Jim Lee é um artista medíocre que, por algum motivo se tornou uma gigantesca sensação nos anos 1990 e não é por seu talento e sim pelo fato que ele consegue incluir mulheres seminuas, de biquini ou saindo do banho em toalhas ínfimas além de poses extremamente ginecológicas enquanto elas partem para a luta. Seu maior sucesso foi destruir anos de trabalho cuidadoso e bem construído de Chris Claremont ao acabar com Magneto em duas edições e abandonando o material pouco depois para montar uma péssima série que consegue a proeza de criar o pior trabalho de Alan Moore (e isso ainda ser melhor que tudo que Lee produziu nos anos antes) - e levar a sua editora à beira da falência até ser comprada por uma empresa maior.
Sua contraparte em Jeph Loeb não é particularmente melhor, com roteiros piegas e rocambolescos que ele produziu para explorar a arte espetacular de Tim Sale (que merecia com toda a certeza roteiristas muito melhores - e infelmente só viu com pouquíssimas exceções). Ele é famoso por produzir algumas mini-séries como Superman: As Quatro Estações (piegas) e Batman: O Longo Halloween (rocambolesco). Além disso tem o trabalho dele na Marvel (a partir de 2008, vale destacar), que, bem talvez seja melhor não falar muito mas inclui a história em que todo mundo morre de maneira nojenta e cruel e a outra em que o Wolverine pega dois irmãos transando (e o Capitão América é muito "antiquado" por achar isso errado).
A história surge num ponto em que a DC tentava uma guinada para diminuir a diferença entre ela e a Marvel, e, verdade seja dita, em meio a diversos projetos grandiosos, a editora conseguiu aumentar consideravelmente suas vendas e aumentar sua projeção no mercado, dando um gás interessante e ganhando momento na primeira década do século, e, Silêncio foi um destes pontos e projetos grandiosos e o melhor resumo que eu posso fazer da história é que ela é uma história simples contada de maneira estúpida. Claro que faz sentido contar dessa maneira estúpida - para manter uma série por doze edições e usar a arte de Jim Lee para retratar o máximo de personagens possíveis e imagináveis (mesmo que eles não façam sentido ou funcionem na história - como a Caçadora ou mesmo a luta com o Superman) enquanto um mistério estúpido vai se desfraldando da pior maneira, e, com o maior "detetive do mundo" ignorando pistas claras enquanto persegue o próprio rabo ou becos sem saída.
O breve resumo é que o amigo de infância (e agora médico) Thomas Elliot tem uma antiga rixa com Bruce Wayne e resolve se tornar um vilão fantasiado para perseguir o Batman. Eu confesso que não me lembro todos os detalhes (afinal eu li isso faz quase vinte anos e não tive curiosidade para ler de novo em nenhum momento da minha vida) até porque isso é A Queda do Morcego mas, sabe, mal escrita e com o propósito específico de fazer um gigantesco desfile de personagens famosos do universo do Batman no estilo de arte do Jim Lee.
O vilão Silêncio é Thomas Elliot, um amigo de infancia invejoso do Batman que voltou com um plano de vingança (que, bem, nunca é muito bem explicado ou faz sentido até, de novo, os quadrinhos do Paul Dini). Ele tem alguma motivação boba porque o Bruce Wayne brincou com seu trenzinho favorito quando eles tinham cinco anos ou algo do tipo (de novo, o Paul Dini trabalha isso bem melhor com todo o ressentimento do personagem que teve que cuidar da mãe moribunda por décadas enquanto ela controlava sua vida e suas finanças - mas nada disso é relevante para a história do Jeph Loeb e Jim Lee).
Silêncio é Bane (só que piorado) que tenta parecer o grande estrategista manipulador capaz de enganar todo mundo (ao mesmo tempo que consegue enfrentar no mano a mano alguns dos vilões mais perigosos do Batman - incluindo o próprio) ainda que por algum motivo ele receba ajuda do Charada para montar o plano altamente elaborado. O final fica bem em aberto (afinal o Charada descobre a identidade do Batman e a 'vitória' sobre o Silêncio é bem parca e fica evidente que ele voltaria para se tornar um grande vilão recorrente).
E um grande vilão recorrrente ele se tornaria nas várias continuações nos anos seguintes com praticamente tudo que Paul Dini fez na sua trilogia do Silêncio e posteriormente com a redenção do Charada e as Sereias de Gotham... Aí vieram os novos 52 com o grande reboot da editora e o personagem acabou meio que jogado de lado (ainda que aparecesse no longo crossover de 2015 Batman Eterno) para alguma outra nova ameaça como a Corte das Corujas e o irmão perdido do Batman que foi dado para adoção (o que meio que torna o amigo de infância com alguma birra redundante quando o irmão desparecido criado por uma organização secreta que quer controlar o mundo reaparece, né?).
Mas diga-se de passagem, tudo que o Paul Dini fez com o personagem é milhões de vezes melhor que o que Jeph Loeb planejou para o arco de doze edições, assim como o trabalho feito com o Charada, Arlequina, Mulher Gato... E, honestamente, todos esses anos mais tarde eu não consigo nem entender qual o ponto e argumento em favor da série.
Não sei quem efetivamente gostou do material vinte anos atrás e com toda a certeza não vejo pessoas clamando por uma 'continuação' escrita por Jeph Loeb (depois de Ultimatum e Ultimates volume 3 que o fez ficar mais de uma década sem produzir nada - e se existisse alguma entidade compassiva, ele continuaria assim pelo resto da vida) e ilustrada por Jim Lee (que eu entendo que era novidade em 2003 quando era o primeiro projeto dele na DC, mas hoje? Depois da Liga da Justiça, do Superman, da péssima série com o Frank Miller, outra série do Batman e a queda na qualidade consistente na arte - droga, ele fez uma capa pior que do David Finch de quinze anos atrás!!! -Quem se importa...?), mas a editora deve estar desesperada o suficiente para fazer novos crossovers com a Marvel com a leva de Deadpool vs Batman que veremos em breve, então aqui estamos.
Batman 158 traz a primeira parte de Silêncio 2 (Boogaloo elétrico) com a proposta de continuar a história de 2003 meio que do ponto em que ela termina (inclusive referenciando vários pontos dela - como o Jason Todd que aparece ali) enquanto considerando eventos mais recentes do universo DC (como o Alfred morto, Damien Wayne, a Bárbara Gordon andando e como a Batgirl de novo e por aí vai) e ignorando todo o resto que lhe é conveniente (sabe, como tudo que aconteceu com o Asa Noturna e os Titãs e o Jason Todd) ao mesmo tempo introduzindo novos personagens como o Raio Neg... Digo um clone mal sucedido do Superman com poderes sonoros (que provavelmente vai ser chamado de Sussurro e é o capanga do vilão Silêncio)...
Até aí, eu nem acho que nada disso seria particularmente ruim - mesmo que seja algo bobo e desnecessário.
Quem leu a série original e espera uma sequência - que é a ideia aqui - não precisa acompanhar todos os vinte e dois anos de quadrinhos da DC para entender tudo o que mudou (ou, pior ainda, ver o quão pouco mudou), e particularmente isso funcionaria de maneira simples e coerente se existisse uma premissa, bem, simples e coerente. O vilão quer executar seu plano e agora é pessoal ou qualquer que seja o clichê da vez, ótimo.
O problema é que a estrutura narrativa que Loeb tenta construir é cheia de buracos e carente do mínimo de bom senso. Como eu disse, a história original conta uma história simples da maneira mais estúpida possível para que aconteça todo tipo de desvio e todo um desfile de personagens passe pelas doze edições.
Aqui nós temos uma história estúpida contada da maneira mais estúpida possível.
Silêncio reaparece e sequestra o Coringa (porque obviamente), deixando-o à beira da morte (porque obviamente) para que Batman o salve gerando o gigantesco celeuma com o restante dos personagens sobre a escolha moral sobre salvar ou não o vilão, ainda que, e isso é extremamente importante, isso só leve a cenas patéticas e decisões estúpidas (como o Capuz Vermelho todo bravo que o Batman poupou a vida do Coringa e enquanto aponta sua arma várias vezes para a cabeça do vilão, acaba o levando para um esconderijo ridículo onde facilita sua fuga - com o acesso às suas armas - porque obviamente).
Tudo isso sem que a trama avance um centímetro em quatro edições, só mostrando que o parco talento de ambos envelheceu muito mal e eles estão muito aquém de sua já extremamente limitada capacidade.
O celeuma dos personagens é bobo, as discussões estúpidas, Silêncio não tem nenhum plano ou propósito (além do fato que desenvolveu super poderes nesses vinte anos sendo capaz de aparecer onde bem entender, fazer o que for conveniente para a trama e provavelmente criar clones e/ou androides altamente avançados) e além disso foram somados novos personagens que, nada agregaram ou apresentaram de diferente ou interessante para a história. Tudo isso já passadas quatro edições das seis da 'primeira parte' do material.
Droga, mesmo Thomas Elliot não é melhor trabalhado ou suas rusgas com Bruce Wayne ou mesmo com Batman melhor desenvolvidos para que tenhamos mais motivos para nos interessarmos pelo drama que se desfralda e pelo conflito do antagonista com o herói.
E eu nem vou comentar o arremedo de novo design do Charada que o quanto menos e falar disso, melhor.
Passe longe!