Principalmente porque, e isso é importante, isso é tendência moderna porque vivemos no mundo da pós-verdade, e, se não existe uma única verdade (e fatos), portanto existem variáveis e ramificações não exploradas que, bem, são igualmente válidas. A indústria visando sempre mais e potencial lucro vê na condição em que, ei, todo ponto de vista é válido e igualmente aceitável como uma condição para atrair tanto o maluco evancrente de direita que acha que tomar vacina te transforma em jacaré quanto a pessoa minimamente inteligente que sabe que não e talvez até a pessoa realmente inteligente - mas essa eu já tenho minhas dúvidas de que ainda se interesse no que é produzido pela indústria cultural como um todo e busque, no geral, material de nicho e obras além dos eixos mais comuns.
Então, resumindo, a ideia de que todas essas visões antagônicas de mundo possam compartilhar uma perspectiva comum (também chamada de verdade) é o que dá vazão ao fenômeno de tantas obras recentes explorando o tema de condições do multiverso. Isso e a declaração clara e rompante de falência intelectual porque afinal de contas é basicamente jogar pra cima e aceitar tudo e qualquer opção como válida numa obra de ficção sem restrição qualquer. Robôs e feitiçaria? Claro!
Mas, parece que eu não estou falando muito do filme em si e somente do que eu não gosto da ideia em geral...? E, bem, é. Porque nem tem muito a se falar do filme.
Não foge muito de filmes de humor antigos que tinham várias esquetes vagamente ligadas por sequências comuns, como A história do Mundo Parte 1 ou Monty Python e o Sentido da Vida, só que aqui, bem, sem a necessidade de ligação entre as esquetes. Passa uma transição e parte de um mundo para outro e vida que segue, efeitos especiais, algum coadjuvante e mais uma transição até o final do filme. Droga, não foge nem da fórmula dos filmes (e seriados) ruins de super heróis... Um vilão genérico que incorpora o tema central do filme surge para perseguir nosso herói incauto que está preso em um mundo que não construiu.
Vale pela construção visual, vale pela atuação e, droga, pela imaginação do material. Mas fingir que não é algo idiota sobre o multiverso como estrutura de empresas gigantescas para incorporarem cada vez mais da produção intelectual em uma única massa disforme e sem personalidade... Tipo a Disney.
PS: E, sim, eu sei que nos quadrinhos existem estruturas de Multiverso (inclusive uma série escrita pelo Grant Morrison com esse nome - e que eu mesmo elogiei bastante) mas existe uma diferença bem grande entre a noção de multiverso dos quadrinhos e do que vemos atualmente na cultura popular.
Nos quadrinhos, a ideia é de encapsular as diversas versões de personagens, seus diversos autores/artistas e seus estilos (e diversas condições que hoje soam anacrônicas e bobas como as muitas histórias do Capitão Marvel/Shazam com um tigre falante) como parte de uma construção única, mais como um mosaico e colcha de retalhos que outra coisa, como quando o Grant Morrison em uma edição de Multiverso refaz Watchmen com os personagens da editora Charlton Comics (uma editora que faliu e foi comprada/incorporada pela DC e cujos personagens serviram de inspiração para aqueles de Watchmen). São facetas da mesma narrativa, dos mesmos personagens que foram mudando com o passar de décadas e que compõem essa tapeçaria rica e complexa, e não somente o teste de limiares do infringimento de direito autoral para mencionar propriedade intelectual famosa de outra pessoa.
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