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18 de novembro de 2018

{Resenhas} Arqueiro Verde - O Espírito (?) da flecha


Uma das primeiras publicações da Panini no Brasil, a mini-série em dez capítulos de Kevin Smith que trouxe em 2001 - e que se estendeu por 5 edições mais, terminando na edição 15 em 2002 - té a história que traz a ressurreição de Oliver Queen e as conseqüências desse retorno para o universo DC.

Enquanto, bem, a história esteja perto dos vinte anos já (isso mesmo) ela envelheceu razoavelmente bem, dentro do contexto. Quer dizer, sim, é fácil se perder no sem mundo de referências a sagas de vinte e poucos anos atrás (como a Noite Final, Zero Hora e Dia do Julgamento - histórias que trazem o ciclo de Hal Jordan como Parallax até se tornar o Espectro), e claro, da morte do Arqueiro Verde nas histórias de Chuck Dixon na década de 90 continuando a magistral fase de Mike Grell. E, claro, a série se vê facilmente eclipsada por Brad Meltzer que sucedeu Smith no magistral arco seguinte (e fácil a melhor história do Arqueiro Verde já publicada)...

Ainda que pareça muito para se digerir sem conhecer o material ou como um leitor novato, eu acredito que Kevin Smith faz um belo trabalho em construir ao redor dessas histórias sem que nada disso seja realmente importante. Fica subentendido que essas coisas todas aconteceram - e porque - mas o escritor não enfatiza nada mais do que necessário para que a história flua, e, bem, a história flui.

É o talento de Smith em construir uma história sobre um homem voltando dos mortos para encontrar seus amigos e familiares, e, redescobrir o valor de sua vida, e, claro, no meio do caminho uma série de reflexões filosóficas e piadas - algumas de mal gosto e bem sem graça, mas... E é isso.

Quer dizer, parece bastante simples quando se considera o contexto e a estrutura do material - até porque muitos tentaram repetir até a exaustão a forma como Smith procedeu na condução de ressuscitar o Arqueiro Verde - mas existe um vasto trabalho para conectar os passos até ali e ordenar o processo de maneira lógica.

E enquanto o misticismo que traz Etrigan e outros seres sobrenaturais soe meio bizarro - principalmente mais para o final, quando tudo fica bem conveniente - o material se amarra de maneira satisfatória. Smith traz o personagem de volta, consegue costurar pontos chave para os relacionamentos do protagonista e estruturar a dinâmica da série que seguiria a partir dali.

Gosto ainda do material, mesmo que tenha algumas críticas a escolhas aqui e ali.
Smith se esforça demais com temas sexuais nas histórias - a ex garota de programa que se torna personagem recorrente, é o exemplo mais gritante, mas tem aqui e ali menções a sexo oral e satanistas swingueiros que realmente não parecem combinar com o tom da história. E sim, é estranho que combine mais com o tom da história a presença de demônios e um vilão torturando o próprio neto do que sexo, mas, é o que é.

Acaba parecendo que o texto quer soar mais adulto que realmente é, enquanto parece bastante imaturo no tradicional sentido de uma obra de Kevin Smith. E isso é particularmente estranho quando em comparação com o Demolidor do mesmo autor, que, traz um tom bem mais sóbrio, apesar de, bem, uma gravidez imaculada como mote inicial...

Voltando ao Espírito da Flecha da Panini, acredito que na tradução/adaptação residam outros pontos curiosos, inclusive alguns que conseguem datar por carbono a peça na época em que foi publicada. Por exemplo o uso de nomes como 'Ajax' ou 'Elektron' que eram nomes dados para o Caçador de Marte e o Átomo respectivamente e foram gradativamente desaparecendo das traduções brasileiras.

Existem algumas notas aqui e ali que mostram a Panini querendo soltar as asinhas, como 'piadas' como nota de editor (existe uma destacando o atraso entre uma edição e outra no original, por exemplo), e uma que envelheceu mal pra caramba ao chamar o vilão Charada de Sílvio (confesso que nem entendi essa se se aplica à época da publicação, mas ACHO que era alguma alusão ao Show do Milhão).

O mais curioso, ao meu ver, se dá no título em si. No original 'Quiver' (ou Aljava) virou aqui "O Espírito da flecha", o que parece melodramático demais, pra dizer o mínimo. Não faz exatamente muito sentido também (mesmo que abstraindo ao máximo para considerar o contexto da história - sem spoilers), e acaba parecendo um daqueles títulos de livros psicografados ou pior (algo como aqueles livros pornôs para donas de casa dondocas como Cinquenta Tons de Cinza em que uma flecha é possuída pelo espírito do marido ou coisa do tipo)...

No frigir dos ovos, é bem legal (mas podia ser melhor).
Nota: 8,5/10

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