Pesquisar este blog

6 de novembro de 2025

{Resenhas de Quinta} Cybertruck Mercenários

Cyberpunk 2077 é uma daquelas histórias estranhas da indústria.

Saindo de um fracasso retumbante do lançamento (cheio de bugs), mas com enorme potencial pelo fatnástico estúdio polonês CD Projekt (o mesmo da franquia The Witcher), com uma ideia bastante simples e diria até clichê mas que funciona muito bem para jogos... Quer dizer e se GTA no universo da NeoTokyo de Akira?

E eu confesso que até hoje não consegui jogar o jogo, por mais que me pareça bem interessante, e talvez até por isso eu tenha ignorado solenemente a animação Edgerunners/Mercenários lançada na Netflix, mas, honestamente, me arrependo.

O material é muito bom.

Animação fluída, a narrativa é extremamente complexa para uma temporada curta (com o que facilmente me pareceu duas temporadas ou mais condensadas em dez episódios), apresentando personagens e cenários que vão escalonando exponencialmente.

O melhor? O conhecimento prévio do universo do jogo pode oferecer alguns vislumbres e easter eggs para fãs, mas, honestamente não teve nada que travou minha habilidade de compreender o conteúdo com facilidade, então sem dúvidas não é nenhum pré-requisito entender qualquer coisa sobre como funciona esse universo para desfrutar da história - ainda que, claro, seja bom aceitar as premissas básicas de um universo cyberpunk onde a interação de humanos e máquinas é parte fundamental da narrativa, e, esse é um mundo onde incrementos não são apenas comuns como são a norma.

Justamente por serem a norma, isso forma toda uma estrutura social em que aqueles que não tem capacidades financeiras para incrementos robóticos (e são apenas humanos comuns) estão em desvantagem, e, como a série nos apresenta em um episódio fantástico que demonstra a partir do protagonista David todos esses aspectos da sociedade vão se desfraldando e estabelecendo de maneira gradual e coerente.

Não dá pra explicar muito sem spoilers - e honestamente vale a pena conferir sabendo o quanto mínimo possível - mas é um material que consegue estabelecer tanto o mundo no qual está inserido quanto os seus personagens, e, realmente me parece que merecia um pouco mais de chance tanto da Netflix quanto do público.

Para quem gosta de ficção científica e cyberpunk, um prato cheio. 

4 de novembro de 2025

NOVIDADE::: {Reagindo aos Reaças!} """"""Engenheiro""""""" Leo não gosta dos Correios

Se você não conhece a figura deplorável e insuportável do caricato aluno que mal se formou (cheio de dps numa faculdade privada de péssima qualidade - como uma engenheria que não tem cálculo 2 por exemplo) mas que acha que sabe mais que todo e qualquer ser humano em qualquer área de conhecimento, bem, você não precisa procurar muito mais para um exemplo claro e insuportável disso.

Enquanto o Tamir Felipe (que curiosamente não precisa de um título de 'Especialista' ou 'Economista' Tamir, mas isso tem mais com o Ego inflado de alguém que não consegue formar um único pensamento lógico e/ou original sem regurgitar a cartilha da extrema-direita que outra coisa, né?) tenta calmamente explicar os aspectos mais coerentes de como os Correios (mesmo diante de todos os desafios e da competição de outras empresas de transportes) tendem a apresentar resultados positivos, e, que, tem funções sociais importantes e que beneficiam pequenos e médios empresários (mais sobre isso abaixo), Léo tal qual Rogério Skylab põe o dedo em um orifício e gritaria (danem-se os argumentos, a lógica ou a coerênciam o importante é falar alto e falar muito impedindo os outros de usarem, sabe, lógica e coerência) porque, e isso é importante, ele comprou DUAS vezes (através da entrega dos Correios*) e o produto chegou danificado.

O que eu achei particularmente curioso, pois, na alegação dele, a compra foi de vinho, e, pela longa lista de proibições e restrições dos Correios, advinha o que está lá? Bebidas Alcóolicas (aparecem no item 'Artigos Perigosos' além de outra especificação no item Líquidos - Restrição de envio) e, em consultas bastante rápidas foi possível verificar que, ou a empresa precisa de um contrato específico com os Correios para enviar esse tipo de item ou declarar especificamente (o que, por experiência**, significa que o envio fica mais caro).

Se você conferir outras vedações, vale destacar, estão inclusive itens que são de fácil envio e circulação pela empresa, como revistas ou dvds de conteúdo adulto. Eu sei que parece bobagem, mas é muito mais fácil enviar uma Playboy em um envelope (que é proibido por uma lei de 1978, diga-se de passagem), e, ao que diz a lei, o simples fato de usar um embrulho/envelope com a palavra ou marca é suficiente para enquadrar na mesma. E isso que, de novo, é um item fácil de transportar e colocar em um envelope/ou caixa ao contrário de bebida alcóolica que precisa de um transporte mais cuidadoso e embalagem bem melhor ajustada, e, como eu mencionei, teria um custo maior justamente por isso...

Vale destacar que a Amazon, Mercado Livre e outras empresas de entrega (que fazem entrega destes produtos sem problemas), curiosamente também entregam produtos com danos, avarias ou mesmo acarretam em extravios, mas, como é importante destacar pelas políticas dessas empresas (que eu linkei no nome delas pra quem não confere os links), existem condições de devolução e ressarcimento dessas compras, já previstos antes do envio. Então porque particularmente é um problema dos Correios (que são apenas o transportador e não tem qualquer responsabilidade pelo item e pela venda) que o item chegou danificado?

(Pss, se você não sabia a resposta é porque a Jovem Klan, o portal do Alexandre Garcia e outros da patota da Direita gosta de criticar as empresas públicas unica e exclusivamente para justificar a privatização para aumentar os lucros de seus anunciantes e patrões)

E, olha, é normal ter ranço com alguma empresa de entrega. Eu tive problemas com a Jadlog em três pedidos e se ela é a única opção eu não compro com o estabelecimento (porra uma das remessas extraviadas teve alegação de entrega a meia noite para o 'funcionário' no meu endereço - e eu não moro em apartamento ou tenho qualquer funcionário dia ou noite), mas críticas e preferências pessoais não deveriam contaminar uma opinião mais abrangente. Por mais que eu não goste da Jadlog, isso não muda qualquer número de faturamento ou dos resultados da empresa... 

Então, ou é lorota que ele comprou vinho com entrega pelos correios (e quis posar de refinado comprador de vinho e não dizer que era um colecionável de porcelana - o que pegaria mal para a imagem - bwa, há, há, há, há - cultivada na web do cidadão), ou a empresa (e ele) cometeram fraude postal ao enviar um item vedado e proibido alegando que seja outra coisa - como dizendo que o objeto num formato de garrafa de vidro claramente é de plástico e não contém bebida alcóolica para pagar menor tarifa.

Algo disso muda o fato de que os Correios são uma empresa deficitária ou não? Não, mas é curioso que o simples argumento feito pelo cidadão sobre o motivo de não gostar da empresa é uma mentira, o que nunca é um bom começo, não é mesmo...?

Mas tem mais, você se pergunta...?

Bem, sim.

Ao criticar os Correios, o Léo aponta para empresas melhores como a Amazon e o Mercado Livre, e, curiosamente, além do fato que elas podem enviar todos os itens restritos e vedados pelos Correios (o que já aumenta a receita), vale lembrar que, essas empresas tem uma estrutura diferente de lucro (ambas são multinacionais - mas curiosamente ambas foram startups copiando modelos de negócios já existentes, no caso das livrarias para a Amazon e a Ebay para o Mercado Livre), e, caso a Amazon ou Mercado Livre apresentem um resultado deficitário em uma ou mais áreas como no caso da área de entregas, há uma chance disso ficar perdido e desaparecer dentro dos demais resultados da companhia...

Na verdade é parte da estrutura destas empresas consolidar e garantir uma entrega mais rápida, mesmo se isso absorver um prejuízo no médio e curto prazo, e, isso é parte da merdificação que empresas fazem de novo e de novo: Garante o cliente ao consolidar o mercado para depois diminuir drasticamente a qualidade enquanto aumentam expoencialmente o preço quando não existe mais alternativa no mercado. 

E, existe outro aspecto que é mais importante também, mesmo que o resultado das entregas seja baixo ou deficitário para essas empresas (e eu não estou alegando especificamente que é), eles podem compensar os custos com aumento de receita nesses processos, que eu tentarei explicar da maneira menos "economeira" possível.

Veja, cada item vendido no site da Amazon ou Mercado Livre gera uma receita para esses sites (geralmente um valor proporcional ao preço anunciado), algo que se estende aos produtos comercializados por lojas parceiras (sejam pequenos produtores ou lojas gigantescas como a Samsung - mas que, obviamente é negociado diretamente com essas lojas ao contrário do pequeno produtor que tem que aceitar as condições calado). Acontece que, essa não é a única forma de receita.

Sabe a caixinha com a logo da loja ou a fita adesiva com as promoções e ofertas do mês...? Pois é, alguém paga por isso, e, caso você esteja em dúvida, é a empresa que vende (e que, se quiser usar o sistema de logística e garantias, precisa comprar caixas, fitas e outros produtos do serviço de logística).

Quer dizer, se eu vou aos Correios com um envelope pardo padrão embrulhado com fita adesiva e plástico bolha (todos items comercializados em qualquer papelaria), está tudo certo. Mas se eu quero utilizar o serviço de logística das empresas "boas" de entregas, eu preciso comprar caixa padrão, fita adesiva padrão, plástico bolha padrão... Curioso como isso aumenta a receita da empresa enquanto diminui o meu lucro de pequeno e médio empresário parceiro, não é mesmo?

Tudo isso enquanto os Correios são uma empresa brasileira que SÓ fazem o processo logístico (e tenham a função social do envio de correspondência, além de agências em quase todo o território nacional e a garantia de entrega em todo o território nacional - enquanto essas empresas de logística podem, pura e simplesmente, se recusarem a entregar em determinada região). De novo, Mercado Livre e Amazon são multinacionais que lucram com diversas áreas e atividades ALÉM da logística (e com toda a certeza absorvem enormes prejuízos, sabe como com a produção de A Guerra dos Mundos ou um documentário de 40 milhões de dólares sobre Melania Trump - qualé, você está louco pra assistir, confessa!) e isso SE LUCRAREM com a logística em primeiro lugar, até porque podem absorver os prejuízos dessas áreas como parte do processo e garantia de crescimento no setor.

Mas quando Leo resolve criticar gestão, aí meu amigo eu simplesmente não consigo mais manter qualquer pretensão de que existe algo minimamente honesto com sua argumentação. A gestão das empresas públicas brasileiras é ruim...?

Só as empresas públicas brasileiras, né? 

Droga, Trump conseguiu falir mais empresas que a maioria das pessoas trabalha em todas as suas vidas, mas, puta merda entre elas um cassino. UM CAS-SI-NO (deixa digerir essa informação um pouquinho)! E a Tesla de Elon Musk perdeu em 2025 mais de 380 bilhões de dólares (enquanto tem de pagar 1 TRILHÃO para o vilão da pior paródia de James Bond) e, caralho, será que eu tenho que falar sobre a Microsoft nessa altura do campeonato? Sério, desde 2013 os caras estão fazendo cagada atrás de cagada com a marca Xbox além de não lançar nada novo ou interessante desde... Honestamente não sei responder essa... E a última do Game Pass dobrando de preço (mesmo sem lançar exclusivos, e, inclusive, a própria Microsoft caminhando cada vez menos para vender videogames com a aposta do 'This is an Xbox').

Isso sem falar da bolha da IA, e claro que eu poderia falar de mais uma dezena de empresas ruins e mal geridas - teve toda uma CPI sobre a maior fraude da CVM no Brasil e o dono da empresa ainda é considerado um dos maiores empresários do país... 

Mas o problema são empresas públicas brasileiras que não operam com lucros constantes, né...? Sim, os Correios são mal geridos inclusive quando dão lucros, mas a Tesla (beija a mão fechada como se fosse uma coxinha e aponta pra cima) baita empresa foda inclusive dando prejuízo e apresentando ideia bosta após ideia bosta (qualé quem achou o Cybertruck algo diferente de uma bosta?).

Só pra garantir, eu ainda preciso falar sobre o "monopólio" (de envio de cartas) dos Correios?

1 de novembro de 2025

{Editorial} Mais de cento e trinta mortos no Rio de Janeiro, e agora com a previsão do tempo...

Existe uma dessensibilização muito comum em nossa sociedade que é assustadora e que, é bem provável, só nos atinja com uma epifânia quando conseguimos quebrar o abusrdo disso tudo. Talvez você já tenha percebido isso com os dois anos da 'guerra' em Gaza (em que só um lado ataca com um número gigantesco de destruição e óbitos civis, inclusive depois do acordo de cessar fogo) mas pra muita gente que eu conheço parece difícil perceber qualquer coisa além de nosso mundinho, além do que nos está próximo.

Talvez seja a correria do cotidiano que nos deixa perdidos e apáticos (e sim, isso é proposital), mas eu acho que existe algo mais feio nisso que está ligado numa parte ao nosso egocentrismo, e se algo não me afeta diretamente, porque eu deveria me importar?

Isso acontece de novo e de novo, e, em grande parte porque existe uma parte de nossa sociedade que quer vilanizar a empatia, e, nem mais tenta esconder que isso é parte de sua agenda, o que, curiosa e ironicamente geralmente tem em suas lideranças pessoas que se declaram cristãs (porque afinal de contas o Cristo bíblico é o maior sociopata que não se importava com os outros, certo?).

No entanto, não é difícil que percebamos nas repostas e reações das pessoas como às vezes os circuitos estão cruzados. Nessa semana mesmo, não foi difícil ouvir gente defendendo a ação do governador do Rio de Janeiro justificando que o nosso problema são efetivamente os traficantes e, por conseguinte, a solução seja exterminá-los tal qual baratas.

Certo que essa não foi a reação quando, um mês atrás, descobriu-se a vasta conexão entre a Faria Lima e o PCC, e, não acredito que alguém enxergaria como justificável que a polícia militar subisse os prédios luxuosos dessa avenida distribuindo pipoco e cada engravatado, e, inclusive como tudo isso está conectado com o uso do metanol nas bebidas que levaram a diversos óbitos no estado de São Paulo. Tampouco imagino que seria a reação para cumprir um mandato contra Pablo Marçal desviando milhões em uma "ONG" ou pela sua responsabilidade em uma morte ou qualquer outro dos dezenas de crimes cometidos pelo canalha.

Não que seria justificável matar esses engravatados canalhas mais que os traficantes (ainda que, honestamente não acho que seria menos sob nenhum motivo), mas, será que não estamos olhando sob a situação de uma perspectiva errada de novo e de novo?

E ainda que seja claro que a resposta para os últimos parágrafos seja 'racismo' (sim, sobe-se o morro ou desce-se a serra atirando e acumulando corpos no caminho porque são cadáveres negros e pardos, mas não se faz alegadamente isso na alegada Faria Lima ou contra o alegado Pablo alegado Marçal que alegadamente tem capital - pois como destaca meu advogado, no caso deles é tudo alegadamente) e você já viu isso de novo e de novo. O criminoso rico inclusive tira fotos com os agentes da polícia depois de disparar repetidas vezes (e até jogar granadas - mesmo que, sob nenhuma circunstância poderia ou deveria manter tamanho arsenal em seu domicílio, inclusive sob prisão domiciliar como estava) e alvejar alguns dos agentes.

Quando é um jovem negro assassinado (mesmo que por acidente) ele é culpado e faz-se dancinha de CPF cancelado. Quando um bandido branco e rico é assassinado, alegadamente ele talvez fosse culpado de alguma coisa. Na verdade, se é indiciado toda uma classe se manifestará em apoio e solidariedade ao bandido rico pelas acusações terríveis e difamatórias (do crime que ele cometeu, sabe, como com o Leonardo e a "ALEGAÇÃO" de trabalho escravo).

Então tem que matar o traficante pobre e negro na favela do Rio (mesmo se ele nem for traficante e só estiver passando na rua e cuidando da vida no momento da ação policial), mas defender a morte do Leonardo (cuja esposa "DEVOLVEU" uma criança para adoção) ou do Pablo Marçal... Que tipo de monstro é você? E para deixar bem claro antes que alguém tire completamente o contexto disso, eu não estou defendendo a morte (nem alegadamente e nem não alegadamente) dessas pessoas, mas, de nenhuma dessas pessoas.

É para isso que existe o processo legal, e, parte do processo legal envolve o julgamento e o aprisionamento - não o óbito, que, diga-se de passagem não é cogitado como punição no sistema legal brasileiro (e, eu gostaria de deixar bem claro, esse tipo de visão de que a solução é o sujeito armado que atira primeiro e faz perguntas depois, e, justamente por isso é a reposta e solução está muito cimentado na cultura popular desde John Wayne nos anos sessenta passando pelo John McClane e Justiceiro dos anos 1970 e 1980 - e, continua algo intrínseco e comum no inconsciente coletivo e ser um clichê).

Sem dúvidas a operação foi um desastre (sem cumprir seu objetivo - que era de capturar uma pessoa específica - com uma apreensão ridícula de bens e armamento e com um derramamento abissal de sangue de vítimas, que, diga-se de passagem já começou a pulular que haviam muitos civis e inocentes no meio) e mais de uma pessoa já apontou sobre o quanto ela foi um desastre em comparação com operações muito melhor planejadas pela PF (como aquela da Faria Lima que além de todo o montante bloqueado do PCC, ainda conseguiu o trunfo de expor muita da falcatrua de lavagem de dinheiro das 'empresas' que o mercado tanto defende nessa tão mencionada avenida de SP).

Uma ação populista (como tantas que a direita adora defender) para fingir que se é "duro" com o crime quando na verdade os verdadeiros culpados estão livres, incluindo o alvo da operação, enquanto jovens negros inocentes que tiveram o azar de estar no lugar errado na hora errada, agora sequer lhes é permitida a condição de sua memória ser preservada conforme são difamados e caluniados por gente escroque e bandida como o mais de uma vez condutor bêbado (assassino e claro que cidadão de bem, né?) Gustavo Gayer ou o primo traficante (que curiosamente mandou muito dinheiro para ele - alegadamente) Nikolas Ferreira.

Inclusive nossa indignação é seletiva e logo se apaga (parte do motivo do título desse editorial). A 'história' termina abruptamente e cortamos para outro segmento fingindo que isso explica e conclui tudo ou, se eu tenho que ser realmente franco, conclui qualquer coisa.

Talvez, no fim do dia, só conclua nossa apatia e cansaço cada vez maior, cada vez mais próximo do burn-out a nos destituir de nossa humanidade. 

30 de outubro de 2025

{Hallowsenhas} Dracusferatu - Ou quem é morto-vivo sempre aparece!

Eu vou ser bastante honesto em uma coisa e dizer que eu sinceramente não entendo o fascínio que ainda existe sobre a história de Drácula no século XXI (ou em qualquer ponto após a segunda guerra no século XX).

Quer dizer, existe um certo charme gótico que funcionava para a era silenciosa do cinema - e essa é uma época que influenciou muitos dos criadores e produtores que produzem filmes até os dias de hoje, e, nem só na condição de filmes pois tem toda uma toada de quadrinhos, jogos de videogame e o que mais que se estrutura nesse charme gótico - mas é curioso como o material pertence a outro tempo e contexto e não faz sentido, ao meu ver, para a estrutura moderna... Mas quando facilmente um noticiário matutino traz mais violência e sangue que uma história de um século atrás que ainda é considerado um clássico do horror, eu confesso que tenho minhas dúvidas se não é a hora do vampirão aposentar sua casaquinha e deixar o reino da noite para as novas gerações de mortos-vivos...

Drácula (e sim, Nosferatu que é a mesma história mas, sabe, com problemas de direitos autorais) é uma história carola sobre gente reprimida que tem (muito) medo da própria sombra e por isso tenta justificar que existem monstros (comedores de moscas controlados por esses terríveis estrangeiros lascivos). E, ei, eu sei que isso continua o exato mesmo discurso conservador da galera da mamadeira de piroca...

Só que esse é o ponto na verdade.

Esse verniz clássico e gótico para o exato mesmo tipo de racismo que a sociedade tinha no século XIX não o torna mais charmoso ou menos ridículo. Sim, sim, o monstro bebe sangue - ao contrário dos costumes altamente médicos de rejeitar vacina ou paracetamol enquanto bebe a própria urina, digo, de usar sangue-sugas porque uma pessoa tinha "sangue demais" - tudo isso está no mesmo contexto de que, e eu sei que isso vai me fazer impopular com um grupo de pessoas mas eu preciso enfatizar: O horror é o gênero mais carola e conservador que existe.

Eu poderia gastar vários parágrafos com exemplos disso, desde os exemplos clássicos do horror de Drácula, Frankenstein e as bruxas, que existem no popular como contos cautelares para a manutenção de valores tradicionais (e a crítica àqueles que quebram as normas), e subir para exemplos mais recentes com os filmes de horror dos anos 1970 e 1980 como os assassinos seriais dos massacres de serra elétrica e Mike Myers (yeah, baby) e Jason ou mesmo Freddy Krueger que trazem comentários sociais.

Não é à toa que a 'garota final' (a única mocinha pura e virgem) sobrevive ao ataque sem fim do bicho-papão da vez, enquanto os demais personagens morrem um a um (e geralmente são pessoas que quebram alguma das normas sociais, como com a garota que fez e gosta de sexo, mas tem diversas situações do uso de drogas ou por fazerem pixações, vandalismo ou qualquer argumento para justificar que a vítima do assassino serial) e não incomum o próprio assassino/monstro é alguém com sérios problemas mentais (e geralmente com perturbadores poderes sobrenaturais que o permite sobreviver continuamente e inclusive escapar do próprio inferno para continuar matando).

O horror tem em seu DNA os valores conservadores sendo desafiados por protagonistas ou monstros que são constante e frequentemente estereotipados (o sujeito com problemas mentais que se torna um psicopata assassino que mata adolescentes através das décadas, o homossexual que prende mulheres em seu porão para usar suas peles, o estrangeiro que seduz nossas mocinhas belas, recatadas e do lar...) e enquanto criadores mais talentosos aprenderam a subverter as estruturas para oferecer críticas sociais, isso é um fenômeno bem mais recente, e, como destacado, uma subversão da estrutura.
 
Pânico do Wes Craven é o maior exemplo disso justamente ao quebrar com a quarta margem e expor através do metacomentário os clichês e reforçar estereótipos do gênero, mas diversos outros filmes antes já foram minando e testando as águas aqui e acolá, desde o Predador que é um filme de ação que joga horror quando o monstro aparece para enfrentar o herói imparável ou mesmo Alien cujo vilão efetivamente não é o monstro gosmento que sai de um ovo, e sim a corporação capitalista maligna que joga os trabalhadores na rota de colisão com esse monstro (plenamente ciente dos riscos) por uma mera margem de lucro maior.
 
Então nisso eu te pergunto: Porque nós continuamos a ver remakes de Nosferatu, Drácula (um Frankenstein do Guillermo del Toro saindo em novembro e outros tantos em pré ou produção)...?
 
O motivo cínico é porque esses personagens fazem parte do domínio público e isso significa que estúdios não precisam pagar direitos autorais para utilizá-los (vide porque logo que os direitos do Ursinho Pooh ou do Mickey seguiram essa rota a primeira coisa que fizeram foram filmes de horror com eles). Além disso, ainda mantendo uma ótica cínica, estes são personagens facilmente reconhecíveis e histórias que não precisam de grande contextualização e explicações do que motiva ou condiciona esses personagens, e, mesmo que filmes de época custem um pouco mais, o horror é um gênero de produção barata e rápida (vide os exemplos no parênteses anterior).
 
Mas eu acho que não é só isso, pois existem motivos mais complexos para a situação toda, e, em grande parte é porque esses personagens ainda nos fascinam, envoltos nessa aura gótica de mistério e ouso dizer sedução que escapa do horror moderno, e sim, existe a grande romantização da época - motivo pelo qual esses filmes continuam a ser produzidos se passando na Inglaterra vitoriana e não atualizados para os dias de hoje por exemplo.
 
Drácula não é apenas um monstro terrível que suga sangue e mata sua vítimas, mas é bastante comum em seus filmes que ele corteje e mantenha uma pose aristocrática cheia de seus formalismos antes de aplicar o bote, e, não é difícil ver nos exemplos seja de filmes do Francis Ford Coppola, do Luc Besson ou do Robert Eggers cenas de gigantescos salões de baile com grandes sequencias que parecem saídas de animações de princesas da Disney.
 
E, claro, não vamos fingir que a questão política que eu já gastei alguns parágrafos referenciado não seja importante, mesmo se, talvez, hoje o Drácula seja mais para o sujeito que usa spray de bronzeamento artificial para ficar com a pele laranja e se eleger em algum carguinho burocrático por aí do que um conde da Romenia...

27 de outubro de 2025

{Hallowsenhas lixo} A Guerra dos Mundos - Amazon, 2025

Se você não ouviu falar do filme A Guerra dos Mundos lançados pela Amazon em 2025, estrelado por Ice Cube e Eva Longoria - e filmado durante a pandemia de Covid (e sim, lançado só agora) de forma que nenhum dos atores do filme contracena ou sequer parece que esteja distante de um monitor - bem, então comecemos com as apresentações.

O "filme" é uma adaptação "moderna" do clássico de ficção científica de H.G. Wells, que, verdade seja dita já é bastante conhecido graças a leitura de Orson Welles como pegadinha num programa de rádio narrando a história como se fosse real, e, causando certo pânico na população, ainda que isso seja uma lenda urbana.

A história em si é sobre uma ameaça alienígena sobre o planeta enquanto o protagonista (que é uma pessoa comum e sem nenhuma patente ou cargo elevado, portanto acesso a informação privilegiada a maior) registra os eventos conforme eles vão se desfraldando e os sobreviventes vão aprendendo melhor sobre a ameaça, e ainda que o material tenha resistido a uma boa série de versões e adaptações que mudaram a noção geral da história e principalmente do final para algo mais próximo do final de Sinais como algo que os alienígenas são alérgicos a água ou algo igualmente ridículo, o livro em si não tem uma conclusão objetiva sobre o que resulta na vitória (ainda que ela venha lenta e gradativa conforme os extraterrestres tombam e a humanidade aprende mais sobre seus adversários).

Nada disso é particularmente relevante para o comercial de uma hora e meia que Ice Cube faz para a Amazon. Quer dizer, você sabia que eles possuem drones que permitem a entrega praticamente instantânea para a porta de sua casa? Ou que a Amazon pode oferecer um cartão de presente mesmo que você seja um morador de rua? Uau que empresa porreta, não é mesmo?

E caso você esteja se perguntando, o "filme" é bem menos sútil que o último parágrafo. 

Não que Ice Cube seja um bom ator sob condições normais mas com constantes close-ups e comerciais a cada cena e meia num roteiro que tenta costurar uma ameaça alienígena (que, uma vez que seria lançada durante a pandemia, provavelmente queria evocar o sentimento de vulenrabilidade diante de uma ameaça externa incontrolável), mas simplesmente não existe nada aqui para justificar essa história.

O personagem do ex-rapper é mais prolixo com computadores que um dos hackers do jogo Watch Dogs e sua história tem toda uma série de celeumas familiares, que, destaca-se, NO MEIO DE UMA INVASÃO ALIENÍGENA! Veja bem, esse é um filme sobre uma invasão alienígena que manteve na sua uma hora e meia uma cena sobre o filho do Ice Cube ser um hacker terrível e todo um celeuma sobre a filha recém casada/prestes a se casar e com um filho ao caminho mas que está se afastando do pai extremamente controlador. 

Se você precisa de mais explicação sobre como o filme é ruim, bem, eu poderia descrever mais das cenas horrorosas que tentam simular uma reunião de zoom extremamente dramática conforme uma invasão alienígena acontece, sem de fato conseguir oferecer qualquer tensão ou senso imediato de perigo enquanto o propósito do filme se escapa completamente.

{Editado em 30/10/2025} Perdão, eu acabei esquecendo talvez do ponto mais grave e cruelmente irônico do filme no quanto ele é incapaz de ter qualquer autoconsciência de seu comentário vs conteúdo. Quer dizer, alguns parágrafos atrás eu mencionei o quanto o filme é basicamente um gigantesco comercial da Amazon - que curiosamente ficou famosa pelo uso de big data e data mining para monitorar atividade dos clientes - enquanto, e isso é importante, o objetivo dos alienígenas do filme é ROUBAR OS DADOS da humanidade.

Deixa eu repetir porque talvez, tal qual à Amazon, a ironia tenha lhe escapado: A empresa que monitora os clientes constantemente na internet usando de forma agressiva esse conhecimento para, nas palavras deles, fazerem "ofertas mais assertivas" lança um "filme" que é um comercial constante dessa empresa, e, o vilão desse filme é uma raça alienígena ROUBANDO INFORMAÇÃO de data centers de toda a humanidade.

É, eu não tenho mais nada pra dizer depois disso... Só o quanto eu me assusto por perder a chance de colocar esses parágrafos no texto original. {/fim da edição} 

E se por sua conta e risco você quiser fazer pipoca, reunir seus amigos e assistir a uma atrocidade de filme para rir, bem, eu ainda acho que Manos - As mãos do Destino é bem mais divertido e tem toda uma lista de filmes no mesmo campo para se apreciar, mas, dificilmente exista outra forma para assistir esse filme se não for por deboche. Os memes da internet com as reações do Ice Cube que o digam...

22 de outubro de 2025

{Editorial} Mexendo no vespeiro

Honestamente, o que mais me chocou no que se seguiu da morte de Charlie Kirk, não apenas pelo quanto um idiota covarde, canalha e irrelevante de repente se tornou um mártir, mas, mais importante, no quanto isso serviu justamente para o tipo de gente idiota, covarde, canalha e irrelevante crescer e expandir sua visão de mundo idiota, covarde, canalha e irrelevante.

Isso, pra mim, sempre é assustador.

Kirk era um bosta sob toda definição ética, moral ou profissional. Um sujeito que 'debatia' estudantes universitários com temas controversos (e constantemente era massacrado por esses mesmos estudantes) e lançava versões altamente editadas desses debates online justamente para apelar através de apito de cachorro para uma bolha de gente tão patética quanto ele para vender uma visão no geral de que esses universitários são todos bêbados e incompetentes que não conseguem debater com a verdade (ignorando a gigantesca edição ou o mais simples fato que Kirk fugia de perguntas ou mudava de assunto constantemente).

Não é difícil encontrar exemplos das burrice de Kirk em seus 'debates', mas o exemplo mais claro disso obviamente se dá quando ele vai para a Oxford ou Cambridge para ser currado em debates de grandes universidades enquanto cita os fundadores dos Estados Unidos como base argumentativa... Na Grã-Bretanha, e isso só pra mostrar a base mais simples e abrangente da canalhice e estupidez do cidadão.

A hipocrisia vem justamente de alguém que defendia o irrestrito de armas - e, inclusive que algumas pessoas morrendo todos os anos por violência de armas não fosse algo particularmente ruim - gerar toda uma reção acalorada de seus pares.

Ué, quando um massacre numa escola primária nos Estados Unidos - matando 20 crianças e 6 adultos - levou a uma reação dos estudantes sobreviventes a se posicionar por restrições de armas de fogo, sabe qual a reação dessa mesma galera como Alex Jones e a Fox News (onde Kirk frequentava constantemente)? Dizer que os estudantes que sobreviveram a um evento traumático que não deveria ocorrer em lugar nenhum do mundo sob nenhuma circunstância eram atores contratados por democratas para vender uma agenda liberal de controle de armas.

Porém quando um idiota canalha, covarde e irrelevante é assassinado por defender que gente deve morrer todos os anos para garantir o direito a armas, figuras públicas e influenciadores que criticam Kirk devem sofrer sanções como ocorreu com Eduardo Bueno ou o Tiago Santinelli?

Francamente, não acho que devamos vangloriar a morte mesmo de alguém canalha como Kirk - isso não ajuda ninguém, até porque cortar uma cabeça da Hydra e surgem tantas outras... Rogan, Shapiro, Walsh e tantos outros brasileiros canalhas ainda estão aí e nada mudou, alguns até ficaram mais canalhas como aquele Super 15 da Joven Klan - tampouco deixar que a direita mantenha o controle da narrativa inclusive dobrando na aposta da canalhice (com Trump usando isso como instrumento político para mover ainda mais sua agenda facista em defesa de perseguir 'inimigos').

Temos que ser mais imparciais e retratar o que aconteceu: Um bosta irrelevante que fez fama 'debatendo' (ou seja, colocando cortes na internet com suas lacrações enquanto ignorava perguntas ou fugia do assunto quando alguém de fato - e constantemente - o humilhava com a lógica) com universitários foi assassinado e o mundo continua a ser um lugar horrível.

16 de outubro de 2025

{Hallowsenhas para maiores de 18 de Quinta} Druuuuuuuuuuuuuuna

Druuna é um quadrinho que me assusta por mais de um motivo.

O primeiro é o motivo pelo qual eu tive que enorme dificuldade para escolher uma imagem para referenciar o material para quem nunca tivesse sequer ouvido falar e provavelmente pensasse que eu escrevi errado Duna ou Bruna o usei lá mais o quê.

