Na resenha sem spoilers eu mais falei dos outros filmes do que de Sem Tempo Para Morrer, curiosamente, mas é difícil falar do filme sem comentar que, (bem, a partir daqui como o título sugere e deixou bem claro TEREMOS SPOILERS) Bond não é mais 007 e inclusive morre no final.
O fato de Bond não ser 007 é mais aquele meta comentário e, bem, aquela bobagem para blindar o filme de críticas, como aquela versão feminina dos Caça Fantasmas tentou fazer. "Ei, se você critica por isso você é misógino", ainda que nesse caso em particular, não mude exatamente coisa alguma.
Além da nova 007 repetindo diversas vezes sobre como ela é a nova 007 (sem que para a narrativa isso seja de fato importante, e, efetivamente no final das contas seja o velho 007 que salve o dia), assim como uma miríade de novas agentes femininas para mostrar que são novos tempos e o jogo de espiões não é mais um clube do bolinha como nos antigos filmes. Algo como 'Esse não é mais o Bond de seus pais', mesmo que traga os aparatos idiotas e planos mirabolantes que fazem os do Cebolinha parecerem de fato infalíveis.
Porque, como na versão sem spoilers, esse é o constante conflito da franquia: Seguir no mundo camp e irônico ou construir uma narrativa legítima, humana e interessante.
Então o filme navega nessa tentativa de ser dramático enquanto alude a filmes que absolutamente nada tem de sérios, porque afinal de contas, esse é o marco do 25º na longeva franquia.
Aí você pergunta: Mas uma 007 muda alguma coisa na narrativa e no filme além de irritar os fãs velhões e incels que não se confirmam com a ideia revolucionária que mulheres podem trabalhar?
Francamente, vendo o filme parece muito mais um comentário PARA a audiência - e até para irritar os incels e velhões que se ofenderiam com o "absurdo" da ideia de um 007 que não seja Bond (e homem). Mas francamente... É assim tão absurdo?
Uma hora Bond se aposenta, e, antes de Bond ser um agente, a numeração deve(ria) pertencer a alguém, certo? Então, do que importa QUEM é o(a) 007...?
Ainda mais quando ao final de Spectre de maneira tão categórica e clara Bond resolve aposentar e seguir com sua vida como um homem de família que se casa e não quer mais saber dessa vida loka de aventuras, esportes radicais e a conquista da semana...?
Droga, esse era um ponto que mesmo em Skyfall já vinha se desenvolvendo e firmando, depois da cena inicial em que Bond meio que se aposenta (forçosamente) - e volta apesar de claramente não preparado e capacitado para executar o trabalho.
E qual a conclusão desse mundo em que Bond está velho, cansado e talvez não tenha mais um papel no mundo (que é a constante da série, também explícita em Skyfall e Spectre)...? Que talvez Bond tenha que morrer para dar fim a essa era de espionagem do século XX (tanto do primeiro romance lançado em 1952 quanto do filme lançado em 1962)...
Algo que basicamente o filme faz. Bond morre ao final do filme e os créditos dizem desavergonhadamente que Bond retornará. Claro que eles sabem que uma franquia como essa (que talvez seja a única coisa que a, outrora gigante, MGM tenha de significativo no momento) não ficaria morta por muito tempo de toda forma, mas o filme faz isso de propósito e de maneira explícita porque existe uma mensagem maior, que é a de que o espião inglês, assim como filmes de espionagem em geral, para continuarem relevantes no século XXI que já começou há umas boas duas décadas, precisam deixar pra trás toda essa bagagem e se reinventar.
Nós já temos aparelhinhos espiões super legais que podemos usar (e comprar na deep web ou nem tão deep na Amazon, Alibaba e Shopee), então pra que essas invenções mirabolantes do Quartermaster (ou Q, para não confundir com o outro divulgador de teorias de conspiração e que acredita que John Kennedy ressurgirá dos recônditos sombrios dos infernos para fazer a américa grande de novo).
O mundo já tem tanta e tamanha informação disponível e jogada na web, então ainda existe espaço para o espião com uma arma na mão e um sorriso nos lábios para seduzir toda e qualquer rabo de saia (com uma longa lista de despesas para o cartão corporativo do governo)?
Essas são perguntas que a franquia veio, de novo e de novo se perguntando, e, que com personagens análogas ao espião - com algumas espiãs, todas quais com seus estilos diferentes, e todas mulheres para solapar a mensagem de que "SIM O MALDITO MUNDO MUDOU, CONFORME-SE!", mas eu estou apenas parafraseando.
Curiosamente, até o momento eu não mencionei o vilão do novo filme, né? O vencedor do Oscar, ator da premiada série Mr Robot Rami Malek, né? Sim, ele é uma droga de vilão e tão esquecível quanto um vilão da franquia pode ser. Não é exatamente novidade (fiquei surpreso ao lembrar que Andrew Scott também foi vilão de Bond em Spectre), mas não ajuda muito que um filme de quase 3 horas tenha um vilão genérico e esquecível.
Então, basicamente o filme é bastante medíocre, poderia ter, fácil, uma hora e meia a menos e ainda contar a mesma história com o mesmo impacto. Talvez até funcionaria melhor.
Nota: 6,5/10.
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