Gerber tem um estilo estranho e sem dúvidas é um material diferente do cardápio da Marvel da época, mesmo com as histórias espaciais de Jim Starlin com Adam Warlock e o Capitão Marvel, porque afinal de contas Howard é ao mesmo tempo um material altamente cômico, cínico e realista. As histórias de Howard não são sobre um pato combatente do crime ou qualquer coisa do tipo... Howard não é um herói (apesar de saber Quack-Fu), ele é só um ferrado sem dinheiro tentando levar a vida. Ele só calha de ser um pato alienígena fumante de charutos cheio de cinismo.
E o material é bem imprevisível, com um ritmo frenético e bizarro, indo de um feiticeiro contador transdimensional para um rabanete alienígena e o protagonista concorrendo para presidente dos EUA em 1976, tudo isso nas primeiras 10 edições, geralmente em histórias avulsas e que não requerem a leitura da edição anterior, sem muito de uma estrutura de arcos ou capítulos para narrativas maiores (ainda que existam histórias maiores como de Howard concorrendo para presidente ou lidando com seu colapso mental ou posteriormente enfrentando o super vilão Doutor Bong). O ritmo diminui um pouco enquanto o próprio autor tenta lidar com a maluquice e pisa no freio, questionando o personagem e seu papel (de maneira bem existencialista mas de certo um tanto comercialmente também), colocando Howard em terapia - e encontrando uma garota possuída por (droga, eu não posso falar sem estragar, mas é uma piada ótima). Vale destacar que é um produto de seu tempo com toda a certeza - o personagem contempla o suicídio logo na primeira edição, como Horácio de Maurício de Souza fazia, ou seja, da maneira mais como se fosse um charme peculiar que um problema mental sério e que requer atenção.
Ainda que, bem, ao contrário de Horácio, Howard não mantém pensamentos suicidas ao longo dos quadrinhos mas tem um colapso mental completo, se vê internado em um manicômio (de novo, produto de seu tempo) e é submetido à tratamento antes de voltar a ser o rabugento de sempre. E também ao contrário de Horácio, Howard encontra em Beverly Switzler a âncora para sua personalidade (ou principalmente para seus atributos mais negativos e pessimistas), e como ying e yang os dois mudam seus ciclos autodestrutivos. Conforme a série avança, inclusive, fica bem claro o quanto Bev fez e faz o pequeno pato mudar e tentar ser uma ave melhor.
Existem negativos, é claro, mas eu tenho que ser honesto e dizer que vejo mais como produto de seu tempo e da falta de apoio para Gerber produzir o material da melhor forma possível. Seja com coadjuvantes que desaparecem completamente da história e tramas (secundárias) que não são mais mencionadas ou desenvolvidas (ainda que o próprio Steve Gerber admita isso na edição mais experimental da série quando ele admite que não tinha tempo para escrever uma edição completa).
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