Por um lado, Homem Aranha através do Aranhaverso é um filme que eu queria muito gostar. É a continuação do ganhador de Oscar filme de 2018, Homem Aranha no Aranhaverso (que facilmente é o melhor filme do personagem, e, um dos melhores 10 filmes de super heróis de todos os tempos), e, tem uma base sólida, atores brilhantes e, bem, tudo o que é necessário para um filme espetacular.
Mas não é.
Enquanto eu queria dizer que 'falta algo', a verdade é que não é exatamente isso. Principalmente falta foco (enquanto o primeiro filme tem uns 6 ou 7 Homem Aranhas e um vilão focal no Rei do Crime pesquisando pelo multiverso por sua falecida esposa, aqui, sabe-se lá quantas centenas ou milhares de miranhas estão na tela por segundo e o 'vilão' é o destino inevitável), mas eu queria dizer que o grande problema desse filme está nos excessos. São personagens demais em um filme que é longo demais (e principalmente longo demais para terminar com um 'continua') e com história 'de menos'. E sinceramente, o filme é mais uma fábrica de memes que uma narrativa coerente e interessante.
Quer dizer, eles pegaram a história da Citadela dos Rickys de Ricky e Morty e, pronto, já temos uma base para nosso filme (o que inclusive vai de encontro com a base do personagem e traz toda uma gama de problemas na estrutura de predestinação contra acaso e que - sem spoilers - é a base do personagem, afinal ele é literalmente uma pessoa aleatória que está num lugar onde uma aranha radioativa o pica, não é o herói predestinado que é auxiliado pelas nornes para tirar uma espada da pedra - exceto no musical da Broadway). Isso é um problema enorme e central para a lógica interna do Amigão da Vizinhança, Homem Aranha (sabe, não 'amigão do multiverso, Miranha'), porque não funciona na lógica interna do personagem.
Ricky é o homem mais inteligente do universo ao mesmo tempo que é paranoico e irrita as pessoas sem muito motivo (ele inclusive se compara com o Pernalonga em um episódio), então faz sentido que a única pessoa que ele "confie" (entre aspas pois isso vale somente até a segunda página) seja ele mesmo, e por isso forme a Citadela dos Rickys. O mesmo funciona para o herói Reed Richards (que vê no multiverso a resposta para todos os problemas do mundo, mas também vê a perspectiva de abusar deste conhecimento e por isso forma um grupo multiversal) ou para o Superman (para enfrentar ameaças que são grandes demais para um único Superman). Para o Homem Aranha? Não parece coerente com a lógica do personagem, ainda mais com a temática do filme de garantir que eventos 'pré-determinados' que acontecem em todo o multiverso aconteçam neste também (o que, além de tudo, é simplesmente estúpido).
Eu sei que tem muita gente babando no ovo do filme e defendendo como se ele fosse, bem, seu antecessor, mas, honestamente não é apenas o fato que é inferior a ele (o que dada a qualidade é altamente normal e aceitável), mas por sua falta de foco e mesmo de originalidade que o coloca numa escala geral mais próximo da média que do topo e a falta de um final - mesmo que para criar expectativa para a sequência, como aconteceu com O Império Contra Ataca ou toda a trilogia de O Senhor dos Anéis - genuinamente não ajuda (mais ou menos como na trilogia de O Hobbit - sabe quando a luta com o dragão é cortada ao meio para se concluir no início do filme seguinte?). Talvez seja um forte candidato ao Oscar do próximo ano, de fato, mas bem mais por falta de concorrência que por mérito próprio.
Por outro lado, o Flash vem uma fase terrível que é difícil você de fato comentar ou reconhecer o filme sem considerar tudo o que vem antes dele.
É como o jogo de volta de uma fase eliminatória em que o primeiro jogo foi em casa e o time perdeu por 5 a 0 tendo seus melhores jogadores expulsos (e nisso impedidos de continuar no próximo jogo), e agora precisa ganhar por um a mais na casa do adversário... Quer dizer, Ezra Miller é um pesadelo como astro em todos os sentidos, com uma, perdão ao trocadalho mas, ficha que não é só corrida e sim maratonada e uns dois ou três anos em que seu nome só aparece devido a alguma nova polêmica, controvérsia ou crime, e isso é só o começo (você ainda tem todo o Snyderso colapsando desde a Liga da Justiça de 2017 - que eu ainda acho que é melhor que o corte de 5 horas e meia de Scott Snyder, mas talvez seja o fato que a cada ano eu gosto menos do diretor, aí tem a história que é basicamente algo que o seriado do Flash já fez com o final da segunda temporada e começo da terceira - porque basicamente Geoff Johns que é agora um bam bam bam na DC acha que sua história Flashpoint tem que ser enfiada goela abaixo em tudo que envolva o personagem).
Dito tudo isso, o que pensar sobre o filme de 2023...?
Indiferente se com a direção de James Gunn, Ezra Miller será removido do papel ou se manterá como o Flash, ou mesmo se os rumos desse Flashpoint serão mínimos ou drásticos para toda a continuidade de filmes da DC, bem, é difícil separar tudo o que acontece extra filme para julgá-lo somente pelo que é, e a verdade é que o terceiro ato é espetacular enquanto o restante do filme tem alguns momentos interessantes aqui e acolá (nada de extraordinário, mas também não acaba como o primeiro Vingadores com dois atos que são completamente 'puláveis' para se chegar à conclusão) mas leva um tempo para engrenar, e, ao contrário de filmes melhores que fazem isso, não parece exatamente merecido.
É empolgante, sem sombra de dúvidas é um filme muito bom (não excelente, verdade seja dita, ele tem sua não pequena lista de defeitos por si só) mas toda a bagagem negativa compromete e prejudica com toda a certeza o material.
Talvez daqui alguns anos quando a poeira baixar em toda a repercussão negativa de Ezra Miller, e toda a bobagem que foi o Snyderverso parecer somente um sonho febril acabemos recuperando esse filme e olhando para ele com olhos melhores (mesmo se esse filme em questão for mais pra medíocre do que excelente e de fato memorável - mas, verdade seja dita, diversos filmes medíocres, com um certo filme veloz que lançou seu décimo filme furioso recentemente, acabam encontrando seu público cativo). O que é uma pena no geral, pois existe bastante potencial ao filme e muito do que se vê nas telas realmente vale a pena se ver nas telas grandes de cinema.
Mas no fim das contas, são dois filmes medíocres e divertidos que não vão reinventar a roda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário