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20 de março de 2019

{EDITORIAL} Porque Capitã Marvel? Poque agora?

Se você não é um fanático por quadrinhos, há uma boa chance de não saber exatamente a história por trás do nome Captain Marvel e o que ele realmente representa.
É uma história de traição, processos e várias e várias décadas de tentativas e erros.

Primeiro porque, bem, Captain Marvel se refere a um cara, e é um cara que vai receber um filme em abril pela DC Comics e que talvez você conheça como SHAZAM!
O personagem surgiu na década de 40 por uma editora pequena chamada Fawcett Comics na edição 2 de Whiz Comics em 1940 e o personagem foi um relativo sucesso com o público infantil - até porque ele próprio tinha um amigo na forma de um tigre falante (não estou inventando isso). Acontece que a popularidade do personagem despertou a ira e inveja de empresas concorrentes, principalmente a DC (na época National Comics) que viu similaridades demais no personagem com um certo alienígena de outro planeta (que também surgiu em uma série de quadrinhos lançando um carro em sua primeira edição).

Gastando recursos com processos enquanto uma imensa cruzada contra a indústria de quadrinhos movida pela combinação de Frederich Wertham e o Mcartismo levaram várias empresas à falência - incluindo a Fawcett que foi comprada pela Charlton Comics (a editora que publicava histórias do Besouro Azul e Capitão Átomo, e que serviram de molde para os personagens de Watchmen de Alan Moore), e, com a falência de Charlton na década de 70 foram comprados pela DC na década de 80.

Enquanto isso, nesse hiato da falência da Fawcett e da Charlton, a Marvel Comics de Stan Lee resolveu aproveitar que o nome estava disponível e usar o nome (que também era da editora) para criar seu próprio Capitain Marvel. Outro cara.
Em 1967, Mar-Vell (sim, o ápice da criatividade), um alienígena Kree resolveu lutar pela justiça no universo e francamente não foi um personagem lá muito memorável até sua morte na primeira graphic novel da editora em 1982.

Sem esperar o defunto esfriar, a Marvel criou mais um Captain Marvel (afinal incorria de riscos de perder o direito ao uso do nome caso não o mantivesse em utilização por alguma convoluta lei de registro de marca norteamericana), dessa vez uma mulher: Monica Rambeau.
Sim, a moça afrodescendente juntou-se aos Vingadores na década de 1980 para manter acessa a chama do nome de Capitã Marvel, mas nunca conseguiu alcançar muita popularidade... E, para atrapalhar a Marvel, por volta desse período a DC adquiria os direitos pelo Capitão Marvel original (o dos anos 40) e pretendia relança-lo assim como vários personagens na nova linha após a Crise nas Infinitas Terras de 1985. A maxi-série que foi um grande marco na história editorial (não só da DC) serviu para conduzir e reintroduzir vários personagens antigos da editora assim como das editoras recentemente compradas como pertencendo a nova e unificada linha do tempo da DC.

Em 1986, o Capitão Marvel surge como figura importante na DC na mini-série Lendas e pouco depois se une à Liga da Justiça, ainda que só fosse estrelar sua série própria em 1995 sob o título 'O Poder de Shazam!', em virtude de um processo com a editora Marvel pelo direito de uso do título "Capitão Marvel".

Enquanto o personagem seja chamado assim dentro da revista (e mesmo na capa da edição número 1 venha um aviso de que é uma edição do Capitão Marvel original), as batalhas judiciais continuavam pelos direitos do nome, e, o fracasso da Capitã Marvel da década de 1980 fez com que as coisas parecessem bem favoráveis para a DC.

Até mais algumas reviravoltas judiciais garantirem os direitos à Marvel, e, em 2000 a editora relançar uma série com o filho do Mar-Vell de 1967 com considerável sucesso. Genis-Vell durou pouco mais de 50 edições em dois volumes (entre 2000 e 2004), mas foi o suficiente para reacender a batalha judicial e garantir o nome para a Marvel por mais algum tempo... E foi o suficiente para garantir o nome com a editora, relançando mais recentemente em 2012 com Carol Danvers, que por muito tempo foi a MS Marvel (criada como uma coadjuvante na série do Capitão Marvel da década de 60 e depois se uniu aos Vingadores) assumir o título de Capitã Marvel, e, ao que parece mantê-lo agora indefinidamente.

Se isso ainda não deu nenhum nó na sua cabeça, bem, tente entender que eu mal toquei a história de Carol Danvers e seu sequestro pelo próprio filho (e amante) em 1980... E o fato que depois ela é atacada pela Vampira e perde seus poderes em 1982. E enquanto a personagem teve um bom tempo oscilante até os Vingadores renascerem em 1998 pelas mãos do experiente Kurt Busiek.
É verdade que ela inicia essa fase lidando com o alcoolismo, mas ela volta com tudo com o início dos anos 2000 e série após série de Vingadores só consolidam o nome de Carol Danvers como uma proeminente e importante figura da editora.

Mas, porque Carol foi a primeira Vingadora a ganhar um filme próprio, talvez seja a grande pergunta (e tamanho destaque em anos recentes)? Bem, a resposta envolve mais algumas voltas e retornos, mas é um pouco mais fácil que esse monte de parágrafos até aqui.

Veja bem, com a Disney agora dona da Marvel e tentando reaver os direitos (ou ao menos minar os contratos fechados com outras empresas como Sony e Fox), a editora foi diminuindo a importância de personagens que pertençam aos universos X e do Homem Aranha, e, a bem da verdade boa parte das mulheres fortes da editora estão ali (principalmente na franquia X como a já citada Vampira, mas com toda a certeza Tempestade, Psylocke, Emma Frost, a Fênix, Jéssica Drew - a Mulher Aranha), e com isso passou a buscar personagens dentro do mundo dos Vingadores para maior destaque.

Um vislumbre claro disso se dá na franquia de jogos de luta Marvel vs Capcom. No segundo jogo de 2000 a grande maioria de personagens da Marvel são mutantes. No 3º de 2011, Punho de Ferro, Doutor Estranho e a Mulher Hulk dão as caras, e na quarta edição de 2017, bem, Capitã Marvel, Viúva Negra e Gamora tomam o lugar dos mutantes da editora...

Para os filmes, bem, parece coerente que a Disney não quisesse que uma espiã assassina fosse estrelar um filme de super heróis, assim como a mulher mais letal do universo (sim, essa foi a alcunha de Gamora na década de 90 após as sagas de Jim Starlin) ao que sobraria a Feiticeira Escarlate, que, bem, é responsável pelo maior genocídio da história mutante... Podemos propor outros nomes como Vespa ou a já citada Mulher Hulk, mas, bem, facilmente se diria que não há originalidade nestes conceitos (afinal são basicamente versões femininas de personagens masculinos mais famosos, como o Homem Formiga e o Incrível Hulk).

Acho que fica bem claro porque a editora (e a Disney financiando os filmes) achou na figura de Carol Danvers a personagem perfeita para estampar um filme solo. - Se o filme funciona, veja na resenha amanhã... 

Sobre o porque agora (e não alguns anos atrás), bem, talvez porque a DC estivesse a ponto de lançar um filme com o SHAZAM - já há algum tempo anunciado com o mega astro Dwayne Johnson para viver o papel do vilão Adão Negro escalado bem antes do Capitão Marvel em si ser anunciado... E esperar mais, bem, talvez desse a munição necessária para a DC conseguir a alcunha de Capitão Marvel de volta - ou pior, fazer com que sua grande personagem feminina perdesse ainda mais a relevância... E com o sucesso tanto do filme da Mulher Maravilha em 2017 quanto do Pantera Negra em 2018, parece no mínimo o momento apropriado para tentar.

Por favor entendam que essa é uma versão bem resumida de toda a história e não entrei em vários dos aspectos jurídicos da questão (até por não entendê-los perfeitamente da altamente complexa lei de direitos autorais norte americana), mas acredito que o texto ajude a trazer um pouco mais de luz sobre a personagem, sua história e porque em 2019 vimos esse primeiro filme.

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