(Mas até aí, ninguém viu muito de errado num indígena branco e loiro na narrativa de Neil Gaiman 1602).
Dizer que A Verdade é uma das melhores histórias do Capitão América (apesar do primeiro parágrafo) é no mínimo ridículo quando o personagem tem em seus "clássicos" históricas em que ele vira um lobisomem, é desenhado por Rob Liefield ou, bem, morre ao final de Guerra Civil. Com exceção da história em que o personagem descobre o envolvimento de Nixon com uma organização ultra racista de direita (e, o ex-presidente acaba se suicidando diante do bandeiroso que o força a questionar suas ações e valores), as aventuras do personagem são bem qualquer nota, mesmo feita essa distinção e exceção (porque quando você a lê, vê que existe toda uma série de exageros para contextualizar e mostrar que, ei, não é bem assim... Uma maçã podre não contamina todo o sistema e coisas do tipo).
E, é também ridículo porque lendo a história fica bastante evidente que, bem, não é uma história ou pelo menos não no sentido estrutural. Se você ler Watchmen e depois A Verdade, é bem fácil perceber que um dos dois foi planejado como uma série com um número definido de edições e o outro não.
Não sei dizer se o acordo original com a Marvel era de, talvez, desenvolver essa minissérie em uma série mensal regular que, eventualmente, terminaria como a história termina, não sei dizer se Baker fechou o contrato com a DC para produzir Plastic Man (que saiu em 2004, enquanto a série A Verdade ou Capitão América: Vermelho, Branco e Negro saiu em 2003) e isso atrapalhou alguns dos planos, ou se, e isso é bem importante, num cenário pós-George Bush e invasão do Iraque/Afeganistão com o patriotismo inflado dos norteamericanos ainda bem pouco após a queda do World Trade Center, eu não sei se 2003 foi o melhor plano para uma história em que o governo dos Estados Unidos é pintado como tão curiosa e paradoxalmente similar ao governo nazista de Hitler.
Isso acaba comprometendo o desenvolvimento de personagens e da narrativa. Alguns aspectos são apressados, algumas transições não levam o devido tempo, ocorrendo de maneira truncada e sem uma devida conclusão (se conclusão alguma) e ao final a história simplesmente salta décadas para situar os eventos desta narrativa no contexto atual do universo Marvel.
Então, é estranho que essa de fato seja uma das melhores histórias do Capitão América ou da Marvel pelo que vale, pois é uma história com muito mais defeitos que eu diria a fase do Grant Morrison a frente da Patrulha do Destino ou Homem Animal, por exemplo, ao mesmo tempo que a narrativa não parece se importar com suas falhas e defeitos, focando como um laser em sua crítica e estrutura narrativa... E, é bem difícil ignorar as críticas levantadas, inclusive bem mais difícil que ignorar os problemas estruturais da narrativa.
Então, onde isso coloca A verdade?
É uma boa história, sem sombra de dúvidas que mesmo quem não é exatamente fã de quadrinhos deveria ler, debater e expandir sobre (é tipo Escalpo ou o Xerife da Babilônia nesse aspecto), mas tem uma série de defeitos que, talvez com mais polimento e desenvolvimento, poderiam aparar as arestas que são bem aparentes.
Enquanto facilmente a melhor história do Capitão América, ponto, e, uma das melhores histórias da Marvel, ainda é uma história bastante imperfeita e cheia de problemas estruturais que a tornam mais uma leitura complementar para um debate mais rico (como uma leitura complementar para o Pantera Negra de Ta-Nehisi Coates ou Lovecraft Country de Matt Ruff) que algo que realmente se sustente sozinho e, francamente, que possa continuar relevante daqui mais alguns tantos anos.
Nisso eu vejo a série como um 7,5/10 (que é um B ou B+ dependendo do bom humor), mas teria bastante espaço para melhora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário