Mas talvez minha nostalgia ou minha falta dela no caso mais específico tenha me limitado de escrever sobre o período do personagem que eu li e gosto mais que segue as histórias dos anos 1980 e 1990, basicamente entre o período que Chuck Dixon, Alan Grant, Doug Moench e Jim Starlin escreveram as histórias que ainda hoje eu releio e genuinamente continuou a gostar do personagem.
O Batman moderno começa com Jim Lee e Jeph Loeb em Batman 608 da saga em doze volume entitulada Silêncio (que é o fim do personagem dos anos 1990 e a inserção da versão do século XXI do mesmo - ainda que cuirosamente seja a versão dos anos 1980 dos X-men com Jim Lee desenhando mulheres sexy com decotões enquanto um roteirista tenta produzir um roteiro que aloque o máximo de imagens dessa natureza possível por edição).
Mas levaria ainda algo como cinco anos pelo menos para que a transição de fato ocorresse para que o Batman do século XXI com menos coesão entre os títulos do personagem e mais participação no universo DC maior e mais abrangente como Morrison faria escrevendo tanto as histórias do Batman e do universo maior (como o Multiverso e a Crise Final) que acabariam matando o Batman/Bruce Wayne e solidificando a ideia do novo Batman, que é tanto a versão moderna/contemporânea do personagem como, bem, a versão que me desagrada mais.
Ainda que eu não tenha nenhum amor pelas versões pré anos 1970 de Neal Adams e Denny O'Neil, e eu genuinamente seja tendencioso sobre a fase dos anos 1990, principalmente após Chuck Dixon assumir o título, eu confesso que o morcegão após a chegada de Grant Morrison é para mim uma grande decepção.
Morrison é um grande escritor de quadrinhos com uma vasta carreira que contém clássicos tanto com personagens obscuros (como o Homem Animal) como bastante famosos (como os X-men e a Liga da Justiça) e quadrinhos autorais (como os Invisíveis). Dito isso, sua fase a frente do Batman é, bem, sejamos francos, ruim.
Existem algumas boas ideias aqui e ali, ele apresenta personagens bem interessantes como Damian ou o Professor Porko, mas muitas das coisas são pra dizer o mínimo bobas e pouco inspiradas. Ideias repetidas de material escrito pelo próprio Morrison meses antes nos X-men ou por outros autores em outros títulos (tem uma história do Paul Dini em Detective Comics que traz exatamente a mesma reviravolta que Morrison propõe com o Coringa em seu título mensal) e o negócio vai degringolando mês após mês com repetecos, pouca inspiração e isso marca bastante a mudança que vemos dos anos anteriores.
A perspectiva de interferência editorial se torna mais uma ferramenta para garantir que crossovers, tie-ins e eventos (inclusive cinematográficos) do que para garantir uma estrutura coesa e evitar repetições de ideias e narrativas (de novo, Paul Dini constrói histórias com o Coringa e com o vilão Silêncio que Morisson viria a repetir em suas histórias com o mesmo Coringa e com o Doutor Hurt substituindo Silêncio). E com o que viria depois - com os novos 52 e o Batman de Tom King participando cada vez mais de crossovers - é constantemente uma repetição do que começou com Lee/Loeb e que se consolidou com a fase de Morrison.
E enquanto eu particularmente não gosto de nada da fase de Chip Zdarsky (mas honestamente eu não gosto dos quadrinhos dele no geral) seja com a ideia do Batman de Zun-En-Arrh (que é algo que Morrison trabalhou e já era incrivelmente estúpido na fase Morrison) eu continuamente me vejo num contraste das interpretações modernas do personagem que visam buscar mais uma perspectiva sobre a psicopatia latente do bilionário que viu os pais assassinados em sua frente do que a mitologia maior de um bicho-papão que habita as sombras e é mais uma lenda urbana que eventualmente elucida crimes e resolve grandes mistérios (sabe, como Sherlock Holmes, quase um século antes).
Existe toda uma perspectiva atual para revisar o privilégio de Wayne como bilionário quase como se sua evasão fiscal para comprar brinquedinhos usados para o combate ao crime fossem tão ou mais problemáticos que psicopatas assassinos (e sim, esse argumento é proposto tanto na animação da Arlequina quanto na série O Cavaleiro Branco)... Quase como se no mundo real não existissem bilionários sonegando impostos e idolatrados por uma massa de gente...
Honestamente eu me incomodo não tanto com a interpretação ou visão mas com a falta de uma consistência lógica, até porque nessas versões condena-se Bruce Wayne por ser um bilionário (afinal sonega impostos e seus familiares se apropriaram indevidamente de terras e blá-blá-blá) enquanto o assassino psicopata Coringa é redimido e se torna prefeito...
Bruce é só a máscara que Batman usa para justificar a figura social (interagindo com ricaços e outros figurões) enquanto o bicho-papão caça criminosos e resolve os crimes, e o fato dele ser um ricaço é no geral uma forma de eximir uma responsabilidade financeira (e por tangente um viés dessa mesma forma com a obrigação de resolver casos para receber algum tipo de compensação). Batman, como Sherlock, resolve crimes por frustração ou tédio ou obsessão.
Quando o dinheiro e a persona de Bruce Wayne se tornam ponto focal, o viés investigativo e conseguinte as figuras bizarras que produzem tais crimes perdem o foco ao que vemos vilões cada vez menos interessantes (sabe, como o "Jardineiro" ou o mais recente que é uma inteligência artificial criada por uma personalidade dividida de Bruce Wayne) e isso, ao menos na minha opinião, nos mostra mais e mais quanto o personagem é pouco interessante.
Mais que isso, são narrativas repetitivas que caem no clichê de algum parente, amigo do passado ou variação de uma terra alternativa (que é um parente ou amigo do passado), sem que tragam alguma ameaça diferente da ideia de algum parente (amigo do passado ou variação de uma terra alternativa - que é um parente ou amigo do passado) como uma variação sombria do Batman e capaz de expor os segredos do personagem.
Batman não é o Homem Aranha, e portanto sua vida privada é irrelevante. Não são os desafios para conseguir juntar dinheiro para pagar as contas ou os amigos que o traem ou qualquer outra variação e combinação de ambos que definem o personagem (até por isso ele é um bilionário para que o dinheiro nunca seja uma objeção), mas os vilões coloridos que representam facetas tanto de si mesmo quanto os buracos mais obscuros e perversos da sociedade. E, claro, em 85 anos essa ideia não tem como funcionar da mesma forma que na década de 1930/1940, mas ela não é de todo diferente.
O bicho-papão continua(rá) a ser a lenda urbana perseguindo o pior da sociedade, e se será um maluco fantasiado de morcego ou será um apresentador (que se lançará à carreira política usando uma cadeira como arma no lugar de bumerangues) de alguma rede de televisão ganhando milhões para fazer isso, bem, só depende do talento do roteirista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário