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16 de fevereiro de 2023

{Resenhas de Quinta} Quase X-men (Y-men?)

A Patrulha do Destino de Arnold Drake e Bruno Premiani surge em My Greatest Adventure 80 de junho de 1963 - enquanto a trupe de mutantes criados por Jack Kirby e Stan Lee chegou às bancas em setembro do mesmo ano - e as similaridades do grupo de desajustados temidos e odiados pela sociedade (que juraram proteger) liderados por um cadeirante genial e com principal grupo de vilões uma irmandade do mal (no caso com o acréscimo de 'mutantes do mal' na Marvel).

Existem diferenças, é claro, que não se limitam ao estilo e narrativa - e inclusive a arte de Premiani é bem mais sútil e arrojada que os traços de Kirby no mesmo período - e, no geral se dão pelo fato que Drake realmente abraça a chamada do título dos heróis mais estranhos (e ridículos) do mundo, e isso se vê edição por edição. São o General Immortus, o Gorila, monsieur Mallah (que é o servo devoto do Cérebro - literalmente um cérebro numa jarra) e criaturas cada vez mais bizarras como e eu não consigo enfatizar o suficiente o Homem-Vegetal-Mineral-Animal (que, sim, eu coloco a imagem ao lado justamente pra provar que eu não estou mentido, mas, honestamente, quem dera eu tivesse a imaginação para algo desse calibre).

Lee e Kirby tentavam algo mais focado no que a Marvel queria construir de um universo coeso e ainda que 'realista' seja uma palavra muito distante do que de fato acontecia na editora, pelo menos, o mais próximo da realidade ainda se mantendo uma ficção de super-heróis dos anos 1960 (escritas por Stan Lee). E, enquanto é verdade que as histórias em parte envelheceram mal, em parte são produto direto de seu tempo e em grande parte são incrivelmente inferiores ao extraordinário trabalho realizado por Grant Morrison nos anos 1980, a verdade é que sem essa base, sem esse material, não só a fase de Morrison não existiria como a ótima série da HBO, e, francamente, muito mais dos quadrinhos que não tinham medo de passar por ridículo em nome de uma história divertida (Como praticamente tudo do Mike Allred? Peter David? Howard, o Pato?).

{EDITADO} E é curioso, acima de outras coisas, o quanto os quadrinhos da Patrulha do Destino fugiram da convenção que os heróis sempre vencem (ou estão certos). Inúmeras vezes eles fracassam ou vencem apenas marginalmente (algo como um empate em que o vilão da vez escapa sem ser derrotado), ao mesmo ponto que o Chefe (o Professor Xavier da trupe) muitas vezes soa, no mínimo, um grande e completo babaca, e, quase tão vilão (se não mais) que os inimigos que eles combatem. {Fim da edição}

Por outro lado, na década de 1980 (na verdade, a primeira edição literalmente de 1980), a autora Octavia Butler fez algo que, bem se parece bastante com as noções dos personagens mutantes, ao menos no material de Chris Claremont - mas curiosamente com tramas que parecem com as tramas desenvolvidas na X-Factor de Louise Simonson a partir de 1986.

Butler estabelece um mundo de pessoas geneticamente modificadas (aqueles primeiros a surgir as 'Sementes originárias' e, bem, o título do livro) com poderes fabulosos, e que passam a conviver em um assentamento do ainda recém colonizado Estados Unidos. A história segue principalmente os passos de Anyanwu que se junta a Doro, e por mais diferentes e antagônicos que sejam na maioria do tempo (e até seja fácil enxergar seu relacionamento como tóxico por toda e qualquer métrica), existe uma abordagem e análise sobre esse tipo de ser poderoso sob a concepção e criação da grande dama da ficção científica. Eles não são odiados e perseguidos por uma sociedade que os odeia. Eles vivem à margem, pois são criaturas altamente poderosas, mas, de mesma maneira, podem impor sua vontade quando bem entenderem ou acharem cabível.

Também não pensam em usar colante ou resolver todo (ou qualquer) problema do mundo. Querem viver suas vidas da melhor maneira possível, acumulando riquezas, familiares e experiências positivas... Mas eu tenho que dizer com toda a certeza que esse é um dos livros mais chatos da autora que eu li até hoje (e espero que seja o único). Quase nada acontece narrativamente nas 350 páginas da história, o conflito é pequeno e insípido (ainda que a natureza dos dois personagens Anyanwu e Doro seja oposta e confrontante, eles raramente denotam mais que uma pequena animosidade - por mais motivos que existam para isso)... Ou menor, existe um cenário apresentado no primeiro 'livro' (sim, essa história se divide em três livros e um epílogo), em que os dois personagens se encontram na África e partem para o novo mundo, um segundo livro no novo continente em um vilarejo com outros seres poderosos como eles e um terceiro após uma certa cisão e, por fim, o conflito entre Anyanwu e Doro resultando em um acordo e compromisso entre os dois. Mas é isso.

Até porque existe 5 volumes desta série, e talvez eles desenvolvam melhor a trama e seus temas principais (ainda que eugenia seja clara desde o começo), talvez falhem completamente em fazer qualquer sentido - afinal foram publicados fora de ordem cronológica originalmente. Primeiro em 1976 saiu o último (Pattermaster, ou 'O Padronista' ainda não publicado), depois o segundo da série em 1977 (Mind of my Mind - aqui saiu como Elos da Mente), em 1978 saiu o quarto livro da série (Survivor ou Sobrevivente) seguindo em 1980 deste que é o primeiro e em 1984 saiu o último livro que é o terceiro da série (Clay's Ark ou A arca de argila - ou do Clay). Eu, sinceramente, vejo pouco interesse de tentar desbravar os demais livros, ainda que ficção científica ruim de Octavia Butler seja milhões de vezes melhor que ficção científica 'boa' de alguns autores.

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