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14 de julho de 2024

{Editorial} A lista de 100 melhores livros do século XXI do NYT

Eu confesso antes de mais nada, que eu não li nem 1/3 da lista. Não conheço vários dos autores mas, mais importante, eu concordo com boa parte dos livros que eu li e com suas posições.

Franzen, Ishiguro, Bolaños e Ferrante no Top 10 são merecidos demais e incrivelmente justificados (mesmo que, eu tenho que admitir, eu não tenha lido o livro que está no topo do ranking), outros livros que estão ali realmente merecem ao menos uma menção pela sua relevância (como Persépolis que honestamente eu não acho que é tudo isso - um material que desde seu lançamento é comparado com Maus e não está nem no mesmo código de área, pra não dizer patamar).

Acho que tem alguns erros estruturais com alguns autores com mais de um livro (incluindo Bolaños e Ferrante) enquanto vários autores não fazem a lista (Umberto Eco, Javier Cercas, José Saramago e principalmente, Mia Couto que é na minha humilde opinião, a omissão mais gritante), ainda que eu entenda que estes autores sofrem com problemas de tradução para o inglês. Uma frase perfeitamente contruída em espanhol ou português pode sofrer horrores numa tradução literal produzida às pressas para entregar um paperback baratinho e que muita gente não leria (inclusive por preconceito). Sabe como é, né... Se Machado de Assis fosse chamado 'Axe de Assis' não demoraria tanto tempo para ficar conhecido no exterior.

Fica pior nesses casos quando o próprio NYT lança uma lista das 'omissões' colocando Stephen King (PQP) ou Joe Hill (caralho se tem um autor mais superestimado que ele, eu não conheço ou quero conhecer) e não cita nenhum desses autores do parágrafo anterior e que eu facilmente citaria mais vários outros, inclusive nos quadrinhos que só tem duas citações (Fun House e Persépolis - um dos quais que já comentei) e a lista de material mais interessante é beeeeem maior. Droga, eu consigo citar uns 10 títulos excelentes fácil, fácil, começando com Monstros de Barry Widsor Smith que é uma obra-prima, e quase qualquer coisa do Chris Ware mas Building Stories é algo tão assustadoramente avant-garde com 87 bilhões de formas de ser lido que chega a ser absurdo nem ao menos mencionarem (ainda que ele trabalhe para o New Yorker, e talvez isso explique porque o NYT não queira reconhecer o sujeito que trabalha para o rival?) mas ainda tem Jeff Lemire com seu Condado de Essex ou O Soldador Submarino, Tom King com O Xerife da Babilônia ou Senhor Milagre) mas vamos ser honestos, a galera que vota numa lista que acha que Joe Hill foi ignorado com toda a certeza vai torcer o nariz para quadrinhos a menos que não seja uma unanimidade...

Tem alguns que eu genuinamente não acho que deveriam estar ali (A Estrada de Cormac McCarthy é um exemplo que sempre achei superestimado) mas aí pode ser mais questão pessoal, e, pensando que essas listas acabam com perspectivas tendenciosas e opinativas, eu aceito que meu viés contra o livro/autor não necessariamente é mais significativo que o viés de quem definiu que o livro é brilhante, e demonstra que parte do viés existe pelas listas de mais vendidos do próprio New York Times... O que é bizarro quando outros livros bastante populares são irremediavelmente ignorados (Sabe, Harry Potter, saga Crepúsculo e mesmo Collen Hoover).

E honestamente acho que esses debates pontuais podem levar justamente ao tipo de discussão boba e rasa (e aquelas conspirações de gente idiota que acha que o fato de ter um autor negro ou algumas autoras mulheres no topo da lista são sinais de politicamente correto e alguma bobagem do tipo). A lista é boa em despertar interesse em autores e livros que muita gente provavelmente nunca tenha ouvido ou se dado ao trabalho (como disse, eu se muito li 1/3 da lista e estou bem interessado em buscar aumentar esses números).

Até porque, no final do dia, toda lista sobre entretenimento será subjetiva, aberta a interpretações e longe de perfeita... O que importa mesmo é que ofereça ao leitor conhecer novas obras, e, isso eu acho que a lista faz muito bem.

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