Eu confesso que tenho sentimentos confusos sobre os livros de Ray Bradbury.
Já li um bocado de coisas dele, e enquanto acho seus livros bastante criativos e imaginativos, eu também passo um tempo em alguns livros perdido sobre o ponto ou a razão de existência de suas histórias, como no caso de 'A morte é um negócio solitário' que faz parte da trilogia de Hollywood (o que quer que isso signifique).
Mas eu gosto mais das histórias de ficção científica do autor ou ao menos que tangenciam o fantástico e bizarro (como do Homem Ilustrado ou mesmo Farenheit 451), quando o autor tenta algo mais coeso e próximo da lógica de mundo real numa estrutura detetivesca noir, bem, pra mim não funciona, e honestamente nem acho que seja só pra mim.
Em partes não funciona porque o mistério não é interessante, os personagens não são interessantes, os eventos não fluem de maneira interessante...
Tá, o protagonista encontra um cadáver dentro de uma jaula depois de uma conversa estranha que ele teve numa viagem de trem (parece algo interessante, certo?), mas além do fato que o protagonista não tem o menor motivo para se importar com a história toda - ou analisá-la e investigá-la porque ele é só um autor passando fome e tentando fazer seu nome no mercado editorial e, mais importante e relevante para o argumento de não ser interessante, ele sequer conhece a vítima ou tem algum motivo pessoal para se ver interessado no caso todo.
Tem uns 'capítulos' (não sei se é correto chamá-los assim uma vez que o livro não é dividido em capítulos, estão mais para sessões) sobre o protagonista encontrando personagens como uma uma mulher que vendia canários décadas atrás (e nunca vendeu nenhum) ou uma mulher obesa que canta ópera ou toda uma longa quantia de coisas que não tem nenhuma real conexão com o mistério principal ou agrega algo de interessante a esse mundo, às motivações do protagonista ou a qualquer outra coisa.
Só arraaaaaaaaaaaasta a história páginas e páginas, produzindo algo insosso, desinteressante e sem impacto. De novo, eu ainda não sei qual é a motivação do protagonista - mesmo se mera curiosidade mórbida ou o potencial de ganho por narrar a história e vender para alguma publicação.
E eu sei que eu costumo falar muito que o livro (ou filme) se beneficiaria com uma edição e ou (muitos) cortes, mas, francamente... Do mesmo autor temos Farenheit 451 (que é um dos maiores clássicos da literatura do século XX) tem 216 páginas, Crônicas Marcianas (que traz um assunto bem mais interessante sobre a colonização de Marte) com 296 páginas e O homem ilustrado (que apesar de mais páginas se trata de uma antologia ligada por um fio comum, então você tranquilamente pode pular uma que não pegar seu interesse) com 320 páginas, e os três são muito melhores que esse livro com 305 páginas de um mistério nada interessante.
Livro parnasiano (bem escrito, frases bem construídas), mas só osso, sem substância.
Não recomendo, e não consigo imaginar a perspectiva de ver os próximos volumes da trilogia...
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