Antes de falar sobre Furiosa, vamos deixar bem claro que eu não acho que Mad Max seja tão incrível, brilhante ou relevante quanto, bem, toda uma galera gosta de fazer parecer. Claro, o fato que George Miller conseguiu dirigir o primeiro filme na Austrália em 1979 com um orçamento minúsculo mostra muito sobre o talento do diretor (e o fato que ele produziu Babe, o Porquinho Atrapalhado em 1995 mostra o quanto o diretor é versátil, afinal dúvido que Cronenberg ou David Fincher conseguiriam um 180 dessa proporção).
Meu real interesse na série veio com A Estrada da Fúria de 2015, e, a partir daí eu comecei a prestar mais atenção aos filmes antigos - e realmente não achei que nenhum deles era metade tão interessante. Existem boas ideias, existem conceitos interessantes e personagens fascinantes num mundo pós apocalíptico e caótico, mas nada chega perto da alta octanagem do começo ao fim que é o filme de 2015. Quando parece que o ritmo vai diminuir, surge um novo problema, uma nova ameaça e o filme engata mais uma marcha e parte para mais um ciclo gigantesco de explosões e violência.
Furiosa não é isso.
Furiosa tem 2 horas e meia, (meia hora mais que o filme de 2015), e a protagonista Anna Taylor-Joy aparece pela primeira vez na tela mais de 45 minutos depois do filme começar (contextualizando longamente todos os traumas de infância da personagem - e olha que não são poucos), e eu não quero parecer que isso seja uma crítica ou um ponto negativo, só reforça que o filme é bem diferente em tom do filme anterior. Ele usa muitos dos mesmos personagens e do mesmo contexto, como Immortan Joe, seus filhos e toda a galera estranha que anda com eles, enquanto a Estrada da Fúria é um item importante para definir Furiosa e Jack - seu parceiro/interesse romântico - mas não é uma sucessão frenética e constante de cenas de ação e violência.
Tudo é mais espaçado. Tudo é mais cadenciado.
Inclusive o filme tem capítulos que vão traçando a trajetória desde a pequena Furiosa (Furiosinha?) até o momento em que ela se torna a irmã do Colossus/campeã do xadrez Taylor Joy, e a iminente conclusão de sua jornada (que, espero não pareça como spoiler uma vez que esse filme é uma prequela, sim, a conclusão do filme é chegar mais próximo do ponto de Estrada da Fúria).
Isso significa que é melhor ou pior? Bem, se você vai esperando Estrada da Fúria (e eu meio que fui), vai se desapontar. Ainda assim o filme é muito sólido, duas horas e meia passam voando na trama que é incrivelmente bem contada e com atores fantásticos que realmente conseguem vender o absurdo desse mundo pós-apocalítico que George Miller cria como ninguém (e ninguém mesmo, porque faz pouco mais de um mês que a série Fallout foi lançada, e, mesmo com todo o dinheiro da Amazon por trás, é palpável a difernça entre o deserto de Miller e o ermo do seriado).
Se o filme de 2015 é um A ou A+ (e eu realmente acho que esteja nessa faixa), o de 2024 é um sólido B+, e funciona perfeitamente para se assistir em uma maratona/dose dupla.
Nenhum comentário:
Postar um comentário