Doctor Who completa 60 anos em 2023 e como parte do rolo compressor encapsulando tudo e todas as coisas a Disney comprou os direitos do projeto das mãos da BBC e lançou especiais de natal para relançar a série a partir do próximo ano com um novo personagem no papel (pra quem não conhece, essa é meio que a grande sacada da franquia que permite a 'regeneração' em que o alienígena mude, e, até o momento já foram 14 vezes - oficiais - que isso aconteceu desde o início da série).
A ideia quando o personagem surgiu na BBC em 1963 era de servir como algo educativo, e por isso o personagem titular da série (o Doutor) viajava pelo tempo e espaço com o propósito de ensinar alguma lição aos espectadores. Pense no X-Tudo ou Castelo Rá-Tim-Bum mas com mais cenas de ação (do nível do que esperamos dos filmes dos Trapalhões, saca? - e efeitos idem). Mas o material é bastante irrestível pelo seu charme camp.
A série ficou em um longo hiato nos anos 1990, quando houve uma tentativa fracassada de levar o projeto para os EUA, e foi reiniciada em 2005 com Christopher Eccleston (que provavelmente se levou a sério demais para o papel e só ficou uma temporada), mas é com David Tennant na segunda temporada/série que o material conseguiu quebrar um pouco da barreira dos fãs tradicionais e whovians que acompanham (e são obcecados) com o material. Tennant obviamente é extremamente talentoso e inclusive por isso conseguiu chamar bastante atenção ao projeto, e, seu sucessor Matt Smith é outro ator que dispensa apresentações (ambos estão em praticamente tudo hoje em dia, da série da Netflix sobre a Rainha da Inglaterra à Ducktales passando por vários outros seriados e filmes).
Sejamos francos (por mais que isso irrite os fãs da série), Doctor Who é tolo, com efeitos especiais de baixa qualidade (e não somente os episódios mais antigos, diga-se de passagem) e exige um vasto malabarismo mental para aceitar algumas das conclusões e lógicas internas do seriado. No entanto, existe uma qualidade de genuíno esforço nos atores que eleva o material de tal forma que é fácil ignorar todo o resto.
Tennant com certeza é o primeiro exemplo da fase moderna a retratar isso com louvores, parecendo mais um personagem esquecido da turma do Pernalonga de carne e osso caminhando pelo mundo e dizendo suas frases tolas (como a que explica viagem no tempo) com um senso de maravilhamento que é extremamente cativante. Por outro lado Catherine Tate (que vive Donna Noble) é praticamente o oposto, cínica e resmungona formando um gigantesco contraste entre os personagens que não funciona somente pelo contraste mas pelo timing cômico que a dupla desenvolveu ao longo de anos, e em Doctor Who é só uma extensão disso, ao ponto que a dupla facilmente é a mais memorável da fase moderna do programa, e, não é exatamente um desafio entender porque a Disney usaria os personagens mais populares em um especial para efetuar a transição para o seu catálogo.
Inclusive o primeiro episódio baseado num quadrinho popular de Doctor Who de Dave Gibbons dá bem o tom de tocar os maiores clássicos para começar bem, e, principalmente para denotar que não houve uma grande mudança com relação ao trabalho da BBC.
Só que nisso também o material acaba denso em continuidade e contextualização, fazendo referências e mais referências a eventos passados, que, bem, talvez não seja de fácil digestão para um espectador casual da casa do camundongo... E fica mais difícil sem acesso ao restante do catálogo.
Vale a pena conferir, nem que ao menos como uma curiosidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário