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17 de agosto de 2023

[Resenhas de quinta série] Os heróis renascem (Marvel, 1997)


Talvez eu já tenha comentado superficialmente antes, talvez você já conheça o assunto suficientemente pra não precisar de apresentações, mas de toda forma vamos presumir que não.

Nos anos 1990 a Marvel ia mal das pernas. Seus principais artistas deixando a casa para formar uma companhia (que basicamente imprimia dinheiro - ainda que não tenha durado por muito tempo fazendo isso, mas não vamos nos precipitar), um pedido de falência devido a uma constante queda em vendas, perspectivas e claro, má gestão corporativa e a companhia entra em modo de crise e gestão de crise constantemente tentando retomar o sucesso das décadas anteriores assim como reconquistar fãs (ou ao menos vendas, que era o que os executivos realmente se preocupavam e preocupam hoje ainda). 

A """grande ideia""" (sim entre aspas) foi matar os principais personagens da Marvel cujas vendas iam mal, para que artistas conceituados reimaginassem seus títulos com um estilo mais próximo da época. Isso deu a vazão ao Massacre (longo evento em que todos os títulos se cruzavam para terminar com o fim dos Vingadores e Quarteto Fantástico), e subsequente Heróis Renascem em que Jim Lee, Jeph Loeb, Rob Liefeld e demais figurões atualizariam os personagens para uma audiência mais moderna... Então dá-lhe ombreiras, rabos de cavalo e bem, verdade seja dita, basicamente isso.

Os """figurões""" chamados para atualizar os personagens e conceitos não eram exatamente competentes ou talentosos o suficiente para fazer um, quanto mais ambos, e o resultado foram mudanças ridículas que mal chegaram ao final da vida útil de suas séries. Homem de Ferro com escapamentos, Thor de calçolas e o Capeitão América (sim, é dessa época, mas o desastre nos Vingadores é muito maior com redesenhos horrorosos para absolutamente todo o elenco principal - mas Gavião Arqueiro e Felina ganham destaque). Ah, e não nos esqueçamos do Hulk de franja!

Tudo isso foi abandonado tão logo os títulos cumpriram seus propósitos e efetivamente figurões assumiriam esses títulos (com Mark Waid, Kurt Busiek, George Perez e os irmãos Kubert) e nada mais dos redesenhos, origens atualizadas ou, bem, qualquer outra mudança e "ideia" apresentada.

Mas, apesar de todas as aspas e comentários irônicos até agora, esse material é de fato tão ruim assim ou existe algo de louvável, admirável e interessante em sua curta duração?

Bem, é difícil ver qualquer coisa que valha nota quando consideramos o tão pouco impacto que o material efetivamente causou na Marvel. No entanto, isso não é efetivamente verdade.

Quer dizer, o material é ruim, mal escrito e com pouco ou quase nada que valha a pena levar em consideração (mas, lembremos, são falastrões como Jim Lee e Rob Liefeld escrevendo as origens dos Vingadores e Quarteto Fantástico no estilo Image para os anos 1990 - e a geração MTV). É até um milagre que durou mais de dez edições!

Só que o material foi um rascunho que serviu de base para gente bem mais talentosa efetivamente tentar fazer isso direito com o universo Ultimate (que dessa vez incluiu Homem Aranha e X-men, ou seja, os queridinhos de vendas) e, por mais estranho que pareça, o próprio MCU.

Sei, sei, o universo Marvel do Stan Lee já era compartilhado e tudo mais, mas nada perto do que Heróis Renascem efetivamente fez. Os personagens não apenas se encontram superficialmente mas suas narrativas efetivamente impactam outros títulos e tudo é interligado (de maneira rocambolesca e muitas vezes parva, mas não obstante está ali).

Tudo ao menos parece coeso (não é, em grande parte devido a falta de qualidade e capacidade dos autores, mas isso é outro problema completamente diferente), com sucessão de eventos, fatos e narrativas cruzando os vários títulos (com eventos como a Revolução Industrial e mais ao final quando os títulos estão voltando ao universo Marvel tradicional com o crossover envolvendo Galactus na edição 12 de todos os títulos e o retorno em si).

<EDITADO, incluido em 18/08> O problema está na falta de competência na parte criativa que ao invés de desenvolver os personagens na perspectiva de reapresentá-los para uma nova audiência (como o selo Ultimate faz alguns anos mais tarde), eles gastam pouco ou nenhum esforço para colocar vilões vazios e repetitivos, recriando em meras 12 edições (por título) as mesmas tramas rocambolescas e personagens coadjuvantes subaproveitados e mal desenvolvidos (ou trabalhados em detrimento de reviravoltas parvas ou cenas de ação sem conteúdo) que a Marvel no geral levou quase 30 anos para formar. Mas ei, Liefeld tinha que vincular Cable nas histórias do Capitão América e criar uma Bucky (idêntica a Robin criada pelo Frank Miller mais de uma década antes...) <Fim da edição>

E, verdade seja dita, tem uma arte interessante com diversas splash pages bem construídas e com a intenção de fazer um filme de ação constante (ainda que bobo, no padrão anos 1990). Não é feito pra ser bom, mas pra chamar atenção e vender alguns quadrinhos, e, bem... isso a série fez. Se já era ruim na época ou hoje piorou com o tempo devido a versões vastamente superiores do mesmo conceito (o que não acho que sejam afirmações mutuamente excludentes), não muda o fato que não era a preocupação da editora nem na época e nem hoje em dia.

Talvez justamente por isso continue lidando com os mesmos problemas de retenção de leitores, vendas caindo e diminuição de espaço no mercado...

Até porque a miope visão corporativista de que precisa vender mais gibizinhos (e não a de oferecer liberdade criativa aos criadores, e reconhecer o talento com compensação financeira adequada) continua como prática corrente.

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