Pesquisar este blog

17 de julho de 2025

{Resenhas de Terramar} O Feiticeiro de Hogw... Digo, Quinta.

Eu confesso que após a tentativa de ler esse que seria o meu terceiro livro de Ursula Le Kun, eu ainda não consigo gostar particularmente do estilo narrativo da autora, ainda que aqui eu tenha particularmente mais críticas que nas outras obras.

Acredito que ela tenha ótimas ideias e consiga explorar conceitos interessantes, porém eu não vejo um fluxo narrativo cadenciado que desenvolva essas ideias e conceitos, e, principalmente no que vejo nesse que é o primeiro livro do 'Ciclo Terramar', me parece uma construção deficiente de personagens de forma que fica difícil investir em seus sentimentos e decisões. Muitos dos capítulos me pareceram mais esboços que efetivamente finalizados e os eventos parecem uma rápida sucessão sem efetivo desenvolvimento (ou recompensa).

O livro narra a história de Ged/Gavião que é um garoto prodígio no caminho da magia e se vê a caminho de uma escola de mágica onde encontra um rival que constantemente o desafia enquanto é perseguido por um terrível mal que quer destruí-lo... E enquanto eu escrevo esse resumo eu entendo o quanto ele se parece com o primeiro livro da série Harry Potter...

Tem um capítulo em que o protagonista depois de deixar a escola de magia está cuidando de sua vida enquanto feiticeiro e resolve que deve confrontar um terrível dragão ancestral que vive em uma das ilhas sob seus cuidados para proteger a população insular. Esse dragão teve um número considerável de filhos, e, essa que facilmente seria uma ameaça para uma livro ou mesmo uma série de livros é resolvida em pouco mais de dois parágrafos. Em duas linhas o herói derrota quatro dos dragões (tá, filhotes mas não muda o fato que ele derrota vários dragões num intervalo de um parágrafo...) e em pouco mais de texto ele derrota o grande dragão ancestral, e esse evento mal funciona como nota de rodapé para uma série de outros fatos descritos no livro.

Só que a brevidade de um evento gigantesco como esse (que facilmente seria o clímax em outra história), não leva a maior desenvolvimento do personagem ou contextualização em seu mundo. Ele derrota o dragão e parte para enfrentar uma nova ameaça - e nem necessariamente uma ameaça maior ou mais interessante -, vida que segue.

Enquanto particularmente isso não seria ruim numa estrutura episódica e que é bastante comum, diga-se de passagem, com contos menores que podem ou não se intercalar e compor uma história maior, não é o que a autora tenta fazer aqui, porque isso faz parte da jornada do personagem... Só parece vazio mesmo. 

A autora tenta contextualizar um mundo mágico maior e mais complexo enquanto não oferece maior detalhamento nos personagens, suas ameaças ou decisões... Temos o dragão (já mencionado) mas outras ameaças que aparecem e somem sem nenhum impacto direto ou repercussão em capítulos seguintes, temos personagens secundários que parecem importantes (como o mentor ou o melhor amigo - que inclusive a irmã mais nova dele é interesse romântico, e puta merda a J K Rowling chupou um monte disso pra Harrry Potter, né?) e mesmo as motivações individuais de Ged/Gavião que pouco ou nada são desenvolvidas ao longo do livro.

Quer dizer, ele demonstra emoções e racionaliza suas ações ao longo do texto, mas nunca parece alguém tridimensional e que efetivamente toma essas decisões além de por necessidade narrativa e não algo orgânico e compreensivo pela narrativa (eu poderia voltar à história do dragão e martelar de novo nesse ponto pelo fato até que o monstro ancestral oferece ajuda ao problema maior para Ged, mas, uma vez que a história exige que ele lute sozinho capítulos mais tarde, ele recusa qualquer auxílio).

E é aqui onde, com maior desenvolvimento dos personagens (e não apenas a racionalização de suas ações) que Harry Potter suplanta os problemas que Ged/Gavião possui. O mundo de Terramar parece frio e estéril, mais como um Atlas ou livro de História explicando o que o personagem e os eventos no lugar de oferecer uma construção narrativa que desenvolve esses eventos, pessoas e fatos.

Talvez o problema resida no fato que eu li Harry Potter e outros livros mais contemporâneos de ficção antes de ler o primeiro livro de Terramar? Até poderia aceitar essa premissa SE eu não tivesse lido material mais antigo como Phillip K Dick, Robert E Howard ou Octavia Butler e achasse o mesmo (ao mesmo tempo que lido material de John Scalzi e pensado em como ele continua a produzir livros sendo tão ruim)...

O problema aqui não é a contemporaneidade da fantasia contra um material mais antigo e talvez até datado, mas a diferença entre um estilo de uma autora que ainda que tenha grandes ideias não tentou desenvolvê-las de maneira orgânica e gradual e faz algo mais próximo de um relato documental (que até me lembraria algo que Tolkien faz no começo de O Senhor dos Anéis que até lembra um documentário de natureza sobre o Condado, mas, verdade seja dita mesmo que eu não goste tanto assim do autor, ele faz isso com bem mais estilo também - só que, e isso é importante, os personagens de Tolkien são bem desenvolvidos e construídos).

Eu comprei os demais livros da série e pretendo prestigiar o trabalho excelente da Morro Branco - em capa dura com arte de Charles Vess - e espero que melhore conforme os demais capítulos permitam que a autora desenvolva melhor seu argumento e personagens.

Vamos ver.

Por enquanto, vale mais pela curiosidade que qualquer coisa. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário