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25 de julho de 2019

{Resenhas de Quinta} Paneleiros do Zodíaco (Netflix 2019)

Nota: 3,5/10
Eu tinha quase dez anos quando a extinta TV Manchete começou a exibir os Cavaleiros do Zodíaco no Brasil, e, acredito que foi o primeiro animê que eu de fato assisti com alguma regularidade (digo alguma regularidade mais pelas inúmeras falhas e repetições da própria Manchete em manter um horário regular e exibir os episódios em ordem).

Sei que assisti a quase toda a fase do Santuário (que vai até o final do confronto das doze casas do Zodíaco e que é essencialmente o que define a série) e me lembro de assistir os episódios posteriores dos cavaleiros nórdicos e de Poseidon sem me lembrar particularmente de muita coisa. Sei também que uma das coisas que mais me chamou a atenção à animação quando ainda criança foi a enorme dose de violência e ação.

Logo no primeiro episódio o herói do desenho Seiya corta a orelha de um adversário e alguns episódios depois mata (ainda que depois ressuscite) o adversário que viria a se tornar amigo Shiryu de Dragão. Eu não estava nem de longe acostumado ou preparado para algo desse tipo, e acredito que é exatamente o que me chamou a atenção e me prendeu.

Estava acostumado a desenhos como Scooby Doo ou seriados tolos e parvos (que eu podia e conseguia assistir enquanto criança) e ver esse tipo de combate e violência - assim como a mudança de dinâmicas e expectativas (vilões que viram aliados logo nos primeiros episódios, e mesmo as longas tramas que se estendiam por vários e vários episódios construindo uma única e singular história (de novo ao menos até o final da história do Santuário que dá 73 episódios). Ainda que eu não me lembre com grande fidelidade dos detalhes ou ao contrário de vários colegas de mesma idade não tenha me dado ao trabalho de posteriormente ler o mangá que inspirou o seriado (e, que vários de meus colegas de mesma idade alegam ser bem superior) o desenho guarda um lugar especial em meu coração e eu confesso que gostaria bastante de assisti-lo novamente em alguma ocasião...

O que me pareceu exatamente o caso quando a Netflix anunciou uma produção para estrear agora em julho de 2019 e, em misto de nostalgia e de animação pensei "Porque não?".
Com o primeiro episódio já ficou claro que não seguiria a rota do Rei Leão em fazer um remake cena a cena, afinal a história começa em outra perspectiva e acrescenta personagens que não estão na série original (o novo vilão Vander Guraad e seu exército). Talvez estejam no mangá, mas duvido bastante porque fica visível o quanto ele destoa do restante da história...

Sei que a nostalgia pode blindar muitas vezes os olhos do espectador - e não quero fingir que tenho memória fotográfica de cada momento do seriado ainda que tenha muitas lembranças da animação sim - e também sei que muitas vezes animações japonesas antigas tendem a envelhecer BEM mal... Tipo Dragon Ball em níveis de envelhecer mal (sabe, com toda aquela enorme quantidade de coisas estranhas envolvendo a Bulma levantando o vestido para conseguir uma das esferas...). E, bem, a minha nostalgia tem o senso de auto-crítica para o entender que o começo da série dos Cavaleiros do Zodíaco é bem ridícula.

A Guerra Galática, se você levar em consideração, é o ponto mais perturbador da série original, que reside na ideia de jogar garotos órfãos em lugares inóspitos para se submeterem a abusos físicos e mentais - e vamos esperar que somente estes - para obterem armaduras poderosas num projeto/ideia de um ricaço excêntrico para depois se enfrentarem até quase a morte (como vemos no confronto entre Pégaso e Dragão) em um torneio somente com milhões de espectadores somente para o vencedor ganhar uma OUTRA armadura poderosa...

Isso nunca fez muito sentido com o restante da história da série pra mim, ainda que funcione muito bem como apresentação dos personagens, colocando-os para se enfrentar podemos ver seus poderes em ação e os limites desses poderes, assim como apresentar motivações e contextualizações de cada um deles...
E depois tem os cavaleiros negros que são exatamente os mesmos cavaleiros com armaduras escuras (que ainda é mais idiota, é verdade, mas também serve para mostrar o que aconteceria com os heróis da série se seguissem caminhos opostos na vida)!

Achei legal que trouxeram o máximo do elenco original das vozes brasileiras (o que é sempre um bônus), ainda que não use a ótima trilha sonora (que me dá arrepios na espinha de ouvir ainda hoje).

Não tenho nenhum problema com Shun sendo uma garota na versão da Netflix (não é por isso que o seriado recebe uma nota baixa) ainda que a voz da personagem me soe esquisita... Acho na verdade que faz sentido - e de todos os personagens da série, Shun é a que faz mais sentido como uma mulher - só a voz usada me pareceu confusa de entender esse recado.

Dito isso, enquanto remake (que segue bastante do mesmo tom, com o traço da animação bastante fidedigno com a animação de 1986), vai mudando bastante coisa aqui e ali para atualizar aos dias de hoje. Não acho isso particularmente ruim, só acho que não é bem feito.
Bem no primeiro episódio, em que Seiya impede um assalto, temos uma cena que ilustra bem isso que estou dizendo. Logo após o assalto, Seiya começa a tomar uma sova dos criminosos e um deles resolve sacar um celular para gravar a cena... Sabe porque todo millenial (mesmo os criminosos) tem que gravar todo momento de seus dias para compartilhar nas redes sociais!



O remake começa parecendo que vai seguir uma rota levemente diferente que chegue no mesmo resultado mas não tarda muito e volta ao mesmo caminho com os mesmos problemas, só que agora mais confusos.
E digo confuso pela velocidade (ou mais que isso a 'pressa') com que o seriado parte do garoto de doze anos que perambulava pelas ruas de Tóquio (e foi espancado) para o garoto de dezoito anos conquistando a armadura de Pégaso... O que, claro, a caixa da armadura se torna numa plaqueta militar ao toque (óbvio)...
Nisso parece bem com o material original - a batalha com Cassius (só que sem sangue) a fuga da Grécia para chegar no torneio galático (só que numa versão mais pobre e sem graça das ótimas batalhas da animação antiga)...

Mais que isso, fica uma impressão de que mesma a equipe criativa teve que apressar o trabalho, uma vez que foram anunciados doze episódios originalmente mas a série lançou no serviço de streaming com apenas 6... Sei lá, não me passa uma imagem de confiança no taco do material por parte do serviço de streaming. Parece mais o contrário - que estão testando a temperatura da água para ver as reações e se vale a pena continuar investindo.

Particularmente, eu acho uma pena.
O material é fraco, sim, por várias das alterações que foram feitas reduzindo o tom da animação original (de novo, mais violenta e com mais sangue - mas não só isso) para uma animação mais morna e desinteressante com um vilão principal que não faz sentido no contexto da série tampouco oferece alguma ameaça contundente (o que ele poderia para fazer algo interessante, já que é um homem de ciência combatendo estes garotos de armaduras mitológicas)...
Quer dizer, até tem algo menos idiota para os Cavaleiros Negros (que no original são versões idênticas dos cavaleiros, com as mesmas armaduras e poderes), mas não é tão menos idiota...

Ainda quero ver se crio coragem de rever o animê original (e, quem sabe a Netflix não passa a exibir, hein? Olha Netflix nunca te pedi nada...), mas esse aqui não vejo muitos motivos para continuar a ver quando ou se novos episódios vierem.

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