Derry Girls é a prova que o algoritmo da Netflix não existe (o que eu acredito, pelo menos no meu caso, pois raramente as sugestões são compatíveis com as coisas que eu gosto e quase sempre são o novo produto que a empresa quer enfiar goela abaixo de seu assinante) ou funciona.
Provavelmente você recebeu diversas notificações e sugestões para seriados horrorosos nos últimos anos - como aquele do Ashton Kutcher, Kevin James ou o remake de Full House, todos com muito mais episódios que mereceriam em um mundo justo e muito mais propaganda, porque, sabe, direitos, contratos e """astros""" - mas ao menos pra mim, o espetacular e infelizmente já encerrado seriado com apenas 3 temporadas e meros 19 episódios no total ficava ali no cantinho, aquela sugestão mirrada perdida após uma gigantesca fila de material que nem ao menos atiçaria minha curiosidade.
Derry Girls é genial e eu nem sei como começar a explicar isso além de recomendar veementemente que você assista, recomende para seus amigos, conhecidos, credores e inimigos. É tão bom assim.
O roteiro/texto é extraordinário, os atores/personagens são extraordinários, a história é brilhantemente contada e consegue ao mesmo tempo trabalhar com clichês do gênero (sabe, comédia de colegiais com os hormônios a flor da pele - aqui com o pano de fundo do cenário caótico da Irlanda nos anos 1990) ao mesmo tempo que subvertendo completamente expectativas.
Um exemplo claro disso - e tentarei somente manter o mínimo de spoilers - é a personagem da freira Michael, que, na minha opinião é a melhor personagem de todo o material. Em dado episódio ela aparece coibindo as alunas de cantarem determinadas músicas, e, por tabela acaba soando como o clichê padrão da freira amargurada e cansada da vida (inclusive no episódio). No entanto, conforme a série avança, fica claro que essa não é a questão afinal a freira que passeia com seu Delorean simplesmente não queria ouvir músicas sendo retalhadas por cantores ruins.
E todo o resto acompanha essa lógica. As personagens e os roteiros operam em camadas e mesmo situações que parecem minúsculas ou bobas em dado momento tem significância para o desenvolvimento e a narrativa.
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