Eu adoro Kurt Vonnegut e acho que é um dos mais brilhante autores (não apenas modernos ou de ficção científica), com comentários mordazes sobre a sociedade e o absurdo cotidiano, recheando tudo isso com filosofias e análises que são uma raridade nos trabalhos de outros autores, ou, ao menos, uma raridade com esse calibre e qualidade.
A escrita de Vonnegut é bastante sagaz, recheada de tiradas satíricas, e, com tantas viagens espaciais e personagens pitorescos chega a lembrar um pouco o que Douglas Adams viria a lançar quase duas décadas depois na rádio britânica, mas destaco que é mais uma comparação para efeito de facilitar a compreensão do autor estadunidense com uma analogia a um autor mais conhecido - e digo isso justamente por ver na prática quando questionei em certa livraria das terras tupiniquins se tinham algum Vonnegut e o funcionário me apontou para a lanchonete, sugerindo que tinham com ou sem gergelim...
Triste porém verdadeiro.
Com As Sereias de Titã, que somente foi publicado no Brasil pela extinta G.R.D. (que foi comprada pela Martins Fontes) no longínquo ano de 1966 o autor destila todo um comentário social como uma das resenhas na contracapa destaca da edição americana da Delta que eu comprei: "Em As Sereias de Titã, Vonnegut não apenas levanta algumas das questões filosóficas mais importantes da humanidade como as responde", e, eu tenho que concordar veementemente.
Sem spoilers, claro, mas Vonnegut levanta questões fundamentalmente complexas sobre a natureza da vida e do livre arbítrio enquanto lançando as provocações ao leitor - entregando pontos importantes da trama logo no começo como se fossem 'previsões' e que servem para um intrincado questionamento sobre destino, religiosidade e a natureza de nossas ações.
Claro que a história é o desafio para qualquer pessoa que tente resumi-la, envolvendo um homem (e seu cachorro) presos em um funil quântico no espaço que leva a viagens siderais, uma guerra entre Marte e a Terra e a fundação de uma nova e fundamental religião na Terra que levaria a mundo à paz global. (E isso sem falar nos personagens centrais da trama...)
A narrativa é sarcástica e plenamente ciente, não apenas de seus absurdos mas dos absurdos que está destacando, estabelecendo de maneira lógica a sucessão de cenas e eventos para chegar a sua invariável (e ilógica) conclusão, ao mesmo tempo que o autor tenta sair dos moldes narrativos e de estruturas de histórias (que ele próprio tentou simbolizar através de gráficos). Vale MUITO a pena, e, vale muito a pena sabendo o mínimo possível para se deixar envolver pela bizarríssima trama e ver para onde ela trilha.
Nota: 10.
A narrativa é sarcástica e plenamente ciente, não apenas de seus absurdos mas dos absurdos que está destacando, estabelecendo de maneira lógica a sucessão de cenas e eventos para chegar a sua invariável (e ilógica) conclusão, ao mesmo tempo que o autor tenta sair dos moldes narrativos e de estruturas de histórias (que ele próprio tentou simbolizar através de gráficos). Vale MUITO a pena, e, vale muito a pena sabendo o mínimo possível para se deixar envolver pela bizarríssima trama e ver para onde ela trilha.
Nota: 10.
Li esse livro quando foi lançado pela GRD, há décadas atrás, e não me lembrava quase nada da história. Agora, em 2018, resolvi reler e comprei a edição da Aleph. Foi uma tremenda decepção, claro que não por ser da Aleph, mas pela história em si.
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