Pesquisar este blog

1 de dezembro de 2022

{Estranhas de Quinta} Resenhas no Paraíso

Primeiro de tudo, sim são três volumes com o mesmo nome da série (ainda que o primeiro volume fosse uma mini série em 3 edições publicadas pela Antartic Press, o segundo volume com 14 edições pelo Abstract Studios e o terceiro e mais longo volume que inicia pela Image comics e termina com a Abstract - estúdio do próprio Terry Moore - com 82 edições), mas essa resenha focará apenas no primeiro volume na mini série e na temática do material como um todo sem entrar em detalhes, ainda que possa comentar algum tema ou mesmo trama das séries seguintes.

Segundo de tudo, sim, eu sei que julgar a série toda somente pelas primeiras edições (ou seja a minissérie) é bem difícil pois acontece muita coisa depois, e, honestamente, Estranhos no Paraíso é bem diferente de um material da HBO como Mare of Easttown ou The Night of, até porque essas histórias são minisséries enquanto o material de Moore nasceu como uma minissérie somente porque, num mercado populado por super heróis (e definhando em vendas). Isso, inclusive, é parte do motivo pelo qual o material acaba vertendo para caminhos mais absurdos no segundo volume para atrair o público mais tradicional que consome quadrinhos, então surge um consórcio criminoso e agentes secretas (com porte de modelos internacionais) que vai consumindo mais e mais do restante da história que sai de duas garotas suburbanas vivendo e lidando com amor e relacionamentos para toda uma situação 100 Balas redux.

A série surge em 1993, quase um ano antes de Friends e nesse primeiro volume, nessa primeira minissérie, é surpreendentemente similar - ainda que aqui focado em duas garotas (e seu[s] relacionamento[s], enquanto o famoso seriado foca em um grupo maior de diversas faixas demográficas/socioeconômicas [ainda que, sem nenhum negro, pois afinal, amigos negros nos anos 1990?]). Terry Moore tem um estilo sólido tanto na arte quanto no roteiro e a leitura é leve e focada, cobrindo os temas de amor, amizade e relacionamentos, e mesmo personagens secundários ou terciários tem espaço para brilharem e fornecer grandes.

E francamente, eu fico surpreso mesmo é com o quanto o material continua bem escrito e pertinente todos esses anos depois enquanto a série de tv, bem, tem toda uma série de condições que envelheceram (bem) mal.

Katchoo, Francine e David são personagens complexas, tridimensionais, com toda uma gama de personalidade que poucos autores seriam capazes de trabalhar, e Terry Moore o faz com maestria, e eu realmente recomendo bastante o material em seus dois primeiros volumes (Um Sonho de Você e Ama-me com Ternura), ainda que o segundo arco já dê claros sinais de uma trama gigantesca e rocambolesca que na minha opinião não funciona com o tom inicial mais pé-no-chão do primeiro volume (e fica bem difícil falar sem entrar em território de spoilers - mesmo que a série já tenha encerrado há mais de uma década e essas edições tenham quase 3 décadas de sua publicação original).

O primeiro volume parece bem com Friends como eu disse. Duas amigas dividem uma casa e tem de lidar com problemas de relacionamentos, empregos e toda dose de situações comuns para pessoas na fase dos vinte e poucos tentando encontrar seu lugar no mundo, e, essa até pode ser a forma mais abrangente para resumir a série como um todo, o que eu particularmente acho muito interessante e com enorme potencial (até porque nós temos uma enormidade de seriados que surgiram depois do já citado Friends nas últimas três décadas tentando repetir a fórmula fosse com pequenas variações ou copiando desavergonhadamente). E Terry Moore consegue acrescentar um grau de realismo às personagens que é sem sombra de dúvidas único.

Elas parecem pessoas reais que talvez eu ou você conheça ou tenhamos cruzado numa fila de supermercado. Pessoas complexas cujas ações e reações não procuram o maior impacto narrativo mas que seguem as muitas vezes ilógicas reações tipicamente emocionais que fazem parte de nossa personalidade. Talvez com um certo vaudeville mais cartunesco no primeiro volume com um autor tentando encontrar sua voz e ainda sem timing de piadas (e mesmo narrativo), ainda que demonstrando claro enorme potencial.

A partir desse parágrafo terei alguns spoilers leves/moderados dos volumes seguintes para entrar nos negativos do restante da série, mas reforço e destaco a recomendação ao material. Ótima leitura, talvez não na versão em português da Devir, porque afinal de contas é a Devir (o que significa que provavelmente está muito mais caro e com uma qualidade questionável de impressão), mas ei, talvez dessa vez eu esteja errado.

Ok.

A partir do segundo volume a história toma um rumo menos pé-no-chão com uma enorme e rocambolesca narrativa sobre uma organização criminosa que parece diretamente saída de um quadrinho do Homem Aranha e que tem ligação intrínseca com os personagens principais da história e cujas ramificações serão sentidas por praticamente todas as edições e arcos seguintes. Isso pra mim perde e muito do apelo do material porque tira da condição da identidade dessas personagens como pessoas comuns com as quais poderíamos trombar na fila de mercados e as aproxima mais de figuras como Al Capone e bem alguns efetivamente ficcionais como Lex Luthor e sua(s) curvilínea(s) choffer/segurança... O que, bem, parece menos coerente com uma narrativa coesa sobre a vida e relacionamentos.

Eu entendo as dores de um chifre ou de não ter seu amor correspondido, mas eu tenho maiores problemas de empatizar com cenários de sindicatos do crime internacional com grupos de altamente treinadas assassinas que facilmente poderiam desfilar em qualquer semana de moda - ao mesmo tempo que derrubar um campeão de UFC com poucos golpes. Isso foi me perdendo conforme a trama avançou e por esse motivo eu não consegui terminar a série até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário