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13 de novembro de 2025

{Resenhas de Quinta} Plurilb(astof)us

Eu não sei exatamente o que eu tenho contra a Apple como produtora de conteúdo, mas, existe alguma coisa que geralmente me incomoda. Não sei se é uma forma de produzir o material que parece mais precário (com extras piores que olham para a câmera quebrando a imersão, ou cenas que parecem bem mais vazias do que deveriam) Talvez seja um preconceito (mas, verdade seja dita, eu dei várias chances a shows da empresa) e Pluribus me parece algo que eu deveria gostar.

É uma série de Vince Gillian após Breaking Bad e Better Call Saul com uma narrativa de ficção científica (do trabalho que o descobriu em Arquivo X) e com a excelente Rhea Seehorn (a Kim de Better Call Saul) e o material fica realmente tenso por volta da metade do episódio escalando de maneira cadenciada e genial conforme o mundo desmorona ao redor da atriz... Mas algo parece vazio ou ao menos faltando, e, na minha impressão é uma constante de outros materiais da Apple, sabe?

Existe aqui um potencial incrível, eu realmente enxergo algo extraordinário que poderiam fazer com isso (e o fato que eu não quero usar spoilers torna mais difícil explicar), mas ainda não está lá, e, com Pluribus, acima do que acontece com outros dos seriados da Apple que eu não tenha gostado ou tenham funcionado pra mim, aqui eu posso descrever exatamente onde o seriado erra sem o menor medo.

O erro dessa série está no começo que tenta explicar o que vai acontecer.

Se você tirasse aquelas cenas todas que não envolvem a autora frustrada e cansada com sua obra que vê o mundo desmoronar ao seu redor (sem saber o que diabos está acontecendo), o material fluiria muito melhor e, eu não duvido por um microssegundo que essa era a ideia original - pois os cortes não funcionam direito para intercalar com isso. Essas cenas estão ali porque algum executivo burro não entendeu o seriado e precisava que alguém segurasse sua mãozinha para conduzir a série do ponto A ao ponto B e ele não ficasse perdido. Droga, eu acho inclusive que essas cenas todas foram gravadas para algum episódio posterior - e honestamente eu acho que seriam um fantástico começo para a segunda temporada para contextualizar todos os eventos explicados ou não na primeira - mas não funciona da forma que é conduzida aqui.

O maior trunfo desse tipo de série reside justamente no mistério da falta de explicações e, mais até que isso, de buscar respostas em conjunto com a protagonista lidando com esse novo cenário absurdo no qual ela está inserida - e, vale lembrar, é algo que a comédia com Tim Robinson, A Cadeira faz, e, se formos bem honestos essa premissa não é muito diferente de uma série da Vertigo, mas eu não vou entrar nos detalhes e nem comentar o título para evitar qualquer tipo de spoiler.

Não quero julgar o material como ruim pelo primeiro episódio - é apenas 1/10 da temporada e eu não ficaria minimamente surpreso se não tiver uma baita reviravolta por volta do episódio 7 ou 8 que mude completamente os rumos da série - e, honestamente eu não acho que seja ruim (como eu disse no segundo parágrafo, por volta do meio do episódio, ele realmente funciona e vai ganhando tração), é só que não empolga.

O começo fraco (pra explicar os eventos futuros segurando o espectador pela mãozinha) enquanto leva quase trinta minutos para chegar em algum lugar narrativamente, inclusive desenvolvendo a personagem principal...

Talvez sua quilometragem possa variar e você aprecie mais o que a série faz bem (e de novo, o caos que se dá pela metade do episódio é embasbacante e fácil de deixar qualquer espectador na pontinha do sofá sem piscar os olhos direito), mas o começo me decepcionou e me tirou da imersão.

Eu sei que o segundo episódio que segue bem mais no que se espera do Vince Gillian (longas cenas apresentando fatos e eventos para contextualizar o mundo, quase quinze minutos construindo personagens sem uma única linha de diálogo e complicações que tornam a estrutura mais interessante), mas não me empolgou muito mais principalmente quando chegou ao ponto dos personagens recorrentes e seus dilemas/conflitos. De novo, talvez melhore um pouco quando toda a temporada estiver disponível e seja possível conferir isso numa maratona... 

Talvez com a temporada inteira para maratonar eu mude de ideia, mas hoje, simplesmente não funcionou pra mim. 

11 de novembro de 2025

{Reagindo aos Reaças} Nossa galinha jamais será vermelha!!!

Você viu isso obviamente, e, se não viu, o resumo é que a Galinha Pintadinha é propaganda marxista para crianças promovido por aquela deputada que usa uma tiara ou para homenagear um filme de terror moderno ou como apito de cachorro para nazistas de Santa Catarina (de onde ela é)... Um dos dois.

Eu não acho que precisa falar muito mais sobre isso - o Murilo Moraes do video que eu linkei explica muito bem o absurdo da coisa toda - mas valem dois pontos a se destacar.

1) Que isso é a tática dessa galera para te distrair com um absurdo desses para não prestar atenção no prefeito de Florianópolis deportando gente (negra) que não tem passaporte ou entrevista de emprego, ou que o prefeito de Cuiabá está envolvido num escândalo de corrupção ou que o prefeito (tiktoker) de Sorocaba está num escândalo de corrupção ou que... 

A validade do argumento é nula, só para te distrair enquanto você se perde num debate insosso para que o ataque venha de outro lado.

e 2) Isso é de um analfabetismo tão gigantesco que é assustador. Tem vários exemplos que a própria Zavatta coloca na tela enquanto 'explica' porque a Galinha Pintandinha é 'comunista' e que requerem um malabarismo mental tamanho para vender que é uma mensagem esquerdista ou, mais importante, uma mensagem ruim para se passar para as crianças.

Sabe, como a mensagem de comparar com a borboleta (que tem a fase estranha de larva e depois cresce e vira uma linda borboleta - que curiosamente se aplica à perfeição a todos nós... Quanta gente não teve aquela fase esquisita no colegial ou era mais feinho na infância e depois achou sua confiança e seu estilo...?) ou mesmo de apresentar às crianças as mazelas do capitalismo e reforçar seus privilégios de frequentar uma escolinha particular e ter um quartinho próprio enquanto tem criança que nem tem garantia de três refeições por dia (coisa que o Maurício de Sousa já expunha nas tirinhas da Mônica em 1960 - e nem só ele!).

E eu podia comentar tanta coisa mais - sobre como isso incomoda a deputada, no entanto a adultização não, ou usar a própria filha como escudo - mas vamos ser honestos...? É só um peido de uma deputada irrelevante que busca algum palanque e espaço para aparecer na mídia, nos distraindo de discussões mais importantes.

9 de novembro de 2025

{Explicando o fim...} Round 6

Eu poderia gastar horas explicando porque o final de Round 6 é decepcionante...? Não, honestamente.

O final é bastante clichê, verdade seja dita, e diga o que quiserem, mas não existia nem motivo para mais de uma temporada - ou, pelo menos não da forma como seguiram as duas temporadas seguintes - a menos que você considere uma ponta de dez segundos sem diálogo de uma atriz incrivelmente conhecida (e que não agrega absolutamente nada para a cena ou a série) algo que mereça discussão e debate - enquanto eu acho que isso é simples e unicamente análise excessiva.

Não existe nada para se observar, analisar ou discutir no final de Round 6 além de como é um final vazio, apático e, categoricamente, sem nenhum do impacto e crítica contundente ao contrário do que fez a primeira temporada um fenômeno global. Então porque isso aconteceu?

Bem, esse é o ponto que pretendo analisar nesse post, ainda que não pareça categoricamente difícil de entender (é o capitalismo, baby), mas eu pretendo demonstrar através de alguns exemplos na história não tão antiga que demonstram como isso acontece de novo e de novo e porque.

Começando quase cinco décadas atrás quando Rambo - Programado para Matar um livro de 1972 e adaptado para os cinemas uma década depois, e, se tornou um baita sucesso rendendo várias continuações, uma série animada (com duas temporadas e sessenta e cinco episódios!) e mais uma série de brinquedos, lancheiras e todo tipo de merchandising... O que é particularmente curioso porque o filme original era voltado para adultos ao lidar com assuntos pesados como transtorno pós-traumático e o tratamento de veteranos de guerra (que vale lembrar, no filme e no livro são tratados pior nos Estados Unidos que no país em que estavam combatendo - Rambo especificamente conta histórias sobre frequentar bares com outros soldados em Vietnam enquanto é escorraçado por um xerife pura e simplesmente por cruzar uma cidade).

O ponto todo do livro de David Morrell está no fato que esses jovens foram mandados para lutar em guerras pelas quais ninguém se importa - inclusive com esses jovens quando voltam para casa. Não existe nenhum reconhecimento ou parada. O que acontece depois? Uma franquia em que Rambo vence o Vietnam sozinho mais de uma década depois do fim do conflito enquanto vendendo lancheiras para crianças, e com isso toda a crítica contundente se torna pasteurizada e perdida numa confusão para criar (mais) um supersoldado herói de ação genérico.

Não é um caso isolado, alguns talvez até foram sucessos maiores (como as Tartarugas Ninja que eram um quadrinho beeeeem violento e foram adaptadas na maior franquia animada dos anos 1990 e que continua a render frutos) e no geral o motivo principal é grana com toda a certeza, e não só certeza é pungente. Essa é a lógica da Netflix aqui com Round 6 também, vendendo ultraprocessado de frango, fantasia de Carnaval e Halloween e licenciando o material para tudo possível e imaginável - inclusive com um esforço enorme para infantilizar o conteúdo e vender para crianças através do Mr Beast (e não só ele).

Marketing, propagação da marca, lave e repita. Isso obviamente dilui o argumento, e quando a segunda e terceira temporadas surgem anos mais tarde, você já viu tantas variações e diferenciações que não existe muito mais que a franquia de fato conseguiria criar de novo ou interessante, não é mesmo? Ou mesmo que consiga algum baita argumento fantástico, ele se dilui e perde em alguma das incontáveis peças obrigatórias para garantir o número de episódios ou o tempo de duração firmados em contrato.

E, vamos lembrar, a Netflix conseguiu muito sucesso buscando contratos fora do mercado estadunidense, justamente ao buscar brechas e condições de distribuição mais baratas, onde encontrou na Índia e Coréia do Sul lugares espetaculares para comprar novelas e programas para lotar suas grades ao passo que concorrentes surgiam.

Nada disso foi realizado com a perspectiva de encontrar ouro, e sim de lotar a grade, e, se por sorte/coincidência algo se tornasse um fenômeno global, bem, não é como se eles tivessem grande coisa a perder - provavelmente com os contratos já bem amarradinhos para garantir maximização de lucros, distribuição e merchandising, e, caso precisassem renovar, eles tem um número gigantesco de advogados e executivos prontos para oferecer todo tipo de conversinha para dissuadir um criador sonhador (como oferecer um bônus de performance com coisas do tipo "Ei, mas na primeira temporada você não teve toda a máquina da Netflix para promover seu show, e agora ele já é um fenômeno global... A segunda temporada claramente terá muuuuuuito mais audiência").

Sim, dinheiro e cinismo, a mais fantástica combinação para garantir maximização de lucros e a precarização de resultados (o que inclusive oferece melhor condições de barganha pra maldita empresa na renovação de contrato devido a redução nos números da série - enquanto a empresa lucra horrores com licenciamento). E não duvide que isso (forçar metas impossíveis depois de um sucesso único em uma geração enquanto diluindo os retornos continuamente) seja tática padrão dos contratos para que o criador tenha o mínimo de controle criativo e abra mão de seguranças financeiras importantíssimas.

Veja, voltando para Rambo, o final do livro é bem diferente do filme. Rambo morre no final (e não apenas morre como é assassinado pelo Coronel Trautman) como uma mensagem clara do governo estadunidense varrendo os veteranos do Vietnam como meros inconvenientes, o que claramente é uma mensagem bastante crítica não apenas da 'Murica como da estrutura do complexo industrial militar fomentado pelo capitalismo... Mas se Rambo se redime e vira o grande herói de ação em filmes subsequentes (e séries de animação) enquanto reconhecido como o mais brilhante soldado vivo, bem, a mensagem vira outra bem diferente, não é mesmo? A mensagem quase se torna nula e inválida, pasteurizada e perdida numa masturbatória ode ao soldado estadunidense que vence uma guerra sozinho porque nada ou ninguém se compara (USA, USA!!!) 

Rambo não é mais um soldado lidando com trauma, ele é um herói.

A mensagem muda e o dinheiro continua jorrando, mesmo que o ponto se perca completamente.

Então o que acontece com Round 6? A primeira temporada é uma severa crítica ao capitalismo que joga pessoas em uma série de competições (que são jogos infantis tradicionais na Coréia) ao mais completo desespero para aceitar condições abjetas por uma promessa de recompensa gigantesca - que pode ou não vir - e que força as pessoas a seus instintos mais crueis, vis e primitivos pela sobrevivência. Como você continua quando a situação chega às últimas consequências e alguém vence nesse jogo?

Bem, a conclusão lógica é de partir para o enfrentamento para destruir a estrutura e acabar com o jogo, expondo o quão absurdo e ilegal ele de fato é (afinal todo aquele monte de gente morrendo para diversão de meia dúzia de apostadores bilionários), mas, conforme o sucesso da primeira temporada e tudo o que eu argumentei até agora, eles precisam refazer o jogo e reestabelecer os elementos e agregar novos conceitos (novos jogos e desafios) enquanto conduzindo algum mínimo de trama sobre o enfrentamento para destruir essa estrutura e acabar com essa máquina maligna de moer gente.

No entanto essa não é a mensagem que os produtores e executivos querem - pois a estrutura e máquina maligna de moer gente gera audiência e consegue contratos de licenciamento - e talvez funcione melhor com um 'Mas será que o verdadeiro Round 6 não são os amigos que formamos pelo caminho?' ou algo nas linhas de que talvez o problema sejam as pessoas ruins que mantém o jogo e não o jogo em si...

Indiferente, o final todo se volta em tentar criar uma imagem positiva e deixar claro que é impossível acabar com essa estrutura toda - pois sempre haverá alguém para assumir o controle do jogo, talvez até a multitalentosa Cate Blanchet...

Lave e repita... 

6 de novembro de 2025

{Resenhas de Quinta} Cybertruck Mercenários

Cyberpunk 2077 é uma daquelas histórias estranhas da indústria.

Saindo de um fracasso retumbante do lançamento (cheio de bugs), mas com enorme potencial pelo fatnástico estúdio polonês CD Projekt (o mesmo da franquia The Witcher), com uma ideia bastante simples e diria até clichê mas que funciona muito bem para jogos... Quer dizer e se GTA no universo da NeoTokyo de Akira?

E eu confesso que até hoje não consegui jogar o jogo, por mais que me pareça bem interessante, e talvez até por isso eu tenha ignorado solenemente a animação Edgerunners/Mercenários lançada na Netflix, mas, honestamente, me arrependo.

O material é muito bom.

Animação fluída, a narrativa é extremamente complexa para uma temporada curta (com o que facilmente me pareceu duas temporadas ou mais condensadas em dez episódios), apresentando personagens e cenários que vão escalonando exponencialmente.

O melhor? O conhecimento prévio do universo do jogo pode oferecer alguns vislumbres e easter eggs para fãs, mas, honestamente não teve nada que travou minha habilidade de compreender o conteúdo com facilidade, então sem dúvidas não é nenhum pré-requisito entender qualquer coisa sobre como funciona esse universo para desfrutar da história - ainda que, claro, seja bom aceitar as premissas básicas de um universo cyberpunk onde a interação de humanos e máquinas é parte fundamental da narrativa, e, esse é um mundo onde incrementos não são apenas comuns como são a norma.

Justamente por serem a norma, isso forma toda uma estrutura social em que aqueles que não tem capacidades financeiras para incrementos robóticos (e são apenas humanos comuns) estão em desvantagem, e, como a série nos apresenta em um episódio fantástico que demonstra a partir do protagonista David todos esses aspectos da sociedade vão se desfraldando e estabelecendo de maneira gradual e coerente.

Não dá pra explicar muito sem spoilers - e honestamente vale a pena conferir sabendo o quanto mínimo possível - mas é um material que consegue estabelecer tanto o mundo no qual está inserido quanto os seus personagens, e, realmente me parece que merecia um pouco mais de chance tanto da Netflix quanto do público.

Para quem gosta de ficção científica e cyberpunk, um prato cheio. 

4 de novembro de 2025

NOVIDADE::: {Reagindo aos Reaças!} """"""Engenheiro""""""" Leo não gosta dos Correios

Se você não conhece a figura deplorável e insuportável do caricato aluno que mal se formou (cheio de dps numa faculdade privada de péssima qualidade - como uma engenheria que não tem cálculo 2 por exemplo) mas que acha que sabe mais que todo e qualquer ser humano em qualquer área de conhecimento, bem, você não precisa procurar muito mais para um exemplo claro e insuportável disso.

Enquanto o Tamir Felipe (que curiosamente não precisa de um título de 'Especialista' ou 'Economista' Tamir, mas isso tem mais com o Ego inflado de alguém que não consegue formar um único pensamento lógico e/ou original sem regurgitar a cartilha da extrema-direita que outra coisa, né?) tenta calmamente explicar os aspectos mais coerentes de como os Correios (mesmo diante de todos os desafios e da competição de outras empresas de transportes) tendem a apresentar resultados positivos, e, que, tem funções sociais importantes e que beneficiam pequenos e médios empresários (mais sobre isso abaixo), Léo tal qual Rogério Skylab põe o dedo em um orifício e gritaria (danem-se os argumentos, a lógica ou a coerênciam o importante é falar alto e falar muito impedindo os outros de usarem, sabe, lógica e coerência) porque, e isso é importante, ele comprou DUAS vezes (através da entrega dos Correios*) e o produto chegou danificado.

O que eu achei particularmente curioso, pois, na alegação dele, a compra foi de vinho, e, pela longa lista de proibições e restrições dos Correios, advinha o que está lá? Bebidas Alcóolicas (aparecem no item 'Artigos Perigosos' além de outra especificação no item Líquidos - Restrição de envio) e, em consultas bastante rápidas foi possível verificar que, ou a empresa precisa de um contrato específico com os Correios para enviar esse tipo de item ou declarar especificamente (o que, por experiência**, significa que o envio fica mais caro).

Se você conferir outras vedações, vale destacar, estão inclusive itens que são de fácil envio e circulação pela empresa, como revistas ou dvds de conteúdo adulto. Eu sei que parece bobagem, mas é muito mais fácil enviar uma Playboy em um envelope (que é proibido por uma lei de 1978, diga-se de passagem), e, ao que diz a lei, o simples fato de usar um embrulho/envelope com a palavra ou marca é suficiente para enquadrar na mesma. E isso que, de novo, é um item fácil de transportar e colocar em um envelope/ou caixa ao contrário de bebida alcóolica que precisa de um transporte mais cuidadoso e embalagem bem melhor ajustada, e, como eu mencionei, teria um custo maior justamente por isso...

Vale destacar que a Amazon, Mercado Livre e outras empresas de entrega (que fazem entrega destes produtos sem problemas), curiosamente também entregam produtos com danos, avarias ou mesmo acarretam em extravios, mas, como é importante destacar pelas políticas dessas empresas (que eu linkei no nome delas pra quem não confere os links), existem condições de devolução e ressarcimento dessas compras, já previstos antes do envio. Então porque particularmente é um problema dos Correios (que são apenas o transportador e não tem qualquer responsabilidade pelo item e pela venda) que o item chegou danificado?

(Pss, se você não sabia a resposta é porque a Jovem Klan, o portal do Alexandre Garcia e outros da patota da Direita gosta de criticar as empresas públicas unica e exclusivamente para justificar a privatização para aumentar os lucros de seus anunciantes e patrões)

E, olha, é normal ter ranço com alguma empresa de entrega. Eu tive problemas com a Jadlog em três pedidos e se ela é a única opção eu não compro com o estabelecimento (porra uma das remessas extraviadas teve alegação de entrega a meia noite para o 'funcionário' no meu endereço - e eu não moro em apartamento ou tenho qualquer funcionário dia ou noite), mas críticas e preferências pessoais não deveriam contaminar uma opinião mais abrangente. Por mais que eu não goste da Jadlog, isso não muda qualquer número de faturamento ou dos resultados da empresa... 

Então, ou é lorota que ele comprou vinho com entrega pelos correios (e quis posar de refinado comprador de vinho e não dizer que era um colecionável de porcelana - o que pegaria mal para a imagem - bwa, há, há, há, há - cultivada na web do cidadão), ou a empresa (e ele) cometeram fraude postal ao enviar um item vedado e proibido alegando que seja outra coisa - como dizendo que o objeto num formato de garrafa de vidro claramente é de plástico e não contém bebida alcóolica para pagar menor tarifa.

Algo disso muda o fato de que os Correios são uma empresa deficitária ou não? Não, mas é curioso que o simples argumento feito pelo cidadão sobre o motivo de não gostar da empresa é uma mentira, o que nunca é um bom começo, não é mesmo...?

Mas tem mais, você se pergunta...?

Bem, sim.

Ao criticar os Correios, o Léo aponta para empresas melhores como a Amazon e o Mercado Livre, e, curiosamente, além do fato que elas podem enviar todos os itens restritos e vedados pelos Correios (o que já aumenta a receita), vale lembrar que, essas empresas tem uma estrutura diferente de lucro (ambas são multinacionais - mas curiosamente ambas foram startups copiando modelos de negócios já existentes, no caso das livrarias para a Amazon e a Ebay para o Mercado Livre), e, caso a Amazon ou Mercado Livre apresentem um resultado deficitário em uma ou mais áreas como no caso da área de entregas, há uma chance disso ficar perdido e desaparecer dentro dos demais resultados da companhia...

Na verdade é parte da estrutura destas empresas consolidar e garantir uma entrega mais rápida, mesmo se isso absorver um prejuízo no médio e curto prazo, e, isso é parte da merdificação que empresas fazem de novo e de novo: Garante o cliente ao consolidar o mercado para depois diminuir drasticamente a qualidade enquanto aumentam expoencialmente o preço quando não existe mais alternativa no mercado. 

E, existe outro aspecto que é mais importante também, mesmo que o resultado das entregas seja baixo ou deficitário para essas empresas (e eu não estou alegando especificamente que é), eles podem compensar os custos com aumento de receita nesses processos, que eu tentarei explicar da maneira menos "economeira" possível.

Veja, cada item vendido no site da Amazon ou Mercado Livre gera uma receita para esses sites (geralmente um valor proporcional ao preço anunciado), algo que se estende aos produtos comercializados por lojas parceiras (sejam pequenos produtores ou lojas gigantescas como a Samsung - mas que, obviamente é negociado diretamente com essas lojas ao contrário do pequeno produtor que tem que aceitar as condições calado). Acontece que, essa não é a única forma de receita.

Sabe a caixinha com a logo da loja ou a fita adesiva com as promoções e ofertas do mês...? Pois é, alguém paga por isso, e, caso você esteja em dúvida, é a empresa que vende (e que, se quiser usar o sistema de logística e garantias, precisa comprar caixas, fitas e outros produtos do serviço de logística).

Quer dizer, se eu vou aos Correios com um envelope pardo padrão embrulhado com fita adesiva e plástico bolha (todos items comercializados em qualquer papelaria), está tudo certo. Mas se eu quero utilizar o serviço de logística das empresas "boas" de entregas, eu preciso comprar caixa padrão, fita adesiva padrão, plástico bolha padrão... Curioso como isso aumenta a receita da empresa enquanto diminui o meu lucro de pequeno e médio empresário parceiro, não é mesmo?

Tudo isso enquanto os Correios são uma empresa brasileira que SÓ fazem o processo logístico (e tenham a função social do envio de correspondência, além de agências em quase todo o território nacional e a garantia de entrega em todo o território nacional - enquanto essas empresas de logística podem, pura e simplesmente, se recusarem a entregar em determinada região). De novo, Mercado Livre e Amazon são multinacionais que lucram com diversas áreas e atividades ALÉM da logística (e com toda a certeza absorvem enormes prejuízos, sabe como com a produção de A Guerra dos Mundos ou um documentário de 40 milhões de dólares sobre Melania Trump - qualé, você está louco pra assistir, confessa!) e isso SE LUCRAREM com a logística em primeiro lugar, até porque podem absorver os prejuízos dessas áreas como parte do processo e garantia de crescimento no setor.

Mas quando Leo resolve criticar gestão, aí meu amigo eu simplesmente não consigo mais manter qualquer pretensão de que existe algo minimamente honesto com sua argumentação. A gestão das empresas públicas brasileiras é ruim...?

Só as empresas públicas brasileiras, né? 

Droga, Trump conseguiu falir mais empresas que a maioria das pessoas trabalha em todas as suas vidas, mas, puta merda entre elas um cassino. UM CAS-SI-NO (deixa digerir essa informação um pouquinho)! E a Tesla de Elon Musk perdeu em 2025 mais de 380 bilhões de dólares (enquanto tem de pagar 1 TRILHÃO para o vilão da pior paródia de James Bond) e, caralho, será que eu tenho que falar sobre a Microsoft nessa altura do campeonato? Sério, desde 2013 os caras estão fazendo cagada atrás de cagada com a marca Xbox além de não lançar nada novo ou interessante desde... Honestamente não sei responder essa... E a última do Game Pass dobrando de preço (mesmo sem lançar exclusivos, e, inclusive, a própria Microsoft caminhando cada vez menos para vender videogames com a aposta do 'This is an Xbox').

Isso sem falar da bolha da IA, e claro que eu poderia falar de mais uma dezena de empresas ruins e mal geridas - teve toda uma CPI sobre a maior fraude da CVM no Brasil e o dono da empresa ainda é considerado um dos maiores empresários do país... 

Mas o problema são empresas públicas brasileiras que não operam com lucros constantes, né...? Sim, os Correios são mal geridos inclusive quando dão lucros, mas a Tesla (beija a mão fechada como se fosse uma coxinha e aponta pra cima) baita empresa foda inclusive dando prejuízo e apresentando ideia bosta após ideia bosta (qualé quem achou o Cybertruck algo diferente de uma bosta?).

Só pra garantir, eu ainda preciso falar sobre o "monopólio" (de envio de cartas) dos Correios?

1 de novembro de 2025

{Editorial} Mais de cento e trinta mortos no Rio de Janeiro, e agora com a previsão do tempo...

Existe uma dessensibilização muito comum em nossa sociedade que é assustadora e que, é bem provável, só nos atinja com uma epifânia quando conseguimos quebrar o abusrdo disso tudo. Talvez você já tenha percebido isso com os dois anos da 'guerra' em Gaza (em que só um lado ataca com um número gigantesco de destruição e óbitos civis, inclusive depois do acordo de cessar fogo) mas pra muita gente que eu conheço parece difícil perceber qualquer coisa além de nosso mundinho, além do que nos está próximo.

Talvez seja a correria do cotidiano que nos deixa perdidos e apáticos (e sim, isso é proposital), mas eu acho que existe algo mais feio nisso que está ligado numa parte ao nosso egocentrismo, e se algo não me afeta diretamente, porque eu deveria me importar?

Isso acontece de novo e de novo, e, em grande parte porque existe uma parte de nossa sociedade que quer vilanizar a empatia, e, nem mais tenta esconder que isso é parte de sua agenda, o que, curiosa e ironicamente geralmente tem em suas lideranças pessoas que se declaram cristãs (porque afinal de contas o Cristo bíblico é o maior sociopata que não se importava com os outros, certo?).

No entanto, não é difícil que percebamos nas repostas e reações das pessoas como às vezes os circuitos estão cruzados. Nessa semana mesmo, não foi difícil ouvir gente defendendo a ação do governador do Rio de Janeiro justificando que o nosso problema são efetivamente os traficantes e, por conseguinte, a solução seja exterminá-los tal qual baratas.

Certo que essa não foi a reação quando, um mês atrás, descobriu-se a vasta conexão entre a Faria Lima e o PCC, e, não acredito que alguém enxergaria como justificável que a polícia militar subisse os prédios luxuosos dessa avenida distribuindo pipoco e cada engravatado, e, inclusive como tudo isso está conectado com o uso do metanol nas bebidas que levaram a diversos óbitos no estado de São Paulo. Tampouco imagino que seria a reação para cumprir um mandato contra Pablo Marçal desviando milhões em uma "ONG" ou pela sua responsabilidade em uma morte ou qualquer outro dos dezenas de crimes cometidos pelo canalha.

Não que seria justificável matar esses engravatados canalhas mais que os traficantes (ainda que, honestamente não acho que seria menos sob nenhum motivo), mas, será que não estamos olhando sob a situação de uma perspectiva errada de novo e de novo?

E ainda que seja claro que a resposta para os últimos parágrafos seja 'racismo' (sim, sobe-se o morro ou desce-se a serra atirando e acumulando corpos no caminho porque são cadáveres negros e pardos, mas não se faz alegadamente isso na alegada Faria Lima ou contra o alegado Pablo alegado Marçal que alegadamente tem capital - pois como destaca meu advogado, no caso deles é tudo alegadamente) e você já viu isso de novo e de novo. O criminoso rico inclusive tira fotos com os agentes da polícia depois de disparar repetidas vezes (e até jogar granadas - mesmo que, sob nenhuma circunstância poderia ou deveria manter tamanho arsenal em seu domicílio, inclusive sob prisão domiciliar como estava) e alvejar alguns dos agentes.

Quando é um jovem negro assassinado (mesmo que por acidente) ele é culpado e faz-se dancinha de CPF cancelado. Quando um bandido branco e rico é assassinado, alegadamente ele talvez fosse culpado de alguma coisa. Na verdade, se é indiciado toda uma classe se manifestará em apoio e solidariedade ao bandido rico pelas acusações terríveis e difamatórias (do crime que ele cometeu, sabe, como com o Leonardo e a "ALEGAÇÃO" de trabalho escravo).

Então tem que matar o traficante pobre e negro na favela do Rio (mesmo se ele nem for traficante e só estiver passando na rua e cuidando da vida no momento da ação policial), mas defender a morte do Leonardo (cuja esposa "DEVOLVEU" uma criança para adoção) ou do Pablo Marçal... Que tipo de monstro é você? E para deixar bem claro antes que alguém tire completamente o contexto disso, eu não estou defendendo a morte (nem alegadamente e nem não alegadamente) dessas pessoas, mas, de nenhuma dessas pessoas.

É para isso que existe o processo legal, e, parte do processo legal envolve o julgamento e o aprisionamento - não o óbito, que, diga-se de passagem não é cogitado como punição no sistema legal brasileiro (e, eu gostaria de deixar bem claro, esse tipo de visão de que a solução é o sujeito armado que atira primeiro e faz perguntas depois, e, justamente por isso é a reposta e solução está muito cimentado na cultura popular desde John Wayne nos anos sessenta passando pelo John McClane e Justiceiro dos anos 1970 e 1980 - e, continua algo intrínseco e comum no inconsciente coletivo e ser um clichê).

Sem dúvidas a operação foi um desastre (sem cumprir seu objetivo - que era de capturar uma pessoa específica - com uma apreensão ridícula de bens e armamento e com um derramamento abissal de sangue de vítimas, que, diga-se de passagem já começou a pulular que haviam muitos civis e inocentes no meio) e mais de uma pessoa já apontou sobre o quanto ela foi um desastre em comparação com operações muito melhor planejadas pela PF (como aquela da Faria Lima que além de todo o montante bloqueado do PCC, ainda conseguiu o trunfo de expor muita da falcatrua de lavagem de dinheiro das 'empresas' que o mercado tanto defende nessa tão mencionada avenida de SP).

Uma ação populista (como tantas que a direita adora defender) para fingir que se é "duro" com o crime quando na verdade os verdadeiros culpados estão livres, incluindo o alvo da operação, enquanto jovens negros inocentes que tiveram o azar de estar no lugar errado na hora errada, agora sequer lhes é permitida a condição de sua memória ser preservada conforme são difamados e caluniados por gente escroque e bandida como o mais de uma vez condutor bêbado (assassino e claro que cidadão de bem, né?) Gustavo Gayer ou o primo traficante (que curiosamente mandou muito dinheiro para ele - alegadamente) Nikolas Ferreira.

Inclusive nossa indignação é seletiva e logo se apaga (parte do motivo do título desse editorial). A 'história' termina abruptamente e cortamos para outro segmento fingindo que isso explica e conclui tudo ou, se eu tenho que ser realmente franco, conclui qualquer coisa.

Talvez, no fim do dia, só conclua nossa apatia e cansaço cada vez maior, cada vez mais próximo do burn-out a nos destituir de nossa humanidade. 

30 de outubro de 2025

{Hallowsenhas} Dracusferatu - Ou quem é morto-vivo sempre aparece!

Eu vou ser bastante honesto em uma coisa e dizer que eu sinceramente não entendo o fascínio que ainda existe sobre a história de Drácula no século XXI (ou em qualquer ponto após a segunda guerra no século XX).

Quer dizer, existe um certo charme gótico que funcionava para a era silenciosa do cinema - e essa é uma época que influenciou muitos dos criadores e produtores que produzem filmes até os dias de hoje, e, nem só na condição de filmes pois tem toda uma toada de quadrinhos, jogos de videogame e o que mais que se estrutura nesse charme gótico - mas é curioso como o material pertence a outro tempo e contexto e não faz sentido, ao meu ver, para a estrutura moderna... Mas quando facilmente um noticiário matutino traz mais violência e sangue que uma história de um século atrás que ainda é considerado um clássico do horror, eu confesso que tenho minhas dúvidas se não é a hora do vampirão aposentar sua casaquinha e deixar o reino da noite para as novas gerações de mortos-vivos...

Drácula (e sim, Nosferatu que é a mesma história mas, sabe, com problemas de direitos autorais) é uma história carola sobre gente reprimida que tem (muito) medo da própria sombra e por isso tenta justificar que existem monstros (comedores de moscas controlados por esses terríveis estrangeiros lascivos). E, ei, eu sei que isso continua o exato mesmo discurso conservador da galera da mamadeira de piroca...

Só que esse é o ponto na verdade.

Esse verniz clássico e gótico para o exato mesmo tipo de racismo que a sociedade tinha no século XIX não o torna mais charmoso ou menos ridículo. Sim, sim, o monstro bebe sangue - ao contrário dos costumes altamente médicos de rejeitar vacina ou paracetamol enquanto bebe a própria urina, digo, de usar sangue-sugas porque uma pessoa tinha "sangue demais" - tudo isso está no mesmo contexto de que, e eu sei que isso vai me fazer impopular com um grupo de pessoas mas eu preciso enfatizar: O horror é o gênero mais carola e conservador que existe.

Eu poderia gastar vários parágrafos com exemplos disso, desde os exemplos clássicos do horror de Drácula, Frankenstein e as bruxas, que existem no popular como contos cautelares para a manutenção de valores tradicionais (e a crítica àqueles que quebram as normas), e subir para exemplos mais recentes com os filmes de horror dos anos 1970 e 1980 como os assassinos seriais dos massacres de serra elétrica e Mike Myers (yeah, baby) e Jason ou mesmo Freddy Krueger que trazem comentários sociais.

Não é à toa que a 'garota final' (a única mocinha pura e virgem) sobrevive ao ataque sem fim do bicho-papão da vez, enquanto os demais personagens morrem um a um (e geralmente são pessoas que quebram alguma das normas sociais, como com a garota que fez e gosta de sexo, mas tem diversas situações do uso de drogas ou por fazerem pixações, vandalismo ou qualquer argumento para justificar que a vítima do assassino serial) e não incomum o próprio assassino/monstro é alguém com sérios problemas mentais (e geralmente com perturbadores poderes sobrenaturais que o permite sobreviver continuamente e inclusive escapar do próprio inferno para continuar matando).

O horror tem em seu DNA os valores conservadores sendo desafiados por protagonistas ou monstros que são constante e frequentemente estereotipados (o sujeito com problemas mentais que se torna um psicopata assassino que mata adolescentes através das décadas, o homossexual que prende mulheres em seu porão para usar suas peles, o estrangeiro que seduz nossas mocinhas belas, recatadas e do lar...) e enquanto criadores mais talentosos aprenderam a subverter as estruturas para oferecer críticas sociais, isso é um fenômeno bem mais recente, e, como destacado, uma subversão da estrutura.
 
Pânico do Wes Craven é o maior exemplo disso justamente ao quebrar com a quarta margem e expor através do metacomentário os clichês e reforçar estereótipos do gênero, mas diversos outros filmes antes já foram minando e testando as águas aqui e acolá, desde o Predador que é um filme de ação que joga horror quando o monstro aparece para enfrentar o herói imparável ou mesmo Alien cujo vilão efetivamente não é o monstro gosmento que sai de um ovo, e sim a corporação capitalista maligna que joga os trabalhadores na rota de colisão com esse monstro (plenamente ciente dos riscos) por uma mera margem de lucro maior.
 
Então nisso eu te pergunto: Porque nós continuamos a ver remakes de Nosferatu, Drácula (um Frankenstein do Guillermo del Toro saindo em novembro e outros tantos em pré ou produção)...?
 
O motivo cínico é porque esses personagens fazem parte do domínio público e isso significa que estúdios não precisam pagar direitos autorais para utilizá-los (vide porque logo que os direitos do Ursinho Pooh ou do Mickey seguiram essa rota a primeira coisa que fizeram foram filmes de horror com eles). Além disso, ainda mantendo uma ótica cínica, estes são personagens facilmente reconhecíveis e histórias que não precisam de grande contextualização e explicações do que motiva ou condiciona esses personagens, e, mesmo que filmes de época custem um pouco mais, o horror é um gênero de produção barata e rápida (vide os exemplos no parênteses anterior).
 
Mas eu acho que não é só isso, pois existem motivos mais complexos para a situação toda, e, em grande parte é porque esses personagens ainda nos fascinam, envoltos nessa aura gótica de mistério e ouso dizer sedução que escapa do horror moderno, e sim, existe a grande romantização da época - motivo pelo qual esses filmes continuam a ser produzidos se passando na Inglaterra vitoriana e não atualizados para os dias de hoje por exemplo.
 
Drácula não é apenas um monstro terrível que suga sangue e mata sua vítimas, mas é bastante comum em seus filmes que ele corteje e mantenha uma pose aristocrática cheia de seus formalismos antes de aplicar o bote, e, não é difícil ver nos exemplos seja de filmes do Francis Ford Coppola, do Luc Besson ou do Robert Eggers cenas de gigantescos salões de baile com grandes sequencias que parecem saídas de animações de princesas da Disney.
 
E, claro, não vamos fingir que a questão política que eu já gastei alguns parágrafos referenciado não seja importante, mesmo se, talvez, hoje o Drácula seja mais para o sujeito que usa spray de bronzeamento artificial para ficar com a pele laranja e se eleger em algum carguinho burocrático por aí do que um conde da Romenia...

27 de outubro de 2025

{Hallowsenhas lixo} A Guerra dos Mundos - Amazon, 2025

Se você não ouviu falar do filme A Guerra dos Mundos lançados pela Amazon em 2025, estrelado por Ice Cube e Eva Longoria - e filmado durante a pandemia de Covid (e sim, lançado só agora) de forma que nenhum dos atores do filme contracena ou sequer parece que esteja distante de um monitor - bem, então comecemos com as apresentações.

O "filme" é uma adaptação "moderna" do clássico de ficção científica de H.G. Wells, que, verdade seja dita já é bastante conhecido graças a leitura de Orson Welles como pegadinha num programa de rádio narrando a história como se fosse real, e, causando certo pânico na população, ainda que isso seja uma lenda urbana.

A história em si é sobre uma ameaça alienígena sobre o planeta enquanto o protagonista (que é uma pessoa comum e sem nenhuma patente ou cargo elevado, portanto acesso a informação privilegiada a maior) registra os eventos conforme eles vão se desfraldando e os sobreviventes vão aprendendo melhor sobre a ameaça, e ainda que o material tenha resistido a uma boa série de versões e adaptações que mudaram a noção geral da história e principalmente do final para algo mais próximo do final de Sinais como algo que os alienígenas são alérgicos a água ou algo igualmente ridículo, o livro em si não tem uma conclusão objetiva sobre o que resulta na vitória (ainda que ela venha lenta e gradativa conforme os extraterrestres tombam e a humanidade aprende mais sobre seus adversários).

Nada disso é particularmente relevante para o comercial de uma hora e meia que Ice Cube faz para a Amazon. Quer dizer, você sabia que eles possuem drones que permitem a entrega praticamente instantânea para a porta de sua casa? Ou que a Amazon pode oferecer um cartão de presente mesmo que você seja um morador de rua? Uau que empresa porreta, não é mesmo?

E caso você esteja se perguntando, o "filme" é bem menos sútil que o último parágrafo. 

Não que Ice Cube seja um bom ator sob condições normais mas com constantes close-ups e comerciais a cada cena e meia num roteiro que tenta costurar uma ameaça alienígena (que, uma vez que seria lançada durante a pandemia, provavelmente queria evocar o sentimento de vulenrabilidade diante de uma ameaça externa incontrolável), mas simplesmente não existe nada aqui para justificar essa história.

O personagem do ex-rapper é mais prolixo com computadores que um dos hackers do jogo Watch Dogs e sua história tem toda uma série de celeumas familiares, que, destaca-se, NO MEIO DE UMA INVASÃO ALIENÍGENA! Veja bem, esse é um filme sobre uma invasão alienígena que manteve na sua uma hora e meia uma cena sobre o filho do Ice Cube ser um hacker terrível e todo um celeuma sobre a filha recém casada/prestes a se casar e com um filho ao caminho mas que está se afastando do pai extremamente controlador. 

Se você precisa de mais explicação sobre como o filme é ruim, bem, eu poderia descrever mais das cenas horrorosas que tentam simular uma reunião de zoom extremamente dramática conforme uma invasão alienígena acontece, sem de fato conseguir oferecer qualquer tensão ou senso imediato de perigo enquanto o propósito do filme se escapa completamente.

{Editado em 30/10/2025} Perdão, eu acabei esquecendo talvez do ponto mais grave e cruelmente irônico do filme no quanto ele é incapaz de ter qualquer autoconsciência de seu comentário vs conteúdo. Quer dizer, alguns parágrafos atrás eu mencionei o quanto o filme é basicamente um gigantesco comercial da Amazon - que curiosamente ficou famosa pelo uso de big data e data mining para monitorar atividade dos clientes - enquanto, e isso é importante, o objetivo dos alienígenas do filme é ROUBAR OS DADOS da humanidade.

Deixa eu repetir porque talvez, tal qual à Amazon, a ironia tenha lhe escapado: A empresa que monitora os clientes constantemente na internet usando de forma agressiva esse conhecimento para, nas palavras deles, fazerem "ofertas mais assertivas" lança um "filme" que é um comercial constante dessa empresa, e, o vilão desse filme é uma raça alienígena ROUBANDO INFORMAÇÃO de data centers de toda a humanidade.

É, eu não tenho mais nada pra dizer depois disso... Só o quanto eu me assusto por perder a chance de colocar esses parágrafos no texto original. {/fim da edição} 

E se por sua conta e risco você quiser fazer pipoca, reunir seus amigos e assistir a uma atrocidade de filme para rir, bem, eu ainda acho que Manos - As mãos do Destino é bem mais divertido e tem toda uma lista de filmes no mesmo campo para se apreciar, mas, dificilmente exista outra forma para assistir esse filme se não for por deboche. Os memes da internet com as reações do Ice Cube que o digam...

22 de outubro de 2025

{Editorial} Mexendo no vespeiro

Honestamente, o que mais me chocou no que se seguiu da morte de Charlie Kirk, não apenas pelo quanto um idiota covarde, canalha e irrelevante de repente se tornou um mártir, mas, mais importante, no quanto isso serviu justamente para o tipo de gente idiota, covarde, canalha e irrelevante crescer e expandir sua visão de mundo idiota, covarde, canalha e irrelevante.

Isso, pra mim, sempre é assustador.

Kirk era um bosta sob toda definição ética, moral ou profissional. Um sujeito que 'debatia' estudantes universitários com temas controversos (e constantemente era massacrado por esses mesmos estudantes) e lançava versões altamente editadas desses debates online justamente para apelar através de apito de cachorro para uma bolha de gente tão patética quanto ele para vender uma visão no geral de que esses universitários são todos bêbados e incompetentes que não conseguem debater com a verdade (ignorando a gigantesca edição ou o mais simples fato que Kirk fugia de perguntas ou mudava de assunto constantemente).

Não é difícil encontrar exemplos das burrice de Kirk em seus 'debates', mas o exemplo mais claro disso obviamente se dá quando ele vai para a Oxford ou Cambridge para ser currado em debates de grandes universidades enquanto cita os fundadores dos Estados Unidos como base argumentativa... Na Grã-Bretanha, e isso só pra mostrar a base mais simples e abrangente da canalhice e estupidez do cidadão.

A hipocrisia vem justamente de alguém que defendia o irrestrito de armas - e, inclusive que algumas pessoas morrendo todos os anos por violência de armas não fosse algo particularmente ruim - gerar toda uma reção acalorada de seus pares.

Ué, quando um massacre numa escola primária nos Estados Unidos - matando 20 crianças e 6 adultos - levou a uma reação dos estudantes sobreviventes a se posicionar por restrições de armas de fogo, sabe qual a reação dessa mesma galera como Alex Jones e a Fox News (onde Kirk frequentava constantemente)? Dizer que os estudantes que sobreviveram a um evento traumático que não deveria ocorrer em lugar nenhum do mundo sob nenhuma circunstância eram atores contratados por democratas para vender uma agenda liberal de controle de armas.

Porém quando um idiota canalha, covarde e irrelevante é assassinado por defender que gente deve morrer todos os anos para garantir o direito a armas, figuras públicas e influenciadores que criticam Kirk devem sofrer sanções como ocorreu com Eduardo Bueno ou o Tiago Santinelli?

Francamente, não acho que devamos vangloriar a morte mesmo de alguém canalha como Kirk - isso não ajuda ninguém, até porque cortar uma cabeça da Hydra e surgem tantas outras... Rogan, Shapiro, Walsh e tantos outros brasileiros canalhas ainda estão aí e nada mudou, alguns até ficaram mais canalhas como aquele Super 15 da Joven Klan - tampouco deixar que a direita mantenha o controle da narrativa inclusive dobrando na aposta da canalhice (com Trump usando isso como instrumento político para mover ainda mais sua agenda facista em defesa de perseguir 'inimigos').

Temos que ser mais imparciais e retratar o que aconteceu: Um bosta irrelevante que fez fama 'debatendo' (ou seja, colocando cortes na internet com suas lacrações enquanto ignorava perguntas ou fugia do assunto quando alguém de fato - e constantemente - o humilhava com a lógica) com universitários foi assassinado e o mundo continua a ser um lugar horrível.

16 de outubro de 2025

{Hallowsenhas para maiores de 18 de Quinta} Druuuuuuuuuuuuuuna

Druuna é um quadrinho que me assusta por mais de um motivo.

O primeiro é o motivo pelo qual eu tive que enorme dificuldade para escolher uma imagem para referenciar o material para quem nunca tivesse sequer ouvido falar e provavelmente pensasse que eu escrevi errado Duna ou Bruna o usei lá mais o quê.

Sim, é quadrinho erótico/pornô e a protagonista está em trajes sumários por boa parte do material - só que esse não é o problema. Manara também faz quadrinhos nessa toada, e o mesmo posso dizer de Crepax e outros tantos e tantos artistas que produzem material nesse estilo e gênero, e, a arte de Serpieri sem sombra de dúvida se destaca pela qualidade do traço e arte final que consegue criar tanto personagens quanto mundos que são ao mesmo tempo bizarros, alienígenas e ainda assim familiares.

O que acontece é que, bem, da amostra que eu li de Druuna - e eu confesso que não fui muito adiante - o material pende bem mais para a pornografia que erotismo (ao contrário dos exemplos do parágrafo anterior) e, não apenas ou mera pornografia, mas pornografia de estupro o que torna as cenas que envolvam sexo no geral bem mais desagradáveis de se ver - e talvez esse seja o ponto em si, criando um contraste com a arte produzindo uma protagonista estonteante que se vê vez após vez em cenas intragáveis de sexo.

Pra mim o limiar de tolerância não foi muito além da primeira história Morbus Gravis, até porque a parte narrativa não é muito melhor. O mundo é nojento, grotesco e, com exceção da protagonista Druuna, permeado por gente desagradável, detestável e terrível - e ao longo de pouco mais que 60 páginas desse primeiro volume (tá, eu acho que eu li ou passei por cima o volume 2, Delta, mas não é particularmente muito melhor nos argumentos que estou reclamando, talvez eu até ache que é pior no sentido de como toda cena de sexo seja de estupro).

Olha, eu não vou fingir que quadrinhos eróticos - ou que utilizem elementos mais pendendo para o eróticos - tenham roteiros estelares, brilhantes e incríveis. Talvez com a exceção de Black Kiss, não sei dizer se existe algum outro quadrinho que eu realmente me lembre com um roteiro mais elaborado ou minimamente escrito, e, Druuna não é exceção sob nenhum aspecto. 

Os personagens são rasos e geralmente as cenas são, como você pode esperar em pornografia, uma mera desculpa para que alguém acabe transando (sendo que, como eu comentei a pouco, esse sexo não seja consensual).

Então o material é mais repulsivo que erótico (de novo, o que talvez seja o ponto), mas existe um elemento que está intrinsicamente ligado ao universo da série, com um mundo de Mad Max mais perverso e violento que Mad Max (e com sexo), e, enquanto não funcionou para mim para criar um mundo e personagens interessantes (por mais que, como eu disse antes, seja um mundo e personagens visualmente interessantes), talvez seja algo que funcione para bastante gente, o que, não me parece tão absurdo considerando o quanto já esgotou e foi reimpresso.

E acaba meio que nisso uma vez que os personagens não são interessantes e a história não são interessantes ou empolgantes enquanto a arte que é o grande chamariz acaba criando mais cenário desagradáveis e repulsivos que efetivamente te engajando (ou compensando as falhas do roteiro no que tangem personagens e enredo).

Mas isso é terror para justificar uma Hallowsenha?

Bem, não tecnicamente - está mais para o erotismo ou pornografia - mas de fato é algo que me assusta bastante, saca?

Talvez a série melhor imensamente em volumes seguintes e eu esteja errado em minha avaliação do material, mas olha, não vamos fingir que nessas histórias que eu citei (Morbus Gravis e Delta) não aconteça uma quantidade enorme de estupros - eu acho que é em Delta que é apresentada uma garota careca que, a cada dois quadrinhos ela está sendo abusada por algum personagem diferente.

Porra, talvez a Itália dos anos 1970 fosse ainda mais machista que o Brasil de 2025, talvez um monte de talvezes, mas é muito difícil defender esse material pelo que ele apresenta, e, de novo, isso me assusta, saca?

A Pipoca e Nanquim lançou uma edição bastante cara em 2009 e, está esgotada com mais de uma reimpressão. Esse material já foi republicado diversas vezes no Brasil por várias editoras pequenas aqui e acolá (enquanto material bem mais interessante nunca viu a luz do dia ou está perdido em edições precárias, como Astrologia Divertida do Will Eisner que só saiu por aqui na revista DESTINO - que vale lembrar, sequer tem uma página própria da Wikipedia - da Editora Globo em 1991) e eu insisto que não consigo defender o material sob nenhuma luz ou perspectiva.

Não é inteligente, não é erótico, não é interesssante... Então qual é o ponto?

O ponto é que isso funciona para uma galera, né? Até tem uma galera que vai tentar justificar o contexto do estupro ficcional numa obra, mas é bem diferente quando uma narrativa que constrói e usa o assunto (Alan Moore trabalhou com isso em Watchmen e Monstro do Pântano, e Claremont lidou com o assunto durante sua passagem pelo X-men) mas existe sempre a diferença em lidar com um assunto e fetichizar sobre um assunto, o que, claro, depende e muito do talento do autor produzindo o material.

Além disso acho bem interessante que o ex-prefeito (e futuro presidiário, se houver alguma justiça) do Rio além de outros da patotinha dele viu problema numa hq com beijo gay consensual, mas ninguém da equipe dele pensou que uma série com retratos gráficos de estupro tenha qualquer problema. Curioso, né? 

Mas vamos combinar que eu já gastei tempo demais explicando ou falando sobre um material que não vale a pena tanta reflexão...? Passe longe.