Não, meu medo reside justamente no fato que o sucesso estrondoso e arrebatador do filme (quase como uma bomba atômica criada por Oppenheimer de Christopher Nolan - e que merece todos os Oscar, e eu repito TODOS OS OSCAR do próximo ano) seja o catalisador da mudança de perspectiva dos filmes que veremos nos próximos anos, e, que, verdade seja dita parece que veio moldando 2023 com Super Mario e Dungeons & Dragons, e é o fim dos filmes de super heróis (que, sejamos honestos já passou da hora) e os filmes de brinquedos (e dá-lhe esperarmos Chris Pratt como Lion-O em 2026 ou Ryan Reynolds como um dos Ratos motoqueiros de Marte, é isso nunca vai acontecer...) tomarem a Terra.
Isso me assusta um pouco justamente pela base específica do que isso é e o que pode ser. Sim, os dois filmes Lego (assim como Lego Batman) são muito divertidos, assim como os outros filmes citados aqui (Mario, Dungeons & Dragons e claro, o filme em questão, Barbie), mas, será que algum destes ou dos vindouros filmes baseados em brinquedos, consegue captar algo maior que uma bela oportunidade para marketing, merchandising e estúdios faturarem alguns milhões a mais? Ou como aconteceu antes persistirá num futuro de mais e mais filmes aprovados a toque de caixa para capitalizar num grande sucesso e com qualidades questionáveis (para dizer o mínimo)? Ainda mais quando se trata de filmes baseados em brinquedos e com foco específico para crianças (onde o piso tem um alçapão e a falta de qualidade não conhece limites). Droga, com o sucesso que Barbie vem conseguindo nos cinemas, eu não ficaria surpreso se a continuação (inevitável nesse ponto) simplesmente substitua a brilhante Greta Gerwig pra trazer alguém que aceite produzir um filme bem próximo das tantas animações já produzidas com a personagem que não tem nenhuma pretensão ou propósito maior.
Sim, são filmes comerciais e esse é o ponto (são baseados em brinquedos produzidos em massa) para vender mais produtos, inclusive os ingressos deste produto, e, ei, é o capitalismo, baby. Só que me assusta um pouco, ainda mais vendo no retrospecto dos últimos 20 e tantos anos de filmes de super heróis (com tanta coisa ruim que saiu) e mais especificamente com o que já saiu baseados em brinquedos ou jogos (como a franquia Transformers ou a Batalha Naval da Rihana), o quanto é possível produzir algo bobo com o simples propósito de faturar uma grana rápida para explorar fãs babões. Entendeu porque me assusta um futuro próximo em que os brinquedos nostálgicos comecem a surgir mais e mais como filmes?
Barbie em si é, bem, uma história de um peixe fora d'água que precisa encontrar seu lugar no mundo e/ou sua própria voz, mas com uma mensagem mais complexa sobre valores tradicionais de gênero (inclusive toda a construção do patriarcado em nossa sociedade, contratada pelo mundo de Barbie onde as mulheres literalmente mandam e fazem qualquer coisa - e obviamente por esses motivos você pode imaginar que tem uma galerinha raivosa sobre isso). Funciona pelo excelente elenco e direção (que consegue lidar tanto com os aspectos cômicos como mais sérios - ainda que não haja nada particularmente desafiador como uma série da HBO - ou o filme Oppenheimer de Christopher Nolan que merece todos os Oscar, e eu repito, TODOS OS OSCAR do próximo ano). Consegue lidar com vários dos elefentes da sala, inclusive o fato de que é um produto com uma história controversa (para dizer o mínimo) e aproveita de um bom momento para arrebatar público senão a crítica. Talvez não seja algo revolucionário e quebrador de barreiras - mas honestamente, com o histórico de 2023, é fácil um dos melhores filmes do ano.
Mas ei, se qualquer coisa nisso te incomode, você pode assistir Oppenheimer do Christopher Nolan (que merece todos os Oscar do próximo ano) e ver que enquanto o diretor continua excelente e o filme é extraordinário, ele ainda cai em alguns senão todos os velhos e já esperados problemas do diretor (ausência de um elenco feminino relevante, uma trama rocambolesca não linear na qual é fácil perder o fio da meada e um ato final que acaba decepcionando ou ao menos ficar longe da qualidade dos demais). Droga, via de regra você pode assistir ambos na sequência nos cinemas e ser feliz.
Foi o que eu tentei, e até agora não me decepcionou.
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