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19 de agosto de 2021

{Resenhas de quinta} O Esquadrão Suicida (Não confundir com Esquadrão Suicida, o "O" faz toda a diferença)

Enquanto eu quero muito fazer spoilers desse filme para falar sobre o final (ou mais precisamente o terceiro ato do filme), farei o possível para não fazê-lo além de alguma coisas que acho impossível não comentar, como "Sim, alguns personagens morrer, inclusive personagens vividos por atores mais tarimbados e conhecidos - e não somente o único que não teve uma cena de introdução" e "Não, o confronto ao final do filme com o vilão não faz um puto de sentido, e pelo contrário estraga todo o maldito sentido do que a porcaria do filme vem estabelecendo desde a primeira cena e..." Ok. Calma, vamos ao começo.

Existe muita coisa boa no filme, e, eu acredito piamente que vá revê-lo num futuro próximo - assistindo em casa na televisão grandona e com som do home theather e pipoca - e, francamente, eu até acho que muito do que me faz mais crítico desse filme é impossível não comparar com o filme de David Ayer, tanto no que aquele filme faz de pior e, até curiosamente, de melhor (digo curiosamente porque o filme foi massacrado pela crítica, mas só é medíocre/esquecível - e tenha alguns erros na construção de um universo cinematográfico maior).

Com essa condição de um soft reboot essas comparações são inevitáveis, e o filme constantemente tenha essa dificuldade de encontrar seu passo, frequentemente pisando nos calcanhares do predecessor e trombando com ele e se debatendo.

Por exemplo com a caracterização da comandante do Esquadrão, Amanda Waller. No tom mais humorístico/sarcástico de Gunn, Amanda é quase uma paródia de si mesmo.

A mulher fodona e que manda na p0>>@ toda do filme anterior se torna mais uma caricatura que, bem, joga golfe em seu escritório (meio que para justificar a presença e calibre de Viola Davis no elenco e para que ela possa aparecer mais vezes) e uma equipe que efetivamente faz todo o trabalho enquanto Amanda somente grita e dá ordens (ao contrário do filme de Ayer onde ela suja as mãos e mais de uma vez demonstra porque afinal ela manda na p0>>@ toda).

Inversamente, Gunn acerta no tom mais cômico para a ação em geral, e, com o filme não se levando tão a sério, a presença do Tubarão Rei, da Arlequina ou da Caça-Ratos (2, filha do original) rende ótimos momentos e interações destes personagens, de maneira que simplesmente inexiste no filme de Ayer. O filme entende a todo momento que eles são uma equipe operando clandestina e ilegalmente, e, mais importante, que todos são incrivelmente dispensáveis, e, isso permite as interações entre os diversos personagens de maneira mais genuína (incluindo os personagens menores e que aparecem pouco) e coerente que tudo que Ayer fez.

Nisso o filme de Gunn funciona muito bem, estabelecendo a lógica do Esquadrão, sua função (de conduzir operações clandestinas e secretas com agentes dispensáveis) que Ayer não fez (porque a publicidade queria estabelecer que, num mundo sem Superman, o governo precisaria criar um Esquadrão de supervilões para substituí-lo - ou anti-heróis, mais ou menos na onda de Guardiões da Galáxia lançado dois anos antes do filme de Ayer, e, um considerável sucesso).

Com tudo isso, os filmes vão formando essa massa grotesca e amálgama em que, em certos pontos um se sobressai enquanto em outros é a vez do segundo. Pelo bem ou pelo mal, o filme de Ayer faz uso de cada um dos personagens na construção da trama e em funções específicas para o desenvolvimento da história, incluindo momentos específicos para cada um dos personagens brilhar. Gunn por outro lado cria uma aventura mais dinâmica e que foca na história em contraste dos personagens (que, como o título supõe, são dispensáveis e vão caindo como dominós durante o filme).

Só que o filme de Gunn tropeça grotescamente no ato final e mesmo elementos estabelecidos pela lógica do filme se colidem.

O grupo de vilões que age de maneira clandestina a mando do governo acaba sendo aclamado como salvador da pequena ilha nação para onde são enviados, com sua operação 'secreta' exposta na mídia (sim, sei que isso é um 'spoiler'), e isso não faz sentido ao propósito geral da ideia e estrutura de uma operação SECRETA E CLANDESTINA!

Tem mais elementos que simplesmente não funcionam no ato final do filme, mas eu não vou entrar mais no território de spoilers do que isso, além de dizer que isso acaba prejudicando terrivelmente o filme. Tudo o que ele constrói arduamente para funcionar melhor e conduzir novos rumos para a franquia, simplesmente desmorona conforme o ato final vai se colidindo com a própria lógica interna do filme!

Pode até render uma boa (quiçá ótima) continuação que amarre os problemas e defeitos desse filme, apresentando uma nova luz e uma dinâmica mais interessante, mas aí será mérito dessa continuação e não desse filme.

Aqui tem um bom filme que se perde na linha de chegada (em grande parte por se preocupar tanto com o estilo que esqueça da substância).

O que é um pena (mas, considerando-se o estado da indústria cinematográfica com a pandemia, a gente até pode dar um desconto, inclusive com um filme tão repleto de astros e estrelas como esse, com grandes locações, extras e produção em geral).

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