Pesquisar este blog

14 de maio de 2015

RESENHAS DE QUINTA - ESPECIAL A QUEDA DO MORCEGO

Batman - Knightfall volume 1

(Roteiro: Vários, Arte: Vários, DC comics, US$19,99, 640 páginas, coletando Batman: Vengeance of Bane Special #1, Batman #491-500, Detective Comics #659-666, Showcase '93 #7-8 e Batman: Shadow of the Bat #16-18, republicada em maio de 2012)

A Queda do Morcego é um desfile do “quem é quem” do universo do Homem-Morcego. E este volume traz não apenas os vilões mais tradicionais e conhecidos, como Coringa, Espantalho e Mulher-Gato, como outros menos glamourosos, como Amígdala, Cornelius Stirk, Anarquia e Cavaleiro, assim como os já abandonados e esquecidos capangas de Bane: Zumbi, Trogg e Pássaro.
Cada personagem tem sua oportunidade de brilhar em histórias que vão forçando cada vez mais ao limite o Cavaleiro das Trevas, que, arrogantemente, parte para combater todos os vilões sozinho. E era essa a essência do plano de Bane: desgastar física e intelectualmente o herói, para finalmente derrotá-lo.

Em sua carreira, Batman sofreu diversas derrotas. Só no pós-Crise nas Infinitas Terras, a morte de Jason Todd, o reverendo Blackfire (de O Messias), a humilhante surra sofrida por um grupo de garotos de rua no arco A raiz do Idiota (do especial Batman no Brasil, da Abril) ou as consecutivas “sovas” sofridas nas mãos do Exterminador (na série mensal do vilão, na saga Cidade de Assassinos, publicada em Super Powers # 28, da Abril).

No entanto, a que encarou nas mãos de Bane é, de fato, a mais emblemática e faz jus ao status de megaevento que se criou ao seu redor.
Há um senso de tensão que se constrói no arco, e Dixon, Moench e Grant fazem algo que hoje parece impossível nos quadrinhos ao desenvolver calmamente essa longa trama.
E isso começou bem antes do ponto inicial deste encadernado: nas quatro edições da minissérie A espada de Azrael (outubro de 1992 a janeiro de 1993), com a origem de Jean Paul Valley, o personagem que viria a se tornar o novo Batman, e mais três edições de Detective Comics (# 656 a # 658, de fevereiro a abril de 1993), com uma invasão à Torre Wayne e os capangas de Bane à espreita, e Batman # 484 a # 490 (setembro de 1992 a março de 1993), que trazem o treinamento de Azrael, um confronto com o Charada usando o esteroide usado por Bane, e um vilão com um uniforme muito parecido ao de Valley, fato mais tarde mencionado como contribuição para a estafa e confusão de Bruce Wayne.

Vale notar, porém, que esse material, que não está no encadernado, acrescenta pouco ao contexto geral da história, inclusive porque é remontado em um breve flashback durante o desenvolvimento das tramas, contextualizando bem esses eventos.
Ainda assim, uma nota explicativa seria de bom tom para os fãs mais novos, pois parte desse material pregresso não foi republicado em encadernados ou não se encontra com facilidade.
Este volume conta com quase um ano de histórias, reunindo dez edições de Batman, oito de Detective Comics, três de Shadow of the Bat, duas histórias da Showcase’93 e um especial contando a origem de Bane, totalizando as 640 páginas de material. Mesmo assim, a trama raramente se perde, e o empenho dos roteiristas em criar tensão e escalonar os confrontos até o clímax, na edição # 497, quando rola a grande derrota do Morcego, é digno de nota, ainda que haja momentos datados e francamente tolos, até para os parâmetros da época (como o robô comandado por controle remoto que inicia a fuga do Arkham).

Há confrontos emblemáticos com alguns vilões famosos e outros menores, e novos inimigos são apresentados com competência, explorando o melhor do gênero super-heróis.
Esta saga dá acentuado destaque a dois personagens que teriam grande importância nos anos seguintes: Bane, o vilão parcialmente inspirado na obra de Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo (por viver boa parte de sua vida em uma prisão, onde consegue sua inspiração e motivação para a vingança), e Jean Paul Valley, uma versão violenta do Batman, sem o famoso parceiro Robin e, por isso mesmo, mais solitário e psicótico. Azrael foi parcialmente inspirado pelo sucesso dos heróis desse estilo, tão em voga na época, como Wolverine e Justiceiro ou Spawn.

Mas é o isolamento e a arrogância do Batman que o jogam contra tantos vilões ao mesmo tempo, forçando-o além de seus limites. É sua soberba que o impede de pedir ajuda – e desculpas – principalmente a Dick Grayson, que o joga numa turbulenta jornada, criando um novo monstro, pior que seus inimigos.
Não é o rompimento da coluna que representa a derrota do Morcego, não é a emblemática cena em que Bane o expõe para toda a cidade ver. Isso só acentua a situação de um homem que já se via quebrado desde a morte de seus pais.
O arco, inclusive, ao forçar uma aposentadoria do Morcego, o faz rever sua vida e encontrar alguma paz enquanto se recupera – consolidando o personagem e suas séries derivadas, não apenas no Universo DC, mas no mercado de quadrinhos como um todo.

Nota: 7,5/10

Batman - Knightfall volume 2 - Knightquest

(Roteiro: Vários, Arte: Vários, DC comics, US$19,99, 656 páginas, coletando Detective Comics #667-675, Shadow of the Bat #19-20, #24-28, Batman #501-508, Catwoman #6-7 e Robin #7, republicada em maio de 2012)

O Batman caiu. Longa vida ao Batman!

Pois bem, é a partir daqui que a história segue.
É fácil olhar hoje para a história e concluir que a substituição de Bruce por Jean Paul era meramente temporária, mas, com toda a certeza não é o que parece em momento algum lendo esse volume.
Por mais absurdo que seja, não é exatamente inédito. Nos anos 60 a DC substituiu Flash e Lanterna Verde por novas versões bem diferentes, e, vindo da Crise nas Infinitas Terras de 1985 o Flash foi novamente substituído, e, na cronologia do próprio Batman, o menino prodígio Robin já estava em sua terceira iteração.

A DC tentava alinhar os quadrinhos nos anos 90 a algo mais próximo da geração da época, alinhando os conceitos e fundamentos de personagens para algo mais modernoso.Alguns mais discretos como o Superman com mullets, outros com verdadeiras reinvenções noventistas como o Senhor Destino (agora apenas 'Destino' sem o elmo tradicional transformado em uma faca cerimonial usada para combater demônios), e isso traz ao Batman algumas notáveis mudanças no tom - bem mais sombrio, com um protagonista mais violento, e a grande e principal mudança, sem um parceiro mirim.

Esse é o grande ponto do volume 2, enquanto apresenta e contextualiza Jean Paul Valley, sua armadura e as vantagens que ela traz ao combate ao crime (justamente ao apresentar uma nova gama de criminosos como Talião, Mekros Gêmeos do Gatilho, Gunhawk...), vai mostrando-o como uma figura bem diferente e distinta do Batman tradicional ao ponto de romper com a tradicional figura do menino prodígio.

O que é um ponto bastante importante, uma vez que o personagem é importantíssimo para a mitologia do cavaleiro das trevas.
Primeiro, Robin foi criado por mais de um motivo; para reduzir queixas sobre o tom violento e sombrio das histórias pregressas do homem morcego; para oferecer um personagem ao qual o protagonista pudesse expor suas deduções investigativas e para servir como um conduíte para o público alvo (as crianças) num papel de relevância, mais próximas de uma figura paterna (representada pelo herói adulto).
Esse último ponto é particularmente relevante pelo período histórico da criação do personagem - Abril de 1940 - enquanto uma guerra ocorria na Europa, e a América ainda lidava com as ramificações de uma severa crise econômica.

A presença do personagem possibilitava o exponencial de um vilão medíocre à ameaça legítima por capturar/render o menino prodígio (cimentando o ponto da figura paterna protetora que supera todo tipo de obstáculo para proteger o filho), e isso segue por um substancial período da história dos personagens, até as primeiras mudanças no status quo (como o livro de Friederich Werthram "A Sedução do Inocente", sugerindo noções mais subversivas para o foco da relação entre Batman e Robin), e com isso Dick Grayson acaba se distanciando mais e mais da sombra do morcego (vai para faculdade, se junta aos Titãs, etc, etc).

Com os anos 80 e a Crise nas Infinitas Terras, a editora vê o potencial da ideia de atualizar o conceito. Após um fracasso retumbante sob a forma de Jason Todd, Tim Drake surge com um status diferente (além de ser um dos poucos personagens que não é órfão, Drake também é mais cerebral, vislumbrando tradicionalmente como um especialista em informática).

Tudo isso é importante para representar o ponto de cisão entre a figura tradicional do Robin para uma figura mais moderna, de uma estrutura familiar mais moderna. Batman continua como uma representação da figura paterna, mas é a figura de Jean Paul Valley que assume a forma do padrasto (que por algum motivo na cultura popular invariavelmente refere a uma figura nefasta).

A queda de Valley em uma espiral de loucura - que é o foco do encadernado em questão, com cenas em que ele vê vultos, ouve vozes e lidando com alterações de humor, com súbitos ataques de violência e um constante comportamento errático... Jean Paul Valley é representado na forma mais clara como um alcoólatra (de novo, uma representação típica do arquétipo do padrasto como figura negativa).

E essa jornada de Valley é fascinante.
A obsessão perseguindo o vilão Matadouro, o conflito com seu passado e com seus esqueletos no armário da história da Ordem Sagrada de São Dumas, e mais importante o conflito do ego ferido de Valley sempre tentando, sempre querendo provar que é melhor, que é capaz de superar Bruce Wayne.

Uma pena, porém, que a jornada é incompleta.
Como dito no volume anterior, uma parte importante da história é omitida: a saga Sword of Azrael de 92/93 (no Brasil "A Espada de Azrael"), e enquanto não seja obrigatória, ela oferece detalhamento e contexto para os personagens que acabam cimentando os eventos desse encadernado. Outras histórias igualmente fazem falta (a primeira edição de Robin que sucede os eventos de Detective Comics 668) ou as histórias focando a jornada de Bruce Wayne na saga batizada 'A busca' (Shadow of the Bat 21 a 23, Justice League Task Force 5 e 6 e Legends of the Dark Knight Quarry) que explicam na medida do possível a recuperação do personagem, no volume anterior dito como paralisado pelo resto da vida.

Não diminui a qualidade dos roteiros e da história, mas fica faltando algo para um trabalho que pretende compilar toda a saga.

Nota: 7,0/10

Batman - Knightfall volume 3 - Knightsend

(Roteiro: Vários, Arte: Vários, DC comics, US$19,99, 652 páginas, coletando Batman #509-510, #512-514, Batman: Shadow of the Bat #29-30, 32-34, Detective Comics #676-677, #679-681, Batman: Legends of the Dark Knight #62-63, Robin #88-9, #11-13 e Catwoman #12-13., republicada em novembro de 2012)

A inevitável conclusão dessa história era bastante previsível pelos seus rumos: O velho é novo mais uma vez e tudo fica bem quando acaba bem.

Ainda que pareça simplista (e é, afinal são mais de seiscentas páginas para chegar a essas conclusões, e, vale lembrar que boa parte destas páginas se dedica a um longo epílogo chamado 'Filho Pródigo'), é efetivamente realista.

Os objetivos da história estão cumpridos e tudo o que resta é ver como os personagem interagem e chegam às óbvias conclusões, e, é interessante a jornada que eles seguem. A forma como pontes rompidas vão se reerguendo, o quanto as coisas vão se acertando para que o velho status quo seja estabelecido, e, mais que isso de maneira que haja algum senso de progresso, alguma mudança.
Se você é um apressadinho que quer a versão resumida, volte o texto para o começo, veja as três capas em sucessão (Bane quebra Bruce Wayne; surge um novo Batman; o velho Batman - ou Batman clássico - volta para combater o novo Batman), e você tem toda a ideia geral e genérica da coisa toda.

Não se deixe levar por isso, porém, pois há muito mais que merece nota.
Primeiro que essa epopeia consegue o que poucos autores em qualquer momento na história dos quadrinhos efetivamente tenha feito. A indústria de quadrinhos nunca foi conhecida por exemplos de respeito ao talento ou sequer oferecer aos criativos a chance de explorar e desenvolver sua visão de maneira irrestrita (ou o menos restrita possível).
Pelo contrário, as interferências editoriais são uma perturbadora força que aleija roteiros e mais que isso mina o potencial de desenvolvimento e crescimento dos talentos da industria.

E ver algo tão ousado, tão intrincado e longo (iniciando em 1992 para terminar em 1995) tomar forma, se desenvolver e caminhar para sua natural conclusão, com o mínimo de interferências que sejam perceptíveis... É quase sem precedentes!
Ainda mais com tamanha proficiência e qualidade - o que faltou em empreitadas similares, tanto na concorrência como a Saga do Clone como na própria editora com A Morte do Superman.

Com tantos envolvidos, é sem dúvida um o nome de maior destaque: Chuck Dixon.
Além de desenvolver vários dos momentos pivotais da saga, ele também foi responsável pelo início de uma enorme franquia surgindo justamente do evento, criando e trabalhando com a série mensal da Mulher Gato, Robin e das subsequentes séries do Asa Noturna e das Aves de Rapina, todos ganhando seu próprio espaço e voz, seguindo suas próprias direções, e é o talento desse maestro que permite que não degringole tudo, e, como os anos vindouros mostrariam (com outras intrincadas sagas trazendo os títulos numa única história), foi uma mudança sútil mas definitiva. A indústria de quadrinhos dificilmente será a mesma de antes desses crossovers gigantescos interligando múltiplos títulos exclusivos a uma franquia.

Como capítulo final, é nítido o desgaste e o quanto o gás dos volumes anteriores se foi.
Algumas transições não tem absolutamente nada de sútil - e em dados momentos são francamente asquerosas como a mudança das cores no uniforme do 'novo' Batman, Jean Paul Valley, mas outros momentos da narrativa são suficientemente truncados por si só para que o desfecho seja, sem sombra de dúvidas, o menos memorável ponto dessa epopeia... É só ver o duelo final entre Bruce Wayne e Jean Paul Valley...

Nota: 6,0/10.

Nenhum comentário:

Postar um comentário