Notas: Eu até pensei em incluir no texto anterior (mas vi que estava dilatando demais a coisa toda e acabei separando em outro post), e em alguns pontos inclusive fugir demais da proposta do texto original.
O Homem Aranha foi criado em agosto de 1962 para a revista Amazing Fantasy 15 (algo como 'Fantasia Incrível' em tradução literal) e com a repercussão extremamente positiva ganhou sua série própria a partir de 1963 com o Amazing Spider-man (O Incrível Homem-Aranha, mas acabou ficando como 'O Espetacular Homem Aranha', o que, considerando que surgiria uma série com o nome 'Spectacular', torna mais difícil a distinção) com publicação originalmente bimensal, mas devido ao avassalador sucesso, logo se converteu em edições mensais (e séries derivadas aos montes como Marvel/Spider-man Team Up - algo como Encontros Marvel, ainda que fosse quase sempre protagonizada pelo Homem Aranha - em 1972, The Spectacular Spider-man em 1976, Web of Spider-man de 1985, Spider-man de 1990 - que em 1998 se tornaria Peter Parker: Spider-man).
A ideia central concebida por Stan Lee e Steve Ditko centrava sobre um adolescente estudioso e desajeitado vítima de bullying que ganha incríveis poderes com enorme agilidade e força se tornando um grande herói, e, no cenário dos anos 1960 em que o movimento hippie e os adolescentes demandavam mais voz, e, um super herói adolescente (ao contrário de todos os playboys bilionários, caras do exército/policiais e jornalistas, todos eles adultos nas décadas anteriores) tornava bem mais fácil a identificação com o público leitor, em grande parte, em geral passando pelos perrengues da vida escolar.
Se as histórias eram boas, bem, estamos falando de Stan Lee e mesmo em seus melhores e mais inspirados momentos ele era um escritor bem medíocre, e nesse momento ainda embrionário de sua carreira, bem, estamos falando de histórias em que vilões eram derrotados por equipamento de jardinagem ou aspiradores de pó. A fase realmente interessante vem a partir da chegada de Gerry Conway em 1972 com Amazing Spider-man 111, mas que resultaria em poucas edições na mais impactante história do personagem até hoje, a morte de Gwen Stacy (edição 121), e, com uma série de reforços como Roy Thomas, Roger Stern, Tom Defalco, Marv Wolfman, Peter David, e J M Demateis pela década seguinte resultaria em uns bons vinte anos de boas/ótimas histórias do personagem quase ininterruptas, com alguns pontos extraordinários como A Saga do Devorador de Pecados, A Última Caçada de Kraven (na minha humilde opinião, a melhor história do personagem disparado) ou O Garoto que colecionava Homem Aranha.
A partir de 1988 David Micheline assume o título e colabora por um bom tempo com Todd McFarlane e Erik Larsen nos principais títulos do aracnídeo, mas, honestamente não são as suas habilidades de escritor que chamam a atenção de qualquer leitor nesse período mas a arte. O roteiro acaba em uma série de clichês, novelões (não bastasse o admirador secreto - e psicopata - de Mary Jane, ainda tem a situação da Tia May perdendo o noivo [isso mesmo que você leu] e o retorno dos país de Peter mais pra frente) e um doutorado sobre o uso de foguetes para ler as linhas de Ley (porque... Ciência!).
Ciência! |
Vale lembrar que ao final da saga do clone, chegamos ao ponto da falência da Marvel, e, nos anos seguintes a gigantesca estrutura para recuperação judicial e reestruturação da linha de quadrinhos e seus personagens.
As histórias melhoram um pouco nos anos seguintes (mais pelo fato que todo o período anterior é ruim/péssimo do que efetivamente por boas histórias - não consigo lembrar de nada desse período além da Crise de Identidade - que é mais uma tentativa de lançar outros personagens que uma história em si, ainda que inofensiva - e Caça ao Aranha - que é mais uma tentativa de colocar o Aranha contra o Justiceiro) mas não tarda muito para desandar de novo, com John Byrne assumindo os títulos em 1998 principal e reiniciando a série Amazing Spider-man em 1999, com um novo número 1 pelo autor (seguindo mais ou menos o que a editora vinha fazendo com seus títulos após o Massacre/Heróis Renascem em 1996/1997).
