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22 de julho de 2021

{Re-resenhas de Quinta} Liga da Justiça de Zack Snyder (isso mesmo, sem trocadalho, a piada já está aí em algum lugar).

Nota: -4 horas da minha vida
Vacinado e com quatro horas de minha vida para desperdiçar enquanto estava de repouso pensei 'Oras, porque não assistir à Liga da Justiça de Zack Snyder e verificar se de fato o filme traz alguma melhoria quanto a versão de 2017 de Joss Whedon?'. Provavelmente já era algum efeito e/ou reação da vacina agindo e quando me vejo, ou a febre ou a fúria tomam conta de mim e mal passaram dez minutos do filme.

Zack Snyder é um dos diretores mais indulgentes e estúpidos dos Estados Unidos moderno que não dirigiu nenhum filme da franquia Velozes e Furiosos (e algo me diz que isso simplesmente não aconteceu porque Vin Diesel e companhia acharam o cara muito exagerado para a franquia que tem carros pulando de prédios e correndo contra submarinos sob água congelada), e os exemplos dessa estupidez e indulgência preencheriam quatro horas e mais alguns trocados com facilidade (droga, ele fez um filme de zumbi em Las Vegas e coloca na trilha sonora tanto Zombie do Cramberries quanto Viva Las Vegas do Elvis! Tem como ser mais óbvio?).

Até por isso eu acho que peguei leve com o filme Mulher Maravilha 1984, em partes porque boa parte da culpa vem obviamente do Capitão Óbvio em pessoa que é produtor executivo - e provavelmente 'sugeriu' (ou exigiu) que certas cenas fossem acrescentadas ou mantidas na versão final do filme. Tipo a do bêbado mais elegante de Nova Iorque, sabe? E eu acho que aquele cara inclusive é um alusão ao Joss Whedon...

Enfim, Liga da Justiça do Joss Whedon é um filme com imensos problemas e no intervalo entre o lançamento e a pandemia, diversas alegações sobre o comportamento tóxico do diretor (e do Geoff Johns) começaram a surgir, meio que tentando livrar a barra de todo mundo do motivo não funcionar. E enquanto o filme tem vários defeitos, boa parte deles está diretamente atrelado às más decisões de Zack Snyder na sua construção do universo cinematográfico da DC.

Sabe, de matar o Superman em Batman v Superman (antes do filme que estabeleceria a Liga da Justiça), de não estabelecer um vilão digno para os personagens enfrentarem depois do Troll de Mordor e o Smeagol cabeludo (O que? O Jesse Eisenberg estava fazendo o Lex Luthor??????) além de ser um trailer de quase três horas para um universo de personagens que ou já estão bastante estabelecidos na cultura popular ou não são tão interessantes e necessários assim. Quer dizer, eu adoro o Aquaman, mas porque ele está na Liga da Justiça mesmo? (E sim, a Mulher Gavião ou o Caçador de Marte seriam inclusões muito mais interessantes, sem falar da Zatanna - e isso só falando dos nomes grandes e conhecidos).

Com um limão podre e já meio gasto, Whedon teve que fazer uma limonada para competir com o mega sucesso dos filmes da Marvel (que ele próprio ajudou a estabelecer não se levando tão a sério, com um tom mais cômico que o sisudo e sombrio universo DC de Snyder) e imposições pra lá de ridículas (como a restrição contratual do Superman, Henry Cavill que não poderia raspar seu bigode de outro papel - e que foi removido digitalmente, e objeto de críticas e mais críticas). Whedon fez o que pôde, e o resultado não agradou muita gente.

Eu digo que, considerando todo o contexto (os dois filmes anteriores - O Homem de Aço e Batman v Superman, e o cenário de bastidores com o diretor abandonando o navio após sua filha cometer suicídio, com as restrições de tempo para o lançamento e, bem, tudo mais do caos na produção que veio surgindo aos poucos ano a ano), o filme de 2017 é até que bom. Droga, o fato que ele chegou aos cinemas é quase um milagre.

