Eu fiquei em cima do muro sobre The Last of Us na primeira temporada em grande parte porque, bem, eu não queria falar mais do que eu disse: O elenco é bom, a direção é ótima mas algo me deixava com uma pulguinha atrás da orelha, ainda que eu não soubesse exatamente o que era.
Mas não é só isso, verdade seja dita, e, eu acredito que o maior problema da série é o que vai me causar maiores problemas, e é que os fãs do(s) jogo(s) não conseguem aceitar que o argumento base do material é estúpido (e, bem mais importante, derivativo e sem nada de relevante para dizer).
Quer dizer, isso não é The Walking Dead porque não são zumbis, são funbis, sabe, controlados por fungos altamente inteligentes e baseados em um fungo completamente real porque os criadores do jogo gastaram dois minutos procurando no google - ou talvez menos porque na próxima página sem anúncios verificariam que ele não é perigoso. Mas pior que isso, os fungos cordyceps é utilizado para produção de medicamentos (ou seja a direita maluca que é contra vacina tentando inserir mais de sua retórica estúpida?), e, me desculpa se a ideia de um fungo causando o colapso da civilização me parece ridículo...
De novo, eu entendo que essa seja a premissa dos zumbis e que dependendo da história sobre eles, há um retrato diferente com suas regras diferentes (seja a origem conhecida ou não, eles podem ser minimamente inteligentes ou capazes de tarefas altamente complexas) mas com algumas regras universais e permanentes (eles se multiplicam em progressão geométrica pelas mordidas e só são vencidos com violência - exceto em Dead Rising em que a ciência encontra uma cura ou Todo Mundo Quase Morto em que a ameaça é contida e se torna mera inconveniência).
Dito isso, zumbis são uma analogia para alguma questão ou crítica maior e mais complexa - como o consumismo, o envelhecimento populacional ou o capitalismo e o complexo industrial farmacêutico - e enquanto isso varia assim como a relevância dos zumbis (que vão de ameaça a pano de fundo para conspirações maiores em algumas histórias), eu coço e coço minha cabeça e não vejo qual o ponto dos "zumbis realistas criados a partir de fungos".
O contexto social é o mesmo de várias outras histórias, só que pior (sabe fungos... Passa vodol na ferida e toma uma dose de, sei lá, fluconazol e em dois dias e epidemia funbi acaba, onde que isso causaria o fim do mundo como conhecemos?), e a história não parece sequer se importar com os zumbis criados por fungos como nada além de antagonistas secundários desde o começo só para oferecer algum contexto para a jornada. Mas o que me incomoda é o quanto eu penso sobre a série e quantos apitos pra cachorro eu vou percebendo mais e mais.
Sabe, tipo "gente que constrói bunkers e se prepara para o apocalipse é gente como a gente" ou alguma bobagem do tipo. Claro que vemos caipiras e racistas a rodo no material, mas curiosamente nenhuma explicação fundamentada para o que aconteceu com todos os cientistas e porque nenhum deles parece ter sobrevivido, não? Pra que tratar uma micose turbo com antifúngicos quando metralhadoras são tão eficientes? 'Murica, certo?
Olha, eu entendo que num videogame essa lógica funciona. Videogames precisam de ação para conduzir a parte do 'jogo' e geralmente a violência, além de catártica, oferece tanto ação quanto uma estrutura ativa para o protagonista conduzir a história, por isso são tão comuns antagonistas liderando gigantescos exércitos e obstáculos para tornar a jornada do herói mais difícil.
Faz sentido que o herói de um jogo utilize de armas para resolver seus conflitos e mesmo que esteja completamente dessentizado diante de toda a morte e destruição que causa e deixe em seu caminho (e inclusive faça alguma piada aqui e ali para quebrar o gelo), só que o que funciona em uma mídia não se traduz da mesma forma para outra.
Facções e milícias lideradas por idiotas que se preparam para um apocalipse diferente a cada semana são os mais preparados para lidar com uma crise que médicos e cientistas? Ainda mais quando, e eu não posso dizer isso o suficiente, quando eles querem derrotar um fungo com uma metralhadora.
Além do fato que a infecção deveria ser diferente (afinal a propagação de um fungo é diferente da de um vírus - inclusive quando consideramos que os zumbis se propagam com mordidas), mas talvez isso estivesse na terceira página de resultados do Google então vamos só fingir que é tudo a mesma coisa e balas vão resolver porque afinal de contas o maior monstro é o próprio ser humano (e principalmente os esquerdistas porque se dependesse deles não teriam armas para derrotar fungos - inclusive alguns do tamanho do Hulk).
E tudo isso é preguiçoso pra caralho porque é plágio do que o Robert Kirkman fez por quase duas décadas e vários outros antes dele como George Romero e mesmo o Zack Snyder. Só que esses funbis são produzidos por fungos e as milícias trazem os vagalumes e não o Governador então é diferente o suficiente.
Na primeira temporada a série tenta abordar um lado mais humano do conflito de sobreviver no apocalipse e inclusive das interações interpessoais, e produz alguns episódios muito bem construídos, com personagens bem desenvolvidos e tramas interessantes. Só que você precisa aceitar que o mundo foi para a merda com enorme velocidade e nenhuma estrutura pública (universidades, governos ou o exército - que talvez estivesse ocupado demais pintando meio-fio) ou privada conseguiu se manter organizada e funcional para enfrentar essa ameaça sob qualquer forma...?
De novo, The Walking Dead faz isso porque é o ponto da narrativa que Robert Kirkman queria contar - sem chegar a um fim para a história ou uma solução fácil da cavalaria chegando e tudo se resolvendo (que é o fim do primeiro filme de George Romero e de Todo mundo quase morto) ou uma conclusão deprimente e (auto)destrutiva (como Raccon City sendo destruída por um míssil).
The Last of Us nem tenta isso porque só fez um produto de zumbis porque zumbis se tornaram populares (e a companhia de Uncharted e a Sony precisavam de mais um sucesso).
A primeira temporada termina de maneira que não tem mais por onde construir uma narrativa.
Joel e Ellie estão em segurança, encontram uma cidade perfeitamente fortificada e podem sobreviver ao apocalipse até que as plantas cheguem para salvar tudo... Perdão, franquia errada... Mas a narrativa se concluiu. A jornada de Joel era a de levar Ellie para segurança e é o que ele faz, sobem os créditos e acabou. Mais até que isso, existia a perspectiva de encontrar uma cura para resolver a porra toda (e que seja a mesma ideia que os Simpsons já usaram em 2009), bem é descartada, ignorada e jogada pela janela afinal de contas, você pode realmente confiar nessa ciência frouxa para resolver alguma coisa quando uma metralhadora se mostrou tão eficiente até agora?
Bem... Não, não é isso. A história conclui porque Joel decide que eles devem ser os últimos de nós.
Porque Joel após a primeira temporada em que vê sua humanidade restaurada na inocência pueril de Ellie (com suas piadas toscas e sua jornada de amadurecimento) precisa tomar a difícil decisão de sacrificar essa garota para que a humanidade tenha um futuro, e, prefere jogar o que resta de sua própria humanidade para salvar garota.
É aqui que todos os apitos de cachorro fazem sentido. Joel vê diante de si o número gigantesco de pessoas terríveis que não vale a pena salvar (os habitantes de bunkers que com toda a certeza votariam para fazer a 'Murica grande de novo, o pessoal das milícias organizadas e gente que orgulhosamente anuncia que tem mais rifles que amigos), e escolhe dar uma chance à Ellie (e assim a algum semblante de esperança e inocência).
E aí eles resolvem continuar a história e fazer uma segunda temporada mesmo que não exista um ponto para essa história ou narrativa para continuar, não é mesmo? Afinal de contas as escolhas são 1) pura e simplesmente repetir a história para chegar à mesma conclusão, 2) fazer uma história nova com reviravoltas e piruetas para chegar à mesma conclusão ou 3) mudar a perspectiva (e portanto trair a visção original) para chegar a uma conclusão completamente diferente.
Aqui não é uma história em que todo mundo vive feliz para sempre ou encontra redenção... É o triste e melancólico fim da humanidade, e não existe um caminho que possa melhorar ou mudar isso.
Tudo bem que a continuação poderia tanto colocar Ellie para confrontar Joel como para que ela efetivamente tome a mesma decisão difícil que ele tomou, o que ou obviamente vai levar à mais tristeza e melancolia reforçando um ponto já perfeitamente estabelecido e mudar a perspectiva para um final feliz em que a humanidade se salva e todo mundo acaba feliz e contente aprendendo uma grande lição de amor e respeito, bem, soa extremamente hipócrita e covarde...
No que repito: Qual o ponto?
Eu não sei, e, francamente vendo os primeiros episódios da nova temporada (e a discussão sobre temporadas 3, 4 e sei lá eu quantas mais) nem sei se me importo mais.
Mas, se você adorava The Walking Dead nas primeiras temporadas da série, bem, aqui existe um material tão bom quanto (se não melhor) para assistir.
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