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8 de junho de 2023

{Resenhas de Maisel} A Maravailhosa Miss Quinta

Na temporada final de A Maravilhosa Miss Maisel para efetivamente firmar no censo de finalidade e conclusão, a série estabelece alguns saltos para o futuro (eu usarei o termo 'flashforward' de aqui por diante, não porque ache mais apropriado mas porque acho de mais simples compreensão pelo contraste com o 'flashback', de cena que retrata o passado), e quase todo episódio traz uma ou mais cenas nesse sentido, com exceção de um episódio (na minha opinião o melhor da temporada) que é todo no futuro (de 1991) com uma homenagem à Susie, mas contando histórias do passado dela - incluindo o presente da série (e eu particularmente acho que esse episódio poderia e deveria ser o episódio final da temporada e da série).

Dito isso, a temporada tem principalmente dois (grandes) problemas que incrivelmente parecem antagônicos e paradoxais, a temporada precisaria de mais tempo (eu acredito que um décimo episódio cairia como uma luva para encerrar a série) ao mesmo ponto em que tem uma imensidão de cenas desnecessárias (o que poderia facilmente manter os mesmos nove episódios ou até reduzir para sete com um editor bastante conciso).

Um exemplo se dá no episódio final da série que começa com um monólogo de Lenny Bruce, e, deixando claro que eu gosto do ator que fez o papel e acho que o comediante na vida real era legendário e merece muito maior destaque, a cena em si não agrega absolutamente nada para a série, a temporada ou, bem, nada. Depois o mesmo episódio traz um epílogo que, igualmente não agrega nada de interessante ou diferente do que já vimos ao longo da temporada, e, que talvez funcionaria melhor em outro episódio anterior ou simplesmente não funciona em lugar nenhum.

No entanto, nesse mesmo episódio final parece claramente que faltou uma cena importante (e, que honestamente para mim poderia preencher um episódio inteiro) que é Midge triunfante, sabe? Eu sei que eu não gosto de colocar spoilers para séries e principalmente para finais, então eu vou ser o mais vago possível. O episódio final é todo sobre uma grande chance para a personagem de aparecer em um talk show, mas o apresentador não está confortável com a presença dela ali (e tem toda uma série de motivos desenvolvidos durante a temporada - e, sem spoilers), mas Midge liga o foda-se com F maiúsculo e vira o jogo de maneira magistral em uma cena fantástica, e que parece ser o grande ponto de virada para a personagem e o que levaria a todo o sucesso que vemos nos flashforwards durante a temporada, certo?

Só que o que vemos na série - e na condução do material - é que após a cena fantástica de um stand up épico da Ms Maisel no episódio, ela é demitida, e é isso, pula para dois epílogos. Faltou ali na condução normal, por exemplo, ela saindo ovacionada do palco, com o telefone da agente dela tocando como louco com gente querendo agendá-la para tudo que é evento, com, enfim como eu disse antes a personagem triunfante para conectar com os eventos descritos nos diversos flashforwards durante a temporada, ou mesmo uma conexão mais nítida com esse ponto final que é estabelecido pela temporada e série com o ponto de virada e sucesso que eventualmente a personagem consegue (conforme eles tentam estabelecer com os saltos para anos futuros).

Então falta um componente importante na transição do evento do presente da série para os eventos futuros que vão se desfraldando ao passar dos episódios, ao mesmo tempo em que existe uma série de eventos desnecessários e que pouco agregam ao mesmo desenvolvimento. O final parece vazio e incompleto.

Principalmente quando você se recorda de toda uma série de cenas desnecessárias com as quais a temporada gasta tempo enquanto ignora o tão importante ponto de virada e momento de triunfo. Dá-lhe sessão de terapia da filha Esther no futuro (de 1980) ou os pais de Joel (e sogros de Midge) discutindo a relação ou mesmo Abe (o pai de Midge) confuso ao receber avanços de uma mulher (além das já citadas cenas com Lenny Bruce e a própria cena final em 2005) enquanto se termina com um momento bastante anticlimático da demissão sem a transição para o sucesso prometido por toda a temporada.

Talvez o problema seja de edição e resida na condução dos já mencionados flashforwards para a conclusão (que talvez inclusive fosse intenção da série de desenvolver de uma vez só no episódio final, mas com reação negativa de executivos ou do público foi desmantelada para se dividir durante toda a temporada), ou mesmo uma direção clara para o tom e ponto final que a série queria de fato.

O que nós temos foca em pontos que, contraditoriamente, não fazem sentido com todo o restante da série e inclusive da temporada. Midge é demitida logo após sua apresentação e essa parece claramente uma questão de machismo e dela lidando com o teto de vidro... Mas esse não é o ponto da personagem.

Ela não queria o emprego para nada além de conseguir uma chance em frente das câmeras e o sucesso (e é justamente o motivo pelo qual ela fica quase cinco meses ali). É a conclusão dela ao final da temporada anterior, ela não está mais preocupada em agradar os outros ou conseguir sucesso por algo diferente do que ela é e quer fazer (e em seu próprio estilo), num sentido claro de autenticidade e integridade (com um paralelo com Lenny Bruce, que apesar de ser apreciado como um gênio, é como um gênio que não tão foi reconhecido - e apreciado - em seu tempo).

Não é tanto uma questão de luta por igualdade e feminismo como uma luta por integridade artística.

Inclusive, e esse é um ponto importante, o principal motivo para Midge não fazer sucesso nas cinco temporadas, não é exatamente porque ela é uma mulher tentando a sorte no final dos anos 1950 início dos anos 1960, mas porque ela não quer se dobrar pra ninguém. Isso fica muito claro tanto com as situações com Sophie Lennon como com Shy Baldwin (duas oportunidades em que ela continuaria numa escalada de sucesso somente ao aceitar as condições do jogo). No caso de Baldwin, inclusive, que era um cantor negro homossexual nesse período (o que significa que tendo de esconder esse aspecto da sua vida pública), é justamente o fato que Maisel tenta tirá-lo do armário (nos 1960 lembremos bem) durante seu stand up.

Longe de ser ruim, só parece que faltou algo para tornar completo.

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