Enquanto eu confesso que na época em que o seríado Buffy passava na televisão eu pouco ou nada me importava com ele (preferia ainda os Arquivos X na mesma Fox), e, mesmo que o material tenha envelhecido mal em uma série de aspectos e tenha toda uma sorte de defeitos, mesmo para a época, é importante reconhecer que existe algo particularmente inteligente e interessante aqui.
Algo que obviamente outros seriados tentaram copiar vez após vez (seja Smallville ou Riverdale - e mesmo Wandinha - nas décadas seguintes, mas a lista é bem maior que isso, afinal é difícil ignorar a série de quadrinhos Alguma Coisa vem Matando as Crianças com sua protagonista loira caçando monstros), a ideia de adolescentes enfrentando o monstro da semana concedendo espaço tanto para o drama adolescente quanto para o monstro da semana, e, curiosamente com Buffy sempre sobrava espaço para algo extra. Fosse comédia ou uma forma para questionar esterótipos (com bonecos de ventríloquos possuídos, com a reviravolta que foram possuídos por caçadores de demônios), mas ainda sobra espaço para romance, ação e alguns aspectos mais surpreendentes e interessantes aqui e acolá de terror, drama não adolescente entre outros.
Acho que tem vários problemas e, altos e baixos no material, ainda que, honestamente sejam bem mais produto ou resultado de seu tempo e sua estrutura que qualquer outra coisa, como a tentativa de ter um próprio Chandler de Friends aqui como o 'Xander' (é, eles realmente mudaram bastante no nome para nem ficar parecido) e as temporadas mais longas de 20 e tantos episódios (ainda mais com uma estrutura de quase uma hora), com efeitos especiais (e orçamentos) mínimos, forçam decisões que acabam prejudicando o desenvolvimento do material aqui e acolá. Nem todo vilão da semana ou conceito funciona ou é interessante, mas a verdade é que no geral isso acaba até ajudando e funcionando melhor em outros aspectos.
Dá mais espaço para desenvolvimento e para que as histórias tenham tempo de progredir - como no arco da segunda temporada em que Angel se torna maligno, e existem vários episódios entre esse evento e a resolução do arco, com histórias menores (incluindo Buffy lutando contra uma criatura invisível para poupar o orçamento), para dar mais espaço para a história principal com pequenos interlúdios aqui e ali, desenvolvendo os relacionamentos dos vilões para o confronto final no final da temporada.
Por outro lado existem os problemas dos roteiros que claramente não importariam se a série fosse mais contida com 10 ou 12 episódios por temporada todos redigidos e dirigidos pela mesma equipe. Talvez até se destacassem mais como os problemas que são, como o odioso Xander (que eu até hoje não encontrei uma única pessoa que gosta do personagem - ou do ator - mas que está em praticamente todos os episódios e em momentos, e inclusive episódios inteiros dedicados a ele, com muito mais destaque que de fato merece), ou o fato que por algum motivo que me escapa da lógica, Buffy passar tanto tempo sem explicar para a mãe que ela é uma caçadora de vampiros, por mais que um número enorme de pessoas vá descobrindo sua 'identidade secreta' - terminando a primeira temporada com umas 10 pessoas ao menos que sabem da verdade.
Eu acho que na terceira temporada a série entra numa vibe bem mais camp (eu sei, o boneco de ventríloquo que eu já citei vezes demais aqui é da primeira), mas isso acaba conflitando com alguns episódios que retratam eventos bastante tópicos no período, como um aluno se preparando para atirar contra outros alunos somente alguns meses depois do massacre de Columbine (e o final desse episódio é beeeem estúpido, diga-se de passagem também - mas nem dava pra se esperar demais considerando o contexto do roteiro).
Alguns episódios estão, sem sombra de dúvidas, entre o que há de melhor produzido na história da televisão, mas a verdade é que ao contrário de Arquivo X (já citado aqui), você precisa passsar por muita coisa medíocre ou mesmo ruim para chegar lá, e o material navega bastante entre o camp, exagerado e ridículo (de novo, tem o episódio do boneco de ventríloquo possuído por um caçador de demônios, mas nem de longe é o momento mais ridículo da série, que tem entre seus episódios mais famosos - e muito bons, diga-se de passagem - um episódio musical)
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