Sim, é quadrinho erótico/pornô e a protagonista está em trajes sumários por boa parte do material - só que esse não é o problema. Manara também faz quadrinhos nessa toada, e o mesmo posso dizer de Crepax e outros tantos e tantos artistas que produzem material nesse estilo e gênero, e, a arte de Serpieri sem sombra de dúvida se destaca pela qualidade do traço e arte final que consegue criar tanto personagens quanto mundos que são ao mesmo tempo bizarros, alienígenas e ainda assim familiares.

O que acontece é que, bem, da amostra que eu li de Druuna - e eu confesso que não fui muito adiante - o material pende bem mais para a pornografia que erotismo (ao contrário dos exemplos do parágrafo anterior) e, não apenas ou mera pornografia, mas pornografia de estupro o que torna as cenas que envolvam sexo no geral bem mais desagradáveis de se ver - e talvez esse seja o ponto em si, criando um contraste com a arte produzindo uma protagonista estonteante que se vê vez após vez em cenas intragáveis de sexo.

Pra mim o limiar de tolerância não foi muito além da primeira história Morbus Gravis, até porque a parte narrativa não é muito melhor. O mundo é nojento, grotesco e, com exceção da protagonista Druuna, permeado por gente desagradável, detestável e terrível - e ao longo de pouco mais que 60 páginas desse primeiro volume (tá, eu acho que eu li ou passei por cima o volume 2, Delta, mas não é particularmente muito melhor nos argumentos que estou reclamando, talvez eu até ache que é pior no sentido de como toda cena de sexo seja de estupro).

Olha, eu não vou fingir que quadrinhos eróticos - ou que utilizem elementos mais pendendo para o eróticos - tenham roteiros estelares, brilhantes e incríveis. Talvez com a exceção de Black Kiss, não sei dizer se existe algum outro quadrinho que eu realmente me lembre com um roteiro mais elaborado ou minimamente escrito, e, Druuna não é exceção sob nenhum aspecto. 

Os personagens são rasos e geralmente as cenas são, como você pode esperar em pornografia, uma mera desculpa para que alguém acabe transando (sendo que, como eu comentei a pouco, esse sexo não seja consensual).

Então o material é mais repulsivo que erótico (de novo, o que talvez seja o ponto), mas existe um elemento que está intrinsicamente ligado ao universo da série, com um mundo de Mad Max mais perverso e violento que Mad Max (e com sexo), e, enquanto não funcionou para mim para criar um mundo e personagens interessantes (por mais que, como eu disse antes, seja um mundo e personagens visualmente interessantes), talvez seja algo que funcione para bastante gente, o que, não me parece tão absurdo considerando o quanto já esgotou e foi reimpresso.

E acaba meio que nisso uma vez que os personagens não são interessantes e a história não são interessantes ou empolgantes enquanto a arte que é o grande chamariz acaba criando mais cenário desagradáveis e repulsivos que efetivamente te engajando (ou compensando as falhas do roteiro no que tangem personagens e enredo).

Mas isso é terror para justificar uma Hallowsenha?

Bem, não tecnicamente - está mais para o erotismo ou pornografia - mas de fato é algo que me assusta bastante, saca?

Talvez a série melhor imensamente em volumes seguintes e eu esteja errado em minha avaliação do material, mas olha, não vamos fingir que nessas histórias que eu citei (Morbus Gravis e Delta) não aconteça uma quantidade enorme de estupros - eu acho que é em Delta que é apresentada uma garota careca que, a cada dois quadrinhos ela está sendo abusada por algum personagem diferente.

Porra, talvez a Itália dos anos 1970 fosse ainda mais machista que o Brasil de 2025, talvez um monte de talvezes, mas é muito difícil defender esse material pelo que ele apresenta, e, de novo, isso me assusta, saca?

A Pipoca e Nanquim lançou uma edição bastante cara em 2009 e, está esgotada com mais de uma reimpressão. Esse material já foi republicado diversas vezes no Brasil por várias editoras pequenas aqui e acolá (enquanto material bem mais interessante nunca viu a luz do dia ou está perdido em edições precárias, como Astrologia Divertida do Will Eisner que só saiu por aqui na revista DESTINO - que vale lembrar, sequer tem uma página própria da Wikipedia - da Editora Globo em 1991) e eu insisto que não consigo defender o material sob nenhuma luz ou perspectiva.

Não é inteligente, não é erótico, não é interesssante... Então qual é o ponto?

O ponto é que isso funciona para uma galera, né? Até tem uma galera que vai tentar justificar o contexto do estupro ficcional numa obra, mas é bem diferente quando uma narrativa que constrói e usa o assunto (Alan Moore trabalhou com isso em Watchmen e Monstro do Pântano, e Claremont lidou com o assunto durante sua passagem pelo X-men) mas existe sempre a diferença em lidar com um assunto e fetichizar sobre um assunto, o que, claro, depende e muito do talento do autor produzindo o material.

Além disso acho bem interessante que o ex-prefeito (e futuro presidiário, se houver alguma justiça) do Rio além de outros da patotinha dele viu problema numa hq com beijo gay consensual, mas ninguém da equipe dele pensou que uma série com retratos gráficos de estupro tenha qualquer problema. Curioso, né? 

Mas vamos combinar que eu já gastei tempo demais explicando ou falando sobre um material que não vale a pena tanta reflexão...? Passe longe.

9 de outubro de 2025

{Hallowsenhas} A Hora do Mal (Weapons)

Se existe algo que me assusta realmente sobre o filme A Hora do Mal é o quanto ele demonstra o anafalbetismo crítico e literário que se expõe com o filme. Eu perdi as contas de quanta gente viu a necessidade "explicar" o filme.

Não vou entrar em spoilers da melhor maneira possível, só que o filme tem várias cenas que dão as 'pistas' do motivo do que está acontecendo e mais tarde no filme ele expõe todos os elementos. Claro que o filme não explica cada detalhe (afinal não é uma obra de engenharia, a explicação fantasiosa não precisa de mais do que temos na tela...). Droga, e mesmo assim o filme mostra em detalhes "como" os eventos se dão (só, de novo, são uma lógica de fantasia e não de matemática).

Claro que existe um metacomentário afinal toda obra de terror opera com algum tipo de metacomentário de uma forma ou de outra, e, muitos filmes operam com muito mais do que apenas um tipo de comentário mais abrangente. Não é difícil ver nas obras de horror uma preservação de valores conservadores (não obstante a 'garota final' é a moça virgem que resiste às tentações), por mais que a patota conservadora odeie tanto os filmes de terror, e, nem é preciso muito para ver exemplos de críticas e xenofobia como plataforma, e, francamente o filme poderia buscar algum metacomentário diferente com uma narrativa diferente - se focasse somente na personagem da excelente Julia Garner de começo ao fim sem revelar categoricamente o que acontece com as crianças ou mesmo com os outros personagens do filme, bem, teríamos uma outra história completamente diferente e bem mais um suspense que um filme de horror.

Do jeito que está os elementos são apresentados ao espectador, e, honestamente se faz necessário um esforço hercúleo para não entender o filme (é extremamente mastigado).

A história segue um grupo de crianças que, uma bela madrugada, somem de suas casas o que inspira uma enorme revolta e indignação de pais e moradores de uma pacata cidade. A professora da sala destes alunos é imediatamente vista como a principal suspeita (ou ao menos alguém que sabe mais sobre o que aconteceu) e acaba perseguida e atormentada pelos familiares e moradores do local.

Esse não é o filme, no entanto - na verdade se você olhar o poster, esse parágrafo meio que resume o que está ali - e essa é apenas a primeira de seis partes que acompanharão outros personagens (um dos pais, um policial, um drogado/morador de rua, o coordenador da escola e o único garoto da turma que não desapareceu) onde todos os demais elementos serão explicados - pouco por vez nestas partes que se seguem, e, concluindo no capítulo final em que se resolvem os eventos.

A conclusão, pra mim, falha em alguns elementos (e talvez eu seja o problema pois eu me vi rindo e me lembrando mais de um filme de comédia do Mel Brooks que efetivamente investido na cena que estava se desfraldando), mas não diminui o material.

Quer dizer, é decente no geral - longe de algo como Pecadores ou A Substância que tem algumas cenas realmente incríveis e consegue trabalhar brilhantemente a construção de personagens e elementos, além de servir a um metacomentário bem mais interessante - e, de novo, talvez o problema seja eu especificamente que olhei para a solução (ou o monstro se você preferir) que o filme apresenta e achei 'meh'.

 Se você não quer saber qual é o monstro do filme e qual a solução pare por aqui na área sem spoilers e assista ao filme para suas próprias conclusões.

Pra mim não funcionou, ainda que eu considere o filme bem amarradinho, com ótima direção e excelentes atuações (principalmente da Julia Garner e o Josh Brolin).

Nota: 7/10 

 

Ok? Aqui vamos com os spoilers:

 


O monstro do filme é uma bruxa (que é quem sequestrou as crianças e quem causou todas as coisas bizarras que ocorrem com os outros personagens durante todo o restante do filme), e, como eu disse, isso não funcionou muito bem para mim.

Não vou questionar as escolhas (a atriz nesse papel é muito boa ainda que a maquiagem utilizada - tá, é impactante e chama a atenção, isso eu tenho que concordar - mas faz com que ela pareça que saiu de uma orgia exclusiva com palhaços e não se limpou depois), e, honestamente acho que tinha como trabalhar a ideia geral de maneira mais interessante de outra forma (eu curiosamente fiquei pensando no Flautista de Hamelin e como isso serviria com um metacomentário de manipulação de massa) mas, é, o vilão do filme é uma bruxa com uma maquiagem bizarra.

E não é que ela não seja ameaçadora (de novo a atriz é excelente e suas cenas são fantásticas mesmo com a maquiagem bizarra), é mais que pra mim não funcionou e o final eu achei particularmente ruim (de novo, me lembrando do final de Banzé no Oeste com a bruxa fugindo e atravessando casas enquanto o caos se segue - mas até pela forma um tanto exagerada e caricata com que a atriz conduz esses momentos finais). 

2 de outubro de 2025

{Hallowsenhas} Marvel Zombies Ate My Neighbours!!! e Alien: Mother Earth

Duas resenhas em uma para dar início às Hallowsenhas do especial de horror (?) para o mês de Outubro.

Começando com Zumbis Marvel, que, apesar do mesmo nome da série de Robert Kirkman de 2005 é bem diferente e não apenas por se tratar de Zumbis no MCU, mas pelo fato que, bem, parece apenas mais um episódio daquela outra animação da Marvel, o What If só que mais longo (e serializado).

E com roteiro de Zeb Wells (lembra da semana passada) você já sabe que não pode esperar lá muita coisa, até porque pelo menos o Robert Kirkman contextualiza o universo Marvel dominado pelos zumbis, Wells liga o foda-se e vai pra vigésima temporada de The Walking Dead e parte para cenas de ação atrás de cena de ação (por mais ridículas e absurdas que sejam - mas, ao contrário do MCU com bem mais violência até para justificar a alcunha de 'terror') com o pior tipo de diálogo constrangedor que você viu dos últimos filmes da Marvel (ou provavelmente não viu porque as bilheterias vem caindo filme após filme) para que talvez distraiam seu cérebro reptiliano por tempo suficiente para não perceber que não é interessante (e você poderia assistir a algo bem mais legal como Olhos Sobre Wakanda - só pra manter no Universo Marvel - ou, sei lá, Andor - só pra manter na Disney ou Alien: Terra, mas isso vem mais tarde).

O material é curto com apenas quatro episódios (ainda que seja uma extensão de uma ideia que já estava lá no primeiro What If (inclusive com boa parte do elenco original dos filmes) - e bem melhor nos 32 minutos porque o título inclusive é bem mais acurado com zumbis de fato enquanto aqui é sobre o Hulk possuindo o poder das jóias do infinito enfrentando a Feiticeira Escarlate enquanto existem zumbis no universo Marvel (só que, sabe, sem praticamente nenhum dos astros ou estrelas mesmo).

Então se você quer MESMO ver algo de quadrinhos com monstros e tem preguiça de ler o quadrinho do Robert Kirkman que está incluído no Kindle Unlimited e não quer também se dar ao trabalho de ver a série What If (que tem um episódio focado exatamente nos Zumbis na Marvel - e é bem melhor, além de mais curto) ou a série Comando das Criaturas da Max, bem, você é preguiçoso(a) e tem mal gosto então não existe muito propósito em te recomendar alguma coisa, não é mesmo?

Mas honestamente se isso se aplica a você, talvez você se divirta mais assistindo à novela Mutantes da Record. Eu acho que vai combinar mais com seu estilo...


Se você tem bom gosto, então vamos pra segunda resenha e Alien: Terra é o assunto, e, eu tenho dificuldade para formar uma opinião diferente de meh.

Eu sei que a ideia de tirar o Alien do espaço e trazer para a Terra não é nova (e na verdade faz parte dos quadrinhos e do crossover com o Predador) e quer dizer, o material é bem feito no geral e as cenas são tensas com algumas cenas realmente assustadoras, e você tem o criador da série Fargo no roteiro o que ajuda, mas, bem... Tem as cenas em que não são apenas similares a outros filmes mais famosos (e populares) da franquia como são idênticas às cenas de outros filmes mais famosos da franquia, e, vale lembrar, que são bem melhor feitas naqueles filmes de quarenta ou mais anos atrás!

Mais que isso você cai no problema que a franquia criou para si mesma com Prometheus e suas continuações tentando explicar toda uma série de coisas que não fazem sentido ou são interessantes ou, mais importante, funcionam para uma franquia de um alienígena babento que mata pessoas no espaço. 

"Ah, mas é a melhor versão de Alien desde..." eu sei e eu já estou cansado de ouvir essas coisas. Tem franquias que deveriam ser esquecidas quando todo o argumento na defesa dos últimos projetos por serem melhores que x outros na franquia que foram decepcionantes (sabe como Exterminador do Futuro, Predador, Sexta-Feira 13, Halloween e mais uma dezena de outras continuações/reboots produzidos nos últimos vinte e poucos anos).

Se não existe mais nenhuma nova história para contar com esse particular personagem, não seria melhor apresentar algo novo...? Eu sei, eu sei, essa ideia é mais assustadora para executivos que qualquer franquia ressuscitada que Hollywood poderia sequer cogitar em ser.

E eu sei que, tecnicamente não é ruim - ou mesmo tão ruim quanto parece pelos meus últimos parágrafos - é só que é tão dependente de filmes que são extraordinários justamente por serem inovadores, que é uma traição para eles tornar seu legado formulaico e repetitivo. 

25 de setembro de 2025

{Resenhas x Quinta} Deadpool de Batman 1

É ruim.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que? Eu tenho que elaborar mais?

É muito ruim. Puta merda eu acho que não consigo pensar em um crossover pior do que esse que eu tenha lido (o que obviamente exclui o crossover do Justiceiro com a turma do Archie ou Meu Pequeno Pônei e Transformers - que eu até hoje não sei se é só uma piada da internet) ou mesmo em outras mídias como Fred vs Jason ou Os Simpsons se encontrando com uma Família da Pesada.

Isso consegue ser pior porque não tenta disfarçar em momento algum o quanto é meramente comercial com a tentativa de atrair a atenção de fãs e dane-se todo o resto, no máximo fingindo que as tiradas do Deadpool para quebrar a quarta margem justamente dizendo que isso é uma ideia estúpida justifique e fica por isso mesmo.

Zeb Wells é um péssimo roteirista (e essa é só a última de suas produções preguiçosas e ruins), a arte de Greg Capullo produz algo protocolar sem o mínimo esforço ou consistência e isso é basicamente o fundo do poço da falta de criatividade corporativista caindo num ciclo interminável de um vácuo contínuo de falta de qualquer mínima perspectiva de ideias novas para atrair o interesse público então produzem algo com personagens facilmente reconhecíveis para se enfrentarem com roteiro preguiçoso e previsível até a última página para promover algum próximo mega evento ou ao menos a próxima edição ad infinitum.

A """história""" coloca o plano genérico Y do Coringa em prática que o faz contratar o Deadpool para mater o Batman (porque o Deadpool e não o Exterminador, Pistoleiro ou até mesmo o Sanguinário...? Quem se importa?) e depois dos dois se desentenderem no telhado da Polícia de Gotham (com o Deadpool ameaçando o Comissário Gordon), obviamente, o Batman aceita a ajuda do mercenário bocudo em um plano ridículo para deter o Coringa (porque aceitar a ajuda do Deadpool ao invés de prendê-lo por ser um assassino por recompensa e sabe, chamar um dos diversos aliados como Robin, Asa Noturna, Batgirl ou... Já sei, já sei, quem se importa, né?).

Eu acho que já gastei muito spoiler aqui (ainda que não valha a pena se importar com esse conteúdo), e honestamente nem sei se vale a pena gastar mais qualquer parágrafo explicando mas eu preciso citar um exemplo do patético roteiro de Zeb Wells para ilustrar o que estou falando: "Mas eu vejo suas intenções... escritas sob o tecido da minha cidade" essa verborragia extremamente dramática ridícula que vem dos recordatórios do Batman é interrompida por Deadpool literalmente quebrando a quarta janela para iniciar a história e tudo segue da maneira mais estúpida e clichê que seria cômico se o roteirista fosse minimamente competente.

O que é curioso porque podemos olhar para o manifesto de Grant Morrison nos anos 2000 para o início de nova fase dos X-men e, entre suas muitas ideias, está lá em alto e bom som que os quadrinhos estadunidenses estavam estagnados (em 2000) de boas ideias se retraindo num mundinho de mesmos personagens truncados em 30+ anos de cronologia masturbatória (o que é inclusive curioso pois Morrison deve ser o autor da próxima edição desse crossover, diga-se de passagem). E eu nem vou citar o crossover entre os Jovens Titãs e os X-men dos anos 1980 que é simples e eficiente em promover um encontro entre os dois grupos, ou, pouco depois do manifesto de Morrison, o crossover entre a Liga da Justiça e os Vingadores porque, bem, se eu ficar lembrando dessas histórias talvez eu não consiga terminar de falar dessa história ruim aqui...

É curioso, inclusive, no quanto a história parece não entender nem do Batman e nem do Deadpool, mas eu honestamente não acho que vale a pena entrar nesse meandro (mas droga, o morcegão aceitando a ajuda de um sujeito que minutos atrás estava tentando matá-lo e inclusive oferecer carona para ele no batmóvel é ridículo demais - e o Deadpool trabalhando da mesma forma que em histórias ruins do Rob Liefeld na X-Force consegue ser pior que o material do próprio homem que não sabe desenhar pés). Zeb Wells gasta boa parte do """roteiro""" com piadas que fariam o Joe Rogan parecer um comediante em comparação e tudo termina de maneira ridícula para deixar claro que terá mais, e, literalmente já tem mais...

A edição termina com histórias de back-up escritas por outros autores com a parceria de diversos personagens como Krypto o Supercão e Jeff, o tubarão terrestre jogando volei ou Frank Miller em sua pior forma (e eu tenho minhas dúvidas se ele não desenhou segurando o lápis com seu orifício anal), numa breve história de três páginas que não vale o papel (a tinta ou os anos de terapia para discutir o que diabos foi isso), e sobram outros materiais entre dispensável, repeteco de algo muito melhor feito por Kurt Busiek em JLA/Vingadores duas décadas atrás e o que diabos que uma amálgama entre Lobo e Wolverine possa ser.

O encontro entre Arqueiro Verde e Demolidor é a única história com um pingo de potencial e que renderia um bom caldo num crossover que me parece que vários leitores de fato gostariam de ler e que é de fato interessante (mesmo se não particularmente inteligente - ainda que em comparação...).

...

E essa vai ser a hq mais vendida do ano, né? Alimentando diversos outros projetos semelhantes e igualmente marqueteiros com a mera ideia de reunir personagens que não combinam ou fazem sentido - mesmo quando, se fosse a bosta do propósito reunir personagens das editoras pelo menos fazer uma reunião coerente como o Deadpool e o Pacificador pelo menos!

Depois a gente não entende porque o público se afasta cada vez mais do mercado de quadrinhos, né?