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1 de maio de 2023

{Deixa eu te explicar...} Parte dois (ou excertos). Uma breve história do Homem Aranha

Notas: Eu até pensei em incluir no texto anterior (mas vi que estava dilatando demais a coisa toda e acabei separando em outro post), e em alguns pontos inclusive fugir demais da proposta do texto original.

O Homem Aranha foi criado em agosto de 1962 para a revista Amazing Fantasy 15 (algo como 'Fantasia Incrível' em tradução literal) e com a repercussão extremamente positiva ganhou sua série própria a partir de 1963 com o Amazing Spider-man (O Incrível Homem-Aranha, mas acabou ficando como 'O Espetacular Homem Aranha', o que, considerando que surgiria uma série com o nome 'Spectacular', torna mais difícil a distinção) com publicação originalmente bimensal, mas devido ao avassalador sucesso, logo se converteu em edições mensais (e séries derivadas aos montes como Marvel/Spider-man Team Up - algo como Encontros Marvel, ainda que fosse quase sempre protagonizada pelo Homem Aranha - em 1972, The Spectacular Spider-man em 1976, Web of Spider-man de 1985, Spider-man de 1990 - que em 1998 se tornaria Peter Parker: Spider-man).

A ideia central concebida por Stan Lee e Steve Ditko centrava sobre um adolescente estudioso e desajeitado vítima de bullying que ganha incríveis poderes com enorme agilidade e força se tornando um grande herói, e, no cenário dos anos 1960 em que o movimento hippie e os adolescentes demandavam mais voz, e, um super herói adolescente (ao contrário de todos os playboys bilionários, caras do exército/policiais e jornalistas, todos eles adultos nas décadas anteriores) tornava bem mais fácil a identificação com o público leitor, em grande parte, em geral passando pelos perrengues da vida escolar.

Se as histórias eram boas, bem, estamos falando de Stan Lee e mesmo em seus melhores e mais inspirados momentos ele era um escritor bem medíocre, e nesse momento ainda embrionário de sua carreira, bem, estamos falando de histórias em que vilões eram derrotados por equipamento de jardinagem ou aspiradores de pó. A fase realmente interessante vem a partir da chegada de Gerry Conway em 1972 com Amazing Spider-man 111, mas que resultaria em poucas edições na mais impactante história do personagem até hoje, a morte de Gwen Stacy (edição 121), e, com uma série de reforços como Roy Thomas, Roger Stern, Tom Defalco, Marv Wolfman, Peter David, e J M Demateis pela década seguinte resultaria em uns bons vinte anos de boas/ótimas histórias do personagem quase ininterruptas, com alguns pontos extraordinários como A Saga do Devorador de PecadosA Última Caçada de Kraven (na minha humilde opinião, a melhor história do personagem disparado) ou O Garoto que colecionava Homem Aranha.

A partir de 1988 David Micheline assume o título e colabora por um bom tempo com Todd McFarlane e Erik Larsen nos principais títulos do aracnídeo, mas, honestamente não são as suas habilidades de escritor que chamam a atenção de qualquer leitor nesse período mas a arte. O roteiro acaba em uma série de clichês, novelões (não bastasse o admirador secreto - e psicopata - de Mary Jane, ainda tem a situação da Tia May perdendo o noivo [isso mesmo que você leu] e o retorno dos país de Peter mais pra frente) e um doutorado sobre o uso de foguetes para ler as linhas de Ley (porque... Ciência!).

Ciência!

A arte é o grande destaque, e, para potencializar sequências mais cinéticas (com o Homem Aranha enfrentando versões malignas de si mesmo - e sejamos honestos, a imagem ao lado parece saltar da tela de tanta energia que tem) surgem vilões como Venom e Carnificina que seriam usados quase que semanalmente nos anos seguintes (e, pra ser bem honesto, na década seguinte). Enquanto nada disso é necessariamente ruim (ainda), sejamos honestos, na melhor das hipóteses é passável ou medíocre, com o material piorando e a qualidade (da melhor das hipóteses medíocre) deteriorando nos anos seguintes conforme mais versões malignas (com outros simbiontes coloridos pra todos os gostos) e clones. Os anos 1990 ficaram entre Carnificina Absoluta (com todas as suas 14 edições para terminar com uma bomba de boas energias e ter mais ao menos umas quinze continuações e derivações nos anos seguintes) e A Saga do Clone (que era para ser publicada em 6 meses mas acabou tomando dimensão nos múltiplos títulos do Homem Aranha por mais de 2 anos), e, verdade seja dita eu duvido realmente que Judas Traveller, Scrier ou mesmo o Chacal apareçam como algo além de easter eggs (se muito) em algum dos próximos filmes (ou animações) do personagem.

Vale lembrar que ao final da saga do clone, chegamos ao ponto da falência da Marvel, e, nos anos seguintes a gigantesca estrutura para recuperação judicial e reestruturação da linha de quadrinhos e seus personagens.

As histórias melhoram um pouco nos anos seguintes (mais pelo fato que todo o período anterior é ruim/péssimo do que efetivamente por boas histórias - não consigo lembrar de nada desse período além da Crise de Identidade - que é mais uma tentativa de lançar outros personagens que uma história em si, ainda que inofensiva - e Caça ao Aranha - que é mais uma tentativa de colocar o Aranha contra o Justiceiro) mas não tarda muito para desandar de novo, com John Byrne assumindo os títulos em 1998 principal e reiniciando a série Amazing Spider-man em 1999, com um novo número 1 pelo autor (seguindo mais ou menos o que a editora vinha fazendo com seus títulos após o Massacre/Heróis Renascem em 1996/1997).

Esse é um ponto de reestruturação da editora (de novo, falência alguns anos antes) e a visão dos editores começa a se impor mais que em outros momentos, e, no caso do Homem Aranha fica translúcido em certos pontos o quanto queriam voltar para o ponto dele jovem, quebrado e solteiro. Primeiro a filha de Peter e Mary Jane é sequestrada (e os dois seguem como se nada tivesse acontecido) e depois a própria Mary Jane morre em um acidente aéreo. Nas edições seguintes descobrem que os rumores da morte da ruiva foram terrivelmente exagerados mas dá tempo do personagem dar umas bitoquinhas e curtir a vida de solteiro, e, francamente nada de realmente memorável acontece no título até 2001 quando J M Straczynski assumir a série e alguns anos mais tarde Joe Quesada se tornar o editor.

Ainda que o começo seja só idiota e cópia do Monstro do Pântano de Alan Moore (com um Constantine na forma do personagem Ezekiel explicando que os poderes de Peter não são bem o que ele imagina e ele é só a mais nova encarnação do totem animal aranha ou, sabe, Monstro do Pântano do Alan Moore, só que por um autor bem inferior), e tenha a extraordinária edição em que Tia May descobre a identidade do Homem Aranha e eles passam a limpo essa situação (e é uma história fantástica que apesar de todo o restante horroroso, merece ser lida) 

Aqui já é um território pendendo entre o pior e abjeto, com sagas como Potestade (no original Reign, que briga pelo lugar de pior história já escrita, não somente para o Homem Aranha - e eu nem sei por onde começar mas o fato que o personagem acaba responsável pela morte de sua esposa por seu DNA radioativo, só que eles não usam a palavra DNA já é um indicativo) ou Os Pecados Pretéritos (do original Sins Past, que tenta destronar a história recém citada e que faz um retcon em que a namorada dos anos 1960-1970 tinha um caso com o Duende Verde - e teve dois filhos mutantes com ele) e claro a terrível Um dia a mais (do original One more day, e, é a saga em que o personagem faz um pacto com o demônio para salvar sua tia octogenária em troca das memórias de seu casamento - e é mais uma forte candidata à pior história de todos os tempos). Não esqueçamos O Outro (ou evolua ou morra, em que o personagem ganha novos poderes ao sair de um casulo e matar um vilão - claro, sabe, ciência!), Trouble (ou as aventuras sexuais da jovem Tia May) e claro, o especial do 11 de Setembro com o Doutor Destino (sabe, o cara que condenou uma criança ao inferno em determinada história) chorando diante das torres caídas...

Dan Slott assume o título a partir de 2008 com a edição 546 de Amazing Spider-man e continuou por quase uma década à frente do personagem terminando com a edição 801 de 2018. E enquanto muita gente gosta dessa fase (até porque depois das últimas duas décadas, bem, qualquer melhora já é uma melhora), essa ainda é a fase da idiota Homem Aranha Superior (lembra disso? Do Doutor Octopus trocando de cérebro com o Homem Aranha, porque, ciência?), Ilha das Aranhas e do relacionamento com a Harpia (que totalmente justifica um divórcio místico pelo diabo, né?).

Nick Spencer assume o título por algum tempo - e talvez seja o melhor autor desde David Micheline - mas, bem, tudo o que é bom dura pouco, e, para um personagem que passou tanto tempo entre o ruim e o execrável (e os fãs não pararam de comprar) talvez para a editora simplesmente não fizesse mais sentido continuar com isso... Sabe, sem os fãs ameaçando o escritor de morte ou talvez elogiando o material de vez em quando...? Droga, talvez eles nem mais soubessem que é possível publicar boas histórias com o Homem Aranha (é, eu sei, que absurdo) e veio Zeb Wells em 2022 e os fãs estão pedindo outro Um dia a Mais (pra você ver o quanto o material está ruim com pouco mais de um ano), depois de um roteiro idiota sobre dimensões paralelas e a Mary Jane casada e com dois filhos porque, polêmica eu acho.

Mas, ei, não são escritores e decisões ruins somada com interferência editorial e mal planejamento que formaram essas décadas de histórias horrorosas. Claro, claro é o fato que surgiu o Miles Morales ou a Gwen Aranha (ambos citados exatamente uma vez no texto, nesse parágrafo)...

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