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5 de setembro de 2024

{Resenhas de Batman} Bruce Wayne: Assassino ou Fugitivo?

Bruce Wayne Assassino foi a primeira grande saga do Batman publicada no século XXI após a longa saga Terra de Ninguém (que eu comentei antes) e com a equipe criativa de Ed Brubaker e Greg Rucka, que conduziam os principais títulos do personagem em 2002.

A saga começa em uma edição promocional que foi vendida por 10 centavos de dólar resumindo a história do Batman assim como os eventos recentes (que o personagem estava lidando com uma guarda-costas de nome Sasha Bordeaux, que descobrira sua identidade secreta e estava pulando telhados e caçando criminosos como a nova parceira-mirm do morcegão, além da tentativa de assassinato de Gordon que o tirou do posto de comissário), enquanto apresenta a premissa e o caso: A ex-namorada Vesper Fairchild aparece morta na mansão Wayne, enquanto o bilionário estava pulando telhados e caçando criminosos fantasiado como um morcego.

Basicamente a premissa inverte uma série de ideias de mistérios policiais, ao nos deixar claro que o principal suspeito (Bruce Wayne) não é o criminoso, mas que para provar sua inocência ele precisaria abrir mão de sua identidade secreta (algo que o verdadeiro criminoso gostaria que ele fizesse), e isso serve como um contraste considerável ao que vinha acontecendo na Marvel por volta da mesma época, com as identidades secretas sendo reveladas (voluntariamente como o Homem de Ferro e de maneira forçada como com o Demolidor).

No entanto, bem, o planejamento não é exatamente o melhor ponto da narrativa após o primeiro mês.

Começa extremamente sólido com Bruce Wayne acusado, preso e seus aliados investigando e em conflito sobre a possibilidade dele ter ou não cometido o crime. Tudo extremamente sólido e talvez uma das melhores histórias do Batman de todos os tempos.

Aí ele foge da cadeia e o negócio degringola.

Batman foge da cadeia, ignora completamente a existência de Sasha (que continua presa como cúmplice do crime), ignora a identidade de Bruce Wayne e deixa a investigação de quem tentou incriminá-lo completamente de lado, enfrentando novos vilões idiotas como o Funerário (sim, um agente funerário que cria zumbis - não pergunte) e Nicodemo (eu acho que eu preferia falar do Funerário) enquanto a agência de espionagem Checkmate opera em Gotham investigando o tráfico de cocaína. Tem mais uma série de coisas que eu deixei de lado (por exemplo, coincidentemente enquanto Bruce Wayne está foragido um policial moribundo chama o Batman para ajudá-lo a concluir a investigação da morte de Thomas e Martha Wayne), mas são histórias que talvez nem sejam tão ruins se fizessem parte de outro momento narrativo, preferencialmente fora de um ponto crucial em que o protagonista precisa provar a sua inocência de um crime que não cometeu e encontrar o resposnável.

Enquanto isso, Alfred, Asa Noturna, Robin, Oráculo e a nova Batgirl (Cassandra Cain) continuam a investigação e essas histórias são bem melhores que essa bobagem de vilões novos e ameaças não relacionadas. E aqui a história acaba dando voltas ao redor do próprio rabo conforme os cinco constante e repetidamente se perguntam se é possível que Bruce tenha cometido o crime afinal de contas.

Isso até funciona no começo - enquanto ele está na cadeia e as evidências são esparsas e cada um dos personagens começa a montar as peças do quebra-cabeças - mas depois de meses com tudo apontando ao contrário desde o começo, vai só cansando... Ainda mais quando são 610 páginas da primeira metade da história (Assassino?) e mais 418 páginas da segunda parte (Fugitivo) e essencialmente 5 meses de histórias em vários títulos com poucos e mínimos avanços nesse intervalo todo.

Por um lado é interessante que os avanços sejam poucos e graduais para demonstrar a qualidade e capacidade do autor do crime - e para montar as peças do quebra-cabeças, inclusive permitir que o leitor consiga resolver por conta própria quem é de fato o assassino.

Por outro, conforme a própria narrativa se perde em desvios e mais desvios (cada vez menos ligando para o autor do crime e suas motivações), fica difícil manter o interesse, e, mesmo que a conclusão seja coerente e, eu diria bastante sólida, a falta de foco faz com que das 1000 páginas das duas edições tenham pouco mais de 1/3 de material efetivamente pertinente para a história.

Eu não quero dar spoilers da história ou identidade do real criminoso (então vai um conselho pra quem se interesse em ler, não confira as capas das edições que fazem parte do material antes de ler), mas tenho que dizer que para quem pegar para ler a partir desse ponto, ainda que a história faça um papel considerável para situar os leitores dos eventos da editora na época como a já mencionada aposentadoria de Gordon, além da eleição de Luthor como presidente dos Estados Unidos - só que tem alguns pontinhos aqui e ali que acabam menos destacados, como Amanda Waller no gabinete de Luthor (o que resulta no retorno do Checkmate nas histórias da DC) e o assassino David Cain (que é o pai da Batgirl e foi se destacando nos anos entre a Terra de Ninguém e a saga atual).

Ainda assim, acredito que exista um grande problema na tentativa de contar a narrativa de maneira que o tempo entre as edições corresponde o tempo real que se passa no universo da série (mas esse é um problema que Greg Rucka e Ed Brubaker já faziam uso nas histórias anteriores nos títulos que vinham trabalhando). Em dado momento nos é dito que se passaram seis meses desde o crime (todo esse tempo em que Sasha está presa e é condenada a prisão perpétua - enquanto Batman enfrenta o Funerário e Nicodemo em revelia de solucionar o crime e tirar a moça da prisão), e, de novo, por mais que as explicações do crime justifiquem o cuidado e silêncio do morcego além de uma série de fatores (que não fazem tanto sentido até sabermos a real identidade do criminoso), não parece fazer o mesmo sentido que o cruzado encapuzado levaria tanto tempo para conectar as peças e traçar um plano de ação para limpar seu nome.

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