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22 de agosto de 2024

{Resenhas Passadas} Vidas de Quinta

Eu confesso que o que mais me assustou ao assistir Vidas Passadas foi o quanto tempo me levou para lembrar qual foi o último filme que eu assisti que tinha esse tipo de qualidade (tá, eu lembrei de Parasita quase na hora, mas eu não consegui pensar em um filme de Hollywood por uns bons vinte minutos até eu lembrar de Tár - ainda que eu tenha ficado mais um bom tempo internalizando sobre Paddington e o fato que ele passou a nota de Cidadão Kane no rotten tomatoes).

Quer dizer, não tem nada particularmente brilhante aqui. Os personagens são bastante comuns, seu diálogo mundando e não é como se acontecesse algo notável e extraordinário na história (são dois amigos de infância que se reencontram na internet décadas mais tarde), e esse é o trunfo do material.

Ao pegar algo tão pedestre e elevar com uma direção fantástica e edição soberba, Celine Song constroi algo que realmente vale a pena e memorável... Pelo menos do ponto de vista da direção (por mais que seja bem escrita e tenha bons diálogos e ótima atuação, continua sendo bastante pedestre).

Vai superar Cidadão Kane? Ei, talvez se tivesse um número musical com Hugh Grant, quem sabe? Mas como eu disse, não é um filme que faz nada além de um feijão com arroz bem feito - diálogos mundanos mas que parecessem verossímeis e bem construídos (ao contrários de tantos filmes que não sabem produzir algo que não seja sarcástico, bobo ou uma combinação de ambos), personagens que de fato se parecem com pessoas que você encontraria na farmácia ou mercado (mesmo que vivam em outros países com realidades bem diferentes da sua).

Não deveria ser tão difícil, e no entanto o que vemos de novo e de novo é justamente o quão difícil isso é, o que leva a novas espirais de questionamentos.

Porque, de novo, enquanto a direção/edição são extraordinárias, não existe nada no roteiro que chame atenção. É um filme ótimo para se assistir para limpar o palato, ao mesmo tempo que estudantes de cinema vão babar pela técnica e etcs, mas para a grande maioria dos espectadores, eu realmente acho difícil de empolgar depois da marca de uma hora.

Inclusive porque, e eu vou usar o termo spoiler de maneira bem generalista mas eu possivelmente vou estragar a história (?) nesse parágrafo, o filme não traz nenhum grande evento ou tem qualquer ramificação e fato relevante. Os protagonistas tiveram um breve relacionamento na infância, se reencontram anos mais tarde (através da internet e depois pessoalmente), e, por mais que se gostem seguem seus caminhos separados. Não tem nenhum conflito, uma noite quente de amor apaixonado ou algo do tipo, só conversa e suposições sobre o que poderia ter sido. Realista? Sim... Mas interessante? Não (qualé, se você procura realismo geralmente assiste a um documentário, e geralmente um documentário é sobre alguma pessoa ou evento marcante, não dois jovens coreanos que se reencontram mais de uma década depois).

Eu sei que tem filmes de arte que acompanham horas de tinta secando e isso muda a perspectiva de diretores e etcs, só que não significa que são filmes interessantes ou que valem a pena discutir pelos méritos narrativos, enquanto vale lembrar que não é porque um filme é artístico que não precisa de uma história ou narrativa. Truffaut, Almodóvar, Bergman (e a lista segue) produziram todos filmes artísticos com escolhas brilhantes de cinematografia e que tem histórias interessantes e empolgantes. Droga, a gente nem precisa voltar tanto, Parasita de 2019 mesmo...

Então, é uma recomendação com ressalva. Filme bom (não ótimo, nao excelente) com uma direção brilhante, mas uma história que você provavelmente esquecerá no momento em que o filme terminar.

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