Conforme as críticas de bastidores foram ganhando mais notoriedade, petições de fãs ganhando força e a Warner tentando tanto aplacar um lado quanto se distanciar do cenário altamente negativo disso tudo, resolve dar uma chance para a revisão do filme de 2017 com um produto exclusivo ao lançamento do HBO Max com lançamento bem no meio da pandemia - enquanto os cinemas ainda estavam fechados - e num formato bem diferente do que se está acostumado a filmes, em suas 4 horas de duração e originalmente em aspecto 4:3 (porque, oras, porque não? Esse é um aspecto super popular, né?) assim como uma versão widescreen em preto e branco..

O problema principal aqui - seja no filme de 2017, seja no filme atual - é que seu universo e contexto não funcionam ou trabalham de maneira a fazer sentido. Quer dizer, o vilão Lobo da Estepe surge com a intenção de destruir o mundo - ou dominá-lo para abrir terreno a seu mestre e senhor Darkseid, que é o arquiteto do grande plano maior - e, só pra entender bem, o melhor time disponível para deter esse cara é composto por um cara que não tem super poderes, um sujeito que nada muito bem (pra enfrentar um sujeito super forte fora da água e com monstros chamados Parademônios que voam), o homem mais rápido do mundo (ainda inexperiente), a Mulher Maravilha (que não está usando seus poderes devidamente porque o filme precisa justificar que a ameaça é mais poderosa que um deus por algum motivo) e por algum motivo o Ciborgue (porque alguma coisa sobre Caixas Maternas que são os supercomputadores de Nova Gênese)...

Han... Será que não rolava trazer a família Marvel, não? Eu acho que o Shazam e irmãos seriam um time mais eficiente para combater Lobo da Estepe e seu exército.

E esse é o grande problema: O vilão (e por consequência a narrativa) não funciona para o propósito de a) unir o time e b) justificar essa escalação. (Ah, e mesmo para estabelecer continuações, eu não vejo o Lobo da Estepe como um degrau interessante para Darkseid, mas, hein só uma observação simples).

Deixe-me ilustrar isso melhor. No arco Nova Ordem Mundial de 1997 escrito por Grant Morrison que apresenta a nova fase da Liga da Justiça (na rebatizada JLA), um grupo super poderoso surge prometendo vastas mudanças no status quo com medidas mais enérgicas no combate ao crime assim como ações de melhoria do mundo (transformando o ecossistema do deserto do Saara e outras medidas menores). Enquanto o mundo não vê esse grupo como uma ameaça, Batman bastante desconfiado começa a investigar e é atacado, resumindo a história eles descobrem que as coisas não são o que parecem e isso tudo é somente a primeira etapa de um plano de dominação mundial executada por marcianos brancos, e cabe ao novo grupo, cada qual com sua habilidade e poder enfrentar a gigantesca ameaça global.

Essa história em questão foi adaptada para a animação da Liga da Justiça no primeiro arco chamado Origens Secretas (com a invasão dos marcianos brancos forçando a reunião do grupo), e isso funciona.

Mesmo com personagens diferentes nas duas versões, cada uma trabalha e justifica a presença de cada um deles e suas funções para a equipe - e porque essa equipe é necessária para a ameaça em questão, e essa formação, bem, funciona.

Isso não existe no(s) filme(s), inclusive sendo o grande problema inerente da estupidez de Snyder ao matar o Superman em seu filme anterior! Muito acaba dependendo do retorno do personagem sendo que - como eu apontei alguns parágrafos atrás - o Shazam substituiria facilmente o último filho de Krypton sem nenhuma mínima diferença ou problema.

Inclusive, e, vale notar, Lobo da Estepe é um vilão dos Novos Deuses (aparecendo mais na fase de Mark Evanier de 1989 que na versão do Jack Kirby), e de pouca notoriedade. Aparece também na elseworlds Earth 2 dos Novos 52 e na série animada do Superman, mas, de novo, sem grande destaque.

Mais que isso, uma vez que a condição do Lobo da Estepe e os vilões de Apokolips estão tão ligados à famosa saga de Jack Kirby O Quarto Mundo, é fácil imaginar nomes mais adequados para a trama. Órion e Senhor Milagre (para ficar nos mais conhecidos) seriam adições mais coerentes para a história que o Aquaman (que é um personagem que eu adoro, vamos deixar isso bem claro), e, verdade seja dita, é muito mais fácil imaginar um filme solo da Mulher Maravilha enfrentando o vilão Lobo da Estepe (talvez com a ajuda de Órion ou Grande Barda) do que, bem, a demanda pela equipe em questão.

Seja na versão de quatro horas com muitas cenas de um futuro alternativo que nunca aconteceu ou na versão em que os atores foram assediados moralmente no set, nós não temos de fato uma justificativa para o vilão como uma ameaça que esse grupo, e esse grupo somente possa deter. E isso é um testamento do roteiro ruim, do universo mal construído por Zack Snyder e das ideias completamente absurdas e idiotas de sua cabeça.

A versão de Whedon tenta um reboot leve mudando para um tom mais alegre, sorridente e com piadinhas ruins para revigorar a franquia para um novo rumo - mesmo com o filme ruim e que não funciona. E com um filme curto, eu nem vejo como algo particularmente ruim, ainda mais quando vemos o enorme potencial do que veio depois (Shazam, Coringa, o novo Esquadrão Suicida).

A versão de Snyder não funcionaria em 2017 (filmes muito melhores fracassaram com tempos de duração mais curtas), e mesmo dividida em dois, três ou vinte partes ainda seria um filme ruim, pouco coeso ou interessante. Droga, eu acredito inclusive que fosse essa a versão lançada nos cinemas a reação negativa seria AINDA pior e as chances dos bons filmes que vieram depois ainda menores.

Na verdade, o que faz dela 'funcionar' melhor é que outros filmes foram lançados (como Aquaman, Shazam! e até mesmo Aves de Rapina e Coringa) assim como o evento da Crise nas Infinitas Terras nos seriados do CW e isso oferece mais contexto para os personagens e o universo DC... Porque o filme não se importa em fazer isso.

Quer dizer, porque o Aquaman está na Islândia mesmo...? Em Aquaman nós sabemos que o pai dele é norte-americano, então porque o 'maior detetive do mundo' precisa ir até a Islândia para encontrar o Aquaman?

Isso, inclusive, é algo que eu notei na longa e monótona cena inicial (ou seria um prólogo) que leva uns dez minutos, faz vários cortes para mostrar os diferentes e inúmeros pontos do universo DC (viajando mais que a franquia inteira de James Bond nesse intervalo de dez minutos) sem contar de fato uma história ou nos apresentar qualquer fato interessante até de fato iniciar com o Batman tentando recrutar o Aquaman na Islândia (que parece um ponto de partida ruim, tanto economicamente - quando existem outros heróis nos EUA - quanto estrategicamente - quando existe um velocista capaz de correr o mundo em segundos).

Aqui, eu acho inclusive que cabe comparação não com a versão de Joss Whedon mas com um bom filme para contraste, como Baby Driver do Edgar Wright. Em seis minutos o filme de Wright apresenta o protagonista, o principal conflito, os principais antagonistas e o tema central do filme. E tudo numa cena com ação bem dirigida e construída, além de bastante empolgante (e sem uma única linha de diálogo e exposição desnecessária). Snyder? 10 minutos (de 4 horas) martelando que a morte do Superman reverbera (sim, com ondas de choque visualmente transcorrendo o mundo), mostrando personagem e mais personagem sem dizer absolutamente nada de relevante.

Pelo contrário, quando esse prólogo termina, o filme inicia seus 'capítulos' de maneira bastante estúpida e literal (o modus operandi de Snyder) com um título que basicamente nos diz o que irá acontecer... 

Então, sobre Liga da Justiça, basicamente o que se pode dizer é "Foi ruim lá, é ruim hoje".

Só que a versão de Snyder é mais longa e pretensiosa.

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