Isso não é exatamente diferente do que a Marvel tentou alguns anos antes (em 1997), com os Heróis Renascem numa ideia de lançar novos números 1 e relançarem os seus muitos títulos para uma nova audiência. Também não é muito diferente do que a DC fez em 1985 com a Crise nas Infinitas Terras, relançando boa parte de seus títulos com uma nova estrutura e cronologia mais enxuta...
Nem do que viria no século XXI com os Novos 52, Convergência, Marvel Now e mais uma série de outros relançamentos e novas visões, times criativos e novos inícios.
Alguns com pequenas mudanças, outros com mudanças maiores, todos com basicamente a mesma premissa sem tentar de maneira alguma reinventar a roda (heróis com roupas coloridas de um lado, vilões com roupas coloridas do outro, lutem desgraçados!).
Eu não vou fingir que eu me importo com o contexto destas versões Ultimate ou Absolute (ainda que eu saiba que tem algo com um grande evento maior envolvendo um vilão unificador que contextualiza a reimaginação dos múltiplos títulos), mas em linhas gerais são oportunidades para trazer novos números 1 com equipes criativas sólidas e perspectiva de quebrar alguns paradigmas da linha tradicional para tecer histórias sem o peso de décadas de cronologia - e, assim esperam as equipes de vendas, trazer velhos leitores ou até conquistar leitores novos.
No entanto eu não consigo imaginar que a perspectiva terá qualquer sucesso em nenhuma das duas editoras além da curiosidade e curto prazo de gente que vai ler uma ou duas edições e depois seguir com suas vidas.
Com Homem Aranha, por exemplo, Hickman traz o personagem ganhando seus poderes não como um adolescente bobalhão mas como o pai de família bobalhão, e, para muitos fãs é quase como se atendesse a seus desejos de apagar as últimas décadas de escolhas estúpidas tomadas pela Marvel (lembra quando eu falei que o Homem Aranha fez um pacto com o diabo para apagar seu casamento?) e seguir a partir dali.
Hickman é talentoso e o título começa com uma premissa interessante, mas se isso se mantém ou sustenta (até porque o excelente artista Marco Checchetto não vem conseguindo acompanhar os prazos e de 10 edições entre março e dezembro de 2024, produziu a arte para apenas 7 delas) é difícil dizer inclusive considerando que desde o começo isso faz parte de algum evento mega-crossover maior que pode tanto concluir a história toda como expandir para mais títulos dependendo do sucesso do projeto. Se vale a pena, no entanto? Honestamente é uma leitura leve e descompromissada e o melhor produzido com o Homem Aranha em quadrinhos desde a virada do século, e, às vezes isso já deveria ser o suficiente.
Quer dizer, de novo a ideia de um Batman sem sua montanha financeira de recursos, sem a extensão da bat-família, sem o apoio do Alfred - que eu acho que só desde os anos 2000 a editora já tentou umas cinco vezes pelo menos - ao passo que tenta buscar ao máximo aquela atitude incel/edgelord é algo que o Frank Miller e outros autores já faziam pelo menos desde os anos 1980... Então qual o ângulo diferente?
Sim, ele não é um multibilionário e cresceu amigo da Mulher Gato e do Charada além de treinar na academia do Crocodilo... ah e agora tem um símbolo gigantesco que também é usado como um machado (eu não estou brincando) abraçando ainda mais a noção de que ele é fascista e machuca mas não mata?
Pode melhorar? Duvido muito (até porque com Snyder a tendência é um começo ótimo e depois só ladeira abaixo - e aqui já começou terrível), mas honestamente coisas mais estranhas já aconteceram.
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