Esse é um ponto de reestruturação da editora (de novo, falência alguns anos antes) e a visão dos editores começa a se impor mais que em outros momentos, e, no caso do Homem Aranha fica translúcido em certos pontos o quanto queriam voltar para o ponto dele jovem, quebrado e solteiro. Primeiro a filha de Peter e Mary Jane é sequestrada (e os dois seguem como se nada tivesse acontecido) e depois a própria Mary Jane morre em um acidente aéreo. Nas edições seguintes descobrem que os rumores da morte da ruiva foram terrivelmente exagerados mas dá tempo do personagem dar umas bitoquinhas e curtir a vida de solteiro, e, francamente nada de realmente memorável acontece no título até 2001 quando J M Straczynski assumir a série e alguns anos mais tarde Joe Quesada se tornar o editor.
Ainda que o começo seja só idiota e cópia do Monstro do Pântano de Alan Moore (com um Constantine na forma do personagem Ezekiel explicando que os poderes de Peter não são bem o que ele imagina e ele é só a mais nova encarnação do totem animal aranha ou, sabe, Monstro do Pântano do Alan Moore, só que por um autor bem inferior), e tenha a extraordinária edição em que Tia May descobre a identidade do Homem Aranha e eles passam a limpo essa situação (e é uma história fantástica que apesar de todo o restante horroroso, merece ser lida)
Aqui já é um território pendendo entre o pior e abjeto, com sagas como Potestade (no original Reign, que briga pelo lugar de pior história já escrita, não somente para o Homem Aranha - e eu nem sei por onde começar mas o fato que o personagem acaba responsável pela morte de sua esposa por seu DNA radioativo, só que eles não usam a palavra DNA já é um indicativo) ou Os Pecados Pretéritos (do original Sins Past, que tenta destronar a história recém citada e que faz um retcon em que a namorada dos anos 1960-1970 tinha um caso com o Duende Verde - e teve dois filhos mutantes com ele) e claro a terrível Um dia a mais (do original One more day, e, é a saga em que o personagem faz um pacto com o demônio para salvar sua tia octogenária em troca das memórias de seu casamento - e é mais uma forte candidata à pior história de todos os tempos). Não esqueçamos O Outro (ou evolua ou morra, em que o personagem ganha novos poderes ao sair de um casulo e matar um vilão - claro, sabe, ciência!), Trouble (ou as aventuras sexuais da jovem Tia May) e claro, o especial do 11 de Setembro com o Doutor Destino (sabe, o cara que condenou uma criança ao inferno em determinada história) chorando diante das torres caídas...
Dan Slott assume o título a partir de 2008 com a edição 546 de Amazing Spider-man e continuou por quase uma década à frente do personagem terminando com a edição 801 de 2018. E enquanto muita gente gosta dessa fase (até porque depois das últimas duas décadas, bem, qualquer melhora já é uma melhora), essa ainda é a fase da idiota Homem Aranha Superior (lembra disso? Do Doutor Octopus trocando de cérebro com o Homem Aranha, porque, ciência?), Ilha das Aranhas e do relacionamento com a Harpia (que totalmente justifica um divórcio místico pelo diabo, né?).
Nick Spencer assume o título por algum tempo - e talvez seja o melhor autor desde David Micheline - mas, bem, tudo o que é bom dura pouco, e, para um personagem que passou tanto tempo entre o ruim e o execrável (e os fãs não pararam de comprar) talvez para a editora simplesmente não fizesse mais sentido continuar com isso... Sabe, sem os fãs ameaçando o escritor de morte ou talvez elogiando o material de vez em quando...? Droga, talvez eles nem mais soubessem que é possível publicar boas histórias com o Homem Aranha (é, eu sei, que absurdo) e veio Zeb Wells em 2022 e os fãs estão pedindo outro Um dia a Mais (pra você ver o quanto o material está ruim com pouco mais de um ano), depois de um roteiro idiota sobre dimensões paralelas e a Mary Jane casada e com dois filhos porque, polêmica eu acho.
Mas, ei, não são escritores e decisões ruins somada com interferência editorial e mal planejamento que formaram essas décadas de histórias horrorosas. Claro, claro é o fato que surgiu o Miles Morales ou a Gwen Aranha (ambos citados exatamente uma vez no texto, nesse parágrafo)...
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