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13 de julho de 2024

{Deixa eu te explicar...} O(s) problema(s) do futebol brasileiro

Depois da (nova?) performance ridícula da seleção brasileira, que honestamente é sempre uma alegria de se ver ao fazer otário que coloca a camiseta amarela para se dizer 'patriota' ver o quão baixa está a moral do plantel eu acho que além das gargalhadas ao ver a disputa de pênaltis cabe uma análise se não aprofundada, pelo menos, bem, menos raivosa e cuspindo perdigoto que do tiozão do Felipe, Neto.

Podemos fingir que os problemas são simples e que é culpa do técnico, que é culpa do Neymar ou que é culpa do Lula criticar o Campos Neto. Mas a verdade é que, como não é díficil imaginar, é a gestão patética da CBF que vem de décadas como uma organização muito mais mafiosa (com donos de helicópteros de cocaína e corruptos que ficaram 5 anos presos nos EUA - e co-responsável pelo assassinato de Vladimir Herzog - assim como outros bandidos desviando dinheiro da FIFA e da CBF) que efetivamente uma agremiação futebolística. O que, sejamos honestos, não chega a ser surpresa quando esses caras sugeriram o Dunga como técnico (e não foi uma piada).

E enquanto estamos falando da grande confederação do futebol brasileiro, temos que lembrar que na estrutura dos clubes não é exatamente melhor. Jogadores ligados ao tráfico de drogas, dirigentes associados com jogo do bicho e outros crimes e toda uma gama de desvios, mau gerenciamento (e fraudes de todo tipo imaginável - como as fraudes de pirâmides de bitcoin e seja lá o que o Ronaldinho Gaúcho foi fazer no Paraguai com documento falso que com toda a certeza foi criminoso).

Mas é essa estrutura de gente incompetente, despreparada e criminosa gerindo a entidade maior do futebol do país que mantém todo esse gigantesco amadorismo em todos os passos da estrutura e que efetivamente prejudica todo o processo. Enquanto o Manchester City tem mais de 20 pessoas na comissão técnica (sendo um videoanalista, dois analistas de jogo e um analista de adversário - ou seja, 4 analistas pura e simplesmente - o que é maior que a comissão técnica de vários times da série A brasileira), um número que é superior à seleção brasileira mal chega em 19 incluindo três médicos e uma psicóloga (que, a equipe inglesa além de ter bem mais gente ainda conta com dois cientistas esportivos - e esses números não são tão diferentes do que vemos no Newcastle, que é um time que nunca venceu a Liga dos Campeões ou o Mundial de Clubes pra todos os efeitos).

Isso é o que infla a folha de pagamento principalmente com salários de jogadores em todo o processo enquanto não permite ou oferece condições de gerenciamento para profissionais competentes (como estatísticos, economistas ou analistas de dados e não apenas mais algum velhaco perna de pau que foi ídolo de algum time merda mais de quarenta anos atrás mas não tem carisma para se tornar comentarista esportivo), e formou um ciclo vicioso promovendo (não exclusivamente mas com toda a certeza em grande parte) atletas mimadinhos e extremamente bem remunerados mais preocupados com contratos e próximas empreitadas financeiras do que em, sabe, efetivamente fazer seus trabalhos de jogar bola porque em alguns casos (e é aqui onde o Neymar se aplica) eles ganham mais dinheiro fora do que dentro dos gramados.

Os clubes (não apenas) na Europa são geridos como empresas (e, sabe, gerir uma empresa COMO uma empresa é algo mais importante que gerir o governo como empresa, mas não vamos tentar discutir nada avançado demais aqui), com funções e profissionais visando permitir aumento de rendimento e competitivdade - porque não são os 11 bombadinhos chorando ao ouvir o hino que decidem sozinhos a bosta do resultado... Isso não é pelada de final de semana! Precisa de estrutura, precisa de pratrocínio, precisa de investimento e infra-estrutura em cada passo do caminho... Estádios modernos, contratos com patrocinadores e investidores, publicidade de marca (é, colocar a bosta do time e do campeonato nos jogos da EA ajuda a formar uma estrutura de marca tanto quanto vender camisetas, bonés e outros itens de merchandising, e você quer chutar qual confederação não tem seus jogadores ali...?) equipes trabalhando constantemente para garantir as melhores contratações e com profissionais para garantir que essas contratações produzam seus melhores desempenhos em campo. Droga, toda a questão da analíse estatística nos esportes vem desde bem antes do Moneyball (mas, vamos lembrar que o livro foi publicado em 2003 na sua primeira edição e isso já faz 21 anos).

Existe mais, obviamente, porque o jornalismo esportivo brasileiro também merece um generoso puxão de orelha para dizer o mínimo, ainda que mínimo seja uma boa palavra para descrever a competência no ramo (se bem que 'ínfimo' ou 'inexistente' talvez sirvam melhor), pois é uma área extremamente parcial, baba ovo e patética onde um cara como o Thiago Leifert prosperou por anos e ele ainda assim é vastamente superior a aberrações que vemos por aí como Milton Leite, Renata Fan e mais da metade dos programas sobre o assunto que vemos por aí - mais ou menos na linha que o Sérgio Malandro é melhor do que uma vasta proporção de humoristas no Brasil e isso nos mostra o triste estado do humor no país.

Você não precisa nem procurar muito para ver comentários e teorias de conspiração sobre a derrota na Copa de 1998 (para uma seleção francesa que foi finalista em mais três edições do torneio desde então - e que foi algoz do Brasil em 1986, ainda que, sejamos francos, as seleções europeias no geral são algozes do time canarinho em grande parte por quase tudo argumentado nos parágrafos anteriores), mas eu acho que a cereja nesse bolo de merda que é o jornalismo esportivo brasileiro com toda a certeza é a final do mundial de clubes de 2011 quando Santos e Barcelona se enfrentaram.

É bastante difícil de encontrar os programas esportivos da época (até porque os comentaristas podem não ter vergonha de dizer absurdos ao vivo em rede nacional mas eles se esforçam para somente para manter o viés de quando estão certos e esconder seus comentários quando estão mais errados que um relógio sem ponteiros), mas se você encontrar alguma coisa da Band da época não será difícil ouvir coisas no tom de que "o Messi estava velho e na hora de aposentar pois havia chegado a hora do Neymar", e enquanto a Globo e Sportv seguiam basicamente a mesma ladainha (ainda mais com Galvão Bueno na época), o tom das emissoras da família Marinho eram menos críticas de Messi e mais infladas do ego da 'joia'. A Band pregava que tanto Messi quanto Guardiola estavam com os dias contados (e tanto um quanto o outro só acumularam títulos na década que se passou - enquanto Neymar é citado mais em coluna de fofoca que no jornalismo esportivo), consagrado com o 'Vamos ver se o Barcela é isso tudo'

O resultado, obviamente, o Barcelona (que era grande parte dos astros da seleção espanhola vencedora da Copa do Mundo de 2010 com auxílio do melhor jogador do mundo e com o técnico mais vencedor da história do esporte) atropelou o Santos com um 4 a 0 (que não passou disso porque ficaria feio demais para a final ter um resultado mais elástico que a semi-final - que também foi 4 a 0 - e até soaria desrespeitoso com o torneio), e mesmo assim pegou muita gente de surpresa.

Mas não esqueçamos, é claro, quando um comentarista esportivo da Joven Pan em 2020 para criticar o futebol brasileiro quis arrematar com um chavão idiota (típico de jornalista despreparado e incompetente, mas, sejamos francos, o cara trabalha na Joven Klan, o que mais esperar?) "Mas o que se esperar de um país que não tem um Nobel ou um Oscar...?"

Esse jornalismo incapaz de criticar ou fazer uma analíse fria e baseada em dados, fatos e estatística é o que fica vendendo conspirações para explicar os fracassos consecutivos e simultâneos de uma seleção que não consegue se renovar porque é mal estruturada e tem uma base patética. Não foi o fato de arrumar o meião, não foi a convulsão, não foi a falta de psicólogo para acompanhar a equipe (que gastou milhões para comer carne temperada com ouro - mas não podia bancar uma consulta online do próprio bolso), droga não foi nem o fato do Dunga ser burro como uma porta, extremamente arrogante e incompetente e explicitamente uma personificação do efeito Dunning Kruger (ainda que nada disso ajude, é óbvio)...

Até porque se essa galera cobrasse mais transparência nos processsos - que vão desde a óbvia incoerência entre empresas de apostas patrocinarem não só times como o campeonato todo, e isso não é visto como conflito de interesses, até o fato que o Felipão ganha dinheiro oferecendo palestras motivacionais sobre a mais vergonhosa demonstração de incompetência de um profissional que deveria ser de alto nível, passando pela brutal e assustadora falta de empatia de um clube que É RESPONSÁVEL pela morte de 10 jovens - talvez, só talvez, essas empresas se responsibilizariam a ponto de começar um processo de mudança de maneira gradativa e real que efetivamente melhore o processo todo.

Claro que não é fácil corrigir décadas de problemas e amadorismo em uma organização mafiosa, e bem provavelmente existam muitos outros problemas em maior ou menor escala que sejam tão ou mais importantes. E claro que alguém pode citar que em 1994 ou 2002 quando a seleção ganhou as copas do mundo a CBF era tão corrupta quanto hoje (talvez até mais), ao que eu discordo veementemente que não foi um problema.

Enquanto o futebol europeu se profissionalizou na década de 1990, erradicando os problemas de brigas de torcida, hooliganismo e de certa forma gourmetizando os estádios e o futebol (mudando estruturalmente a visão de que o torcedor deve ser o idiota skinhead que vai para brigar para o pessoal que leva a família para uma experiência social agradável), a CBF ficou parada no tempo, inerte a todo esse problema que só foi crescendo por aqui. As brigas de torcida no Brasil foram ganhando cada vez mais proporção na década de 1990 e 2000 e cada vez mais afastando o público, chegando em pontos que cada vez mais clubes precisam distribuir ingressos para chegar a um estádio minimamente cheio...

Mesmo assim precisando de uma enorme estrutura de segurança para garantir que torcidas organizadas não vão se enfrentar em raios cada vez maiores (e ainda assim conflitos acontecem), continuando a afastar famílias de eventos esportivos.

Mas isso talvez seja utopia demais e o futuro seja apenas esperar o Paquetá como comentarista esportivo ao lado de alguma modelo decadente no horário do almoço...

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