Nota: 6,0/10 |
Não só por questão da pandemia, que obviamente prejudicou a bilheteria, o orçamento e mais milhões de outras coisas do filme - mas porque o filme se passa depois dos eventos de Guerra Civil (de 2016) e antes de Guerra Infinita (de 2018), e esse intervalo entre os dois filmes seria um ótimo momento para o lançamento do filme (talvez até antes, entre o segundo Homem de Ferro de 2010 e o segundo Capitão América em 2014), inclusive para estabelecer essa franquia. E sim, esse problema é terrível para a história, a personagem e o universo que o filme tenta estabelecer (até porque nós sabemos que os eventos desse filme não impactam outras histórias posteriores assim como a Viúva Negra não corre exatamente perigo, já que estará nos outros filmes da cronologia Marvel).
Até porque, vale lembrar, alguns anos atrás Edgar Wright lançou um de seus melhores filmes Baby Driver (ou em Ritmo de Fuga) bem no meio de um enorme escândalo envolvendo Kevin Spacey (na época acusado de molestar ou, no mínimo, assediar sexualmente vários adolescentes - e no filme ele é um personagem que atormenta e assedia psicologicamente um adolescente a trabalhar na organização criminosa dele), e, a bilheteria (crítica e recepção geral) do filme obviamente sofreu por isso.
Certo, agora o filme: bem, ele deveria ter saído uns anos antes.
Antes da fadiga da fórmula dos super heróis da Marvel em que você já espera que tentem encaixar um música antiga que não encaixa no contexto que a narrativa está contando - e que quase sempre é bem forçada - enquanto tenta estabelecer uma narrativa de perda pessoal e dramática para o protagonista. Depois dos créditos de abertura (com alguma música triste e sombria tocando) você tem a obrigatória contextualização do cenário dos personagens na cronologia do universo compartilhado a que pertencem e enfim feito isso o filme de fato começa - mas desperdiça seu potencial pasteurizando os elementos que fariam a história individual e única (como o fato de que a Viúva Negra é uma espiã e portanto seu filme deveria/poderia ser mais para James Bond ou Jason Borne que Homem Aranha) - e em breve uma convoluta e pouco coerente trama se desenvolve (e que nós espectadores só conseguimos imaginar porque outros personagens deste universo não se envolveram - além de restrições contratuais e de agenda) passando por obrigatórias cenas para agradar os fãs até uma conclusão que nada concluí somente encadeando novos filmes a seguir.
A fórmula já está calejada e conhecida porque saíram tantos filmes com esse tipo de estrutura - e com a pandemia exigindo o adiamento do lançamento deste e outros filmes (que, até o momento nenhum realmente surpreendeu e conseguiu capturar as mentes e imaginações dos espectadores ou apresentou algo de interessante, inclusive porque parecem tão estranhos e alienígenas depois de nossas experiências de confinamento), mas para ajudar, com os processos e o descontentamento geral da parte da protagonista Scarlet Johansson ajudam a dar o tom - tal qual alguns anos antes Daniel Craig falando que preferia cortar os pulsos a voltar para o papel de James Bond...
Com isso todo o filme parece estranho e confuso, perdido entre si próprio, seu contexto e nossa realidade. O que claro transparece fortemente e jorra pelas cenas que soam tão estranhas e bizarras aos espectadores em diversos contextos (que incluem o geopolítico com a família russa da protagonista se refugiando em Cuba em 1995, porque obviamente a ilha da América Central ainda era e é uma extensão da Rússia de Putin - assim como a protagonista grande espiã internacional que viveu em quase cada centímetro do globo com dificuldades de falar 'Budapeste', como se isso fosse engraçado e bonitinho).
E é curioso porque eu adoro a personagem (e a atriz). A Viúva Negra é uma espiã em conflito com as exigências de sua vida dúbia e profissão e suas motivações para, bem, de fato ajudar e fazer algo de bom para o mundo.
Ela é uma assassina que quer ser uma heroína e salvar o mundo, ainda que entenda que isso soa pueril, principalmente para alguém treinada e especializada em métodos e técnicas para matar, não para salvar - e que é uma mera espiã lutando ao lado de deuses, monstros e todo tipo de aberração que o universo Marvel pode produzir. Por isso justamente a personagem se entende tão bem com o Demolidor, e por isso funcione nesse aspecto entre o vigilantismo e o superheroísmo.
Pena que o filme não se importe muito com isso, gastando mais tempo e energia estabelecendo coadjuvantes para reciclar e reutilizar em futuros filmes, séries e empreendimentos que de fato abordar e explorar a personagem para, afinal de contas, produzir algo genérico e pasteurizado que eles consigam produzir em tempos curtíssimos com peças alta e facilmente substituíveis e sem qualquer perspectiva para fazer algo único ou interessante... Desde que continuem chegando os cheques, afinal as contas não param.
Mas não sei se produzindo filmes medíocres os cheques continuarão chegando...
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