Quando saiu, eu tinha lido a primeira edição de Absolute Superman e Absolute Wonder Woman todas juntas em 2024, e, nada disso chamou minha atenção até Absolute Martian Manhunter, cuja arte é espetacular e embasbacante (e o roteiro é bem interessante mesclando elementos de um noir psicológico com a origem de um super herói), mas de toda essa leva, a dupla criativa mais interessante sem sombra de dúvidas é a de Superman.
Jason Aaron foi meu escritor favorito nos anos 2000-2010 com Scalped e ele continuou produzindo material muito bom com Southern Bastards e mesmo seus trabalhos mais do mainstream da Marvel com o Thor e os X-men, e Rafa Sandoval é um artista extraordinário que consegue produzir páginas fascinantes cheias de detalhes nos quais é fácil se perder por horas procurando.
Certo, então qual é o problema, você pode se perguntar? E, bem, enquanto eu particularmente acho que tem muita coisa interessante aqui na reinvenção do conceito do personagem, de Krypton (como um paralelo mais claro de um mundo diante de destruição em que as Elites se mantém inertes, deixando o planeta morrer por lucro), existe tanto o aspecto cínico de que essa é apenas mais uma revisão da origem do Superman nas últimas décadas (e que como todas as outras, em breve ninguém vá nem se lembrar de uma vírgula disso), quanto, bem, o aspecto prático em que tudo isso se parece tão falso e pronto para desaparecer com um estalo de dedos como os Heróis Renascem ou seja qual outra mudança descartável que ocorreu numa tentativa de chamar atenção numa indústria moribunda que não sabe mais como se comunicar com o público.
Nisso, a história em si não importa tanto se é boa, porque fica uma pulguinha atrás da orelha o tempo todo de que isso é um mero exercício de futilidade do escritor, uma mera ficção de fã que em breve desaparece tal qual uma onda ao colidir com a praia.
Só que não é só isso, não é mesmo?
Quer dizer, a história se perde numa confusão entre tentar escrever uma história do Superman herói operário lutando pelos direitos do povo comum contra o complexo industrial militar capitalista em sua mais pura forma enquanto tenta de maneira similar definir quem é esse verdadeiro povo comum - e como a ciência é de alguma maneira parte das Elites ou uma estratégia de alienação usada por essas Elites para controlar o povo... Isso parece, ao menos em partes, agradar a um público mais amplo, com uma demonstração do herói de colarinho azul lutando contra os grandes capitalistas, mas quanto mais eu avanço, menos isso faz de fato sentido.
Só que, e aí começo a analisar que esse ponto faz sentido para um grupelho específico, um grupelho que quer fazer a 'Murica grande de novo e que acha que eles - gente trabalhadora de colarinho azul do povo comum são oprimidos pelas Elites, ou seja, as universidades e a comunidade científica - que são paralelos claros que vemos na série.
As Elites científicas de Krypton negam as evidências da potencial destruição do planeta enquanto na Terra o grande vilão (Braniac e depois outro mais secreto, sem spoilers - que controlam uma grande corporação farmaceutica, sabe, vendendo terríveis vacinas contra os heróis MAGA?), e isso move nosso herói a se rebelar contra o sistema e mobilizar a população.
Mas isso é parte do ponto também uma vez que o universo Absolute compartilha numa perspectiva mais pessimista e terrível do mundo recriando os personagens do universo DC...? Sinceramente, acho uma forma de apelar a um público claramente estúpido em oferecer exatamente o que eles gostam (e querem) com uma desculpa para ajustar posteriormente (caso isso tenha uma repercussão negativa), ou simplesmente de dizer que é a ideia desde o começo (ainda agora com a Paramount pelassaco do Trump e do MAGA talvez a futura dona da DC).
E nem é de dizer que é ruim porque eu não concordo com a visão política, é porque a visão política é ruim ao colocar cientistas como ruins enquanto o sujeito que mata toda uma população é só um lacaio contratado cumprindo ordens...
Vale pela arte e o roteiro de Aaron é interessante em sua reivenção do personagem mas a perspectiva da história segue um rumo que não vale a pena, nem por curiosidade.


