Mortal Kombat é uma franquia de jogos de luta que começou em 1992 nos arcades para aproveitar o sucesso de Street Fighter 2 (e a ascensão dos jogos de luta dos anos 1990). A franquia produziu vários jogos, quadrinhos, spin-offs e filmes nesses mais de 30 anos, com o último lançado em 2023 (dois anos depois do último filme - que não foi muito bem recepcionado - e 4 do último jogo, Mortal Kombat 11, que foi um grande sucesso de público e crítica), e, para resumir esse intervalo com poucas palavras seriam 'tumultado'.
A série começa com a produtora Midway, que decretou falência em 2010, passando a fazer parte da Warner Bros Interactive/NetherRealm Studios - que, vale lembrar faz parte do conglomerado que se fuuuuuundiu com a Discovery em 2022 mas vamos voltar a esse argumento mais tarde. Pioneira na captura de movimentos, usando fotorealismo enquanto franquias ainda tentavam lidar com os grandes limites de memória e pixels dos 8/16 bits da época, a polêmica sempre andou de mãos dadas com a franquia, sendo inclusive em parte responsável pela criação em 1994 do ESRB (Entertainment Software Rating Board, em tradução livre o Comitê de Classificação de Jogos) devido ao sangue e violência dos fatalities. E os pais que surtavam com os fatalities dos anos 1990 provavelmente não dormiriam com as edições mais recentes (não vou colocar links, procure por sua conta e risco).
Essas polêmicas ajudavam a espalhar a palavra no boca a boca quando o pão com manteiga da companhia era vender fichas para adolescentes jogar em suas máquinas (e palavras como 'jogo violento demais que foi proibido' costumam chamar a atenção de adolescentes), no entanto não ajudam muito num cenário em que jogos são comercializados somente ou principalmente para o mercado doméstico (e países/continentes inteiros não são público consumidor) ainda mais quando muitas franquias subsistem (e em alguns casos são relançadas como Marvel vs Capcom) graças a torneios como o EVO.
E, olha, nós podemos entrar numa longa discussão sobre essas proibições e como é uma questão bem mais política do que lógica (sabe, o mesmo Japão superconservador que bane Mortal Kombat produz anualmente mangás/animês bem mais violentos - e mesmo em jogos de videogame é fácil coisas bem zoadas como a franquia persona em que os personagens simulam suicídio para despertar superpoderes [e sim, eu sei que é bem mais complexo e jungiano que isso até porque esses poderes são despertados num plano onírico e blá, blá, blá, mas a imagem continua de uma simulação de suicídio]), só que não muda muita coisa que a companhia multibilionária que é dona da franquia não consegue trabalhar de forma a reverter essas proibições ou produzir o material de forma a se adequar às restrições regionais.
Com o fim do mercado de fliperamas, as franquias de luta começaram a cair em popularidade (até mais ou menos 2008 quando a Capcom lançou Street Fighter 4 e a NetherRealm fez o crossover Mortal Kombat vs DC - e que deu o gás para o grande reboot de 2011 que colocaria os demais jogos na lista de mais vendidos), e eu francamente acredito que Ed Boon enxergou nesse momento uma perspectiva para expandir sua empresa e produzir mais, começando com a franquia Injustice em 2013, mas os personagens especiais como Freddy Krueger, Michael Myers e o T-800 (assim como as Tartarugas Ninja, Hellboy e Spawn) me dão a impressão que haviam planos ou pelos menos projetos para mais, sabe? Tipo uma nova franquia com vilões de filmes de terror ou um novo jogo de luta com as Tartarugas Ninja...
Então como o jogo de 2023 vendeu menos de 1/5 que a edição de 2019 além do público perder o interesse e desprezar o material?
Bem, a versão rápida é que a fuuuuuusão da Warner/Discovery aconteceu e forçou a mão de Ed Boon (e não só ele, temos o Suicide Squad Kill The Justice League de 2024, Gotham Knights de 2022) a lançar um jogo que talvez precisasse de mais um ou dois anos para sair (para adaptar mudanças, para agregar ideias e se diferenciar mais de seu predecessor - que é o mais vendido e considerado entre os melhores) ou mesmo com um lançamento intermediário (no caso o Injustice 3, mas que com os números baixos de vendas da franquia talvez nunca saia). Mas o fracasso do filme de 2021 não ajudou muito, e, é bem provável que a ideia de antecipar o lançamento pudesse servir para tirar o gosto amargo da boca além de tentar mostrar para os novos chefões corporativos que eles podem lançar um novo sucesso que vai competir com os outros nomes de sucesso.
Aí saiu Street Fighter 6 também em 2023 (que é adorado pela comunidade), KoF XV em 2022 (que ajudou a ressuscitar a SNK e trazer Fatal Fury de volta) e Tekken 8 em 2024 (mais um com avaliações bastante positivas) e fica bem difícil de justificar que Mortal Kombat 1 seja só, sabe, medíocre.
E esse é o grande problema realmente.
Enquanto os exemplos do último parágrafo reinventaram e reenergizaram suas franquias dando a elas gás para os próximos anos (e inclusive para trazer de volta franquias), Mortal Kombat 1 é decente e só, uma experiência divertida para os fãs da franquia mas nada que vai fazer alguém parar de jogar Street Fighter 6 para ver o novo fatality do Pacificador. Pra ajudar (ou piorar), o jogo anterior que é o campeão de vendas da franquia está disponível para jogar com a assinatura do Xbox, o Game Pass, além de frequentemente em ofertas em suas diversas versões, o que coloca a nova versão em competição direta com seu antecessor (que é melhor cotado pelos fãs e críticos).
Talvez se o jogo fosse um pouco melhor - ou, como eu disse antes, tivesse um ou dois anos a mais para produção - as comparações com não apenas seus concorrentes mas com sua última adição à franquia não pesariam tanto. Se a fuuuuusão não tivesse acontecido, obviamente a Warner games não teria apressado algumas produções (que, de novo foram muito mal recebidas por público e crítica), mas no fim do dia o grande problema é que o jogo é um sólido 6,5 quando todos seus concorrentes estão na faixa de 8-9,5.
E hoje em dia, isso é o suficiente para ser considerado um fracasso.
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