Com os sucessos da DC nos últimos anos, a Panini resolveu em 2022 partir para a Marvel, com dois lançamentos, o Demolidor de Ann Nocenti (já comentado aqui) e os X-men de Chris Claremont. Ou melhor, os X-men do Chris Claremont a partir de 1983. E enquanto é evidente que a edição 168 com a icônica "O professor Xavier é um idiota" é notória e um bom ponto de início como qualquer outro, eu tenho meus problemas para entender o ponto escolhido pela Panini aqui.
Sei que a editora já republicou uma série de coisa pregressa - como o real início dessa fase na Segunda Gênese, seguido de Magneto Triunfa, A Saga da Fênix Negra e Dias de um futuro esquecido - mas até onde sei, não saiu todo o material, incluindo a saga de Proteus, o "confronto final" com Magneto na edição 150 (que é o que desencadeia o julgamento e arco de redenção do vilão mutante nos anos seguintes) e mais um bocado de coisa que ocorre entre as edições 151 a 167 (incluindo o surgimento da Vampira, o confronto dos X-men com a Ninhada no espaço - que meio que resultam na morte do Professor Xavier - assim como maior interação com os Starjammers do Corsário (pai do Ciclope e Destrutor) que passaria a receber Carol Danvers após a mudança em seus poderes no arco da Ninhada (passando a ser a heroína Binária) - e nem em ordem cronológica e completa - mas aí já é outro problema.
Tem ainda duas histórias que, apesar de menores (e mais idiotas) tem ramificações importantes em eventos futuros. Uma é a edição 160 onde a irmã de Colossus, Illyana é sequestrada pelo demônio Belasco e fica presa em sua dimensão pro sete anos, evento que tem ramificações para a personagem e volta e meia é citado, ainda que mais nas histórias dos Novos Mutantes. Outra é uma história em duas partes (uma na edição 159 e outra no Anual 6 de 1982) trazendo um encontro com Drácula (sim) que transforma Tempestade em vampira (sim), e junto com os eventos da saga da Ninhada acaba resultando em altercações para a Tempestade e ramificações em eventos futuros.
Além disso ainda tem o início uma nova série dos Novos Mutantes (basicamente os Jovens Titãs, só que mutantes e da Marvel), apresentando todo um novo grupo e dinâmica para Xavier e seus pupilos, iniciando em janeiro de 1983, poucos meses antes da edição que inicia essa fase da Panini (de Abril do mesmo ano), incluindo o motivo do Professor Xavier ser um idiota - ao final da edição 167, após o grupo retornar do espaço e sobreviver à Ninhada (incluindo Xavier que, reforço meio que morreu e foi clonado por tecnologia Shiar), Kitty Pryde é 'rebaixada' para os Novos Mutantes em virtude de sua faixa etária menor, e, isso causa ira da garota.
E, vamos ser bem francos, até entendo que a editora prefira não republicar desde o começo (no que daria algo entre 10 a 12 edições só para chegar aqui, e, considerando as quatro edições em capa dura como base - com dados de vendas das histórias mais famosas e notórias desse período), mas, é importante destacar que, ao contrário do Demolidor de Ann Nocenti que tem vem de uma das mais notórias histórias escritas por Frank Miller e expande a partir daí (sem a necessidade de maior contexto, ainda que valha a pena ir atrás de histórias mais antigas), aqui você tem toda uma história que foge do leitor (como o ódio dos X-men perante a Vampira na edição 171 quando ela passa a integrar os X-men, e que é consequência de toda uma série de histórias envolvendo Carol Danvers), onde eu particularmente acho que seria um início mais interessante para essa coleção (a partir do décimo anual dos Vingadores e da edição 151 de Uncanny X-men (somando mais 17 edições - mais anuais - aos encadernados, ou aproximadamente 3/4 encadernados)
Basicamente isso nos coloca na edição 168 onde inicia a coletânea da Panini e começa uma fase mais (ao menos em partes) "pé-no-chão" dos X-men. Menos aventuras espaciais, Starjammers e Lilandra e mais confrontos com mutantes feios nos esgotos como os Morlocks (importantíssimos para várias histórias por vir, incluindo o Massacre de Mutantes), leis antimutantes (incluindo toda a repercussão, opinião pública e grupos de caçadores de mutantes) e claro, clones, Senhor Sinistro (óbvio) e Apocalipse. Aqui também inicia uma vasta diluição da série que desde a edição Giant-Size X-men de 1975 que inicia essa fase (da já citada Segunda Gênese), com Claremont já conduzindo o universo X há bons 8 anos, incluindo anuais e mini-séries (como do Wolverine com Frank Miller) e graphic novels (como Deus Ama, o homem mata) para novos títulos como Novos Mutantes (um novo grupo com personagens adolescentes que passa a ser tutelado de Xavier).
Claremont ainda consegue manter a série principal nos rumos por uma boa quantidade de edições, e, francamente aqui é de fato parte de seu melhor trabalho à frente dos X-men (que eclode no Massacre dos Mutantes entre as edições 210 e 214 e posteriormente a Queda dos Mutantes das edições 220 a 227). Tem muita coisa boa - ainda que o material expanda e tenha mais e mais personagens e autores - e pelo menos até a chegada de Jim Lee que sequestra o título para transformar em seu playground (e trampolim) particular, rende bastante coisa interessante.
Então tirando a clara e óbvia confusão que a série trará para novos leitores (que deva ser a ideia da empreitada), é um material que vale a pena uma conferida sim, mas é importante estar plenamente ciente que é algo incompleto, e a possibilidade de se perder lendo é ampla...
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