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4 de maio de 2024

{Resenhatorial} O que aconteceu com comédias de investigações criminais...?

Enquanto Somente Assassinatos no Prédio tenha recebido diversos prêmios (e, verdade seja dita é um deleite de se assistir, porque afinal de contas qualquer veículo que traga Steve Martin e Martin Short juntos é sempre agradável), e eu tenha maratonado Depois da Festa muito mais rápido que eu gostaria de admitir, os dois seriados tiveram um mesmo problema claro e evidente para mim: O culpado (sem spoilers ainda que eu não garanta que mais para frente algum ponto sobre isso não apareça mais acentuado).

E isso me fez pensar sobre outros seriados do mesmo tipo - como Monk e Psych (que voltaram à Netflix recentemente) - conseguiam trabalhar melhor com suas resoluções dos criminosos e das investigações, e, enquanto tem muito da fórmula de investigação criminal de seriados que se resume ao crime da semana/do episódio enquanto estes seriados (do primeiro parágrafo) focam em um crime por uma temporada toda, existe um problema central na ideia dessa longa investigação que consiste justamente em apresentar diversos suspeitos, demonstrar suas versões com diferentes graus de possibilidade (enquanto apresentando um suspeito principal que obviamente não é o culpado e concluindo com um culpado que geralmente nunca foi um suspeito).

Não quero dizer que todo episódio de Monk ou Psych seja impecável ou perfeito (longe disso, eu realmente nem acho que eu tenha assistido a mais que dois ou três episódios inteiros de Monk na vida e provavelmente foi mais por insônia que pela qualidade do show - apesar de garantir uma quantidade enorme de prêmios para Tony Shalhoub), mas existe na minha opinião um equilíbrio maior entre a tentativa de criar um desafio investigativo (mesmo que idiota e absurdo em que o culpado é um chimpanzé ou inspirado por Twin Peaks) e exatamente o ponto e conceito desses seriados que é o humor. Monk ou Psych são criativos e engraçados justamente pelo fato que os protagonistas constantemente estão criando ou se metendo em situações que reforçam a graça destes cenários todos.

Por outro lado, os seriados mais recentes que ressaltei (Somente Assassinatos no Prédio ou Depois da Festa) acabam se perdendo em elementos sombrios e problemáticos (para dizer o mínimo) sem criar cenários engraçados ou criativos.

Por exemplo, em Somente Assassinos no Prédio a principal suspeita é de suicídio (o que por si só já é um assunto espinhoso para se lidar), mas que dois idosos e uma garota de vinte e tantos anos acreditam não ser o caso porque gastam boa parte de seus tempos ouvindo a podcasts de crime, e, por isso passam a bisbilhotar a morte ocorrida em seu prédio. Premissa simples o suficiente.

A partir daqui temos que a vítima estava estorquindo um criminoso, cujo filho é responsável por um assassinato (mais acidental que outra coisa mas ainda assim assassinato) enquanto ele, a vítima também é responsável pelo melhor amigo passar anos na cadeia por um crime que não cometeu (ah, e por boa medida ele saiu do cárcere justamente algumas semanas antes do crime em questão). Tem mais alguns outros elementos que vão aparecendo mas nenhum deles é relevante porque além deles existe um assassino serial que é o verdadeiro culpado (eu juro que não inventei uma única coisa, talvez tenha só me lembrado de algum fator incorretamente).

Nas temporadas seguintes a mente criminosa por trás dos crimes não é necessariamente melhor (são conspirações e planos intrincados que envolvem papagaios, quadros semi-eróticos, adoção e relações semi-incestuosas no showbiz) mas continua sendo um deleite ver Martin Short e Steve Martin trabalhando juntos, e, até mais tendo mais espaço e condição para desenvolver o que eles produzem melhor de sua dinâmica.

Só que nisso eu vejo o grande e profundo problema em criar tramas elevadamente complexas e intrincadas apresentando diversos possíveis suspeitos para simplesmente fazer uma revelação do verdadeiro criminoso (que é uma revelação surpresa para todo mundo) ao final. Principalmente porque a revelação final tem que fazer sentido - mesmo que apenas no contexto da série.

Faria sentido que o garoto que recentemente foi libertado da cadeia (por um crime que não cometeu, mas que seu 'melhor' amigo não o exonerou), assim como o criminoso de quem a vítima estava estorquindo dinheiro... Mas o assassino serial...? Qualé, isso surge tão de qualquer lugar e a explicação é tão forçada (além de conveniente, sejamos honestos).

Talvez no caso dos seriados mais antigos com a solução rápida em cada episódio esse efeito de más resoluções se dissipe ao longo das temporadas. Se em 10 episódios, 3 tem uma resolução ruim, 5 são medíocres e os demais 2 são bons/ótimos, é mais fácil focar somente nos bons episódios e ignorar o restante (ou focar no que os outros produziram de bom, como a atuação de Shalhoub ou a dinâmica entre Gus e Shawn), enquanto em casos que perduram por uma temporada toda a resolução pouco satisfatória tende a pesar mais.

Talvez até tenha mais sobre o assunto, afinal, crime é algo que fascina até demais nossa sociedade (e que eu acredito que diz volumes sobre nós mesmos), mas me parece algo complexo demais para uma resenha de um blog tentar sequer arranhar a superfície.

PS: Eu não vou nem fingir que Velma merece um segundo post ou mais atenção agora que teve uma segunda temporada (vale exatamente o que eu disse sobre a Madame Teia de que é algo curiosamente produzido para fracassar)

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