A ofensa era o herói com as cores da bandeira norte-americana surrando Hitler na fuça. Sim, você leu corretamente.
Os patriotas americanos furiosos foram à frente da sede da editora protestar em uma turba que varia de tamanho de acordo com quem conta a história, mas fossem dois ou fossem trezentos, o fato é que se ofenderam com a imagem que claramente simboliza a América denunciando o Nazismo. O que acontece é que Jack Kirby em um desses protestos se enfureceu, e, verdade seja dita, o escritor/desenhista era bastante conhecido por seu pavio curto e resolveu 'ter uma palavrinha' com o pessoal - ele sozinho, tá, não chamou a segurança ou coisa do tipo - mas quando chegou ao saguão não havia mais um único patriota para conversar com ele, tampouco voltaram para outros protestos, mas, com o desenrolar dos próximos meses (como Pearl Harbor em dezembro do mesmo ano forçando os EUA à guerra que se desenrolava) com o tempo a versão oficial foi se alterando para deixar claro que a posição oficial e história dos Estados Unidos e seus patriotas boomers foi de sempre denunciar o nazismo.
Só que isso não cola. Enquanto ocorriam os bastante públicos julgamentos de Nuremberg (1945 a 1946) o governo americano atuava em segredo com a operação Clipe de Papel (diz-se de 1945 a 1959, mas uma vez que é uma operação secreta, sinceramente, quem sabe?), recrutando oficiais de alta patente e cientistas nazistas, ou seja, denunciando publicamente o regime nazista enquanto se apropriavam e absorviam ao máximo daquilo que podiam do Reich. Também não podemos esquecer dos campos de concentração norte-americanos - aprisionando pessoas de ascendência asiática por qualquer motivo que fosse.
Concomitante a tudo isso, buscando poder no congresso, o Senador Joseph McCarthy implantou uma enorme caça às bruxas aos comunistas, subversivos e traidores (basicamente o mesmo que os campos de concentração do Reich, mas, sabe, com denúncias e perseguições públicas para destruir nomes e carreiras), desestabilizando a indústria do entretenimento como bem pudesse e entendesse para alinhar assim a produção cultural à uma máquina de propaganda do estado (sabe, como Goebbles fazia do outro lado do Atlântico).
Enquanto abraçavam cientistas nazistas, os norte-americanos criticavam aberta e publicamente aqueles que também o fizeram. Argentina e Brasil que receberam cientistas nazistas (talvez involuntariamente e por dificuldade de limitar entre os incontáveis refugiados que chegam à América do Sul, talvez como sinal claro da nefasta cultura nos altos escalões dos exércitos destes países - e talvez ambos), com exemplos claros de referências ao fato na cultura popular, seja com oscarizado Os meninos do Brasil (de 1978), mas é bem fácil encontrar exemplos similares e recorrentes (de Magneto vindo à Argentina para caçar aqueles que o torturaram e à sua família no Holocausto para as Simpsons na Copa do Mundo criticando tanto alemães como brasileiros pela associação ao nazismo - e toda uma enorme quantia de casos entre os dois).
Audiências no senado eram promovidas para perseguir e investigar (e inclusive prender) artistas, autores e quem mais fosse do interesse de perseguir e investigar (e inclusive prender) pelo motivo que calhasse, até porque não era necessária muita explicação ou mesmo coerência, somente o interesse e a necessidade, no que vale destacar o caso de Fredric Wertham (com a conclusão de que LER leva ao ANALFABETISMO) para perseguir a extremamente popular indústria de quadrinhos nesse período.
Então enquanto publicamente os estadunidenses denunciavam o nazismo - e perseguiam subversivos comunistas - abraçavam intimamente o nazismo, e inclusive suas práticas, e, qualquer semelhança com uma sociedade que acredita em teorias de conspiração publicamente enquanto persegue minorias é mera coincidência, afinal, a história não se repete (novamente).
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