Um dos quadrinhos de super heróis mais famosos do Alan Moore é sua fase a frente do personagem britânico "Marvelman" (posteriormente conhecido como Miracleman). O personagem é um óbvio plágio do Capitão Marvel (ou mais conhecido como Shazam) que grita uma palavra mágica e se transforma no super herói poderoso capaz de moldar a realidade. Shazam, na época, era propriedade da DC Comics, que é responsável pelo infame processo contra a Fawcett comics pelas 'similaridades' entre o Capitão Marvel e Superman, e, com um longo e custoso litígio, forçaram aos limites financeiros até não conseguirem mais arcar com suas despesas (afinal, uma editora pequena processada pelo gigante behemoth dona de Superman e Batman num momento em que as vendas eram astronômicas), mas quem moveu um processo contra Mich Anglo foi a Marvel Comics pelo uso da palavra que dá nome à editora, e a história segue com outras ramificações que talvez um dia valha a pena comentar e discorrer mais.
Para o propósito aqui, é a questão que plágio é uma questão complexa, e, principalmente quando falamos de entretenimento no século XXI é em partes tabu (afinal ninguém quer ser acusado disso) enquanto em partes mais importantes, é algo vazio quando temos que lembrar que tudo é um maldito remix, sequência ou adaptação. Em algum momento na condição da empresa de entretenimento os produtores resolveram segurar o freio para ideias originais e ousadas (o que até faz sentido, afinal produtores estão obviamente mais preocupados com o retorno de investimento que com a produção de conteúdo - o que inversamente proporcional pode causar a falência de produtoras de conteúdo afinal os fãs invariavelmente perdem o interesse).
Esse último parágrafo é chave para a questão apresentada pela autora brasileira atribuindo ao seriado da Netflix 1899 plagiando sua obra (sem aspas ou qualquer trocadalho idiota, por favor) publicada em 2016, um quadrinho batizado Black Silence que explora uma expedição em condições extremas e bizarras e se depara com um segredo abissal do universo nessa situação.
Enquanto essa pode ser de forma bem genérica (e geral) a premissa de 1899 da Netflix, vale lembrar que também é a premissa de 2001: Uma odisseia no Espaço (de 1968) tanto de Kubrick quanto de Clark e eu nem duvido que se procurarmos encontraremos algum exemplo mais antigo.
Também é a premissa do enorme sucesso da Image Comics de 2013 Black SCIENCE (curioso como o nome é parecido, e inclusive soa parecido com o da artista brasileira, né?) de Rick Remender e Mateo Scalera e um dos quadrinhos mais legais que eu li na última década, e, das últimas décadas após os Irmãos Ventura reimaginando Johnny Quest e Rick e Morty, francamente, já faz tempo que é um conceito repetido a exaustão e recauchutado ad infinitum.
Mas e as pirâmides negras que a autora comenta como prova do plágio? Bem, além de serem exatamente a mesma coisa do monolito de 2001, só que, sabe, em outra forma, não são exatamente originais quando lembramos que Jodorowsky produziu o Incal em 1980 cuja base são justamente as duas pirâmides - uma branca e outra negra que forma justamente o mcguffin super poderoso que é o Incal).
E vai por mim, eu poderia continuar bastante (infelizmente eu precisaria entrar em território de spoilers para isso), mas a história dos dois materiais é bem diferente. A obra brasileira é mais para Ad Astra mesclado com Prometheus do Ridley Scott (nesse caso quase ipsis litteris).
1899 por outro lado, bem, o episódio final explica toda a simbologia de maneira clara - e é bem manjado também, com a alegoria da caverna de Platão e a Sartre (saca que são ideias bastante diferentes em si, certo?).
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