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31 de agosto de 2023

{Resenhas do Horóscopo} Cavaleiro do Zodíaco - O prólogo da Origem

Do ponto de vista de fã, é fácil destacar o que tem de errado com o filme, ainda que siga algo próximo do que o remake da Netflix de 2019 já tendia a fazer (apresentar um novo vilão para contextualizar e justificar o começo da história - com os treinamentos bizarros aos quais os futuros cavaleiros são submetidos sendo amaciados para algo bem menos problemático), com uma narrativa que na melhor das hipóteses tangencia somente os eventos da história da animação ou dos quadrinhos originais. Só que isso nem de longe é o problema real.

Enquanto sei que é difícil de se manter fiel ao original, verdade seja dita pelo quanto o material envelheceu mal (já comentei isso no passado e no primeiro parágrafo - mas não custa reforçar, que na série original um ricaço 'adota' crianças pelo mundo para enviá-las a treinamentos rigorosos onde sofrerão toda sorte de abuso físico e mental somente pela promessa de conseguirem uma armadura mística poderosa) e faz sentido que seja atualizado. Só que isso não é o que acontece aqui. Num filme batizado 'Cavaleiros' do Zodíaco, temos ao todo 5 pessoas com as armaduras da série original (isso sendo generoso afinal 2 delas aparecem numa cena de prólogo e uma delas é a Amazona - não cavaleiro - Marin), e o que o filme passa quase 1 hora desenvolvendo (que é o treinamento de Seiya) é feito durante o primeiro episódio original (que tem uns 23 minutos - incluindo abertura e encerramento) com mais espaço para contextualização e explicações sobre o personagem e o mundo no qual ele está inserido. Só que, e aqui é onde vejo uma distorção significativa do material, e onde residem efetivamente os problemas, ao focar em personagens sem desenvolvê-los efetivamente, o filme perde muito do charme e do apelo da série original.

Veja por exemplo o mistério todo a irmã de Seiya que ele não vê desde criança. Na animação e nos quadrinhos como isso é uma estrutura narrativa mais tangente, é desenvolvida ao longo de vários capítulos e mera subtrama em meio a todos os personagens, ela quase não tem tanta importância ao meio a batalhas frenéticas e as atribulações dos vilões tentando destruir Athena e seus cavaleiros, mas existe uma figura que constantemente está protegendo Seiya e que nós espetactores temos quase certeza de que pode ser a irmã perdida desse personagem (a mascarada Marin, que inclusive é sua instrutora e mentora). No filme isso é solapado rapidamente e deixado claro como o sol que não é o caso, dizendo com todas as letras os eventos pregressos do desaparecimento de Seika até certo ponto posterior, deixando claro que ela não poderia ser a mentora e protetora Marin (que no filme, nem tem muito disso). E esse não é o único caso de material diminuído com relação a animação (o antagonista Cassius é outro caso, ou o cavaleiro de Fênix Ikki, aqui mero capanga e um antagonista sem um propósito definido, mas o próprio Seiya que é o protagonista que é quase um emo chorão e reclamão ao contrário do otimista personagem da série).

E, deixando bem claro, eu não tem problema com alterações feitas em adaptações... Droga, elas inclusive são necessárias para fazer o material mais coerente com o contexto do que é feito. Veja as Tartarugas Ninja para ficar em um exemplo e é possível verificiar uma enormidade de versões diferentes dos personagens (desde os quadrinhos originais mais violentos em que o Destruidor morre em sua primeira aparição à primeira adaptação animada - bem mais infantilizada e para o público infantil - até a versão mais moderna nos cinemas que ignora o Destruidor ou mesmo os Krang como fatores importantes na formação das personagens). O problema reside em mudar a essência dos personagens ou de suas histórias, como tornar o sociável e afável Seiya em um solitário que no geral evita contato (e as pessoas em geral).

Nisso, inclusive reforço o comentário anterior sobre a quantidade pequena de personagens, mas não apenas do material original que estão ausentes (ou estão presentes no filme se preferir), no que faz o material mais vazio do que deveria. Sendo generoso existem umas 10 pessoas ao todo no filme - e eu digo dez pessoas que são personagens e não meros extras sem nome para cenário ou capangas sem rosto que aparecem para enfrentar o protagonista. Dois deles são personanges novos criados para o filme e para os atores famosos associados ao filme (Sean Bean e Famke Janssen - que parecem constantemente se perguntar o que diabos estão fazendo nesse filme durante suas cenas), ainda que tenham funções análogas ao que foi apresentado tanto no original quanto no remake de 2019 (Mitsumasa substituído por Alman enquanto a esposa dele faz as vias do vilão Guraad do remake). Mais até que isso, muitas das cenas são extremamente vazias com duas ou três pessoas apenas em um lugar espaçoso e nada além disso, ou duas pessoas em frente a um espaço construído por computador.

Com isso chegamos ao claro e gigantesco elefante na sala que meio que justifica esse filme vazio, e que são as limitações claras e categóricas em termos de efeitos especiais. E enquanto eu não quero criticar o filme por não ter efeitos do nível da Disney ou de qualquer outro estúdio gigantesco, até porque eu não faço ideia do orçamento que esse filme (quase todo rodado na Croácia e que tem aproximadamente 10 atores com falas em todo o elenco), eu também não acho que os efeitos são de todo ruins - e eu sei o quanto isso soa bizarro.

Os efeitos são melhores que do último Homem Formiga ou mesmo do Flash (dois grandes filmes de grandes estúdios e com orçamentos gigantescos - e grandes astros) no entanto, e aí é onde reside o fato que eles padecem do mesmo problema destes filmes gigantes: Eles não parecem existir no mesmo plano em que os atores que estão inseridos nestes efeitos especiais (e eu sei que eles não estão, por favor), o que tira o espectador da experiência do filme.

Estes efeitos não funcionam de forma orgânica com os atores e as cenas em que estão inseridos e aí duas monstrosidades feitas por computação gráfica se enfrentando parecem, bem, uma cena de um jogo de videogame e não algo que pertença ao filme (ou mesmo a um filme), e cada vez que vemos este tipo de cena de videogame, fica mais difícil se manter engajado no filme e na história, pois o próprio filme parece pedir uma pausa na construção da narrativa para colocar uma animação construída por computador que, bem, não parece coexistir com o restante do material.

Dito tudo isso, eu sei que parece difícil julgar a história sob a perspectiva de alguém que não conhece tanto do material fonte, e de fato é bastante complexo (pois eu conheço e cresci com o original), só que efetivamente o material constrói sua própria estrutura e condição ao ponto que o original é somente uma base, e não a fundação sob a qual a narrativa se constrói (algo como o Batman do Nolan ou, bem, praticamente tudo envolvendo as Tartarugas Ninja - sabe, heróis soturnos e sombrios que vivem no submundo nos quadrinhos originais e um bando de adolescentes bobos na primeira animação e no mais recente Caos Mutante). Então no contexto da narrativa que se estabelece, bem, não se estabelece muito de uma narrativa.

O filme não nos apresenta muito bem a noção do que é a 'cosmo energia' e como ela funciona, não estabelece a existência das armaduras (e como elas funcionam) ou mesmo do fato que Saori é a reencarnação de Athena para além de algumas cenas com efeitos especiais em que estes pontos acontecem. Efeitos de fundo em que a cosmo energia se manifesta ou as armaduras ou mesmo a cor do cabelo muda...

Nada é particularmente bem construído ou desenvolvido. Saori é a reencarnação de Athena, porque claro que é (e para os vilões, bem, ela também é a reencarnação de Athena, porém com a intenção de destruir o mundo, porque lógico que vai), e Seiya deve protegê-la, porque claro que deve... Mas, o que isso significa propriamente? Quer dizer, ok Saori é a reencarnação de Athena, e...? Os eventos não parecem influenciar efetivamente as motivações dos personagens ou definir questionamentos sobre o que estão fazendo, e porque. Tudo isso, novamente, contrubuindo para a sensação de vazio no material.

Deixa eu te dar um exemplo bem claro disso: Quando somos apresentados a Seiya ele participa de um torneio de artes marciais clandestino, o que é bem interessante para mostrar as habilidades de luta do personagem (e o despertar de sua cosmo energia), no entanto isso não funciona para o personagem em sua busca ou estrutura, pelo contrário.

Seiya denota durante a luta que ele não gosta de lutar (e geralmente escapa dos oponentes o máximo possível e batendo somente o necessário para derrubá-los e vencer), mais até que isso, sua grande motivação nesse momento é a de encontrar sua irmã, e, nada indica ou aponta que a participação nestes eventos vá ajudar nisso seja direta ou indiretamente (não existe qualquer pista de que a irmã seja uma das participantes ou de que o personagem use o soldo das vitórias para contratar advogados ou detetetives pra localizá-la). Ou seja, o personagem faz algo que não faz sentido para o personagem ou sequer para a história, é só mais de um monte de nada, só mais vazio.

Até entendo que existam fãs animados para uma potencial sequência, e que nela viriam os demais Cavaleiros e a história poderia engrenar, mas sem mudanças radicais no roteiro (e direção, e, efeitos especiais e...), não vejo motivo para qualquer empolgação.

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