com o tom do que está acontecendo...
Droga, eu sei que não é um filme dirigido por Edgar Wrigth ou James Gunn mas nem toda cena precisa reforçar e solapar para a audiência que o filme se passa nos anos 90 com a nuance de um rinoceronte numa loja de cristais.
Mais que isso, mostra que quem roteirizou o filme não se deu ao trabalho de estabelecer uma linha do tempo consistente (veja o parágrafo anterior) contanto que tenha evidências a galão de que o filme se passa nos anos 90 (como na aparição de Stan Lee ele lendo o roteiro para Perdidos no Shopping de Kevin Smith, ou um fliperama mostrando Street Fighter II ou uma camisa do Nine Inch Nails, e claro empresas que saíram dos negócios como Radio Shack e Blockbuster)... É só que um roteiro precisa mais do que easter eggs para ser um bom filme (porque isso tem que ser detalhe nos bastidores como a ótima cena de Baby Driver ao som de Harlem Shuffle com as palavras da música surgindo como pichações, ou seja, com nuances).
Droga, o filme sequer se importa em estabelecer os motivos de sua história se passar nesse período (além das referências visuais). Porque 1995 e não, vamos dizer, 1999 (com o pânico do bug do milênio e tudo mais - e já mais próximo da data do primeiro filme do MCU)? Porque Carol passa 6 anos no mundo Kree?
Droga, o filme sequer se importa em estabelecer os motivos de sua história se passar nesse período (além das referências visuais). Porque 1995 e não, vamos dizer, 1999 (com o pânico do bug do milênio e tudo mais - e já mais próximo da data do primeiro filme do MCU)? Porque Carol passa 6 anos no mundo Kree?
E quando o roteiro empresta boa parte de sua trama de novelas mexicanas sobre conhecimento médico (sério, amnésia?) eu realmente me pergunto se essa é a melhor versão do filme que eu poderia assistir e acredito piamente que não.
Sei que tem spoilers, mas, sinceramente eu folgo eu dizer que se o filme não se importa (ou sequer se esforça como eu disse até agora), porque eu deveria?
Quer dizer, eu reclamei de uma cena que consegue sintetizar pra mim os problemas do filme, mas eles continuam ali. Quer dizer, Carol Danvers é sequestrada pelos Kree e mantida com eles por seis anos, mas, em momento algum ela percebe que ela é diferente de toda aquela espécie.
Tampouco parece coerente aos Krees em procurarem na Terra pelo Tessaract (que era o objeto das pesquisas de Mar-Vell no planeta e o motivo dos Krees sequestrarem Carol no primeiro lugar), ou de sequer tentarem extrair de Carol a essência de seu poder (ou mesmo suas memórias como fazem os militares Skrull quando a capturam) ao contrário mantendo-a como uma agente de seu exército.
Nada disso faz sentido, e faz menos sentido quando todo o viés do filme é uma batalha entre os Kree e Skrull que o filme não se importa muito em desenvolver ou explicar mas faz questão de deixar claro que Carol Danvers sozinha é capaz de destruir toda uma tropa Kree em segundos (numa cena que lembra muito o jovem Anakin Skywalker destruindo tudo por acidente em A Ameaça Fantasma e isso nunca pode ser uma coisa boa).
Eu até acho que existe uma série de material bem construído aqui e ali (Samuel L Jackson interagindo com Brie Larson por exemplo), mas eu acredito que o roteiro peca por demais onde não poderia, e falha em construir uma personagem e um mundo interessante que valha a pena continuar em capítulos futuros (sério, não me vejo minimamente compelido para ver os futuros capítulos da guerra Kree-Skrull ou o que se passou nos anos de Carol Danvers em exílio buscando uma casa para os Skrulls entre esse filme e o quarto Vingadores).
Fraco, beeeem fraco.
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