Se eu já falei alguma vez sobre Duna no passado (e eu acho que sim) não foi exatamente de maneira positiva.
Eu tentei ler o livro ao menos umas três vezes, duas por insistências de amigos uma por insistência minha e dessa vez por petulância de não me deixar dobrar por um livro. E o livro é ruim.
Isso ao menos é a constante notada em cada uma das minhas tentativas anteriores com o livro.
Talvez seja ruim por ser datado, alguém poderia sugerir, mas eu não acho que isso se aplique. Lançado em 1965, o livro é mais recente que As Sereias de Titã do Vonnegut de 1959 ou pouca coisa mais velho que Androides Sonham com Ovelhas Elétricas de Phillip K Dick de 1968... E ambos são muitas vezes melhores.
E ainda que seja O Jogo dos Tronos ANTES de George R R Martin (sim, com famílias e dinastias em busca de consolidação do poder envolvidas em escândalos de corte, corrupção e assassinatos, substituindo dragões por vermes de areia), o grande problema nesse quesito é justamente de talhar de maneira bem mais pobre exatamente as intrigas políticas, conchavos, conspirações e escândalos de corte que constroem e consolidam a saga de George R R Martin. Existe um bocado de similaridades ao que parece bem claro que Martin se inspirou de uma ou outra maneira na história de Herbert, mas não é exatamente o tipo de coisa que vale de coisa alguma... Nenhum dos autores detém a exclusividade no assunto.
Só que nada disso particularmente faria do livro ruim por si só. Seria medíocre ou pouco imaginativo ou derivativo no máximo, e, verdade seja dita, a premissa do mundo árido e difícil com os vermes de areia e sua filosofia mais bruta é realmente intrigante e fascinante ao ponto de me fazer tentar QUATRO VEZES ler o livro.
O problema e o que de fato faz a coisa toda ser um exercício de futilidade reside em uma ferramenta que Herbert usa com nenhum talento e competência e que acaba prejudicando demais o fluxo narrativo, e, mais importante, a condução da história.
A cada capítulo existe um fragmento extraído de uma obra do universo ficcional que é usada como citação para explicar os eventos retratados, principalmente naqueles capítulos.
O problema ocorre justamente quando estes fragmentos começam a fixar e firmar spoilers de eventos ainda não ocorridos. A identidade de traidores, a sina de personagens que irão morrer e por aí vai, e isso acaba tirando e muito o impacto do transcorrer dos capítulos, principalmente quando trazem poucos e nada interessantes eventos - além de um spoiler no fragmento inicial da trama.
Enquanto isso poderia ser magistralmente integrado à história para construir um mundo mais complexo e ao mesmo tempo surpreender o leitor tirando um coelho da cartola no último minuto (construindo uma narrativa que posteriormente descobrimos ser falsa, por exemplo), os trechos servem tão e somente para prejudicar a estrutura narrativa com trechos de eventos por vir... O que é AINDA PIOR quando tudo o que se aponta por vir seja muito mais interessante do que o que de fato estamos vendo e lendo.
São quase duzentas páginas nos apresentando aos Artreides à família e a realidade do mundo Arrakis - antecipando uma morte que leva à mudança de um personagem para se tornar uma espécie de messias do povo da areia - quando o que realmente há de interessante e digno de nota é a morte do personagem que leva à enorme mudança para o protagonista que se torna uma espécie de messias para o povo da areia.
ESSA é a história que interessa, e não os anos formativos...
Mas mesmo quando chegamos a essa história, ela não flui com naturalidade em algo interessante e cativante. O livro continua truncado e preso em seus próprios axiomas sem tentar contar a história interessante que ele tem para contar, quase sempre preso em uma estrutura pomposa e masturbatória que parece constantemente querer se provar (e mostrar) mais inteligente e melhor do que realmente é.
Pode até ser que nos livros seguintes a história melhore e se desenvolva em algo mais interessante, mas eu não vou pagar para ver, muito obrigado.
Uma já é muito mais do que o suficiente.
Uma já é muito mais do que o suficiente.
Nota: 3,0/10
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