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6 de setembro de 2024

{Resenhas de Spoiler} Batman Fugitivo ou Assassino?

Da série Batman Assassino/Fugitivo publicada em 2002 eu fiz uma versão sem spoilers que foi publicada, agora segue a versão com spoilers onde eu acho que entram os maiores problemas da série.

Se não te interessam spoilers de uma história de mais de vinte anos, ignore o post a partir do próximo parágrafo.





OK, não tem volta agora hein? Sem mais avisos: Eu mencionei na versão sem spoilers que um dos principais problemas narrativos se dá pela passagem de tempo da história. Ela começa com o assassinato na mansão Wayne, transcorre a prisão de Bruce e Sasha e durante o período seguinte - que a narrativa dita como seis meses - traz Bruce Wayne fugindo da cadeia e atuando como Batman (que não conduz a investigação que tenta limpar o próprio nome) enquanto seus aliados continuam investigando, apesar de nenhuma grande revelação surgir. No entanto, nesse período Sasha Bordeaux está presa e não apenas nada acontece com ela, ela praticamente é esquecida e ignorada na história (enquanto surgem vilões idiotas como o Funerário e Nicodemo, e sim, eu já fiz essa piada antes).

Aqui tem como um dos pontos mais negativos uma história envolvendo o personagem Azrael, cuja série estava caminhando para o cancelamento/final com a edição 100 que saiu em maio de 2003, e do nada o personagem aparece em Gotham, volta a usar a armadura dos tempos de A Queda do Morcego e sai todo tresloucado surtando e surrando todo mundo que cruza seu caminho. Talvez isso faça mais sentido para quem acompanhava a série mensal, talvez isso fosse apenas uma condição fugaz para tentar recuperar as vendas de um título que capengava rumo à irrelevância e eventual cancelamento.

No entanto, ao Bruce Wayne ser exonerado dos crimes, Sasha morre na cadeia vítima de uma conf(t)usão com outra detenta, e enquanto isso na verdade é orquestrado pela agência de espionagem Checkmate, não deixa de perder o impacto e relevância narrativa (quando funcionaria muito melhor pouco depois da fuga de Wayne da cadeia, inclusive deixando menos pistas sobre a questão de Checkmate que seriam reveladas somente após a conclusão da investigação), e isso agrega ainda mais tempo em que o Batman foca perseguindo o Checkmate até encontrar alguma pista sobre o que de fato aconteceu com Sasha...

Mas eu acho que o ponto que mais me incomodou na coisa toda - além das histórias que só enrolaram - é sobre uma das pistas que é a arma do crime, um revólver comprado por Bruce Wayne e que não tem um esclarecimento mais detalhado, e, honestamente, me pareceu bastante estúpido e mal desenvolvido.

Uma pelo fato que Wayne compra a arma (e isso nunca é melhor trabalhado) e duas que essa arma específica que Wayne comprou (e não alguma das dezenas que a mansão de família bilionária provavelmente teriam, e, que, vale destacar, várias vezes se vê nas mãos do mordomo Alfred) fosse usada no crime, afinal existe vídeo do bilionário comprando o armamento.

Eu honestamente acho que deveriam trabalhar com algo mais coerente para esse aspecto (talvez uma arma que pertencesse à família, talvez uma das dezenas de facas altamente luxuosas e etcs) para servir como uma pista falsa que agregasse a algo e não somente uma pista falsa boba que só serve para apontar mais o dedo para Bruce Wayne (quando os leitores sabem claramente que ele estava fantasiado de morcego e combatendo o crime no outro lado da cidade quando o crime na mansão Wayne estava ocorrendo).

Sobre a conclusão, como eu disse no primeiro post, eu acho que funciona bem dentro do contexto do que vinha acontecendo no Universo DC.

Lex Luthor se elege presidente após um plano mirabolante de 'ajudar' a reconstruir Gotham (quando na verdade pretendia se apropriar do máximo de propriedades na cidade - através de um laranja, é claro - considerando o caos de arquivos e registros), e isso em 2002 num mundo em que os ataques terroristas do World Trade Center eram bastante recentes, tem um significado diferente.

Bush era o presidente no mundo real na época, e, na época ele parecia o pior ser humano além do mais incompetente para se tornar o presidente dos Estados Unidos para muitos de seus compatriotas - ou pelo menos uma parte deles, como no discurso do Arquiteto no Matrix e em uma série de representações do mesmo na cultura popular. Não digo que fosse intencional ou que os autores estivessem enxergando potencial para criticar Bush através de Lex Luthor (considerando que um dos nomes por trás da ideia era o Jeph Loeb, eu genuinamente duvido disso), mas é importante destacar os paralelos, ainda mais quando as eleições de 2000 nos EUA foram bastante controversas com a questão de votos da Flórida desaparecendo, com uma decisão na Suprema Corte e vitória do Juninho por apenas 537 votos.

A presença de espiões comentando sobre situações como o escândalo Irã Contra (que a versão mais curta que eu encontrei que explica a coisa toda tem uma hora e quarenta minutos) dos anos 1980 dão um tanto o tom da íntriga e conspiração política que a história acaba seguindo.

Se Luthor enquanto presidente forja um assassinato para destruir a reputação de um bilionário concorrente, contratando um assassino que tem uma richa pessoal (e conhece o segredo do morcego) não é uma mesquinharia, bem, então eu não sei o que é. Talvez para destruir a reputação de Wayne não fosse necessário um assassinato, mas, ei, 2002 antes de diversas redes sociais que poderiam escarafunchar dia e noite uma denúncia (mesmo que falsa).

A maior derrapada, no entanto, é que como a história propõe, se passaram meses e Batman não tem exatamente muito no campo de evidências para livrar o nome do Bruce Wayne. Ele tem várias conjecturas que formam o caminho do dinheiro e consegue chegar tanto ao assassino, quanto à trilha que o leva diretamente à Casa Branca. Como se trata de um serviço de espionagem no solo norte-americano, isso é toda uma lata de vermes incrivelmente terrível (e inconstitucional), mas, bem, zero evidência tangível que conseguiria expor esse cenário problemático, e que obviamente levaria ao impeachment de um presidente (de novo, usar um serviço de espionagem em solo dos EUA para incriminar um cidadão dos EUA é um negócio incrivelmente inconstitucional que facilmente geraria uma cassação), mas, talvez mais importante, não era a conclusão ou os rumos que a história do presidente Luthor tomaria (afinal haviam planos para uma série mensal por Jeph Loeb reunindo Superman e Batman sendo vistos como inimigos públicos - e onde Luthor se converte no vilão da Era de Ouro dos quadrinhos plenamente...) por isso acaba num tom bem menos impactante.

No final, Batman derrota o assassino (David Cain, pai da Batgirl) e mesmo sem muitos argumentos consegue convencê-lo a se entregar e assumir a autoria dos crimes (destacando, um dos melhores assassinos do mundo é derrotado e aceita assumir a culpa por um crime que cometeu), algo que a polícia de Gotham aceita plenamente e tudo volta ao normal como se nada tivesse acontecido (além de, sabe, um bilionário fugir da cadeia e uma mulher inocente ser condenada a perpétua).

Tem alguns epílogos, que, são razoáveis pelo que vale a pena destacar, mas nem acrescentam nem mudam nada dos rumos da história, ainda que contextualizem um pouco menor pelo menos alguns dos eventos (como o desejo suicída de Cain ou o retorno de Wayne para as empresas e em sua vida cotidiana).

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